sexta-feira, 6 de março de 2020

O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS por Roberto Rufo e Silva

INSTITUTO CULTURAL KARDECISTA DE SANTOS


ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA






O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS













SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013






ROBERTO LUIZ RUFO E SILVA



O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS








Trabalho elaborado para apresentação no XIII SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita organizado pelo Instituto Cultural Kardecista de Santos




SANTOS, SÃO PAULO, BRASIL
2013
RESUMO

A liberdade é uma das grandes conquistas da sociedade moderna. Tem-se por pressuposto que uma pessoa, um povoado, uma cidade e um país só se desenvolvem plenamente se os governos garantirem aos seus cidadãos o exercício pleno da liberdade.
E por liberdade entende-se a capacidade de criar, escrever, falar sem quaisquer amarras,  exercer enfim o livre-arbítrio passando então a sua população a ser identificada como o conjunto de cidadãos livres.  Os regimes totalitários, as ditaduras e as grandes religiões sempre se intitularam como as guardiãs do comportamento de todos os seres humanos. As práticas utilizadas para alcançar seus objetivos foi o de sempre colocar percalços ao longo do caminho da evolução das pessoas. Não raro utilizaram  a tortura como “ método corretivo”  aos recalcitrantes .
O Espiritismo, dito evolucionista, tem a priori a necessidade da utilização do livre-arbítrio dos seres humanos, pois somente isso garantirá o progresso moral e intelectual do planeta em que habitamos. Entendemos que vários perigos se interpõem à doutrina espírita quanto à plena utilização do livre-arbítrio e que devemos nos preparar adequadamente para enfrentá-los.













Sumário


















1 INTRODUÇÃO


Procurei ao longo do meu trabalho, composto basicamente de apenas um capítulo, mostrar a evolução do conceito de liberdade ao longo da história até o seu momento atual, definida como a capacidade de livre escolha, e como o Espiritismo tem tudo a ver com essa necessidade da escolha como condição principal da evolução dos espíritos.  A seguir listo quais os principais perigos que a meu ver o livre-arbítrio terá que enfrentar.
Alguns deles já habitam conosco no dia a dia do movimento espírita, outros podem se introduzir caso não tenhamos a capacidade de identificá-los adequadamente.
Reitero no final que devemos ter esperança na construção de uma sociedade digna, partindo sempre do uso do livre arbítrio como condição primordial .














2 O LIVRE-ARBÍTRIO E OS SEUS INIMIGOS


2.1 O LIVRE-ARBÍTRIO


Segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, a Liberdade teria três significados fundamentais, correspondentes a três concepções: a 1ª, segundo a qual a Liberdade é a ausência de condições e  limites; a 2ª, a Liberdade é vista como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da 1ª, ou seja, a autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem pertence; a 3ª concepção vê a Liberdade como possibilidade ou escolha, sendo então a Liberdade limitada e condicionada. ( 1 )
As duas primeiras, ao longo da história da filosofia estão ligadas a uma ordem cósmica ou divina, à Substância, ao Absoluto, ao Estado . A origem dessas concepções está nos estóicos, para os quais, a Liberdade consiste na autodeterminação e, portanto, só o sábio é livre. Isto porque somente o sábio vive em conformidade com a natureza, só ele se conforma à ordem do mundo , do destino .
Ainda segundo o Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano, enquanto as duas primeiras concepções de Liberdade possuem um núcleo conceitual comum, a terceira concepção não recorre a esse núcleo porque entende a Liberdade como medida da possibilidade, portanto escolha motivada ou condicionada. Nesse sentido a Liberdade é um problema aberto. Livre, nesse sentido não é quem se identifica com o Absoluto, o Estado, mas quem possui uma variável de possibilidades. 
Segundo a Doutrina Espírita, especificamente na sua Lei de Liberdade, o homem não pode vangloriar-se de gozar de absoluta liberdade, porque os seres humanos precisam uns dos outros, limitando dessa forma o uso de uma Liberdade absoluta. Dizem os espíritos "Desde que dois homens estejam juntos, há entre eles direitos a serem respeitados e, portanto, nenhum deles gozará de liberdade absoluta."  Mas  reforçam que sem o livre-arbítrio, o homem seria uma máquina ( 2 ) .
O Espiritismo, portanto, se identifica muito mais com a terceira concepção do que com as outras duas, conceito esse apresentado no Capítulo " Fatalidade " do Livro dos Espíritos onde, apesar de falar na escolha das provas antes de encarnar, a escolha inicial que determinaria um destino ,  reforça que o Espírito conservando o livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de resistir ou ceder às provas morais.
Sucede-se que historicamente o movimento espírita brasileiro trouxe para dentro de si os vírus da anti-liberdade que acabaram por comprometer a capacidade de escolha e decisão dos seus praticantes bem como dos movimentos espíritas regionais pelo Brasil afora.
"A Sociedade aberta e os seus Inimigos" é o nome de um dos livros mais instigantes do filósofo da ciência Karl Raimund Popper, nascido em Viena em 1.902 e falecido em 1.994 , aos 92 anos de idade , em Londres . Karl Popper fundou a teoria da falibilidade do conhecimento. Argumentou que o conhecimento científico não se assenta no chamado método indutivo, mas numa contínua interação entre conjecturas e refutações.
Entre as consequências desta visão progressista do conhecimento encontram-se duas consequências que terão particular importância para a filosofia política e moral de Popper. A primeira é que passa a se adotar o chamado critério de demarcação entre asserções científicas e não científicas: científicas são apenas aquelas que sejam susceptíveis de teste, isto é, de refutação. Algo do tipo "se a ciência demonstrar que estamos errados em algum ponto, nós mudaremos ".
Uma segunda consequência da teoria do conhecimento de Popper está na liberdade de crítica. "A possibilidade de se criticar uma teoria, de submetê-la a teste e de tentar refutá-la é condição indispensável do progresso do conhecimento", afirma Popper.

2.2 O PRIMEIRO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O primeiro inimigo ao livre-arbítrio no Espiritismo oficial surgiu quando se assumiu uma posição claramente avessa a qualquer crítica, já que o Absoluto determinou antecipadamente o certo e o errado.
Diga-se que as ideologias dominantes no século XIX e XX tiveram o mesmo comportamento. Hoje vejo claramente que devemos desconfiar de toda concepção otimista da sociedade baseada nas duas primeiras concepções de Liberdade citadas, pois as injustiças têm um auto grau de aceitação no corolário dessas concepções. Fico com o grande escritor Elias Canetti quando afirma que  a ladainha de uma "astúcia da razão" histórica , capaz de se impor mesmo com a humanidade trabalhando na direção contrária , é um grande embuste ( 3 ) . O mesmo vale para uma razão natural.
O grande pensador espírita Eugênio Lara em seu interessante livro "Breve ensaio sobre o humanismo espírita" nos esclarece que apesar de o Humanismo Espírita ter suas raízes no pensamento iluminista, anteclerical, ele não entra em confronto com o cristianismo, com a Igreja. O autor Eugênio Lara sugere que ao querer interpretar os dogmas e princípios católicos sob a ótica espírita, Allan Kardec trouxe para dentro da Doutrina Espírita o ovo da serpente. Gosto muito quando afirma que o Espiritismo é determinista, mas não é fatalista. E que não há um destino pré-estabelecido bem como não existir fatalidade nos atos da vida moral. ( 4 ) Essa ideia é desenvolvida pelo pensador argentino Manuel Porteiro em uma conferência de 09 de outubro de 1.935 no Teatro Lasalle na Argentina .
Reproduzo aqui o texto completo pela sua beleza e densidade:
A filosofia espírita é determinista, mas não é fatalista, nem no sentido teológico, nem no materialista . No primeiro, porque não admite que as ações humanas nem as causas que as produzam estejam dispostas por Deus para a realização de cada fim individual, e porque este fim não é um limite no qual se encerre a evolução do espírito, nem está fora do ser , nem é oposto à sua essência nem à sua vontade, senão que é dinâmico, indefinido e livre na eleição dos meios e das ações que hão de realizá-lo: é o ser realizando-se a si mesmo no processo sem limites de sua evolução, superando-se nas noções e na prática do bem, da justiça e do amor , desenvolvendo as potencialidades e faculdades de seu espírito, elevando-se a uma maior compreensão de sua personalidade e da natureza no meio da qual se desenvolve. (Manuel Porteiro, 1936)

2.3 O SEGUNDO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O segundo inimigo ao livre-arbítrio agora no ideário espírita , assim como à democracia , é não ficarmos atentos ao crescimento da intolerância religiosa e política. Estou preocupado com o que Fernando Bonassi, autor e ensaísta teatral, chama de criação no mundo contemporâneo de uma "República Fundamentalista Evangélica" no mundo ocidental.  Sua regra de conduta se baseia no ódio, às vezes disfarçado pelo desprezo, ao mundo científico e ao avanço do conhecimento, traduzidos numa intolerância ao Estado Democrático de Direito. Especialmente em se tratando dos neo-pentecostais o perigo é ainda maior, pois ao avançarem suas garras no mundo político formal, levam junto consigo a intolerância, que ganha dimensões de tragédia quando é incrementada aos aparelhos de estado.  Sua força na Câmara Federal (a bancada evangélica) colabora no patrocínio de um ideário de desprezo pela individualidade humana.
Se no movimento espírita a presença física nos cargos políticos é ainda incipiente, o perigo do ideário também ultraconservador é latente.  Basta acompanhar o órgão oficial de imprensa da Federação Espírita Brasileira, a revista "O Reformador", que repete os mesmos jargões/conceitos de 50 anos atrás , como se os grandes movimentos civis da segunda metade do século XX ,  que alteraram as relações sociais, nunca tivessem existido.
 E onde se situa nisso tudo o nosso querido Espiritismo? Jaci Regis, em seu artigo "Palavras de Emmanuel" do Jornal Abertura de Junho/2010, demonstra através da análise do livro "O Consolador" psicografado por Francisco Cândido Xavier e publicado  pela FEB em 1940 ( há setenta anos atrás), o qual traz as opiniões do Espírito Emmanuel , que a palavra desse espírito passou a ser considerada como uma "autorizada versão vertida da Espiritualidade Superior e tornou-se paradigma para o movimento espírita brasileiro" nas mesmas palavras de Jaci Regis . Eu complemento afirmando que é um paradigma  que não pode ser submetido a  testes, pois sua fonte advém de uma profecia superior , logo não passível de progressos oriundos de quaisquer avanços do conhecimento . Nesse ponto a FEB é extraordinariamente coerente com seu desprezo pelas mudanças sociais e morais que as ciências apontam como urgentes para o aperfeiçoamento do comportamento humano.

2.4 O TERCEIRO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O terceiro inimigo ao livre-arbítrio vem da política. Aquela que nas palavras da filósofa Hannah Arendt seria a nossa última garantia de sanidade mental, hoje se transformou num grande negócio.  A frequência constante dos políticos nas páginas policiais é um atestado do perigo que falarei a seguir.  O grande fracasso da distribuição de renda no mundo e da solidariedade política entra as nações, com países importantes relegando durante anos a segundo ou terceiro planos anseios legítimos de outros povos, foi o combustível necessário para o aparecimento, o que parecia impossível nessa altura do campeonato, de um ideário baseado no controle do Estado, das comunicações e do comportamento humano. É o que eu chamo de perigo do reaparecimento de doutrinas totalitárias, com uma nova roupagem, onde até mesmo o uso de estratégias democráticas são utilizadas em causa própria. O Estado total não reconhece limites morais.
Determinados grupos que sairam às ruas, têm desprezo pelas instituições democráticas, aproveitando a fragilidade das mesmas pelo principal motivo que expus acima. A perseguição a veículos da mídia na cobertura dos protestos, com uso sistemático de violência física, demonstra a pouca importância que esses fanáticos têm pela liberdade de imprensa.  Prestemos atenção, pois como disse a escritora Lya Luft estamos em momentos extremamente confusos, perigosos, de vulnerabilidade e indecisão.
Em seu magistral livro "O povo brasileiro"  em sua introdução , o  antropólogo Darcy Ribeiro ( 5 ) escreve :
A estratificação social separa e opõe os brasileiros ricos e remediados dos pobres, e todos eles dos miseráveis. Nesse plano, as relações de classe chegam a ser tão infranqueáveis que obliteram toda comunicação propriamente humana entre a massa do povo e a minoria privilegiada, que a vê e a ignora, a trata e a maltrata, a explora e a deplora, como se essa fosse uma conduta natural.
Os espíritos foram muito claros e contundentes ao responder que a desigualdade social é obra dos homens e não de Deus. Mas desafio quem nunca leu a estapafúrdia afirmação que as injustiças sociais são resgates do passado. Por esse tipo de conduta aliado ao desprestigio da política, os " revolucionários " e os " reacionários " estão de volta . Cuidado com eles. O livre-arbítrio nada significa para esse tipo de gente. No desejo de participarmos de movimentos sociais coletivos, devemos analisar muito bem o conteúdo desses grupos antes de entregarmos solenemente a nossa liberdade.
O engajamento entusiasmado costuma dar em grandes decepções. Os intelectuais fascistas e socialistas são pródigos em dar cria a grandes monstros.
Nas palavras do filósofo Czeslaw Milosz, Prêmio Nobel de Literatura de 1.980 , em seu livro Mente Cativa , " pertencer às massas é a grande força motriz do intelectual engajado " . 

2.5 O QUARTO INIMIGO AO LIVRE-ARBÍTRIO


O quarto inimigo do livre-arbítrio que listo agora é o da " civilização do espetáculo " , a cultura da celebridade , a adoração das novidades tecnológicas , onde o conhecimento que induz a valores não tem mais significado . Cultura passou a ser diversão. O que não é divertido não é cultura. O capitalismo está passando por uma grave crise justamente por aceitar como único valor existente aquele fixado pelo mercado. É espantosa a generalização da frivolidade, a proliferação do jornalismo de fofocas e de escândalos.
Sinto-me um ser à parte da humanidade quando vou ao cinema com minha esposa, em espaços alternativos, para assistir a um filme denominado " de arte " , ou seja , filmes que tratam das relações humanas e seus valores . Duram no máximo duas a três semanas no circuito cinematográfico. Quando entrei para a Mocidade Espírita Estudantes da Verdade em Santos no ano de 1.978, que maravilha de ambiente cultural encontrei naquela casa e naqueles jovens, assim como eu. Cinema, teatro e televisão eram fontes de cultura, saber e conhecimento do ser humano . Muitos tabus e preconceitos foram ultrapassados com esse conhecimento. Até mesmo na criação de argumentos contra a ditadura militar que vigia na época.
Porque o salto pra trás?  Onde estavam os intelectuais americanos que permitiram vários governos Bush ( pai e filho ) com seu atraso intelectual e moral ? Porque os intelectuais espíritas não perceberam esse fenômeno do aviltamento da cultura e se prepararam adequadamente para suprir as pessoas de subsídios para o seu dia a dia? E a tão famosa frase de que o progresso intelectual engendra o progresso moral, onde fica?
Para os intelectuais de porte mundial há uma explicação dada pelo escritor Mário Vargas Llosa ( 6 ):
 O que levou ao apoucamento e à volatilização do intelectual em nosso  tempo? Uma razão que deve ser considerada é o descrédito em que várias gerações de intelectuais incidiram em virtude de suas simpatias  pelos totalitarismos nazista , soviético e maoísta, bem como de seu silêncio e cegueira diante de horrores como o Holocausto , o Gulag soviético e os massacres da Revolução Cultural chinesa. (2012)
Sugiro a leitura do livro " Por uma esquerda sem futuro " de Timothy James Clark , que ao tratar da crise da modernidade , faz uma pergunta que repasso a todos : " Será que ainda temos à mão os materiais com as quais se constitui uma sociedade digna do nome " ? ( 7 )  Ao responder à pergunta 766 os espíritos de uma outra forma respondem qual o caminho para a busca dos materiais que fazem uma sociedade participativa . Afirma que Deus nos deu a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação. Dizem que os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente. T.J.Clark ainda tem esperança quando diz que os " os elementos de uma nova linguagem possam de fato ser encontrados no espetáculo de uma política engessada, de uma economia impiedosa e de um entusiasmo generalizado ( como sempre ) pela mais recente e estúpida novidade tecnológica " .
Finalizo com as palavras  do genial Eugênio Lara no Prólogo ao seu citado livro : " O Espiritismo afasta-se radicalmente do dogmatismo cristão , do religiosismo , do pensamento mágico , da visão teológica do Ser e integra-se ao laicismo, alinha-se à ciência , sobretudo porque ele possui uma natureza humanista, portanto laica e secular " .( 8 ) .
Parece fácil, mas o caminho pela frente é muito árduo e cheio de perigos . A capacidade de organização dos viciados em religião e ideologias não deve ser menosprezada. No entanto , acredito nas palavras do poeta irlandês Seamus Heaney : " virá um dia em que a esperança irá rimar com história " .

















3 CONCLUSÃO


O Espiritismo só sobreviverá como ideia capaz de participar das decisões importantes da humanidade quando for capaz de construir um ideário e um comportamento isentos de preconceitos.  Para isso o livre-arbítrio é a ferramenta mais importante do seu conjunto doutrinário. Sem ele, ficaremos como as demais correntes espiritualistas que repetem sem cessar as mesmas ladainhas conservadoras. O pior corolário disso é a incapacidade de se abrir ao novo, mudar o comportamento, compreender melhor os seres humanos e com isso evoluir.
Infelizmente acredito que corremos o risco atualmente de nos transformarmos em mais uma religião, que para se defender da acusação de retrógrada, imobilizada, repete as palavras de Salomão de que não há nada de novo debaixo do sol.

             












REFERÊNCIAS


( 1 ) Dicionário de Filosofia Nicola Abbagnano - 6ª edição 2012 - Martins Fontes .
( 2 ) O Livro dos Espíritos - 1ª Edição comemorativa do Sesquicentenário - 2007 - FEB .
( 3 )  Livro Auto de Fé - Elias Canetti - 2ª edição 2011 - COSACNAIFY .
( 4 )  Breve ensaio sobre o humanismo espírita - Eugênio Lara -  1ª edição 2012 - CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita .
( 5 )  O Povo Brasileiro - Darcy Ribeiro - 12ª edição - Companhia de Bolso .
( 6 )  A Civilização do Espetáculo - Maria Vargas Llosa - 1ª edição 2012 - Editora Objetiva Ltda .
( 7 )  Por uma esquerda sem rumo - T.J.Clark - 1ª edição 2013 - Editora 34 .
( 8 )  Breve ensaio sobre o humanismo 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Um texto sem nome - Ciro Pirondi


Um texto sem nome

Ciro Pirondi


foto: Palmyra Régis, Regina Celi, Ciro Pirondi, Reinaldo de Lucia, Cláudia Régis e Alexandre Machado no CEAK - Santos

Quando compreendemos a complexidade – simples do Espiritismo, e a dimensão real da itinerância das existências, sentimos que o mundo nos basta. E o presente, a eternidade que nos satisfaz.

Não corremos atrás de um Deus, mesmo que ele exista. Não sofremos pela salvação, mesmo porque, ela não é necessária.

Como sopra o espírito dos evangelhos, não nos inquietamos com o dia seguinte, pois o amanhã se inquietará consigo mesmo. Basta a cada dia seu próprio penar.

No cotidiano percebemos a razão de André Sponville ser a generosidade uma força e vitória, porque ficamos mais leves, simples e gentis. Menos tolerantes com as injustiças, principalmente as coletivas e sociais, como a de Paraisópolis.

Libertando-nos dos anseios de eternidade e nos satisfazendo com o presente, nos tornamos mais humanos, mais fortes e doces. Talvez mais eternos.

Não se trata de dar lição a ninguém, mas ajudar a cada um a ser seu próprio mestre e seu único juiz.
Aceitar a distância entre o que sabemos e não sabemos, e termos a sabedoria de nossa ignorância é a condição básica para aprendizagem. Os que sabem já não necessitam aprender e os que dizem nada saber negam suas memórias, suas vidas.

Este breve texto sem nome, fala um pouco dessas minhas inquietudes. Animei-me a escrevê-lo quando li sobre os Cadernos de Cultura que Jaci e eu inventamos. Talvez pense em editar um outro, sem título ou tema, apenas convidando amigos a escreverem sobre suas reflexões.

Afinal aqui estamos neste belo mundo, em um país temporariamente na escuridão, onde nenhuma pessoa com bom senso pode se sentir confortável. Talvez só nos reste resistir, intuir algo novo, acreditarmos na beleza, na leveza e nos poetas, “antenas da raça”.

Ciro Pirondi é arquiteto e reside em Mogi das Cruzes

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Com quantas pessoas você se comunica? por Alexandre Cardia Machado


Com quantas pessoas você se comunica?

Parece uma pergunta simples, mas nos dias de hoje é na verdade uma pergunta complexa. Alguns estudos demonstram que em média nós temos no máximo 150 pessoas que podemos chamar de amigos.

Ter amigos só traz benefícios. Quanto mais, melhor. Mas há um limite. Um estudo feito na Universidade de Oxford comparou o tamanho do cérebro humano, mais precisamente do neocórtex (área responsável pelo pensamento consciente), com o de outros primatas. Ele cruzou essas informações com dados sobre a organização social de cada uma das espécies ao longo do tempo. E chegou a uma conclusão reveladora: 150 é o máximo de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo.” ( Revista Superinteressante – Fevereiro 2011)

Bem, mas temos pessoas que seguimos, pessoas que fazem parte de redes socias, onde “amigos” de amigos são adicionados.

Agora outra pergunta. De quantas redes sociais você participa? Facebook, Instagram, LinkedIn, Skype, WhatsApp, blogs e tantas outras? Fiz esta contagem como não uso Facebook e Instagram cheguei ao número mágico, no dia de hoje de 1541 pessoas com quem me comunico. Estou muito longe do Bill Gates que tem, só no LinkedIn 23 milhões de seguidores.

Agora, como sou redator de um jornal, me comunico mesmo com vários amigos, no trabalho então nem dá para contar, pois não considerei em minhas contas a possibilidade de falar com mais de 100 mil pessoas de minha empresa a um toque no computador.

Mas tenho contatos próximos em quantidade dez vezes maior do que os estudos demonstram ser possível manter uma amizade produtiva. É que o mundo mudou muito nos últimos anos, após o MSN e o Orkut, que hoje nem existem mais. Hoje somos conectados, temos “amigos” de “like”!
Ainda que esta conexão seja leve entre as pessoas existe a possiblidade de multiplicarmos a influência de nossos pensamentos. É aqui que entra a possibilidade de divulgarmos o espiritismo que queremos. Quantos de nós compartilhamos os nossos pensamentos espíritas, fora da esfera de contatos mais próximos?

Este é um campo que devemos buscar influenciar, talvez com uma linguagem um pouco mais moderna, quem sabe com isto possamos trazer à compreensão de muitos do que seja a imortalidade dinâmica, mola propulsora da humanidade e tão pouco conhecida da maioria.

2020 está chegando, temos que renovar as expectativas, focar no positivo e gerar ações transformadoras.

Ainda sobrou tempo para convidar nossos verdadeiros amigos a ouvir uma música de Oswaldo Montenegro – “A Lista” pesquisem no Google. Segue a letra.

“Faça uma lista de grandes amigos / 
Quem você mais via há dez anos atrás /
Quantos você ainda vê todo dia /
Quantos você já não encontra mais /
 Faça uma lista dos sonhos que tinha /
 Quantos você desistiu de sonhar / 
Quantos amores jurados pra sempre / 
Quantos você conseguiu preservar /
Onde você ainda se reconhece / 
Na foto passada ou no espelho de agora /
 Hoje é do jeito que achou que seria / 
Quantos amigos você jogou fora / 
Quantos mistérios que você sondava / 
Quantos você conseguiu entender / 
Quantos segredos que você guardava / 
Hoje são bobos ninguém quer saber /
Quantas mentiras você condenava / 
Quantas você teve que cometer /
Quantos defeitos sanados com o tempo / 
Eram o melhor que havia em você / 
Quantas canções que você não cantava / 
Hoje assobia…”

O objetivo aqui é convidá-los a usar a sua influência pessoal para mostrar-se como espírita e permitir que outros possam compartilhar de nosso espiritismo!

Alexandre Cardia Machado

Artigo publicado no Jornal Abertura de dezembro de 2019 - leia o jornal completo!


Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Texto original de inauguração do Blog - ainda atual - chamado à discussão no Movimento Espírita


Texto inaugural do blog do ICKS – 14 de abril de 2009
A PERPLEXIDADE DIANTE DOS FATOS


Republicamos este texto, dez anos depois de sua primeira publicação. Jaci Regis inaugurou o blog do ICKS chamando esta discussão. Bem hoje blogs não são tão dinâmicos assim, outras mídias são mais vigorosas. Mas vale a releitura, para que tenhamos a perspectiva histórica, veremos que não mudamos tanto.

Fiquem com Jaci Régis:

“O panorama social do mundo neste século vinte e um é extremamente confuso, dinâmico, rico e pobre, violento e promissor.

Entretanto, é impossível ficar passivo diante da sucessão dos fatos.

Fatos que se modificam constantemente, que mudam cenários de um dia para a outro.

Isso tem provocado profunda preocupação nos religiosos em geral.

Um espírita escreveu que não fosse a reencarnação, deixaria praticamente de acreditar em Deus, tal a impressão de abandono e passividade da divindade diante dos fatos.

Para ele, encontrar a culpa nas pessoas, relativamente ao passado, alivia a passividade divina.

O exame é falho porque a reencarnação não é um instrumento de punição moral, nem o Universo se assenta na perspectiva do pecado e do castigo.

Vemos o papa católico, vestido à moda da Idade Média falando a multidões e à mídia, com ideia da Idade Média, sem que suas palavras causem efeito.

Da mesma forma os evangélicos, principalmente os pentecostais, arregimentam multidões, em shows de fé e arrecadação, mobilizando recursos da mídia eletrônica, sem que se veja qualquer atitude positiva na mudança das coisas, na modificação do ambiente.

Na verdade quem tumultua e muda é o materialismo que é genericamente apontado como o culpado de tudo.

É preciso, porém, definir esse materialismo.

Não se trata de um esquema filosófico, nem uma opção consistente.
Esse materialismo representa a insatisfação generalizada, a subversão comportamental relativamente aos parâmetros que se instituíram na sociedade cristã. Talvez seja mais apropriado chamá-lo de comportamento oportunista. Como ocorre com certas doenças que afloram devido à queda das defesas do organismo.

Essa insatisfação reflete a falta de perspectiva real, imortal da sociedade nominalmente espiritualista, mas que se envolve deliberadamente no sexualismo, no consumismo e na falta de perspectiva.

Esse materialismo solapou a religião, destruiu a estrutura familiar antiga e precipita a sociedade no jogo perigoso do desejo e do prazer.

Essa análise é mais ou menos unânime nos textos e discursos religiosos. Neles as religiões se escusam de qualquer culpa, pois se mantém como sempre foram.


É mesma coisa que pais que dão péssimos exemplos e quando os filhos se transviam alegam que a culpa é deles, das más companhias, do consumismo, enfim, nada com eles mesmos.

Como compreender a sucessão dos fatos que derrubam antigas ordenações morais?

Por que o materialismo é tão sedutor?

Por que a porta da perdição é larga?

Na atual crise econômica o que menos se fala é em ética. Mas fundamentalmente ela decorre da ganância, da esperteza, da deliquencia de colarinho branco que corrompe as estruturas sociais.
Todavia poucas vozes se levantam para apontar essa falha básica, que não apenas do capitalismo, mas de todos os regimes e ideologias.

Tenta-se remendar com trilhões de dólares. A questão ética fica de lado até na crista da crise, quando nos Estados Unidos, foram pagos bônus milionários a executivos, mesmo tendo o dinheiro origem pública.

Seria demais apontar o fracasso das religiões como causa básica do avanço do materialismo?

O que pede a sociedade moderna?

A sociedade moderna olha para o que diz a ciência. A ciência se define como materialista, no sentido de restringir seu campo de atuação, no caso do ser humano, ao corpo.

Aqui, no corpo, estaria a base de tudo. A neurologia pretende responder a todas as perguntas sobre o comportamento através de complicadas explicações das funções cerebrais descartando qualquer natureza espiritual do ser humano.

Então, as religiões – católica, evangélica ou espírita - fazem de conta que nada mudou, que seus fundamentos continuam intactos, que o comportamento humano derivados das necessidades, desejo, desvios, seja do que for, está errado e que o único caminho é retornar aos roteiros por elas estabelecidos.

Todas essas religiões são cristãs. Isto é, estão baseadas no modelo criado pela Igreja nos primórdios da era cristã e que, estão comprovadamente falhos, incapazes de entender a natureza do ser humano e de dar uma diretriz objetiva para sua vida.

Vivem de rituais, de discursos repetitivos.

A verdade é que as religiões em toda a história são movimentos organizados para exercer o poder.
Promovem a fé, mas não a espiritualidade.

Desprovidas do poder real patinam em doutrinações que não questionam a natureza das emoções, medos e insatisfações do ser humano.”

Espero que tenham gostado do texto. Jaci Régis.

Republicamos este texto no Jornal Abertura de dezembro de 2019. Você pode ler este exemplar no link abaixo:



Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

30 anos da queda do Muro de Berlim - por Roberto Rufo e Silva


Trinta anos da queda do Muro de Berlim.

"Sem o livre-arbítrio o homem não tem nem demérito no mal, nem mérito no bem, e isso é igualmente reconhecido no mundo, onde se proporciona sempre a censura ou o elogio à intenção, quer dizer à vontade. Ora, quem diz vontade, diz liberdade". (Allan Kardec em "Resumo Teórico da Motivação das Ações do Homem").

                          
Há exatos 30 anos, mais especificamente no dia 09 de novembro de 1989, caiu fragorosamente um dos símbolos mais marcantes da Guerra Fria, o Muro de Berlim sem precisar de nenhuma revolução sangrenta. Com a crise econômica do sistema de produção marxista-leninista, os países do Leste Europeu subjugados ao mando da falecida União Soviética desmoronaram como um castelo de areia.

Na pergunta 837 do Livro dos Espíritos kardec indaga justamente sobre qual o resultado dos entraves postos à liberdade de consciência? Poderíamos acrescentar ao direito de ir e vir representado pelo Muro de Berlim.

Os espíritos respondem que os entraves podem constranger os homens a agirem de modo contrário do que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é um caractere da verdadeira civilização e do progresso.

O muro separou o destino de milhões de pessoas, acarretando sofrimentos incríveis diante daquela brutalidade. É bom que se lembre que o muro foi construído pela Alemanha Oriental comunista, com apoio da União Soviética. Por ironia o país se chamava RDA - República Democrática Alemã, a atestar que o substantivo democracia era apenas uma falácia ideológica.

Como em outras partes do mundo, a extrema direita ronda os países do Leste Europeu, em países da antiga Cortina de Ferro, e não poderia ser diferente no que era antigamente a Alemanha Oriental, onde a população apresenta uma insatisfação e frustração com a pouca prosperidade em relação aos alemães ricos da antiga Alemanha Ocidental. Na reunificação era conhecida a lacuna educacional entre as duas Alemanhas, a diferença de aptidões era enorme. Passados 30 anos, das 500 maiores empresas da Alemanha, 423 ficam na antigamente chamada Alemanha Ocidental. E com isso vem a inevitável pergunta: de que adianta a democracia se os frutos do trabalho são para poucos? 

Kardec na pergunta 831 indaga aos espíritos se a desigualdade natural de aptidões não coloca certas raças humanas sob dependência de raças mais inteligentes?  Sim, para as erguer e não para as embrutecer ainda mais pela subjugação. O governo alemão fez vários esforços nesse sentido, mas parece que foram insuficientes. A importante queda do muro de Berlim trouxe a esperança num país unido e acolhedor, sem cidadãos de segunda classe.

Tenho certeza de que em nome de um mundo livre de ideologias totalitárias saberemos conduzir, com a nossa querida Doutrina Espírita a nos subsidiar, a nossa proposta de que " cabe à educação combater as más tendências e ela o fará quando estiver baseada na natureza moral do homem" nos ensina Allan Kardec. 

O jornalista  Hélio Gurovitz escreveu com muita propriedade: "como todo o Leste da Europa, o território da antiga Alemanha Oriental se tornou terreno fértil para a xenofobia, onde o nacional-populismo floresce no solo arado pelo comunismo. Berlim não. Dividida ao meio por 28 anos, reunificada há 30 anos, voltou a ser metrópole cosmopolita de Albert Einstein e Bertolt Brecht. Traz nos destroços do nazismo e do comunismo, a lição mais necessária para o mundo de hoje: nenhum muro contém a força da liberdade ". O Espiritismo humanista assinaria embaixo. Chega de populismos inúteis.  Como escreveu Friedrich Nietzsche "as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras ".  

Roberto Rufo.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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