quarta-feira, 23 de maio de 2018

Revisão sistemática da literatura e sua aplicação em pesquisas com temática espírita Mauro de Mesquita Spinola

Revisão sistemática da literatura e sua aplicação em pesquisas com temática espírita
Mauro de Mesquita Spinola


Resumo
Este estudo apresenta a revisão sistemática da literatura como instrumento de pesquisa com temática espírita. Crescentemente utilizado nas várias áreas da ciência, a revisão sistemática contribui para compreender o estado da arte de uma área ou um tópico de conhecimento, com base em pesquisas qualificadas já realizadas e publicadas.
Inicialmente, é a apresentada a discutido o método de revisão sistemática. Em seguida, é discutida a sua aplicação em pesquisa espírita. Um exemplo é apresentado, visando a compreender o processo e os seus potenciais resultados.
O estudo é inicial e deixa várias questões em aberto, em especial as relacionadas com a aplicação prática do método, mas contribui para que se possa avaliar o potencial desse método para o conhecimento espírita.
Mauro de Mesquita Spinola

Sumário


1      Pesquisa com temática espírita

A ciência está em continua evolução, tanto do ponto de vista de suas descobertas – que abrangem cada vez mais diversificadas áreas da natureza, do ser humano e da sociedade – como no que tange a metodologias de pesquisa.
Em estudos anteriores apresentados em Simpósios e Congressos espíritas, foi discutida a importância do desenvolvimento metodológico das pesquisas com temática espírita e apresentadas alguns métodos e ferramentas disponíveis, que podem ser aplicados nessa área, como tem sido em várias outras [8, 9]. Os citados trabalhos trataram do problema do método, que foi abordado por Kardec [3] e por outros estudiosos, entre eles Herculano Pires [4].
Recentemente, com o advento de ferramentas que exploram o grande desenvolvimento e a ampla disponibilização tanto da internet quanto das técnicas de pesquisa em bancos de dados de publicações científicas, uma metodologia tem ganhado destaque pela sua capacidade de permitir, com muito maior rapidez e eficácia que antes, o mapeamento das pesquisas desenvolvidas em determinadas área ou mesmo sobre tópicos específicos. Essa facilidade agora disponível para os pesquisadores é uma chave essencial para o desenvolvimento de novos estudos de forma mais sistemática e com maior consistência. Essa metodologia é chamada de revisão sistemática da literatura.

2      A revisão sistemática da literatura

A revisão sistemática desenvolveu-se inicialmente em pesquisas da área de saúde, e hoje se constitui em instrumento essencial em todas as áreas da ciência.

2.1     O que é a revisão sistemática?

A definição proposta pelo consórcio Cochrane[1], que visa a reunir e sumarizar as melhores evidências de pesquisas da área de saúde para ajudar os pesquisadores, profissionais de saúde e as pessoas a se informar sobre tratamento, é muito utilizada:
“Uma revisão sistemática tenta reunir todas as evidências empíricas que se enquadram nos critérios de elegibilidade pré-especificados para responder a uma pergunta de pesquisa específica. Ele usa métodos explícitos e sistemáticos que são selecionados com o objetivo de minimizar o viés, fornecendo resultados mais confiáveis a partir dos quais as conclusões podem ser elaboradas e as decisões tomadas.” [13, 12]
A pesquisadora Barbara Kitchenham, de uma área de pesquisa bem diferente (Engenharia de Software), tem visão bastante alinhada com a apresentada acima:
“Uma revisão sistemática da literatura (muitas vezes referida como uma revisão sistemática) é um meio para identificar, avaliar e interpretar todas as pesquisas disponíveis relevantes para uma determinada questão de pesquisa, tópico ou fenômeno de interesse. Estudos individuais que contribuem para uma revisão sistemática são chamados de estudos primários; uma revisão sistemática é uma forma de estudo secundário.” [4]

O Quadro 1 reúne as principais características da uma revisão sistemática. Uma das características citadas é a reprodutibilidade, ou seja, a capacidade de estabelecer e documentar as fontes utilizadas, os critérios estabelecidos, os métodos utilizados e os resultados obtidos de forma que qualquer pesquisador ou interessado no tema (como por exemplo um profissional que deseja aplicar os achados) possa reproduzir a mesma revisão.

Quadro 1 – Características de uma revisão sistemática [1]
Revisão sistemática da literatura (RSL):
Principais características
um conjunto claramente definido de objetivos com critérios de elegibilidade pré-definidos para estudos
uma metodologia explícita e reprodutível
uma busca sistemática que tenta identificar todos os estudos que atendam aos critérios de elegibilidade
uma avaliação da validade dos achados dos estudos incluídos (p. ex., através da avaliação do risco de viés)
uma apresentação sistemática e síntese das características e achados dos estudos incluídos

Mais do que uma abordagem metodológica, a revisão sistemática é cada vez mais um requisito das pesquisas. Os pesquisadores têm a necessidade de sumarizar todas as informações sobre algum fenômeno de forma profunda e não enviesada. A revisão sistemática pode servir para desenvolver conclusões gerais sobre um determinado tópico ou para dar uma base inicial para novas pesquisas [1].
Uma das bases da revisão sistemática utilizada na medicina é a abordagem denominada Medicina baseada em evidência (EBM - Evidence-based medicine) [7], uma prática médica que pretende otimizar a tomada de decisão enfatizando o uso de evidências com base em pesquisas bem desenhadas e executadas.

2.2     Etapas para a revisão

O Quadro 2 apresenta as etapas típicas de uma revisão sistemática.
Quadro 2 – Etapas para a revisão sistemática da literatura (baseado em [4] e [11])
REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Passo
Descrição
Etapa 1: Formular perguntas para revisão
Os problemas a serem abordados pela revisão devem ser especificados na forma de questões claras, inequívocas e estruturadas, antes de começar o trabalho de revisão. Definidas as questões, elas se tornam base de referência para todas as atividades.
Esta etapa envolve:
·         Definir o problema ou questão
·         Definir o objetivo do estudo
Etapa 2: Identificar publicações relevantes
A busca por publicações deve ser extensiva. Múltiplos recursos (tanto informatizados quanto impressos) devem ser pesquisados sem restrições de idioma. Os critérios de seleção dos estudos devem fluir diretamente das questões de revisão e especificados a priori. Os motivos de inclusão e exclusão devem ser registrados.
Esta etapa envolve:
·         Definir critérios de inclusão e exclusão
·         Definir o processo de busca
·         Localizar os estudos
·         Selecionar os estudos
Etapa 3: Avaliar a qualidade do estudo
A avaliação da qualidade do estudo é relevante para cada etapa de uma revisão. A formulação de perguntas (Etapa 1) e os critérios de seleção de estudos (Etapa 2) devem descrever o nível mínimo aceitável de design. Os estudos selecionados devem ser submetidos a uma avaliação de qualidade mais refinada, por meio de guias gerais de avaliação crítica e listas de verificação de qualidade baseadas em design (Etapa 3). Essas avaliações de qualidade detalhadas serão usadas para explorar a heterogeneidade e informar decisões sobre a adequação de meta-análise (Passo 4). Além disso, elas ajudam a avaliar a força de inferências e recomendações para futuras pesquisas (Passo 5).
Esta etapa envolve:
·         Avaliar pergunta
·         Avaliar critérios de seleção
·         Avaliar estudos selecionados
·         Avaliar análises e meta-análise
·         Avaliar evidências obtidas e recomendações
Etapa 4: Resumir a evidência
A síntese de dados consiste na tabulação das características, qualidade e efeitos dos estudos, bem como no uso de métodos estatísticos para explorar diferenças entre estudos e combinar seus efeitos (meta-análise).
Esta etapa envolve:
·         Extrair os dados
·         Sintetizar a evidência
·         Analisar e interpretar os resultados
·         Realizar meta-análise
Etapa 5:
Interpretar os achados
Os cuidados destacados em cada um dos quatro passos acima devem ser atendidos. Devem ser explorados o risco de viés de publicação e os vieses relacionados.
Esta etapa envolve:
·         Explicitar conclusões
·         Desenvolver relatório
·         Disseminar os achados

Este estudo focaliza apenas as duas primeiras etapas. Nos tópicos a seguir é discutida a aplicação dessas etapas em pesquisa espírita.

3      Aplicação em pesquisa com temática espírita: considerações e propostas

A aplicação de revisões em pesquisa com temática espírita tende a ter as mesmas características gerais das revisões realizadas em outras áreas, podendo herdar, desta forma, o conhecimento e as práticas já acumulados sobre essa metodologia. No entanto, da mesma forma que toma formas diferenciadas nos diversos setores, também no âmbito das pesquisas com temática espírita isso possivelmente deverá ocorrer. As etapas e os conceitos apresentados são os mesmos, no entanto, as práticas e critérios adotados nas várias atividades pode variar sensivelmente.
Há ainda um grande caminho para essa construção, que exigirá estudos e iniciativas concretas de aplicação. Este estudo apenas se limita a propor um esboço de propostas para análise e desenvolvimento dos pesquisadores.
O objetivo de sua apresentação é o de que seja discutido pela comunidade e, desta forma, criem-se condições para uma análise crítica que leve ao efetivo desenvolvimento dessas pesquisas.
Segue uma lista de propostas para as duas primeiras etapas, que são as mais sensíveis do ponto de vista de encaminhamento das pesquisas.

3.1     Etapa 1 – Formular perguntas para a revisão

A identificação da questão de pesquisa (que pode ser desdobrada em várias questões) ou seu problema, é uma etapa decisiva, pois permite estabelecer os objetivos da pesquisa. Algumas considerações e propostas:
·         Relacionamento com outras áreas. As pesquisas com temática espírita estão, em geral, fortemente relacionadas com pesquisas realizadas em outras áreas, entre elas as ciências sociais e a saúde. A questão a ser estudada tocará portanto em outras áreas, o que constitui, por um lado, oportunidade para abarcar pesquisas (possivelmente algumas muito recentes) já realizadas e traz, por outro, vieses já estabelecidos que polarizam por vezes a tradição dessas pesquisas. Apesar das dificuldades, o claro diálogo entre as pesquisas é o caminho que se apresenta como mais adequado.
·         Terminologia. Como consequência do relacionamento acima exposto, vários termos utilizados em várias áreas necessitam ser visitados e fazer parte do levantamento, tomando sempre o cuidado de compreender e explicitar os significados que possuem em cada contexto. A palavra doença, por exemplo, possui diferentes conceituações e tratamentos na literatura científica. A literatura espírita também trata do assunto, com um significado e viés próprio. Assim, se vai ser elaborada uma questão sobre certo tema, é necessário deixar claro qual o significado que se atribui para cada termo utilizado.

3.2     Etapa 2 – Identificar publicações relevantes

Esta etapa exige muito trabalho, pois deverá buscar todo o manancial de interesse (possivelmente uma parte pode não estar disponível na internet) e avaliar a sua relevância para a pesquisa em foco. Seguem as considerações:
·         Acesso a pesquisas já realizadas - 1. É obrigatório o acesso a publicações recentes e antigas necessárias à compreensão do conhecimento já construído sobre a questão em foco. Para isso, a utilização de ferramentas de busca que permitam o acesso a material digital é essencial. Destacam-se as seguintes bases a ser utilizadas, entre outras: Webofscience (webofknowledge.com), Scopus, Scielo (scielo.br), Google acadêmico (scholar.google.com). Dependendo da área de pesquisa, outras bases são também adicionadas a esta lista, com PubMed para Medicina.
·         Acesso a pesquisas já realizadas - 2. Alguns tópicos típicos do conhecimento espírita possuem uma tradição de pesquisa não abarcado pelas bases de publicações científicas. Entre eles podem ser incluídos a mediunidade e a reencarnação, por exemplo. Para uma consistente pesquisa nessas áreas, devem ser consideradas as produções já realizadas por pesquisadores desses temas, buscando acesso a elas por todos os meios possíveis. É fundamental, no entanto, mapear devidamente os vários estudos, analisando sua validade e os vários vieses e riscos que possuem.
·         Diferenciação e qualificação das publicações. As publicações de revistas científicas com identificação clara de seu fator de impacto ou outra medida equivalente (https://en.wikipedia.org/wiki/Journal_ranking#Measures) oferecem maior confiança aos pesquisadores. São revistas para qual os editores submetem os artigos, antes de aprovação e publicação, a revisores ocultos, que analisam e criticam os artigos submetidos. Apenas uma parte dos artigos é aprovada e publicada. Esse mesmo critério não existe para os livros, por exemplo, e para muitos portais e revistas, em que as publicações não são rigorosamente avaliadas.
 A título de clarificação do método e suas peculiaridades, é apresentado a seguir um exemplo que abarca as duas primeiras etapas.

4      Um exemplo

Para ilustrar o processo de realização de revisão sistemática sobre tema relacionado ao espiritismo, foi escolhido o tema experiência de quase morte (EQM). O motivo principal é que o assunto tem sido estudado em outras áreas, tais como medicina e enfermagem, permitindo refletir sobre como podem ser feitas revisões que envolvem temas multidisciplinares. As pesquisas ainda são ativas nos dias atuais, o que leva à percepção de que se constitui tema relevante para a sociedade e a ciência. É inegável, por outro lado, o interesse e o potencial de contribuição da hipótese espírita, que tem sido pouco presente nessas pesquisas.
Estão apresentados aqui apenas os primeiros passos, que compõem a Etapa 1.

4.1     Definição de termos

O seguinte termo exige clara definição para realização da pesquisa: morte e experiência de quase morte EQM. Se necessário e útil, várias outros termos podem ser definidos.
·         Experiência de quase morte (EQM) / Near-death experience (NDE):
o   uma forma de consciência transcendental ou um estado alternativo de consciência que acomete o indivíduo que se encontra em um estado fisiológico extremo (Raymond Mood Jr., v. http://www.boavontade.com/pt/saude/o-que-e-uma-eqm-psiquiatra-explica-experiencias-de-quase-morte).
o   uma percepção consciente da extinção da vida próxima  (a conscious awareness of the forthcoming termination of life) (Suzanne Simpson [9])
o   um alterado estado de consciência comumente ocorrendo durante um episódio de inconsciência, como um resultado de uma condição potencialmente fatal (an altered state of consciousness commonly occurring during an episode of unconsciousness, as a result of a life-threatening condition) (Christian Agrillo [1])

Para efeito deste estudo, será utilizada a definição de Christrian Agrillo, que se baseia em estudos anteriores relevantes.
Experiência de quase morte: um alterado estado de consciência comumente ocorrendo durante um episódio de inconsciência, como um resultado de uma condição potencialmente fatal.

4.2     Questão de pesquisa

A questão de pesquisa proposta é:
Quais são as categorias de pesquisas realizadas sobre experiências de quase morte e que resultados foram já obtidos?
Esta pesquisa pode ser realizada com o uso das palavras chave:
·         Em inglês: “near-death experience”,
·         Em português: “experiência de quase morte”,
·         Em espanhol: “experiencia cercana a la muerte” e “experiencia de casi muerte”.
Todas as pesquisas que utilizem pelo menos uma dessas expressões têm interesse. As aspas são usadas para capturar estritamente os estudos que utilizam essas expressões (não apenas as palavras isoladas. Os próprios artigos pesquisados podem auxiliar na descoberta de sinônimos que podem ser utilizados em novas buscas, de maneira que o processo progrida para os resultados desejados.
A string (chave de busca) utilizado para essa pesquisa é:
near-death experience” OR “experiência de quase morte” OR “experiencia cercana a la muerte” OR “experiencia de casi muerte

Alternativamente, pode ser proposta a seguinte questão, mais restritiva, que busca identificar os estudos que relacionam experiência de quase morte com espiritualidade:
Qual a relação entre experiência de quase morte com espiritualidade?
Para essa busca, a string passa a ser:
(“near-death experience” OR “experiência de quase morte” OR “experiencia cercana a la muerte” OR “experiencia de casi muerte”) AND (“spiritual*” OR “espiritual*”)
O “*” é usado para incluir todas as palavras que se iniciem com “spiritual” ou “espiritual” (spiritual, espiritual, spirituality, espiritualidade etc.)

4.3     As bases utilizadas

As bases seguintes foram escolhidas (algumas são justificadas):
·         PubMed (ncbi.nlm.nih.gov/pubmed)
·         Google Acadêmico (scholar.google.com)
·         Scielo (scielo.br)
Numa primeira busca, só essas bases foram utilizadas, podendo depois ser incluídas outras tais como Web of Science, Scopus, livros espíritas, revistas espíritas, trabalhos apresentados em congressos e outras. Nesta busca, há já a expectativa de compreender o desenvolvimento desses estudos no tempo, levantando principais contribuições e autores. Há também a expectativa de obter material suficiente para responder à questão proposta.

4.4     Primeiros resultados

Seguem alguns resultados obtidos nas bases utilizadas.
A base PubMed, mais restrita (menos publicações, todas em inglês), mas de grande importância na captura de publicações de alto impacto científico, apresenta 146 (Figura 1). Uma pesquisa mais estrita na mesma base, apenas com artigos completos disponíveis, reduz-se para 115. São artigos que representam significativamente as pesquisas avançadas realizadas por pesquisadores da área e devem ser estudados para elaboração da revisão.

Figura 1 – Tela com os resultados da busca completa no PubMed

A busca na base Google Acadêmico apresenta 4210 publicações (Figura 2). É uma quantidade expressiva, que requer pesquisa mais refinada para encontrar os artigos de maior relevância e focalizar neles a revisão. Uma avaliação a ser feita é a de origem das publicações.

Figura 2 – Tela com os resultados da busca completa no Google Acadêmico

A busca realizada na base Scielo (Figura 3), que compreende muitas publicações em português e espanhol, tanto quanto em inglês, apresenta apenas 3 artigos. Chama a atenção a presença de um artigo em português escrito por Bruce Greyson, pesquisador da Universidade de Virginia que publicou vários trabalhos com Ian Stevenson nos anos 1980.

Figura 3 – Tela com os resultados da busca completa no Scielo

Refinadas as buscas e identificadas publicações relevantes para o estudo, é hora de estudar seu conteúdo e iniciar o desenho das categorias de pesquisas sobre EQM, problema/questão proposto neste exemplo. Não foi possível desenvolver todo o estudo até a finalização desta apresentação.

5      Continuidade do estudo

Os resultados obtidos até aqui permitem afirmar que a pesquisa com temática espírita tem plena condição de se utilizar de revisões sistemáticas, seja para sumarizar o conhecimento sobre determinado tema, seja para preparar novos estudos, estabelecendo o estado da arte.
A continuidade da pesquisa será proposta como um projeto coletivo para o CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (www.cpdocespirita.com.br) e todos os interessados estão convidados a participar.

Referências bibliográficas

2.    HIGGINS, Julian P. T.; GREEN, Sally, ed. Cochrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions. Version 5.1.0. The Cochrane Collaboration, 2017. Disponível em: www.cochrane-handbook.org. Acesso em 01/10/2017.
4.    KHAN, Khalid S.; KUNZ, Regina; KLEIJNEN, Jos Kleijnen; ANTES, Gerd. Five steps to conducting a systematic review. Journal of the Royal Society of Medicine, 96(3), 118-121, 2003.
5.    KITCHENHAM, Barbara A.  Reviews in Software Engineering Technical Report EBSE-2007-01, 2007. Disponível em: https://www.elsevier.com/__data/promis_misc/525444systematicreviewsguide.pdf. Acesso em: 01/10/2017.
6.    PIRES, José Herculano Pires. Introdução à filosofia espírita. São Paulo: Paidéia.
10.  SPINOLA, Mauro de Mesquita. O método de estudo de caso e sua aplicação em pesquisa espírita: novos estudos. Anais. Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita. Santos. 2005. Disponível em: http://www.cpdocespirita.com.br/Trabalhos/Estudo_Caso_Mauro_Jacira.pdf. Acesso em: 01/10/2017.
13.  US National Library Medicine. What is a systematic review? 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmedhealth/what-is-a-systematic-review/. Acesso em: 01/10/2017.

Mauro de Mesquita Spinola é Engenheiro e Doutor em Engenharia, Professor da Escola Politécnica da USP (São Paulo), Conselheiro da Fundação Vanzolini e da Fundação Porta Aberta, Autor do livro Introdução à automação (Elsevier). Diretor Administrativo da CEPA (gestão 2016-2020), Participante do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc/Santos), Diretor do Centro de Estudos Espíritas José Herculano Pires (São Paulo). Participante do programa radiofônico Momento Espírita, da Rádio Boa Nova, Autor do livro Centro espírita: uma revisão estrutural (CPDoc)



[1] cochrane.org.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Jornal Abertura - Maio de 2018 - para que todos conheçam

Publicamos para que nossos blogueiros conheçam, se tiverem interesse em assinar o Jornal Impresso, entrem em contato conosco pelo email: ickardecista1@terra.com.br.

Se preferirem baixar o jornal agora disponível online:



Capa

página 1

Página 3

Página 4

Página 5

Página 6

Página 7

página 8

Desfrutem!








sexta-feira, 18 de maio de 2018

Jaci Regis - O Homem e o Humanista - por Eugenio Lara


Jaci Regis
O Homem e o Humanista
Adaptado do texto do autor publicado no site Pense



Eugenio Lara

A primeira vez que tomei contato com o amigo e companheiro Jaci Regis foi no início de 1980, aos 17 anos. Acabara de voltar a São Vicente, vindo de São José do Rio Preto-SP, para cursar arquitetura na UniSantos. Faziam quase dois anos que eu havia me tornado espírita.


Foto do lançamento do Livro - Novo Pensar 

Vim de Rio Preto cheio de ideias, de projetos. Retornei a minha querida cidade natal com o sonho de criar um grupo semelhante ao Instituto de Cultura Espírita do Brasil, fundado pelo grande escritor espírita Deolindo Amorim; de escrever, de divulgar a cultura espírita, profunda, abrangente, transformadora, como havia aprendido com o mestre Herculano Pires. Era um sonho muito distante, remoto, quase impossível, desses que a gente nunca imagina que possa efetivamente realizar.

Inscrevi-me no Clube do Livro Espírita de São Vicente, vinculado à União Intermunicipal Espírita de São Vicente e dirigido pela Dicesp, editora espírita fundada pelo Jaci e pelo José Rodrigues.
O segundo livro que recebi foi Amor, Casamento & Família, a obra mais conhecida do Jaci. Olhei e estranhei ao ver que o livro não era psicografado. Quando comecei a ler, logo percebi uma linguagem semelhante a que via nos livros do Herculano Pires e do Deolindo Amorim, com um sabor maior de contemporaneidade, uma linguagem atual e um estilo fluente, cativante. Fiquei impressionado com o conteúdo do livro e curioso para conhecer o autor.

O contato pessoal se deu no final daquele ano, em um encontro de jovens espíritas promovido pela Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda. Foram momentos marcantes em um domingo ensolarado. Neste dia assisti a uma palestra sua e o conheci pessoalmente. Senti uma emoção muito grande. Nunca havia conhecido pessoalmente o autor de um livro, ainda mais um livro espírita de tão profundo conteúdo e arrojados pensamentos. Após o almoço, ele estava sentado numa cadeira observando a movimentação do ambiente. Fui até ele, me apresentei e falei o quanto eu havia gostado de seu livro. Agradeceu os elogios ao seu trabalho e disse-me que estava para lançar um novo livro, Comportamento Espírita, no início de 1981. Outra obra sua que li com avidez, assim como todos os seus livros posteriores e seu primeiro livro, em parceria com Marlene Nobre e Nancy Pullmann, A Mulher na Dimensão Espírita.

Nesse meio tempo tive a oportunidade de conhecer o periódico santista Espiritismo & Unificação, editado pela Dicesp. Foi total a identificação. Era exatamente o que eu pensava. Ele era editado pelo Jaci e o redator, José Rodrigues, uma dupla formidável. Vi que não estava sozinho. Centenas de companheiros de vários outros lugares do Brasil e fora dele comungavam dos mesmos ideais, da mesma visão e concepção de um Espiritismo cultural, dinâmico e orientado pelo genuíno pensamento de Allan Kardec.

Desde então, até o Jaci desencarnar hoje, de manhã, nesta segunda-feira, 13 de dezembro de 2010, nunca perdemos contato. Não pude me despedir pessoalmente pois ele estava na UTI, muito bem amparado pelos familiares. Infelizmente não resistiu e veio a falecer. Foi um homem que deixou sua marca, profunda, no Espiritismo e nos espíritas predispostos a assumir uma mentalidade mais progressista, aberta ao novo, sem perder as raízes do pensamento kardequiano.

Tive o grande prazer de trabalhar por quase 20 anos ao lado dele. Com os conflitos doutrinários na USE, o Espiritismo & Unificação, que passei a diagramar, foi sucedido pelo Abertura (1987), agora editado pelo Lar Veneranda, através da Livraria Cultural Espírita Editora, Licespe. Nesta época eu era o presidente do Conselho Regional Espírita e acompanhei de perto todo o conflito ocorrido em Santos e em vários lugares do País.

Lembro que fiz o projeto gráfico da noite para o dia, varando a noite, porque o Jaci continuava tocando o jornal, agora com outro nome, do mesmo jeito de antes, com o mesmo dinamismo, inclusive com a mesma diagramação. Ele editava e também diagramava, função esta que eu já estava desempenhando. E jornal não para. Terminada uma edição, outra já entra em andamento. Com o afastamento do José Rodrigues, por motivos pessoais e doutrinários, fui assumindo a redação, diagramação e fechamento do jornal.

O grau de confiança e de respeito, o clima democrático que foi se desenvolvendo entre nós era tão grande que ele me enviava o jornal em estado bruto, muitas vezes sem a manchete, as chamadas, somente com o editorial e seu texto da página três. Mas sempre o respeitei como pessoa e como editor. Procurava sempre consultá-lo e o avisava de alguma mudança editorial que eu julgasse necessária.

Eventualmente nos encontrávamos no Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, evento criado por ele, no Instituto Cultural Kardecista de Santos, onde era fundador e presidente, entidade que eu ajudei a fundar em seu início. O Jaci queria que fosse somente Instituto Kardecista. Debatemos o assunto e propus o nome acrescido da palavra cultura. E ficou cultural por ser mais abrangente e não se restringir somente à cultura kardecista. E, de Santos, por aventar a possibilidade de que pudessem surgir institutos em várias cidades outras do país e do exterior. Ele ouviu os argumentos e decidiu pelo nome atual.

A primeira atividade do ICKS tive a honra de organizar: uma conferência sobre Ecologia, Meio Ambiente e Espiritismo, com o companheiro colombiano radicado no Brasil, Orlando Villarraga. Como o ICKS não estava ainda com suas instalações prontas, promovemos o evento no Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, entidade da qual participo até hoje, cujo membro-fundador mais dinâmico e atuante fora o Jaci, desde os tempos da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, do qual foi presidente, assim como do centro.

Liberdade, respeito e confiança eram parte integrante de nosso trabalho doutrinário. Fui visitá-lo várias vezes e sempre fomos recebidos, eu e minha falecida esposa, com muito carinho e atenção por ele e sua inseparável companheira, Palmyra Regis. Era mais uma oportunidade de ficarmos trocando ideias sobre os mais variados assuntos, mas sempre orientados pela paixão em relação à obra de Allan Kardec e à personalidade que ele foi.
A partir de 2001 passei a dividir essas e outras tarefas doutrinárias com o site PENSE - Pensamento Social Espírita, fundado e editado em parceria com o companheiro José Rodrigues, recentemente desencarnado, em fevereiro deste ano. Até ao ponto em que decidi me afastar do Abertura para me concentrar no site e outros trabalhos doutrinários.

Muitos companheiros de minha geração me perguntavam: “como você consegue trabalhar com o Jaci?” Eu respondia tranquilamente, sem me incomodar: “nosso trabalho é realizado como se fôssemos profissionais, como se fosse um trabalho profissional, apesar de ser voluntário e totalmente doutrinário. Procuramos ser eficientes no que fazemos, apenas isso”.

O Jaci sempre teve fama de ser centralizador, exigente ao extremo, muito duro e seco, enérgico, grosseiro. Mas ao mesmo tempo era bem-humorado, jocoso, carismático e um exemplo de dinamismo, de trabalho, de perseverança, como se fosse uma força da natureza. De fato, ele era tudo isso. E mais, não tolerava corpo mole, ineficiência, incompetência. Não deixava barato, não poupava palavras, era duro mesmo, mas sem ser mal-educado. Ele não falava palavrão. Nunca ouvi dele alguma palavra de baixo calão.

Adorava vê-lo falar. Sempre fui um jacista de quatro costados, mas sem perder de vista suas contradições, sem deixar de contestá-lo quando julgava necessário. Suas palestras sempre traziam pontos polêmicos, criticidade, bom humor. Um debatedor implacável. Era muito difícil debater com ele.

O jornal Espiritismo & Unificação foi um dos poucos que manteve suas portas abertas para determinados movimentos de contestação como o MUE - Movimento Universitário Espírita, caracterizado por propostas que visavam uma correlação do Espiritismo com o Marxismo, com um discurso de esquerda, fundamentado em autores como Manuel S. Porteiro, Humberto Mariotti e Herculano Pires. Mariotti chamava esse grupo, carinhosamente, de esquerda kardeciana. Foi o periódico espírita que mais promoveu o trabalho realizado pela Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), bem antes da penetração mais acentuada de seus quadros e princípios no Brasil, a partir da gestão do escritor espírita venezuelano Jon Aizpúrua, nos anos 90.

Não é exagero afirmar que Jaci Regis foi um dos maiores pensadores espíritas de todos os tempos. Sua produção doutrinária nos livros e em jornal, nos ensaios e conferências, demonstram esse fato. Rompeu com a ortodoxia espírita, com o sectarismo da pureza doutrinária e propôs uma releitura da obra de Allan Kardec, situando-a na contemporaneidade, apontando rumos para o futuro do Espiritismo. Depois dele, o Espiritismo nunca mais seria o mesmo. Seu discurso radical e apaixonado pelo pensamento kardequiano representou um divisor de águas, como se estivéssemos numa encruzilhada.

A proposta de discussão de um novo modelo epistemológico para o Espiritismo, um de seus projetos derradeiros, enviada à Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA), é fruto também de sua ousadia. A CEPA se recusou a discutir o projeto, oficialmente. Mas resultou numa carta de princípios da CEPA-Brasil, mostrando seu claro posicionamento em relação ao caráter e a identidade do Espiritismo, a partir do projeto enviado por ele, dentre outras contribuições.

Para ele o Espiritismo é a ciência da alma, uma ciência humana. O que reafirma ainda mais Jaci Regis como um humanista, não somente no sentido da ilustração, da cultura, mas em sua dimensão sensível, subjetiva, empreendedora, humana. A beleza e eficiência da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, hoje um exemplo de promoção social e educativa, por mais de 30 anos foi por ele dirigida. Toda a obra assistencial e educativa do Lar Veneranda tem a marca de seu espírito empreendedor.

Eugenio Lara
13 de dezembro de 2010.
Publicado no jornal Abertura de Jan/ fev 2013, logo após a desencarnação de Jaci Régis

segunda-feira, 7 de maio de 2018

A verdade ilusória - por Alexandre Cardia Machado


A verdade ilusória - por Alexandre Cardia Machado

No mundo em que vivemos, onde somos bombardeados por todos os lados por fatos e versões, fica cada vez mais difícil diferenciar o que é verdade do que é informação enganosa (fake news).

Talvez o maior problema esteja relacionado à forma como imaginamos que a verdade seja, me explicando, idealizamos que exista uma e só uma verdade e que ela seja absoluta. Isto está no imaginário coletivo, impulsionado pelas religiões e milênios de tradição oral.

Trabalhamos  constantemente em resolução de problemas técnicos há pelo menos 8 anos. Realizamos análise de falhas e investigação de acidentes e posso afirmar: as coisas nunca são da maneira que uma pessoa relata ou imagina que passou, falhas, problemas, acidentes acontecem sempre onde multiplos fatores agem em conjunto.

Destes anos de investigação de acidentes, posso declarar quatro pontos fundamentais:

1.       Causa e efeito são a mesma coisa.
2.       Causa e efeito são parte de um contínuo infinito.
3.       Cada efeito tem pelo menos duas causas , quando não muito mais.
4.       Um efeito só acontece se suas causas existem no mesmo tempo e espaço.

No espiritismo estamos acostumados com esta questão de um contínuo infinito, até chegarmos ao ponto ontológico de que Deus é a causa primeira, mas esqueçamos isto um pouco e nos foquemos na forma como enxergamos as coisas.

Talvez o ponto que mais possa causar espanto é a afirmação de que causa e efeito são a mesma coisa, a explicação é simples: para sabermos se algo é causa ou consequência devemos perguntar por que? Sempre haverão duas respostas pelo menos, que serão duas causas, se perguntarmos mais uma vez a cada causa encontrada, haverão também pelo menos duas causas e assim por diante, ou seja a causa de um foi o efeito de outra causa.

Este Artigo foi publicado no jornal Abertura de abril de 2018 - disponível online no link abaixo:



Um exemplo bem claro: alguém foi ferido a bala: causa1 – condição existência de uma arma carregada, causa 2: alguém puxou o gatilho, as duas coisas precisam acontecer no mesmo tempo, um a condição ( arma carregada) e segundo a ação ( apertar o gatilho); Para entender o que aconteceu, precisamos perguntar novamente, por que a arma estava carregada (causa 3), por que alguém puxou o gatilho (causa 4). Uma vez respondido, vemos que a arma carregada é o efeito da causa 3 e assim por diante.

Todos nós vemos os fatos e as outras pessoas através de um filtro, filtro este criado através de longas existências, na nossa bagagem espiritual, a cada encarnação, temos a oportunidade de refinar este filtro, mas nossas idiossíncrasias estão aqui, nos acompanhando, no nosso caso, estão dando o contorno ao que estamos escrevendo. É parte do que somos. Temos a tendência de classificarmos as coisas que vemos em bem e mal, mais um exemplo: a leoa mata a gazela, pensamos a leoa é má, mas se observarmos a leoa irá alimentar a sua prole, para os leãozinhos a leoa é boa, pensem nisto.
Uma rede de televisão repete sempre uma frase “ a realidade (mostrada num documentário) é sempre um recorte, um filme não é uma vida é um retrato”. O testemunho de uma pessoa, com todo o valor que ele tem , é uma observação um recorte da realidade. Nem sempre esta observação é objetiva, os relatos em geral não se atem ao fato. São vistos sob uma lente própria e sob um ponto de vista pessoal.

É sempre útil e aconselhável seguirmos a tradição dos bons jornalístas, já que nos dias de hoje, todos nós temos o poder de divulgar rapidamente uma informação mas não agimos como jornalistas. Precisamos verificar se uma notícia que nos chega pode ser encontrada, comparada em várias fontes, antes de darmos uma opinião, para que nossa opinião seja a mais independente possível, com o menor viés opinatório possível.

Sendo então o acima afirmado uma teoria aceitável, como saber como agir, como inerpretar as informações que nos chegam? Primeiro é aceitar que a vida é assim mesmo e escolhermos o caminho do equilíbrio, ter mais dúvidas que certezas, pois a certeza cega e a dúvida nos faz pensar.
Em investigações, como por exemplo, acidentes de aviões, os investigadores levam em consideração todos os potenciais causadores de um resultado igual à queda do avião, analisam todos os testemunhos e dados disponíveis e uma vez que uma teoria é desenvolvida, testam a mesma em simuladores, para só então determinar as causas do acidente. Os investigadores não escrevem, no primeiro momento qual foi a causa, quem foi o culpado, primeiro é preciso entender o que aconteceu.
No nosso dia a dia, não fazemos isto, escutamos uma versão e se ela é simpática (bate com o que pensamos) em geral a adotamos. Com o advento das redes socias, muitas vezes replicamos, enviamos aos nossos amigos, tudo isto sem parar para pensar muito.

O que aconteceu nos EUA com o Facebook e a empresa de consultoria inglesa Cambridge Analythics, entra nesta conta, em uma eleição acirrada, só é preciso convencer alguns indecisos para vencer a eleição. O marketing explora os nossos gostos, hábitos, curiosidades, todas eles armazenadas nestas midias, e tentam nos convencer ou nos direcionar, mandam notícias boas daqueles que eles ajudam e ruíns dos que estão contra.

Portanto tenhamos atenção e  crítica sempre!


Alexandre Cardia Machado