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quarta-feira, 29 de maio de 2013

A trajetória da ciência espírita - por Alexandre Cardia Machado

Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura em outubro de 1989, continua atual, estamos publicando aqui para que você leitor se manifeste. Qual a sua opinião?

A trajetória da ciência espírita


Há uma ciência espírita? Teria havido em algum momento, no tempo de Kardec? Qual método da ciência espírita? Qual o seu objeto? Como o Espiritismo é visto pelas instituições cientificas? Estas questões serão analisadas neste artigo. Não temos a pretensão de trazer a ultima palavra sobre o assunto. Ao contrário, queremos iniciar um debate que reacenda a chama da busca do conhecimento nas fileiras espíritas.


Os princípios básicos do Espiritismo são apresentados na Introdução de “O Livro dos Espíritos”. Estes princípios podem ser considerados como os alicerces da Ciência Espírita.

Analisaremos os mesmos não pelo seu inegável valor, mas, considerando-os sob o ponto de vista da Filosofia Espírita.

Poderíamos resumir os princípios espíritas nos seis que se seguem;

1. Existência de Deus, Espírito e Matéria.

2. O Homem é formado por corpo físico, períspirito e Alma.

3. A Alma é imortal.

4. A Alma evolui.

5. Pluralidade das existências e dos mundos habitados.

6. Comunicabilidade entre encarnados e desencarnados - Mediunidade.

Sob o ponto de vista da Ciência, um princípio só é cientifico se puder ser provado, ou seja, é necessário que se submeta essa afirmação a provas e testes cientificamente controlados.

Desta forma podemos afirmar que até o momento não foi possível submeter a nenhum tipo de comprovação cientifica alguns desses princípios espíritas. São eles: Existência de Deus (afeto à Religião e a Metafísica); a existência da Alma enquanto essência (como é definida no Espiritismo é de difícil comprovação); a Imortalidade da Alma; a evolução infinita do Espírito. Tais hipóteses não permitem montar uma experiência onde se possa aferir esta evolução em nível individual, ao longo de diversas encarnações, nem tão pouco provar a imortalidade infinita.

Os demais princípios, sem sombra de dúvida, podem e têm sido provados ao longo do tempo, sem, no entanto, sensibilizar a comunidade científica, mas pelo menos, permitem reunir dados de experimentação que fatalmente resultarão na aceitação como prova no futuro.

MÉTODO ESPIRITA

A impossibilidade de comprovação de alguns de seus princípios faz com que não se possa, a priori, classificá-los como verdades científicas.

Mas independente disto, o Espiritismo possui um método de pesquisa, que Kardec chamou de Método Experimental, ou seja, tal qual às ciências positivas, textualmente: “Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam , que não podem ser explicados pelas leis conhecidas, ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega a lei que os rege; depois lhes deduz as consequências e busca as aplicações uteis” (Gênese, pág.20)”.

Kardec explica nesse paragrafo que o Espiritismo não partiu de hipóteses e sobre elas construiu uma teoria e sim através da observação de fatos é que se estabeleceu uma teoria. Esta forma de ação é muito utilizada na ciência e Kardec afirma que: “acreditou-se que esse método só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas”. (opus cit., pag.20).

O método de pesquisa Espírita libera-se da necessidade da prova experimental, utilizando-se do chamado “crivo da razão” e da confrontação das comunicações. Que certamente foi muito útil para a elaboração da Doutrina. Porém, para a ciência a comprovação se faz necessária. Isto é tão importante que Albert Einstein esperou de 1905 a 1919, para que, durante um eclipse solar, se comprovasse a hipótese, contida na Teoria da relatividade, de que ‘um raio de luz deveria sofrer um desvio quando se aproximasse de um campo gravitacional intenso”.

O Espiritismo nestes pontos perde o apoio cientifico por não poder prová-los.

OBJETO DA CIÊNCIA ESPÍRITA

Toda ciência deve ter um objeto, Kardec em A Gênese, pág.21 diz textualmente: “Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do principio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do principio espiritual”.

E sobre isto diz mais “... O espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência sem o Espiritismo se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos sós pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltaria apoio e comprovação...” (opus cit. pág.21).

Caio Prado Jr. Define ciência como: ”Conhecimento sistematizado, e advertida e intencionalmente elaborado, não se distinguindo senão por essa sistematização em nível, elevado da elaboração intencional do Conhecimento comum ou vulgar...”... “O objeto da Ciência é a Realidade Universal, isto é, o Universo e seu conjunto de ocorrência, feições, circunstâncias que envolvem e também compreendem o Homem” (3).

Pode-se dizer que não existem fronteiras para a Ciência, assim como para o Conhecimento uma vez que o conhecimento científico de hoje será o vulgar de amanhã. Ou ainda, Ciência pressupõe temporalidade, ou seja, uma teoria cientifica fatalmente será substituída por outra que representa melhor a realidade.

A CIENCIA COMO EVOLUÇÃO

É mais do que sabido que o conhecimento científico evolui. Qualquer ramo do conhecimento, da tecnologia desenvolve-se a uma velocidade muito grande, a tal ponto que hoje se dobra a quantidade de artigos publicados sobre qualquer matéria científica a cada 6 ou 10 anos.

Quando a produção científica em determinado campo reduz-se muito se diz que este ramo do conhecimento estagnou “parou no tempo”.

SERÁ O ESPIRITISMO CIENTÍFICO?

O Espiritismo enquanto busca de conhecimento é científico, foi científico nos anos de 1850 a 1870. Sob este ponto de vista, pode-se dizer que o processo de elaboração da obra Kardequiana foi científico. Não o é mais. Isto é fundamental para que não percamos a dimensão da Doutrina!

Hoje não se busca conhecimento novo algum, estamos estagnados praticamente. Não há mais produção científica no Espiritismo, o que existe hoje não é mais Ciência e sim, simplesmente, Conhecimento.

Portanto, hoje podemos substituir o vocábulo Ciência Espírita por Conhecimento Espírita numa abordagem dentro da Teoria do Conhecimento é preciso que entendamos isto: Kardec foi cientista, mas o Espiritismo de hoje não é mais cientifico e, sem demérito algum, um conhecimento incorporado ao conhecimento universal.

CONCLUSÃO

A principal característica do conhecimento científico é que ele é autocorretivo, “capaz de colocar em dúvida, antigas “verdades” quando encontra provas mais adequadas, corrigindo-se, progredindo, aperfeiçoando-se”. (4)

Sobre esta característica Kardec concorda e tece o seguinte comentário “Há”, todavia, capital diferença entre a marcha do Espiritismo e a das Ciências; a de que estas não atingiram o ponto que alcançaram, senão após longos intervalos, ao passo que alguns anos bastaram ao Espiritismo, quanto não a galgar o ponto culminante, pelo menos a recolher uma soma de observações bem grande para formar uma Doutrina”. (4).

Segundo Popper, “a melhor estratégia que um cientista deve seguir não é a de tentar comprovar uma hipótese”. Ao contrário, ele deve pensar sempre em realizar testes, isto é, quando resistir à refutação, será considerada pelos menos provisoriamente, como uma explicação adequada dos fatos, e pode até mesmo ser aceita ou adotada para fins práticos, ganhando inclusive o estatuto de uma lei científica. (4)

Kardec entendia bem isto e declarou em A Gênese “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se as novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”.

Portanto, Kardec tinha noção de que o Espiritismo haveria de evoluir o que, no entanto, não foi entendido por seus seguidores que elegeram a Doutrina escrita em 1857 como a verdade acabada. Quase nada mais se acrescentou e incorreu-se no erro e no risco de passar-se de Científico para Pseudocientífico ou, nas palavras de Gewandsznajder “Não é por acaso que algumas pseudociências estagnaram e seus seguidores tenham se limitado a repetir as mesmas ideias, técnicas e princípios pretensamente verdadeiros de centenas até milhares de anos atrás. As pseudociências,... costumam se isolar-se da ciência. Seus seguidores ostentam às vezes completa indiferença para com as descobertas científicas, sustentando princípios e leis que frequentemente contradizem os princípios científicos”. (4)

Precisamos estar atentos quanto a isto, para não permitirmos que uma Doutrina de tamanha abrangência seja transformada em pseudociência por falta de produção cientifica.

Para saber mais

(1) O Livro dos Espíritos, Kardec, A.

(2) A Gênese, Kardec, A.

(3) O que é filosofia, Prado, C- Série- Primeiros Passos.

(4) O que é método científico, Gewandsznajder,F.

Outros artigos de Alexandre Cardia Machado:


Pode o Pensamento deslocar-se acima da velocidade da luz?

http://icksantos.blogspot.com/2011/10/pode-o-pensamento-deslocar-se-acima-da.html


Abrindo a Mente - Uma entrevista com Hernani Guimarães de Andrade

http://icksantos.blogspot.com/2011/10/abrindo-mente-uma-entrevista-com.html

Curso sobre a EVOLUÇÃO DO PRINCÍPIO ESPIRITUAL

http://icksantos.blogspot.com/2009/06/blog-post.html


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

DA ESPANHA ÀS AMÉRICAS: A TRAJETÓRIA DA TRADIÇÃO ESPÍRITA LIVRE-PENSADORA - por Herivelto Carvalho

DA ESPANHA ÀS AMÉRICAS: A TRAJETÓRIA DA TRADIÇÃO ESPÍRITA LIVRE-PENSADORA
Herivelto Carvalho

Por volta de 1870, Don Justo de Espada, um espanhol oriundo de Málaga, veio tentar a sorte na Argentina, trabalhando em empreendimentos comerciais, na capital Buenos Aires. Trouxe consigo uma carta de recomendação que comprovava sua vasta experiência no ramo, porém, sua maior contribuição ao país que o acolhera, não foi no campo profissional, mas sim no das ideias espiritualistas, pois foi o primeiro divulgador de um movimento que, no dizer de Cosme Mariño, preocupava os intelectuais mais avançados do Velho Mundo: o Espiritismo. Outro espanhol, Angel Aguarod, antigo integrante do Centro Barcelonés de Estudios Psicológicos, se tornou no início do séc. XX, um dos principais divulgadores do Espiritismo na América do Sul. Em Cuba, imigrantes catalães deram início aos primeiros agrupamentos espíritas do país.

Estes exemplos ilustram como a vinda de imigrantes espanhóis foi fundamental para o desenvolvimento do Espiritismo em vários países da América Latina. Além de atuarem como propagandistas da nova doutrina, trouxeram consigo algumas características que eram peculiares do movimento espírita espanhol, dentre elas, uma forte tendência de associação doutrinária com os ideais de livre-pensamento, secularismo e atuação social.

Esse movimento desenvolveu grande unidade e atuação na sociedade espanhola, cuja proposta filosófica se apresentava como a superação das religiões positivas. Esta forma moderna de espiritualismo rechaçava os elementos de dogmatismo existente nas religiões do passado e pretendia desenvolver uma nova espiritualidade racional, capaz de se relacionar com a filosofia e a ciência. Pelas particularidades que o mesmo desenvolveu, formou uma escola de pensamento que tem como atributo principal a interpretação do Espiritismo como um sistema de ideias aberto, progressivo, não-dogmático e relacionado com o livre-pensamento, constituindo, portanto, no sentido filosófico, uma tradição.

Podemos afirmar que o surgimento da tradição espírita livre-pensadora ocorreu, no final do séc. XIX, quando as obras de Allan Kardec se popularizaram na Espanha. Seus expoentes iniciais foram Alverico Perón, Fernandez Colavida, Torres-Solanot e Amália Domingo Soler. Esta tradição adquire características próprias não porque fez um rompimento com o pensamento kardecista, mas sim pelo método de desenvolvimento adotado e pelo modo de atuação no seu contexto social, que se distinguiu do modo como os espíritas franceses praticavam e divulgavam o Espiritismo.

Profundamente organizado e ativo, o movimento espírita espanhol se internacionalizou, influenciando a formação de movimentos espíritas nos países americanos. A Espanha, portanto, se tornou para estes, a principal fornecedora de conteúdo doutrinário, através de periódicos e livros que atravessavam o Atlântico, tornando alguns autores espanhóis muito populares no Novo Mundo. Essa situação fez com que, no final do séc. XIX, a figura da espanhola Amália Domingo Soler se tornasse uma das maiores divulgadoras internacionais do Espiritismo, tendo seus escritos reproduzidos em publicações por toda a América Latina.

Outro exemplo de intercâmbio cultural entre os movimentos espíritas dos dois continentes pode ser notado, durante a realização do Primeiro Congresso Internacional Espírita, em Barcelona, no ano de1888, em que as duas maiores delegações, com exceção da própria Espanha, eram as de Cuba e México, bem como, um dos secretários do evento foi o destacado líder espírita cubano Eulogio Prieto.

Apesar de as ideias de laicidade, livre-pensamento e constante atualização serem praticadas por espíritas latino-americanos e espanhóis, desde as últimas décadas do séc. XIX, com o passar dos anos, no âmbito do movimento espírita pan-americano, o conhecimento acerca desse fato, ficou perdido, a ponto de muitos integrantes desse movimento acreditarem que tais ideais se consolidaram após a fundação da Confederação Espírita Pan-americana em 1946.

Após o resgate e disponibilização virtual de obras clássicas de autores que atuaram como protagonistas no desenvolvimento do Espiritismo pan-americano, realizada com muito zelo pela equipe do projeto PENSE, foi possível uma leitura mais atenta deste material, o que permitiu identificar um grande número de citações e referências a autores espanhóis que se consagraram nas primeiras décadas do movimento espírita daquele país, cujo trabalho apresentava uma ascendência sobre o pensamento dos espíritas latino-americanos. Naum Kreiman, por exemplo, ao falar sobre seu conceito de ciência espírita, cita, diversas vezes, o pensamento de Manuel Sanz Benito, espanhol que, em 1890, publicou importante obra sobre a epistemologia espírita.

Uma análise atenta desse fato confirma que o Espiritismo divulgado e vivido pela CEPA é o desenvolvimento das ideias da tradição espírita livre-pensadora, elaborado durante um intercâmbio cultural, onde o conhecimento espírita produzido nos dois continentes possuía mútua influência. Trata-se de uma escola de pensamento espírita perpetuada e ampliada por pensadores latino-americanos como Mariño, Porteiro, Mariotti, Fernández, Kreiman, Grossvater, Postiglioni, Aizpúrua, dentre outros.

Esse intercâmbio foi crescente e progressivo até os anos 1930, quando a Guerra Civil Espanhola e a perseguição imposta pela ditadura do General Franco destruiu o forte movimento espírita espanhol. A partir desse momento, os espíritas americanos perceberam que estava sob sua responsabilidade, a tarefa de manter vivo o projeto de desenvolvimento do Espiritismo, e que para efetivar esta atividade, seria preciso instituir um movimento integrador para o continente. O resultado dessa percepção culminou com a iniciativa de criação da CEPA.

Os ideais de defesa do caráter progressivo, laico e livre-pensador do Espiritismo bem como o desenvolvimento da Filosofia Espírita e sua atuação em diversos setores da sociedade como a política, a educação, a justiça, etc, tão defendidos na atualidade pelos espíritas cepeanos, podem ser facilmente encontrados na aurora da tradição espírita livre-pensadora.  Em 1890, Sanz Benito, alegava que “nunca o Espiritismo poderá constituir escola, doutrina ou sistema, com afirmações definitivas, pois que sempre deixará amplo campo às investigações e sempre irá ampliando seu curso científico”, dando destaque ao seu caráter progressivo. O próprio Congresso de 1888 se pautou pela manutenção deste mesmo caráter ao buscar efetivar o projeto de Kardec sobre os "congressos orgânicos", que seriam responsáveis pela revisão geral e a adesão de novos princípios. O mesmo evento salientou a característica de laicidade, ao afirmar, no texto de sua declaração final, que era preciso um “esforço constante para difundir o laicismo por todas as esferas da vida”. Alguns anos antes, Colavida, em carta a Albert de Rochas, afirmava essa mesma característica ao declarar que “O espiritismo não é nem cristão, nem muçulmano, nem judeu, etc.”.

Ao longo de sua existência, a tradição espírita livre-pensadora, através das obras de autores clássicos e modernos, contribuiu para o desenvolvimento dos fundamentos e da natureza do Espiritismo. A CEPA ampliou sua participação, nos últimos anos, no Brasil, na Espanha e na França, além de continuar atuante em todo o Continente Americano, e, como uma legítima herdeira dessa tradição, tem a tarefa de manter vivos seus ideais, especialmente, o tão importante caráter progressivo do Espiritismo, considerado por Kardec como a condição essencial para a sua perpetuidade e sobrevivência.

Herivelto Carvalho é servidor público municipal, membro do CPDoc e delegado da CEPA em Ibatiba ES.

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.www.cpdocespirita.com.br / contato@cdocespirita.com.br

NR: Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Abertura de outubro de 2016 - na coluna CPDoc em Foco.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Jaci Régis e Seu Legado - por Alexandre Cardia Machado

 

Jaci Régis e seu legado

 A Literatura Espírita - Compilação da série publicada no Jornal Abertura

Nos aproximamos de dez anos sem a convivência com Jaci Régis desde sua desencarnação em dezembro de 2010, portanto publicaremos uma série de artigos voltados para a manutenção da memória e do reconhecimento de seu legado.

Começando pela literatura, Jaci Régis publicou 12 livros por diversas editoras, a primeira delas Dicesp pertencia à USE - Baixada Santista que também editava o jornal espírita Espiritismo e Unificação. Com o afastamento do nosso grupo da USE em fins de 1986 Jaci Régis cria, ligado à Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, a editora Licespe. Posteriormente em 1999 com a criação do ICKS, seus novos livros passaram a sair com o selo Edições ICKS.


Vejamos então as publicações de Jaci Régis.

A Mulher na Dimensão Espírita - Seu primeiro livro publicado em 1975 em parceria com Nancy Puhlmann Di Girolamo e Marlene Rossi Severino Nobre - pela editora Dicesp e depois reeditado várias vezes pela editora Licespe estando ainda disponível na sua 9ª edição.

Amor Casamento e Família – foram 13 edições entre Dicesp e Licespe– 1977 – livro atualmente esgotado.

Comportamento Espírita – editora Dicesp, depois Licespe, originalmente lançado em 1981. Foi  traduzido para o espanhol pelo Cima de Caracas – Venezuela, ainda disponível para venda em ambas línguas no ICKS.

Uma Nova Visão do Homem e no Mundo – Publicado pela editora Dicesp em 1984, depois a Licespe publicou a segunda edição. Este livro foi atingido em cheio pela ruptura com o movimento religioso, tendo sido colocado no Index, como obra a não ser lida.  Ainda é possível encontrar exemplares da segunda edição aqui no ICKS. Em 2013 foi produzida também pela editora Letras e Textos – com ortografia atualizada. No ano seguinte, 2014 foi traduzida e lançada em espanhol em Porto Rico.

Caminhos da Liberdade – lançado pela editora Licespe em 1990, ainda disponível, sendo um livro de fácil leitura, ainda muito procurado e atual.

Muralhas do Passado – único romance de ficção espírita escrito por Jaci Régis e lançado pela editora Licespe em 1993.  Foi posteriormente publicado pela editora DPL, ainda é possível encontra a edição da Licesp no ICKS.

Introdução a Doutrina Kardecista – publicado pela editoria Licespe em 1997, ainda disponível, altamente recomendado paro o entendimento de um Espiritismo laico e livre-pensador, iniciou a fase de propostas de repensar o Espiritismo.

A Delicada Questão do Sexo e do Amor pela editora Licespe de 1999, ainda disponível, consolida um período onde Jaci, psicólogo, e espírita resolve tratar estas questões delicadas, mas muito importantes e que de alguma forma ficaram marginalizadas, ou idealizadas no movimento espírita.

Doutrina Kardecista – Uma Releitura da Obra de Allan Kardec – Edições ICKS – 2005 – livro esgotado.

Novas ideias – Textos Reescritos – Edições ICKS – 2007 – livro esgotado.

Doutrina Kardecista – Modelo Conceitual (reescrevendo o modelo espírita) – Edições ICKS – 2008, disponível. Se algum quiser a versão em pdf, basta enviar um e-mail ao ickardecista1@terra.com e receberá gratuitamente.

Novo Pensar Sobre Deus, Homem e Mundo – Último livro de Jaci, Edições ICKS- 2009, o ICKS ainda possui 21 exemplares para comercialização.

Agregamos as palavras de nosso amigo e médico  Ademar Arthur Chioro dos Reis que escreveu a biografia de Jaci Régis e que foi publicada neste jornal em janeiro de 2011.

“Um autor que possuía um estilo peculiar, de reconhecida competência. Sua pena produzia há décadas ensaios e crônicas, publicadas em jornais e livros, de rara sensibilidade e ternura, que tocam as mais profundas fímbrias de nossos corações e mentes.

Um texto sensível e criativo, sem que recorresse à mesmice que caracteriza a literatura espírita. Ao mesmo tempo, era capaz de produzir artigos, trabalhos, textos e livros de cunho doutrinários que se constituíram em verdadeiros clássicos da literatura espírita contemporânea, indispensáveis aos estudiosos da Doutrina Espírita. Desenvolveu uma linha de raciocínio e argumentação extremamente fundamentada e consistente, a partir dos postulados de Kardec – que conhecia como poucos.

Era um líder nato e grande realizador. Não há dúvidas de que o Lar Veneranda foi a grande obra de sua vida, pois embora tenha tido inúmeros e valorosos colaboradores, sua obstinação, competência e liderança foram fundamentais para erguer e consolidar esta instituição modelar.

Sua contribuição intelectual ao pensamento espírita, por outro lado, foi sendo desenvolvida e aperfeiçoada num processo no qual se destacam três fatos de fundamental importância na definição de sua obra: a "descoberta" de Freud e sua formação psicanalítica, no curso de Psicologia; o acesso às informações contidas na Revista Espírita, o que lhe permitiu um aprofundamento e a contextualização do pensamento de Kardec; e, por fim, a elaboração de uma proposta de releitura de Kardec, uma reconceituação das atividades doutrinárias, de modo a adequá-las aos princípios e objetivos do Espiritismo, num movimento criado e difundido a partir de 1978, ao qual denominou "Espiritização", que alcançou grande repercussão no movimento espírita.

Constituiu-se, sem dúvida, no mais contundente e consistente crítico do Espiritismo evangélico/cristão e do não assumido roustanguismo da Federação Espírita Brasileira.

Denunciou a concentração de poder nas mãos dos conservadores dirigentes das federativas e suas nefastas consequências. Impulsionou, a partir de meados da década de 80, a discussão em torno do caráter religioso do espiritismo, defendendo vigorosamente que o espiritismo não é uma religião, combatendo a incorporação de práticas e rituais religiosos pelo movimento e as distorções no uso e prática da mediunidade.”

Jaci Régis biografia e vida – por Ademar Arthur Chioro dos Reis

jaci-regis-bibliografia.



Jaci Régis e seu legado:

 

A QUESTÃO RELIGIOSA

 

Para construir este capítulo desta jornada revisória de Jaci Régis vou me apoiar em dois artigos, o primeiro do próprio Jaci Régis “Breve Síntese Cronológica da questão Religiosa que publicamos neste jornal em maio de 2015 a partir de um material que recuperamos em seus arquivos pessoais. E buscamos a palavra de Eugenio Lara que  acompanhou Jaci no Espiritismo e Unificação e aqui mesmo no Abertura por cerca de 20 anos.

Jaci Régis agitou os alicerces do Movimento Espírita trazendo a que foi denominada “Questão Religiosa, foram diversos artigos, conferências e livros tratando disto.

Nas palavras de Jaci Régis:

1979

“Creio que posso dizer que o início de tudo começou em setembro de 1979 quando lancei no jornal Espiritismo e Unificação, a campanha da Espiritização.

1980

Nas edições seguintes, no ano de 1980, o tema da Espiritização esteve presente, inclusive com adesões e rechaço.

Já em setembro desse ano foi sugerida uma Campanha Nacional pela Espiritização

Em sequência, na edição de novembro de 1980, escrevi um artigo com o título:

Espiritismo religioso. existe isso?

1981

No ano de 1981 prossegui com a ideia da Espiritização.

1982

Também em 1982, o tema da Espiritização continuou.

Maio de 1982 – publiquei artigo do Krishnamurti “Polêmica Espírita”.

1983

Artigo do Krishnamurti “O Discurso de Abertura”, analisando o discurso de Kardec de novembro de 1868.

Artigo “Kardec afirmou que o Espiritismo não é religião”.

1984

Dezembro de 1984 – fórum debate religião espírita – na sede da Federação Espírita do Estado de São Paulo entre eu e Heloisa Pires.

 

1985

Publiquei uma coluna sobre a questão religiosa durante alguns meses,

Lançado o livro “O Laço e o Culto” de Krishnamurti

Foi apresentada a Chapa Unificação Hoje, para a diretoria da USE, com a candidatura de Henrique Diegues à presidência.

Editorial do Boletim da Federação do Rio Grande do Sul sobre a questão religiosa

1986

Participação ativa de Ciro, Jaci e Miguel na elaboração do 7º Congresso Espírita Estadual, realizado de 22 a 24 de agosto de 1986.

Centros ligados à UMES pedem definição não religiosa

Realização do 7º Congresso Espírita Paulista1896:

A discussão sobre o Espiritismo religioso, mobilizou muita gente, pró e contra. Artigos, cartas, editorais, foram publicados em vários jornais e realizados fóruns e debates.

A apresentação de uma chapa notoriamente não religiosa, para a diretoria da USE foi o ponto culminante da reação do sistema.

A situação cresceu quando a UMES de Santos e a 4º UDE, representadas por mim e por Ciro propôs e conseguiu a realização do 7º Congresso Estadual, que foi, afinal, o ponto de ruptura final.

A direção da UME de Santos foi praticamente destituída pela Diretoria da USE, DEIXAMOS A Dicesp, que criamos como parte da UMES como editora do jornal Espiritismo e Unificação e de livros.

Embora se tenha veiculado que existia o “grupo de Santos”, na verdade era eu, Jaci Regis, o único componente.

Vários espíritas contribuíram como Ciro Pirondi, Egydio Regis, Marcos Miguel, Krisnamurti C. Dias do nosso lado e vários do outro lado.

1987

 

Deixamos a direção do jornal Espiritismo e Unificação, no mês de fevereiro.”

Bem, neste momento, no mês de abril de 1987, nasce o jornal Abertura com projeto gráfico de Ciro Pirondi e diagramação de Eugenio Lara.

Algumas reflexões sobre Jaci e sua forma de trabalhar

 

Recorremos a Eugenio Lara, retirando alguns trechos de seu artigo - Jaci Régis – O homem e o Humanista - de janeiro/ fevereiro de 2011, primeira edição do Abertura após a desencarnação de Régis.

“O contato pessoal se deu no final daquele ano (1980), em um encontro de jovens espíritas promovido pela Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda. Foram momentos marcantes em um domingo ensolarado. Neste dia assisti a uma palestra sua e o conheci pessoalmente. Senti uma emoção muito grande. Nunca havia conhecido pessoalmente o autor de um livro (Amor casamento e Família), ainda mais um livro espírita de tão profundo conteúdo e arrojados pensamentos. Após o almoço, ele estava sentado numa cadeira observando a movimentação do ambiente. Fui até ele, me apresentei e falei o quanto eu havia gostado de seu livro. Agradeceu os elogios ao seu trabalho e disse-me que estava para lançar um novo livro, Comportamento Espírita, no início de 1981. Outra obra sua que li com avidez, assim como todos os seus livros posteriores e seu primeiro livro, em parceria com Marlene Nobre e Nancy Pullmann, A Mulher na Dimensão Espírita.”

“Nesse meio tempo tive a oportunidade de conhecer o periódico santista Espiritismo & Unificação, editado pela Dicesp. Foi total a identificação. Era exatamente o que eu pensava. Ele era editado pelo Jaci e o redator, José Rodrigues, uma dupla formidável. Vi que não estava sozinho. Centenas de companheiros de vários outros lugares do Brasil e fora dele comungavam dos mesmos ideais, da mesma visão e concepção de um Espiritismo cultural, dinâmico e orientado pelo genuíno pensamento de Allan Kardec.”

“Tive o grande prazer de trabalhar por quase 20 anos ao lado dele. Com os conflitos doutrinários na USE, o Espiritismo & Unificação, que passei a diagramar, foi sucedido pelo Abertura (1987), agora editado pelo Lar Veneranda, através da Livraria Cultural Espírita Editora, Licespe. Nesta época eu era o presidente do Conselho Regional Espírita e acompanhei de perto todo o conflito ocorrido em Santos e em vários lugares do País.”

O jornal Espiritismo & Unificação foi um dos poucos que manteve suas portas abertas para determinados movimentos de contestação como o MUE - Movimento Universitário Espírita, caracterizado por propostas que visavam uma correlação do Espiritismo com o Marxismo, com um discurso de esquerda, fundamentado em autores como Manuel S. Porteiro, Humberto Mariotti e Herculano Pires. Mariotti chamava esse grupo, carinhosamente, de esquerda kardeciana. Foi o periódico espírita que mais promoveu o trabalho realizado pela então Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA – hoje Associação Espírita Internacional), bem antes da penetração mais acentuada de seus quadros e princípios no Brasil, a partir da gestão do escritor espírita venezuelano Jon Aizpúrua, nos anos 90.”

“Muitos companheiros de minha geração me perguntavam: “como você consegue trabalhar com o Jaci?” Eu respondia tranquilamente, sem me incomodar: “nosso trabalho é realizado como se fossemos profissionais, como se fosse um trabalho profissional, apesar de ser voluntário e totalmente doutrinário. Procuramos ser eficientes no que fazemos, apenas isso”.

“O Jaci sempre teve fama de ser centralizador, exigente ao extremo, muito duro e seco, enérgico, grosseiro. Mas ao mesmo tempo era bem-humorado, jocoso, carismático e um exemplo de dinamismo, de trabalho, de perseverança, como se fosse uma força da natureza. De fato, ele era tudo isso. E mais, não tolerava corpo mole, ineficiência, incompetência. Não deixava barato, não poupava palavras, era duro mesmo, mas sem ser mal-educado. Ele não falava palavrão. Nunca ouvi dele alguma palavra de baixo calão.

 

Adorava vê-lo falar. Sempre fui um jacista de quatro costados, mas sem perder de vista suas contradições, sem deixar de contestá-lo quando julgava necessário. Suas palestras sempre traziam pontos polêmicos, criticidade, bom humor. Um debatedor implacável. Era muito difícil debater com ele.

 

Jaci Régis e seu legado:

 

Sua importante participação em casas espíritas.

 

Estamos tomando como base o texto de Ademar Arthur Chioro dos Reis que produziu uma importante biografia de Jaci Régis, sempre escrito entre aspas no texto que nos segue.

Inicialmente observamos os seus primeiros passos na Doutrina Espírita, Jaci Régis é “ filho de Octávio Regis e Izolina Adriano Regis, espíritas praticantes, nasceu em Florianópolis, em 30 de outubro de 1932, sendo o sexto filho de uma prole composta por oito irmãos: Otávio, Arnaldo, Francisco, Albertina, Mariazinha (já falecidos), além de Ivon, Luci e Egydio. Fez o curso primário nesta cidade catarinense, onde começou a frequentar o Catecismo Espírita e, mais tarde, a Mocidade Espírita”.

Em 1947 a família se muda para Santos e “em novembro deste ano entrou para a Juventude Espírita de Santos, recém-fundada pelo Centro Espírita Manoel Gonçalves. A partir daí começa a sua exitosa trajetória de líder, divulgador e pensador espírita, destacando-se pela sua inteligência, impulsividade e criatividade.

MEEV – Mocidade Espírita Estudantes da Verdade – do CEAK de Santos:

 “Em 1949, quando a Juventude, já então denominada Mocidade Espírita Estudantes da Verdade (MEEV), mudou-se para o Centro Beneficente Evangélico, assumiu a liderança da mesma (tinha então 17 anos) com a transferência de Alexandre Soares Barbosa, fundador e grande polarizador dos jovens, para a cidade de Araraquara.

CEAK – Centro Espírita Allan Kardec:

“Em 1952 liderou o movimento que assumiu a direção do Centro Beneficente Evangélico. A partir daí esse centro tomaria um rumo diferenciado dos demais. Por sua sugestão, a casa mudou o nome para Centro Espírita Allan Kardec (CEAK). Por cinco décadas foi membro do Conselho Diretor e participou de atividades doutrinárias no CEAK, do qual foi presidente por 12 anos

CAELV - Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda

“Em 1962 liderou outro movimento composto por um grupo de jovens que assumiu a direção da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, fundada em 1954, da qual foi presidente por 32 anos. Sua gestão foi marcada por grandes realizações, culminando com a construção de um belo prédio, sede da creche que atende hoje 130 crianças e 80 mães, e outro para a escola (posteriormente vendido) que continua atendendo 60 crianças”. Jaci ao desencarnar era o Presidente do Conselho Deliberativo do Lar, como costumamos chamar.

União Municipal Espírita de Santos (UMES)

Jaci “participou destacadamente do movimento juvenil no Estado de São Paulo, sempre combativo e inovador. Foi um dos fundadores da União Municipal Espírita de Santos (UMES), em 1951, sendo seu primeiro vice-presidente. Foi idealizador e presidente da Divulgação Cultural Espírita (Dicesp), órgão da UMES, desenvolvendo um grande trabalho de divulgação. Jovens da MEEV, editavam o jornal Espiritismo, que posteriormente fundiu-se com o jornal Mensageiro da União, órgão da UMES, surgindo o "Espiritismo e Unificação", do qual foi diretor e editor por mais de 23 anos, em companhia de José Rodrigues, que faleceu também em 2010”.

LICESPE - Livraria Cultural Espírita

“A partir das divergências e disputas encetadas com o segmento religioso da UMES, fundou a Livraria Cultural Espírita (Licespe), vinculada ao Lar Veneranda. E o Jornal ABERTURA, em 1987, do qual foi presidente e redator até o seu desencarne.

ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos

“Em 1999, afastou-se do CEAK e fundou o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), entidade ligada ao Lar Veneranda, que presidiu até o seu desencarne. Sempre empreendedor, criou em 2009 uma OCIP, denominada então LarVen, para cuidar dos cursos profissionalizantes ministrados no Edifício Jaci Régis, pertencente ao Lar Veneranda e sede do ICKS e do LarVen, este último já não existe mais.

Espiritismo e Unificação e Jornal Abertura

Além de sua produção literária, já apresentada em artigo anterior neste jornal, Jaci Régis encabeçou como redator estes dois importantes jornais espíritas.

No Abertura Jaci Régis produziu 257 edições desde a fundação do mesmo em abril de 19987 até um mês antes de sua desencarnação em dezembro de 2010.


Jaci Régis e seu legado: a sua vida familiar.

 

Ainda que este não seja o aspecto mais relevante aos leitores espíritas não poderíamos, nesta retrospectiva abstermos de observar o lado familiar deste grande espírita.

 Este aspecto era de suma importância para Jaci, não por menos escreveu um livro que se tornou um clássico chamado Amor, Casamento & Família (1977) atualmente esgotado.

 Recorrendo novamente a Ademar Arthur Chioro dos Reis (AACR), seu biografo buscamos a riqueza de detalhes desta família Régis:

 “Filho de Octávio Regis e Izolina Adriano Regis, espíritas praticantes, nasceu em Florianópolis, em 30 de outubro de 1932, sendo o sexto filho de uma prole composta por oito irmãos: Otávio, Arnaldo, Francisco, Albertina, Mariazinha (já falecidos), além de Ivon, Luci e Egydio. 

 Jaci, era, portanto, oriundo de uma família numerosa, viver em família espírita era algo que ele conhecia muito bem.

 “Era casado com Palmyra Coimbra Régis há 57 anos, companheira dedicada que conheceu na época de mocidade espírita e com a qual teve 6 filhos: Valéria Régis e Silva (pedagoga), Rosana Régis e Oliveira (assistente social), Cláudia Régis Machado (psicóloga), Gisela Régis (biómédica), Fernando Augusto Coimbra Régis (médico) e Marcelo Coimbra Régis (engenheiro). 







Seus genros, Junior do Costa e Oliveira, Roberto Rufo e Silva e Alexandre Machado, inspirados em seu exemplo e dedicação, tornaram-se militantes espíritas muito valorosos. A maioria dos seus 11 netos participaram ativamente da MEEV. Atualmente o Lar Veneranda é dirigido por sua filha, Valéria Regis Silva, e sua numerosa e devotada família participa ativamente na gestão desta entidade, bem como do Jornal Abertura e do ICKS”. (AAQR)

 Neste exato momento se Jaci estivesse encarnado, estaria convivendo com seus 9 bisnetos, com mais uma já a caminho. Jaci pode estar muito tempo com a bisneta mais velha Maria Clara.

Colhemos o depoimento de sua filha Cláudia Régis Machado:



 

“Jaci um presente da vida, um pai próximo que nos envolvia e levava-nos a participar de suas múltiplas atividades. Tinha um olhar especial para cada um de nós. Sempre junto quando precisávamos de uma palavra, de uma orientação não descartava uma boa conversa, um abraço, uma celebração. Sua presença marcante era sentida com muito amor, carinho e respeito”.

Como genro me cabe comentar o que tive oportunidade de presenciar e sentir, o conheci em 1984, quando meus concunhados já estavam bem integrados às atividades espíritas, todos muito inteligentes e com grande conhecimento da Doutrina. Eu recém chegado ao espiritismo só pude ganhar com este ambiente.

Jaci nos liderava pelo exemplo, era incansável, sempre querendo fazer algo novo, um encontro, um novo livro, discutindo sobre as questões atuais. Vivíamos a abertura política ainda muito em seu início. A questão do espiritismo religioso a USE e os SBPEs.

Como toda a família grande, com sua partida, cada filha e filho acabaram por ser o centro de suas novas famílias como seria natural. Ficarão sempre em nossas memórias a sala sempre cheia nos “kerbs” dos feridões.

Nos coube dar seguimento ao Jornal Abertura, esta edição será minha centésima décima segunda, o que faço por prazer e por um imenso respeito por aquele que a iniciou.

Jaci Régis um homem que viveu plenamente.


Jaci Régis um homem múltiplo.

 

Encerraremos esta série em homenagem a Jaci Régis no mês que se completará no dia 13 de dezembro, dez anos da desencarnação do fundador deste jornal. O Abertura foi lançado ao público em abril de 1987, após o processo de fritura do “Grupo de Santos”, pela USE – União das Sociedades Espíritas de São Paulo por parte de seu segmento religioso. Jaci foi o redator chefe do Abertura por 257 edições.

 Perdida a eleição para a USE em 1985, Jaci junto com vários companheiros, não desiste, cria a Licespe, a Sociedade Espírita dos Estudos do Homem em São Paulo e em 1989 o Simpósio Nacional (depois Brasileiro) do Pensamento Espírita, aglutinando lideranças que mais tarde se auto definirão como promotores de um “Espiritismo Laico”.

“Jaci Régis – um homem múltiplo”, no XII SBPE, o ICKS fez uma homenagem a ele, de uma forma que traduz muito bem: “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele tá doendo ...” só quem conviveu pode entender o significado desta falta. Jaci estava envolvido, ou melhor, comprometido com uma dezena de atividades e a sua desencarnação nos provou que sua liderança era chave para o sucesso que o “Grupo de Santos” ensejava. Da mesma forma que na natureza como no caso das florestas tropicais, quando uma árvore enorme é derrubada, pela característica da imortalidade dinâmica, outras árvores ocuparão o seu espaço, mas isto leva tempo.

 Mais uma vez irei recorrer a amigo Ademar Arthur Chioro dos Reis (AACR), seu biógrafo, onde buscarei detalhes importantes sobre a multiplicidade que representou a vida deste grande espírita.

 A seguir escreveremos sobre a sua vida de uma maneira geral como muito bem resume Ademar, (o que está em parêntesis é minha contribuição adicional) Jaci “Trabalhou durante 30 anos, até aposentar-se, na Refinaria Presidente Bernardes - Petrobrás, chegando a cargos de chefia de departamentos.

Formou-se em Economia (tendo inclusive dado aula de Macroeconomia na Faculdade de Ciências Econômicas São Leopoldo em Santos), Jornalismo (chegou a ter um jornal em Cubatão) e Psicologia. Freudiano assumido, era psicólogo clínico (exercendo esta profissão por mais de 30 anos) e até o seu desencarne exercia intensa atividade profissional, que influiu decisivamente para que se dedicasse a abordagem de temas relacionados ao comportamento humano, a sexualidade, a família, a personalidade humana e suas relações com os problemas afetivos e psíquicos.

 “Desenvolveu, ao longo da década de 90 do século passado, uma teoria a que denominou Espiritossomática, procurando estabelecer pontos de confluência e a construção de uma práxis terapêutica a partir das contribuições doutrinárias do Espiritismo e de outras áreas da Psicologia, em particular a psicanálise”.

“Era expositor e autor que fazia (e continuará fazendo) muito sucesso entre os jovens e espíritas livres-pensadores, desprovidos de preconceitos, tocados pelos argumentos e pela abordagem moderna, aberta, fundamentada e consistente com quem lidava com os mais diversos temas doutrinários e problemas humanos. Um autor que possuía um estilo peculiar, de reconhecida competência”.

 “Sua pena produzia há décadas ensaios e crônicas, publicadas em jornais e livros, de rara sensibilidade e ternura, que tocam as mais profundas fímbrias de nossos corações e mentes. Um texto sensível e criativo, sem que recorresse à mesmice que caracteriza a literatura espírita. Ao mesmo tempo, era capaz de produzir artigos, trabalhos, textos e livros de cunho doutrinários que se constituíram em verdadeiros clássicos da literatura espírita contemporânea, indispensáveis aos estudiosos da Doutrina Espírita. Desenvolveu uma linha de raciocínio e argumentação extremamente fundamentada e consistente, a partir dos postulados de Kardec – que conhecia como poucos.” (AACR)

 Algo que poucos sabem, neste seu jornal de Cubatão, Jaci, como era o seu caráter fez críticas a algumas “coisas estranhas” que ocorriam em Cubatão, durante o período de exceção, bem, Jaci Régis foi chamado e fichado no DOPS (Departamento de Ordem e Política Social).  Foi então advertido a escrever com mais cuidado por aquele órgão de repressão. Jaci sabidamente não era uma pessoa de esquerda, foco principal do DOPS. Mas fica aqui a lembrança de que em regimes totalitários, sem liberdade, qualquer cidadão, com qualquer ideologia, está sempre correndo riscos.

 Reconhecimentos:

Jaci Régis tanto em vida, como após a sua morte, recebeu várias homenagens e reconhecimentos, este jornal sob sua batuta, for premiado pela ABRAJE – Associação Brasileira de Jornalistas Espíritas como o melhor jornal espírita. Igualmente muita satisfação ele obteve ao receber o Prêmio Bem Eficiente pelo Lar Veneranda em sua primeira edição.

Stephen Kanitz, Administrador por Harvard, criou o Prêmio Bem Eficiente em 1994, com o objetivo de reconhecer o trabalho e dedicação de dirigentes e voluntários sociais deste país, que lutam com cada vez menos recursos, donativos e incentivos sociais para continuar ajudando os outros, a Comunidade Assistencial Espírita lar Veneranda recebeu este prêmio, para concorrer era necessário apresentar um relatório baseado no Plana Nacional de Qualidade.

2011 – XXI Congresso da CEPA em Santos

 Jaci Régis, assim como seu grande companheiro de trajetória José Rodrigues foram homenageados, ambos participaram do início da organização do Congresso, mas desencarnaram  e nos deixaram em 2010.

Dona Palmyra recebeu das mãos de Ademar Arthur a homenagem que o ICKS exibe e expõe no salão do ICKS.



2014 – II Encuentro Espírita Iberoamericano – Salau

 

Estivemos presentes e recebemos esta homenagem, Cláudia Régis Machado e eu. Neste evento pude apresentar à comunidade espírita ibero-americana o trabalho que vinha sendo desenvolvido por Jaci – a Ciência da Alma, nos seus últimos anos de vida. O livro que consolida os trabalhos apresentados no evento traz em sua dedicatória o reconhecimento a Josep Casanovas e Jaci Régis, que estiveram juntos em Barcelona em 2006, pelos serviços prestados ao espiritismo livre-pensador.

 

Complementando as merecidas homenangens, neste ano em que completam 10 anos sem a presença física de  Jaci Régis CEPABrasil e o ICKS com apoio do CPdoc e Cepa Internacional farão uma live no dia 12 de dezembro as 16 horas, onde muitos amigos e parentes darão depoimentos por video sobre – Jaci Régis – Pensamento e ação.


 


Buscamos com este pequeno recorte da vida de Jaci Régis, trazer a luz, um pouco de diversos aspectos daquele que foi um incansável trabalhador da Doutrina.


O artigo completo, composto pelas 5 partes,  poderá ser encontrado no blog do ICKS –  http://icksantos.blogspot.com


Fonte: Jaci Régis, biografia e vida – Ademar Arthur Chioro dos Reis

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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