Durante o
XXI Congresso Espírita Panamericano, realizado em Santos, o trabalho que
escrevi, propondo a possibilidade da reencarnação não ser obrigatória, provocou
alguma polêmica. Muitos vieram dizer-me: “Quer dizer que agora, depois de
tirarmos Jesus e questionarmos o Perispírito, estamos também eliminando a
Reencarnação do Espiritismo?”
Penso que
o medo da mudança é tão constante no homem que chega a ser natural este tipo de
questionamento. Afinal, desde crianças, quando frequentávamos a infância
espírita – naquela época ainda chamada de “escolinha”, um provável diminutivo
de “escola de evangelização” – a reencarnação é encarada quase como um dogma.
Aliás, em perfeita consonância com Kardec: “Em que se funda o dogma da
reencarnação? Na justiça de Deus e na revelação (...)” (Livro dos Espíritos,
pergunta 171).
Talvez eu
seja mesmo um espírito, digamos, inquieto. Penso que o comodismo do pensamento,
o congelamento das ideias leva a uma cristalização que é fatal para a
sobrevivência de uma doutrina tão dinâmica quanto o Espiritismo. E assim, desde
muito, as perguntas “e se ...” e “ou não” fazem parte integrante da minha visão
espírita. Considero necessária e fundamental a revisão periódica dos princípios
espíritas, ainda mais se considerarmos o quão rapidamente o conhecimento humano
vem evoluindo.
Eis porque
considero que a proposta de um trabalho consistente de atualização do Espiritismo,
feita há mais de 10 anos pela CEPA, é o que há de mais importante neste século
XXI. Não há outras formas de mantermo-nos vivos e atuantes a não ser
construindo pontes com as demais formas de conhecimento humano e, se
necessário, revendo conceitos que já não mais se sustentam.
Mas, para
que isso se efetive, é essencial que nós, espíritas laicos, livres-pensadores e
progressistas, tenhamos a mente aberta para a possibilidade da mudança. E, para
isso, não pode haver tabus, temas proibidos, impossibilidades a priori. A
discussão, o questionamento é obrigatório; a conclusão será feita a partir
desse questionamento.
Vamos
tirar a reencarnação do corpo doutrinário espírita? Não, não é essa a proposta.
Mas temos que analisar com calma até que ponto o livre arbítrio de cada ser
pode possibilitar a ele a escolha da não reencarnação. E essa avaliação passa
por uma série de outros questionamentos, como fica o edifício conceitual
espírita se isso for assim? Qual a extensão do nosso livre-arbítrio? Que outras
formas de aprendizado seriam possíveis? Como se dá a evolução? Enfim, há um
desdobramento significativo que, de modo amplo, só contribuirá para que o
Espiritismo seja mais firme – e que cada um de nós, espíritas, compreendamo-lo
ainda melhor.
Que tal,
despretensiosamente, despertar o livre-arbítrio revolucionário que vive em
você? A reflexão te dará embasamento para mudar seus conceitos, ou mantê-los
(seja da mesma forma de antes, seja com novos pilares). Modernizar é isso:
pensar, repensar, reciclar, redescobrir, reinventar. Afirmar o mesmo de sempre
em uma realidade absolutamente diferente, sem nem ousar uma dúvida sobre o
posto, é contextualizar às avessas. Necessário, em algumas situações, mas já
exaustivamente explorado, há pelo menos 100 anos, no que tange a filosofia
Espírita.
NR: Este artigo foi publicado no jornal Abertura em novembro de 2012
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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