A Tão Complexa Lei do
Progresso
Gostaríamos de discutir um pouco
esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem, nos
explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento
natural no orgulho e o egoísmo.
Da Questão 793 do Livro dos
Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “ À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males
que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a
pergunta e uma parte da resposta abaixo:
“793. Por que indícios se pode
reconhecer uma civilização completa?
“Reconhecê-la-eis pelo
desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito
grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e
vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o
direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes
banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a
caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão
percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as
coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado
transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado
primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural,
necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa,
faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o
progresso moral...”
Não há dúvida alguma que em todas
as áreas do conhecimento, existe uma curva de aprendizado, onde algo novo é
tentado, e funciona por algum tempo até que alguma coisa diferente das
condições de projeto original ocorrem e o equipamento ou a construção vem a
falhar. Em pouco mais de 3 anos vivemos no Brasil, duas catástrofes ambientais
e humanas, ambas em Minas Gerais e em processos de mineração.
A mineração existe na face da
Terra, desde a era do bronze há cerca de 3000 anos a.C. – ou seja mineramos, os
mais diversos materiais há mais de 5000 anos, são incontáveis os acidentes.
Quase todo mês há uma notícia aqui ou ali de algum acidente. Os mais comuns são
em minas de cobre, ouro e carvão, que normalmente são feitos em minas
subterrâneas. O incomum são acidentes de grandes proporções em minas a céu
aberto.
77% das jazidas de minério de
ferro estão concentradas em 5 países: China, Brasil, Austrália, EUA, Índia e
Canadá. O Brasil é o maior exportador mundial, sacudido pelos desastres de
Mariana em 2015 e Brumadinho em 2019, muita coisa neste campo de produção
deverá mudar. Não vamos aqui aprofundar a discussão técnica sobre os acidentes,
pois para isso a imprensa geral está trazendo a público a todo o momento, nos
cabe entender o processo social sob a ópica espírita.
Com na resposta à questão 793 do
LE, “À medida que a civilização se
aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou” é nisto que esperamos
que nossos legisladores atuem, é inegável a importância da mineração de minério
de ferro, para o Brasil e para Minas Gerais, são milhares de pessoas que vivem
e dependem disso, trabalhando diretamente na Vale , ou em outras empresas
prestadoras de serviço. Todos querem voltar em segurança para casa, no fim do
seu turno de trabalho.
Como exemplos de acidentes que
mudaram de certa forma as diversas industrias cito os acidentes na geração de
energia nuclear, após Tree Miles Island (EUA-1979) e Chernobyl (Ucrânia- 1986)
por falta de controle de processo e recentemente Fukushima (Japão-2011) –
atingida por um Tsunami fizeram com que este setor mudasse completamente, hoje
em dia poucas Usinas Nucleares estão sendo construídas, devido ao risco
ambiental e humano que ele acarreta. A Alemanha tomou a decisão histórica de
parar todas as suas usinas até 2022. Há grandes empresas que desapareceram como
a Union Carbine, após o vazamento de gás – isocianado de metila em 1984 em
Bhopal na Índia. A nuvem de gás, mais pesada que o ar se espalhou pelo vale e
mais de 5000 pessoas morreram em uma noite.
Dizer que a engenharia não
aprendeu nada com estes acidentes, seria um absurdo, hoje existem técnicas de
análise de riscos que são aplicadas a todos os projetos e alterações de
instalações em operação e que não eram utilizadas nos anos 70’s ou 80’s, Relatório
de Impacto no Meio Ambiente (RIMA) são exigidos pelas autoridades antes que
qualquer nova instalação. Todas estas medidas existem hoje. Constatamos sim,
muito pouca fiscalização nos casos recentes no Brasil.
Mas acidentes ainda ocorrem por
algumas razões externas que não foram consideradas no projeto ou que se
alteraram sem que se percebesse. Ou causas internas como falta de manutenção,
falha de equipamento, erro operacional. Além disto podem haver três causas
criminais, são elas: negligência, imprudência ou omissão. Estas três causas acarretam a chamada responsabilidade civil –
para sua caracterização é preciso provar e determinar que há culpa, nexo causal
e dano. Sempre que há dano ambiental considerável ou morte cabe à polícia
investigar e a justiça julgar.
Na trajédia de Mariana-2015, 21
altos executivos foram arrolados em processos diversos de responsabilidade
civil e criminal, o de Brumadinho deverá seguir pelo mesmo caminho, quem sabe
com agravo, por estar a mesma empresa envolvida nos dois casos, pessoas que
atestaram a segurança da barragem foram submetidas a prisão.
Mas o que os engenheiros
aprenderam com isto, o que os legisladores farão com o conhecimento e o que o
poder público vier a fazer é o que pode realmente evitar um terceiro caso, uma
terceira tragédia. Somente isso é que ... “faz
cessar alguns dos males que gerou ...”, conforme a resposta do LE.
A engenharia, costuma agir
rápido, pois as empresas, gerenciam os riscos, neste caso os reservatórios e ao
contrário que que a opinião pública costuma pensar, elas são as maiores
interessadas em que acidentes não ocorram, pois sua ações caem no mercado, seus
executivos e engenheiros são afetados, seus empregados expostos em primeiro
grau, suas atividades econômicas são paralisadas. Em Brumadinho mais de 200
empregados da Vale estão desaparecidos ou mortos, gerenciar isto numa empresa é
extremamente difícil. No entanto só ter interesse em resolver não é o
suficiente, há que haver normas rígidas a seguir e nisto está evidente temos
falhado.
... “males que desaparecerão todos com o progresso moral...” é o
que desejamos mas para isso todos devemos elevar o nosso senso crítico, não nos
acomodarmos com pequenos desvios de procedimentos, atentarmos para as pequenas
mudanças em equipamentos, não achar que são coisas normais, estarmos atentos,
fazermos corretamente e com responsabilidade o nosso trabalho é a única forma
de evitar que pequenos e grandes brumadinhos ocorram.
Artigo publicado no ABERTURA de janeiro de 2019 - quer rever todo o jornal?