domingo, 19 de março de 2023
sexta-feira, 17 de março de 2023
DESAPEGA (como deixar um problema) - por Cláudia Régis Machado
DESAPEGA
A palavra desapegar é muito usada para expressar a ideia de desprender,
desligar, distanciar e pode ser utilizada tanto para situações e bens materiais
como para comportamentos, atitudes psicológicas, visão do mundo etc.
O desapego pode ser visto como
deixar um problema, que atrapalha a dinâmica da vida, pois quanto mais o
seguramos, de leve torna-se pesado. É pensar no que podemos simplificar naquilo
que incomoda, no entanto neste artigo vamos explorar mais no campo do estilo de
vida, o modo que conduzimos nossa existência.
Uma expressão, talvez, se encaixe melhor nesta
abordagem ‘Abrir mão do que não nos preenche mais” pois parece mais completa
para o nosso enfoque.
Uma premissa para discutirmos
este tema é ter consciência que viver é estar em constante transformação elegendo
o que é mais relevante para uma jornada vivencial positiva. A essência da vida
é o movimento, a evolução, o crescimento do ser, daí as mudanças estarão sempre
presentes.
Olhando para os caminhos
percorridos devemos levar em conta que é da natureza do comportamento humano nos
sentirmos saudosos das coisas vividas, porque é a história de vida de cada um e
porque trouxeram bons resultados deixando-nos adaptados. E na zona de conforto.
Muitos ”chamados” da vida pedem para
abrirmos mão de muitas coisas que não nos preenchem mais como: fim de um ciclo
da vida, amadurecimento, maternidade, paternidade, aposentadoria entre outras
coisas. Cenários que diversas vezes nos colocam face a face com a necessidade
de transições para tornar a existência mais significativa e gratificante com maior
qualidade.
” Todo fechamento de um ciclo é uma passagem para uma nova abertura”.
Neste caso, falamos em desapego
de estilos de vida que contém comportamentos e atitudes que não tem mais o porquê
de serem reproduzidos, pois não trazem felicidade, empatam a vida, não promovem
alegria e fazem a vida sem graça.
Importante ressignificar nosso
estilo de vida, olhá-lo sob novas luzes. Vislumbrar a vida com nova perspectiva
porque a antiga não nos serve mais, não tem maior significado, só há perda de
tempo e energia.
O ser humano tem padrões de
comportamento que se repetem e geralmente nos viciamos nos caminhos automáticos
quebrá-los não é fácil, entretanto alguns acontecimentos como os que foram
citados anteriormente desencadeiam, provocam movimentos de renovação.
Em qualquer idade devemos nos
enxergar como criadores de novos modos de ser e viver. Sair em busca de coisas
que novas que correspondam às novas necessidades.
Acorde sua imaginação, interessante
conversar com projetos novos com calma não se espantando com as crenças
limitantes – “isto eu não consigo”. Abrir mão é uma escolha que deve estar
alinhada a quem somos e queremos ser. Não é uma busca desenfreada e sim
entender o que é necessário, o que importa.
Nesta nova busca é fundamental
incluir sempre a perspectiva espiritual que amplia, aprofunda a dimensão da
nossa realidade.
Abrir mão pode ser visto como uma oportunidade
de entender que “algo precisa terminar
para a existência continuar a florir”.
Toda essa reflexão tem um
paralelo com a Doutrina Espírita que vê o individuo como um espírito reencarnante
com a chance de progredir, aprender para ser uma pessoa melhor sendo básico
para isto ocorrer - mudanças - e com melhor entendimento podemos incentivar a procura,
para estarmos melhores conosco mesmo e consequentemente com o mundo e com as
outras pessoas.
Também podemos ver no desapego a
lei de destruição que tem no fundo a mensagem: tirar algo para que outras
coisas possam ser construídas e estruturadas.”
É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar o que é chamais de
destruição não é senão uma transformação que tem como objetivo a renovação e o
melhoramento dos seres vivos”.
Artigo publicado no jornal ABERTURA de novembro de 2022
Leia mais - Abertura novembro 2022: https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=206:jornal-abertura-novembro-de-2022
segunda-feira, 6 de março de 2023
O MOVIMENTO DAS IDEIAS NO MOVIMENTO ESPÍRITA - por Ricardo de Morais Nunes
O MOVIMENTO DAS IDEIAS NO MOVIMENTO ESPÍRITA
Na atualidade muitos espíritas sentem
que é necessário ou desejável um posicionamento de caráter político. No artigo
do nosso estimado amigo Roberto Rufo no Abertura do mês de setembro ele indaga
ao comentar sobre um evento do coletivo Espíritas à esquerda: “politicamente sou de centro-direita. Tenho
salvação? ” Alexandre Cardia, nosso
querido editor, afirma na mesma edição “temos
publicado artigos de nossos articulistas, alguns de centro, outros mais à
direita ou mais à esquerda”. A referência à esquerda, à direita ou ao
centro está na ordem do dia no movimento espírita brasileiro.
O que quero ressaltar, no entanto,
nesse artigo, não é propriamente o posicionamento político que cada um entende
melhor para si, o que é legitimo dentro de uma perspectiva de livre pensamento.
Por exemplo, eu mesmo me situo em uma perspectiva de crítica ao capitalismo,
por entender que o capitalismo, enquanto sistema econômico, precisa ser
superado ou, pelo menos, reformado profundamente, pois efetivamente tem gerado
abismos de desigualdade intransponíveis entre os seres humanos, criando de um
lado uma restrita classe de privilegiados que tudo possuem ao excesso e, do
outro, a grande maioria, uma população marginalizada excluída dos bens
fundamentais à vida. Nesse sentido, me
coloco à esquerda em termos de posicionamento político, sem a menor hesitação.
Mas meu objetivo hoje não é analisar
as posições de esquerda, centro ou direita existentes no movimento espírita
brasileiro. Meu objetivo é chamar atenção para o fato de como as circunstâncias
históricas objetivas mudam independentemente de nossas vontades pessoais e nos
colocam desafios inesperados para a reflexão.
Há alguns anos, no Brasil, o assunto
fundamental no movimento espírita, para um importante número de pensadores, era
sobre a natureza religiosa ou não do espiritismo, sobre a natureza cristã ou
não do espiritismo. Esse foi o grande debate no qual estiveram envolvidos
grandes pensadores, uns defendendo a natureza cristã e religiosa do
espiritismo, outros defendendo a natureza laica e universal da proposta
filosófica espírita. O debate era tão intenso que se criou naquela época uma
lenda urbana ou, como diríamos hoje, uma “fake News”, de que alguns espíritas,
no caso os laicos, queriam “tirar Jesus do espiritismo”.
Na atualidade, no entanto, esse debate não
deixou de ser relevante. Pelo contrário, como espírita laico e livre pensador
entendo que este tema é fundamental para a melhor compreensão da obra de Allan
Kardec, porém, esse tema cedeu muito espaço às questões políticas e sociais.
Tais questões surgiram a partir de uma demanda
da sociedade brasileira para que os espíritas se posicionassem quanto a sua
visão de sociedade e política, dadas as crises e ameaças à democracia liberal
brasileira. Não foi por acaso que surgiram os chamados coletivos espíritas, nos
quais a preocupação social é evidente já a partir da denominação desses grupos.
Interessante observar, neste novo
horizonte de discussão, que tem havido diálogos interessantes e fraternos entre
espíritas laicos progressistas e espíritas religiosos progressistas. Assim como
os espíritas conservadores também dialogam entre si sejam eles laicos ou
religiosos. As demarcações rígidas que
tínhamos entre espíritas religiosos e não religiosos se atenuaram em parte por
força da temática política e social e houve um processo de interação em nosso
movimento espírita. Nesse sentido, o
adjetivo “progressista”, pode pertencer a espíritas laicos ou religiosos o
mesmo ocorrendo com o adjetivo “conservador”.
É necessário chamar atenção que essa
agenda temática se impôs de fora ao movimento espirita brasileiro e convocou os
espíritas a pensar sobre as questões políticas e sociais de seu tempo e, a
partir dessa reflexão, se dividiram em visões de mundo distintas. Essa situação
nos mostra claramente como somos reféns, em boa medida, de nosso tempo histórico.
Na verdade, o “Espírito do tempo” é a moldura sobre a qual se realiza nosso
fazer filosófico.
O espiritismo, enquanto filosofia
espiritualista, pode ser apto a acompanhar o devir das ideias. Mas também pode
não acompanhar e ficar estagnado passando a se constituir em mais uma
cosmovisão dogmática no campo do espiritualismo.
Mais uma vez é necessário lembrar o acerto da
famosa frase de Léon Denis: “O
espiritismo será o que dele fizerem os homens”. Ou, em boa linguagem
atual: O espiritismo será o que dele
fizerem os homens, as mulheres, e os integrantes da comunidade LGBTQI+ de nosso
tempo.
Uma coisa é certa em meio a esses novos
enfoques e prioridades temáticas que abalam, mas também redirecionam o
tradicional movimento espírita brasileiro. Não será fácil para a maioria dos
espíritas, principalmente os que já militam há muitos anos no movimento
espírita, se acostumarem a essa mudança de agenda temática. Surgirão muitos
espíritas que não se reconhecerão sintonizados com esse novo tempo de reflexão
espírita.
A nossa tendência, como ser humano, é nos
cristalizarmos em nossas idiossincrasias, é nos acomodarmos em nossas “verdades”
e em nossas “certezas”. Porém, o novo sempre vem, e nos assusta. A verdade é
que desejamos, mesmo que de forma inconsciente, que o tempo pare, na exata
conformidade dos nossos anseios pessoais e de nosso mundo muito particular.
Mas, felizmente, o mundo é maior que nossos desejos, que nossos condicionamentos,
enfim, o mundo nos supera.
Artigo originalmente publicado na página 8 do Jornal Abertura de outubro de 2022. Se quiseres ver o jornal todo baixe:
sábado, 4 de março de 2023
Educação Espírita - por Cláudia Régis Machado
Educação Espírita
Pais, professores e educadores preocupam-se com a formação das
crianças. Ocupam-se com o
desenvolvimento da saúde - nos hábitos higiênicos, cuidados pessoais, alimentação
etc. Com o desenvolvimento motor - nas habilidades manuais, na orientação
espaço e tempo, etc. Com o desenvolvimento do pensamento -cognitivo, a inteligência
e com o desenvolvimento emocional e afetivo e outros elementos.
Enfim, pensando em Educação, na formação do ser, está
incluso a dimensão moral. O desenvolvimento da moralidade, que pode levar à espiritualidade
visto aqui com o olhar espírita que trata de colocar em seu cotidiano a ideia
de imortalidade dinâmica, da dimensão espiritual, de transcender o material em
busca de algo maior. É sobre este tema que vamos nos concentrar.
Moral, regras de boa conduta, “um conjunto de deveres, ou
seja, de ações consideradas obrigatórias”.Compreender o que é certo ou errado. O
que é bom e o que é mau para nós e para os outros. Metaforicamente falando, as regras equivalem
a mapas, e os princípios, a bússolas. É com as bússolas que se fazem mapas e
não ao contrário. Mas como para a demanda dos princípios morais há necessidade
de maior complexidade intelectual para
serem compreendidos, inicia-se isto nas crianças com a introdução das regras. E é através delas que
a criança pequena entra em contato com a moral. Chegando a valores, princípios
que nortearão uma filosofia de vida.”
Os espíritas sabem que os filhos são espíritos vividos e
trazem experiências e tendências próprias, mas que reencarnam para criarem um
nova estrutura de personalidade e caráter para ajudar na formação dessa
estrutura cabe desenvolver todas as potencialidades assim como princípios
morais, a espiritualidade possibilitando que o espírito progrida, melhore e
suplante ou equilibre as tendências trazidas.
O foco aqui a Filosofia Espírita que tem o espírito na
perspectiva da imortalidade, da evolução e o progresso constante e a existência
de Deus
Muitos pais educam os filhos através das regras de bem
conviver, de bom relacionamento, da generosidade, dos direitos e deveres, o que
é um excelente caminho sem dúvida, mas não aprofundam na busca de respostas e
compreensão de outras questões como buscar propósitos maiores, ver o mundo não
só pelo lado material e a busca de
valores morais mais sofisticados, deixam de lado da espiritualidade,
muitas vezes esquecido ou deixado para segundo
plano. Acreditam que a vida lhes ensinará. Outros não se sentem preparados não tem em si isto
desenvolvido ou até tem, mas não
são firmes em suas convicções. Pensam em deixar quando a criança for adulta,
formada para buscarem por si mesmo. Dando liberdade de escolha e decisão.
Acreditam ser este um ponto de livre arbítrio e que cada um mais tarde sozinho
pode optar e definir suas preferências. É um modo de ver e agir.
Mas há responsabilidades, esta é a missão dos pais e educadores
lançar as bases, semear, como fazem em outras áreas do bem viver. ”Oferecer
estruturas confiáveis e úteis que facilitem a sua orientação”.
Lançar sementes para que mais tarde desabrochem ou não. As
crianças necessitam de educação, orientação, estímulo e reforço e subsídios para
que possam crescer e florescer positivamente.
Muitos podem perguntar quando devemos começar este
aprendizado?
Piaget coloca que a criança só vai conseguir seguir regras
de viver bem as relações sociais quando se estruturam em regras- a partir dos
6-7 anos. E quando de forma cristalina há interesse em participar e atividades
coletivas e regradas e procedimentos que contem regras.
Atualmente existem estudos que mostram que as crianças de 5
anos não é só um ser obediente, mas sim dotada de sensibilidade moral mais
ampla embora inacabada. “ Por volta dos
4 e 5 anos de vida as crianças começam a perceber que ao lado das coisas que
fazem há aquelas que devem ser feitas”. Ela vai observar, seguir exemplos das
pessoas afetivamente conectadas, experimentar simpatia pelos sentimentos dos outros,
mas sem explicações racionais. Havendo uma fusão de medo e amor, simpatia e
confiança responsáveis pelas “primeiras vontades de penetrar o universo moral e
ser penetrado por ele” .Mais tarde por volta de 8 a 9 anos os princípios morais
que demandam maior sofisticação intelectual para serem entendidos entram em
cena.
Agora que sementes lançar? Cada família vai cultivar a
filosofia que norteia a sua vida, os valores que seguem, as posturas, atitudes
éticas e morais. Ter isso como base.
Os pais espíritas irão viver, falar e colocar aos filhos os
princípios da Doutrina Kardecista.
Reforçando ainda a
necessidade de se desenvolver a moralidade deste de cedo é por
compreender que é na infância que o indivíduo é mais acessível, maleável a
aprendizagem. A doutrina espírita corrobora com este ponto porque neste período
de inocência e do esquecimento do passado que cria um campo fértil para melhor
aprendizado.
Os pais que conseguem ver a profundidade e importância da
educação moral, devem incentivar asa crianças na participação DAE ações
generosas, estimulando a compreensão das virtudes e suas práticas. Este
compromisso é positivo quando feito de forma tranquila e amorosa.
Parece uma carga pesada, mas existe auxílio nesta tarefa.
Uma dela é a Infância Espírita outras são
os livros, as revistas, as publicações literárias especializadas.
A Infância Espírita tem como objetivo de ensinar o
Espiritismo como um todo e não mais só a evangelização. Mostrando a doutrina em
todos os seus aspectos fazendo ligação
com a realidade da vida, com o dia a dia da criança. Muitos Centros Espíritas
tem em sua estrutura o departamento de Infância Espírita
Na Infância Espírita o Espiritismo é transmitido de forma
sistematizada organizada e prazerosa. Adequado a cada faixa etária. Neste
ambiente também é a oportunidade de se empregar o que se aprender, já que o
ensino é feito em forma de grupos o que convida à convivência aplicando-se os
princípios de respeito, solidariedade, olhar o outro nas suas peculiaridades
etc.
Este trabalho deve ser feito com amor, criando laços afetivos entre os participantes. As
pessoas ficam aonde se criam vínculos afetivos. E o importante é que os
orientadores mesmo sem formação acadêmica demonstrem atenção e conhecimentos
pedagógicos e psicológicos e de Espiritismo.
Necessário também integrar neste trabalho as famílias e é
importante que estas apresentem disposição em se integrarem ao trabalho e não
só delegar. O lar é a unidade social educadora por excelência.
O projeto da Infância Espírita deve ser dinâmico, moderno,
ter uma linguagem adequada ao publico infanto-juvenil. Onde há criança, há
energia em movimento, inquietação e curiosidade.
A Infância Espírita não é uma tarefa simples requer
responsabilidade e seriedade no na ocupação que vai ser desenvolvida.
Seria de grande proveito que a equipe de pessoas voltadas a
este ofício apresente alguns pontos como serem:
1.
Estudiosos do Espiritismo
2.
Conectados com a modernidade para fazer ligação
da doutrina com a realidade prática da vida .” Antenados” nas descobertas do
mundo, nos conhecimentos alcançados.
3.
Atualizados para motivarem e estimularem as
crianças e os jovens que lá frequentam para aprenderem Espiritismo e terem laços afetivos.
Os livros espíritas
para esse público também devem ser feitos de uma maneira atraente, atual, que
estimulem as crianças a procurarem a leitura espírita como algo gostoso de se
ler e aprender. Com este intuito eu fiz o livro” Kadu e o Espírito Imortal”. Procurei
levar técnica, brincadeiras e tarefas
para que o leitor buscasse com seu interesse conhecer o universo espírita. Este
livro pode ser utilizado como programa para o orientador na Infância Espírita,
já houve experiências neste sentido e se revelaram positivas.
Kadu e o Espírito Imortal é um livro dinâmico que
estimula as crianças e os jovens a lerem e descobrirem como é prazeroso
conhecer a Doutrina Kardecista, sua história, seus princípios e a partir daí pensar, analisar,
discutir e praticar. E como a ideia do Espírito imortal, a imortalidade muda toda a visão de si mesmo e
do mundo que os rodeia.
Na linha da Educação Espírita há também a Pedagogia Espírita
que é uma proposta mais ampla, que levaria os currículos e método escolar ao
verdadeiro fim superior o da formação integral e não só a instrução, mas dando
uma diretriz segura para o uso da inteligência e o desabrochar da qualidade dos
sentimentos. A utilização da filosofia espírita no sistema educacional.
Artigo foi publicado no Jornal Abertura de dezembro de 2022.
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quinta-feira, 2 de março de 2023
Onde buscar a vontade de superação? por Roberto Rufo
Onde
buscar a vontade de superação?
"Estou
esperando o tempo passar rapidamente. Quem sabe assim chegam logo os dias
melhores que tanto falam ``.(Pensador Desconhecido).
"Uma
Igreja que se casa com o espírito de sua época, corre o risco dessa época passar
e a Igreja tornar-se viúva dessa época" (Frase de Bento XVI ao Cardeal
Bergoglio no filme Dois Papas).
Em
seu fantástico livro "Comportamento Espírita" , Editora Dicesp,
1981 (possuo um exemplar assinado pelo autor), capítulo 3 - O Espírita e o
Mundo" o autor Jaci Regis aponta que "a visão global do
espiritismo, abrangendo desde as causas primárias à harmonia do Universo,
oferece elementos capazes de levar o homem a situar-se na vida".
Essas palavras ditas a 41 anos atrás apostavam que a Doutrina Espírita seria
condição necessária e suficiente para sabermos o que somos, o que estamos
fazendo no mundo e qual o nosso destino. Infelizmente as coisas não caminharam
dessa forma. O espiritismo passou a ser visto pela nova intelectualidade
surgida na época como pouco aliado à realidade. Era preciso que novas teorias
fossem acrescidas ao ideário espírita. Não falo das descobertas das
ciências que nos trazem aperfeiçoamentos na maneira de pensar. Falo da
introdução de conceitos que mais não querem do que substituir a essência do
conhecimento espírita por teorias sociais que prometem mudanças radicais no
mundo. Especialmente contra as desigualdades sociais.
Me parece haver uma certa vergonha intelectual nas citações sobre aquele que é considerado pela teoria espírita como o maior exemplo de moral a ser seguido.
Volto-me
mais uma vez a Jaci Régis no livro e capítulo citado acima ao nos ensinar que
" o espírita vê a sociedade composta de espíritos a exprimirem estados
evolutivos próprios, nos atos do dia a dia, nas esquematizações sociais e
percebe a ânsia desses mesmos espíritos em buscar, mesmo que no plano
teórico, comportamentos mais satisfatórios individual e
coletivamente. Por isso, o espírita nega os valores do mundo, enquanto
permaneçam no nível do imediatismo e no desconhecimento dos
valores espirituais da vida". Vi com muita tristeza nesses anos
de turbulência ideológica um vídeo de espíritas bolsonaristas, com o hino
nacional num arranjo de piano ao fundo, e de repente surge a imagem de
uma coroa de espinhos e a epígrafe: foi por amor, complementada
por Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Um grupo de quinze
pessoas vestidas de branco dão mensagens de apoio à manifestação
golpista convocada por Bolsonaro para o 07 de |setembro. E terminam cada
um com a fala: eu sou espírita e apoio você , meu presidente. Eu te
autorizo a fazer o que for necessário.
Assim como a Teologia da Libertação na década de 1960 trouxe a política partidária para dentro da Igreja Católica, o espiritismo também está trazendo a política partidária para dentro das suas hostes. O movimento Espíritas da Esquerda é um claro exemplo disso. Esquecem que a política é um dos campos onde as decisões e os caminhos sempre serão tomados com base nos desejos carnais. Vou além, e afirmo que hoje mais do que nunca os interesses econômicos ou de grupos de interesses é o que rege a política. O espiritismo corre esse risco se trouxer a política partidária para dentro dos seus domínios.
Na verdade, não há novidade no que está acontecendo no mundo. Como afirma a Doutrina Espírita, o avanço moral não acompanha o progresso intelectual. Estamos bem atrasados moralmente. É inevitável que episódios de violência e transformações de todo tipo se apresentem como parte do processo de evolução dos espíritos. A Doutrina Espírita é uma luz na escuridão. Mas os espíritas são parte da humanidade, portanto sujeitos ao processo. O espiritismo foi sequestrado no Brasil pela FEB que o transformou numa religião desprezada pela sociedade. Essas novidades como esquerda ou direita dentro do movimento espírita fazem parte dessa inquietação que pretende levar o espiritismo para o que consideram a verdade a ser implantada. Mas tudo isso é inútil. O espiritismo não tem dono. Um ótimo 2023 a todos.
Artigo publicado no jornal ABERTURA de janeiro - fevereiro de 2023
Baixe aqui:
Roberto Rufo.