Escreve um artigo, me pede o editor e líder do Abertura, Alexandre.
Confesso que tenho sido relapso e não tenho contribuído tanto quanto gostaria para
o Abertura. Porém o chamamento acima me
remeteu a reflexão sobre a imprensa espírita, liberdade de imprensa e o
privilégio de viver em um país onde a liberdade de expressão está garantida,
pelo menos por agora.
Digo privilégio, pois liberdade de imprensa é exceção no contexto
global. O mais recente relatório da ONG americana Freedom House, revela que a
liberdade de imprensa atingiu o nível mais baixo em dez anos. Segundo esse
estudo em 2013 apenas 14% da população vivia em países onde a imprensa é livre
(Noruega, Suécia, Dinamarca e Holanda por exemplo). Entre os 197 países
analisados, 63 foram classificados como livres (quase toda a Europa ocidental, Austrália,
Japão, mais EUA e Canadá nesse grupo),
68 como parcialmente livres (Brasil, Índia e Argentina estão nesse grupo)
e 66 como não livres (Cuba, Rússia, Coréia do Norte, China e Venezuela nesse
grupo). Segundo a ONG, a piora da
liberdade de imprensa se deve ao desejo dos governos de controlar a informação
por meio de intimidação física a jornalistas, restrições ao trabalho de
repórteres estrangeiros e mais impedimentos aos veículos online. No Brasil a
ONG cita a morte de três jornalistas em 2013, muitos outros atacados durante os
protestos populares, ameaças na justiça contra blogueiros e alto número de
pedidos governamentais para a retirada de conteúdo online.
No Brasil, o debate sobre controle da mídia, império da mídia e outras
denominações está sempre presente nos discursos de partidos e candidatos. É
patente que seria muito mais fácil para governantes corruptos que 100% da mídia
fosse chapa branca e amiga – assim nunca nenhuma falcatrua seria divulgada e o
país seria um verdadeiro mar de rosas. Nos últimos tempos, em que ninguém
assume por seus erros ou malfeitos, mesmo quando o flagrante é óbvio, a guerra de
versões e afirmações falsas repetidas ao infinito superam qualquer análise de
fatos mais ponderada. A proliferação de
blogs, páginas online e do facebook auxilia ou dificulta o processo? No meio espírita,
não temos realmente uma imprensa livre, pois cada periódico segue a linha
editorial e doutrinária de seu grupo patrocinador e pouco espaço (se algum) é
aberto a confrontação de idéias ou ao outro lado da moeda. No final nossos
periódicos falam o que o público assinante quer ouvir, ou seja doutrinamos a nós
mesmos. A imprensa espírita é de fato um instrumento de doutrinação e
confirmação das idéias de seus editores e grupos patrocinadores. Felizmente
temos uma gama grande de periódicos o que permite aos leitores realmente
interessados compreender a diversidade de pensamento no movimento espírita.
Mais recentemente as listas de discussão e blogs espíritas entraram no
circuito, mas também reproduzem o mesmo panorama. Além do mais, por sua própria
natureza, as listas de discussão via email ou internet propiciam debates
intermináveis e quase sem nenhuma conclusão ou fechamento dos assuntos,
dificultando o aprofundamento de tópicos e o avanço das idéias.
Qual o futuro da imprensa escrita? Estariam os periódicos fadados ao
declínio e morte? E a imprensa espírita? Penso que a imprensa escrita, jornal
deve sim estar com seus dias contados. Provavelmente em alguns anos 100% da
comunicação será através de meios digitais e os jornais impressos devem
desaparecer. A informação estaria disponível através de sites, e outros meios
digitais online, com maior rapidez. Essa massificação de meios, provavelmente
vai gerar num primeiro momento uma redução da qualidade, pois todos terão meios
de expressar suas verdades e opiniões, e repetir ao infinito suas convicções, sejam
elas embasadas em fatos, ciência ou não. Com o tempo, somente a credibilidade e
independência de alguns deve prevalecer. Quanto a imprensa espírita deve seguir
o mesmo caminho, ou seja da proliferação de meios, pessoas e grupos expressando
suas idéias. Se teremos público para consumir todo esse material, isso é outra
conversa. Uma certeza fica, o Espiritismo, como ciência da alma, progressista e
confiante no progresso da humanidade necessita da liberdade de expressão e de
imprensa para florescer. Assim os verdadeiros espíritas deveriam ser defensores
ferrenhos desse direito, acima de outras convicções ideológicas ou partidárias.
Só pode existir Espiritismo progressista, científico num ambiente de liberdade
de expressão e debates de idéias. Sem esse ambiente o espiritismo morrerá ou
virará uma religião dogmática e fechada.
Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Junho de 2014
Só com liberdade de expressão e debates de ideias a imprensa espírita permanecerá .
ResponderExcluirconcordo que a imprensa escrita (jornai impresso) logo estara obsoleto. Hoje todos querem rapidez na comunicaçao de todos os assuntos!
ResponderExcluirMarcelo, relendo a Veja de 19 de Novembro, no artigo de J.R. Guzzo, extraí esta pérola que reproduzo aqui.
ResponderExcluir" Ao contrário do que gostaria a máquina de propaganda oficial ..., seus 39 ministérios, suas verbas de publicidade, seus empregos, seus contratos de "prestação de serviços" e por aí afora. Precisam, isso sim,do público - e aí as coisas se complicam para quem está mandando no Brasil, pois simplesmente não há discurso de autoridade, ameaças de processo, "rede social" nem nenhuma outra invenção capaz de fazer com que os leitores da revista sumam no espaço ..." é isso ái, este é o papel da imprensa livre. Vemos nossos vizinhos impedindo jornais de circular, fechando redes de TV. Este não é o caminho! Imprensa livre sempre. Alexandre