segunda-feira, 3 de junho de 2013
Eu sou di menor! - Reinaldo di Lucia
A discussão sobre a redução da maioridade penal vem tomando corpo principalmente porque a situação acima descrita tornou-se um padrão: invariavelmente quem se apresenta como culpado tem menos de 18 anos e, portanto, não tem a mesma responsabilidade penal dos adultos. É um “menor infrator”, não um criminoso, e receberá a título de pena uma “medida socioeducativa” – no máximo será internado numa instituição para menores, na qual ficará por até três anos. Ao tornar-se maior de idade, estará novamente reintegrado à sociedade, sem ficha criminal.
A questão é polêmica e gera discussões acaloradas entre os partidários da redução e seus antagonistas. As argumentações são bastante fortes e podem ser facilmente encontradas – portanto, não vou discuti-las aqui. Mas parece claro que algo precisa ser feito, e rápido, na prática. A discussão teórica gira sobre três pontos principais.
A primeira delas é a questão social da violência: o menor de 18 anos, apesar consciente do erro de seu ato, pode ser responsabilizado por um crime, ainda que a ineficácia da ação governamental – que o privou de condições mínimas de desenvolvimento e educação – o tenha influenciado? E com isso, teríamos efetivamente uma redução na violência?
Em segundo lugar, a questão de como fazer com que os menores infratores cumprissem a pena. O sistema prisional brasileiro estaria mais adequado num filme de terror que na realidade de um país que deseja ser desenvolvido. Colocar um menor nesta situação não agravaria o problema?
Por fim, a proteção da sociedade. A cada crime que acontece sob responsabilidade de um “incapaz”, aumenta-se a sensação de insegurança geral. Em última instância, isto pode levar a uma escalada da violência, na medida em que a população pode procurar proteger-se e “fazer justiça” por conta própria.
Entendo a posição da ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal (STF), quando disse que, com a redução da maioridade penal, "nós estaríamos como que renunciando a uma política estrutural de assistência aos adolescentes, resolvendo o problema da maneira mais fácil possível, mecânica e cômoda, pela simples redução da idade penal". Há, porém, um grave problema: na prática, essa política estrutural de assistência aos adolescentes não existe. E mesmo que iniciássemos agora políticas voltadas à educação e à melhoria das condições sociais, levaria entre 25 a 40 anos para que tais políticas tivessem o efeito esperado – desde que houvesse persistência em sua implantação, o que demandaria um acordo partidário em larga escala.
Mas, enquanto isso, a sociedade precisa ser protegida, mesmo porque, os donos da boca estão fazendo direitinho a parte deles. O garoto com o 38 na mão, atirando no policial, vira gerente – super plano de carreira. Eles aceitam a autoria de um crime, por mais hediondo que seja, pois sabem que a curta pena de três anos é apenas um estágio a cumprir na estruturada carreira do crime.
sexta-feira, 31 de maio de 2013
POR UM ESPIRITISMO PLANETÁRIO E ATUAL - Ricardo Nunes
“A adjetivação do Espiritismo como cristão, na opinião da CEPA, é incorreta e desnecessária. A população mundial não é somente a do Ocidente. Na Ásia e na África, há um bilhão de muçulmanos, quase dois bilhões entre budistas, bramanistas, shintoístas, etc. Um Espiritismo chamado cristão é automaticamente destinado ao mundo ocidental, não é um Espiritismo planetário, internacional.” Jon Aizpúrua.
Toda filosofia nasce buscando resolver os problemas de sua época. Brota do contexto cultural a que pertence, visando resolver questões que se apresentam em seu período histórico. Um sistema filosófico não nasce do vazio, do vácuo, pelo contrário, ele sofre influência do “espírito do tempo”. Na verdade, uma boa corrente filosófica é aquela que busca resolver questões do seu momento presente, mas que consegue extrapolar sua época e oferecer ao futuro reflexões ainda válidas.
O Espiritismo nasceu pelas mãos de Allan Kardec dentro do seguinte contexto cultural. Por um lado, os adeptos de uma ciência positivista e agnóstica, que rejeitavam veementemente as chamadas questões metafísicas. Por outro lado, as igrejas cristãs, particularmente o catolicismo, que se via perdendo influência e poder.
Esta influência positivista fica bem evidenciada quando Kardec afirma, além do caráter filosófico, o caráter científico do Espiritismo. Neste sentido, Kardec valoriza, como base da nova ciência que estava propondo, os chamados fenômenos mediúnicos.
Já a influência da igreja fica patente por ocasião da publicação de O Evangelho segundo o Espiritismo, em resposta àqueles que acusavam o Espiritismo de ser antirreligioso. Não podemos esquecer que, para os cristãos da época, as manifestações espíritas eram obra do demônio.
Ao longo do tempo o positivismo comteano sofreu críticas acerbas, principalmente por suas pretensões absolutistas, que faziam da ciência o supremo conhecimento de caráter infalível. No século XX, alguns filósofos da ciência nos ensinaram que as verdades da ciência são provisórias e devem ser falseáveis. Quanto à igreja, sua órbita de influência ficou restringida ao campo da fé, preservando o dogma e a revelação divina que, segundo suas concepções teológicas, extrapolam e superam a razão natural.
O contexto cultural em que foi elaborado o Espiritismo se transformou. Estamos no século XXI, não mais em meados do século XIX.
Ante esta transformação devemos responder às seguintes perguntas, se desejamos que o Espiritismo prossiga como uma proposta ainda interessante para a humanidade: O materialismo contemporâneo se apresenta de que forma, com quais armas filosóficas? Que princípios científicos e filosóficos desta cultura pós-moderna em que vivemos, podemos utilizar em uma fundamentação atualizadora do Espiritismo?
No que diz respeito à questão ética, ante a globalização econômica e cultural vigente, cabe indagarmos: não seria o caso de pensarmos o Espiritismo como uma proposta que supere seu perfil originalmente cristão, com vistas a enaltecer e valorizar todas as culturas, religiosas ou não, que tenham chegado à compreensão da necessidade do bem e do respeito à alteridade?
A partir das respostas a estas questões poderemos construir um Espiritismo que esteja atualizado, sintonizado, e que possa, inclusive, abrir perspectivas, aos problemas filosóficos, científicos, sociológicos, antropológicos, estéticos e espirituais de nosso tempo. Já no campo das concepções éticas, com esta práxis atualizadora, certamente auxiliaremos a proposição de um “Espiritismo planetário”, e não apenas cristão, na bela expressão de Jon Aizpúrua.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
A trajetória da ciência espírita - por Alexandre Cardia Machado
A trajetória da ciência espírita
Há uma ciência espírita? Teria havido em algum momento, no tempo de Kardec? Qual método da ciência espírita? Qual o seu objeto? Como o Espiritismo é visto pelas instituições cientificas? Estas questões serão analisadas neste artigo. Não temos a pretensão de trazer a ultima palavra sobre o assunto. Ao contrário, queremos iniciar um debate que reacenda a chama da busca do conhecimento nas fileiras espíritas.
Os princípios básicos do Espiritismo são apresentados na Introdução de “O Livro dos Espíritos”. Estes princípios podem ser considerados como os alicerces da Ciência Espírita.
Analisaremos os mesmos não pelo seu inegável valor, mas, considerando-os sob o ponto de vista da Filosofia Espírita.
Poderíamos resumir os princípios espíritas nos seis que se seguem;
1. Existência de Deus, Espírito e Matéria.
2. O Homem é formado por corpo físico, períspirito e Alma.
3. A Alma é imortal.
4. A Alma evolui.
5. Pluralidade das existências e dos mundos habitados.
6. Comunicabilidade entre encarnados e desencarnados - Mediunidade.
Sob o ponto de vista da Ciência, um princípio só é cientifico se puder ser provado, ou seja, é necessário que se submeta essa afirmação a provas e testes cientificamente controlados.
Desta forma podemos afirmar que até o momento não foi possível submeter a nenhum tipo de comprovação cientifica alguns desses princípios espíritas. São eles: Existência de Deus (afeto à Religião e a Metafísica); a existência da Alma enquanto essência (como é definida no Espiritismo é de difícil comprovação); a Imortalidade da Alma; a evolução infinita do Espírito. Tais hipóteses não permitem montar uma experiência onde se possa aferir esta evolução em nível individual, ao longo de diversas encarnações, nem tão pouco provar a imortalidade infinita.
Os demais princípios, sem sombra de dúvida, podem e têm sido provados ao longo do tempo, sem, no entanto, sensibilizar a comunidade científica, mas pelo menos, permitem reunir dados de experimentação que fatalmente resultarão na aceitação como prova no futuro.
MÉTODO ESPIRITA
A impossibilidade de comprovação de alguns de seus princípios faz com que não se possa, a priori, classificá-los como verdades científicas.
Mas independente disto, o Espiritismo possui um método de pesquisa, que Kardec chamou de Método Experimental, ou seja, tal qual às ciências positivas, textualmente: “Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam , que não podem ser explicados pelas leis conhecidas, ele os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega a lei que os rege; depois lhes deduz as consequências e busca as aplicações uteis” (Gênese, pág.20)”.
Kardec explica nesse paragrafo que o Espiritismo não partiu de hipóteses e sobre elas construiu uma teoria e sim através da observação de fatos é que se estabeleceu uma teoria. Esta forma de ação é muito utilizada na ciência e Kardec afirma que: “acreditou-se que esse método só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas”. (opus cit., pag.20).
O método de pesquisa Espírita libera-se da necessidade da prova experimental, utilizando-se do chamado “crivo da razão” e da confrontação das comunicações. Que certamente foi muito útil para a elaboração da Doutrina. Porém, para a ciência a comprovação se faz necessária. Isto é tão importante que Albert Einstein esperou de 1905 a 1919, para que, durante um eclipse solar, se comprovasse a hipótese, contida na Teoria da relatividade, de que ‘um raio de luz deveria sofrer um desvio quando se aproximasse de um campo gravitacional intenso”.
O Espiritismo nestes pontos perde o apoio cientifico por não poder prová-los.
OBJETO DA CIÊNCIA ESPÍRITA
Toda ciência deve ter um objeto, Kardec em A Gênese, pág.21 diz textualmente: “Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do principio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do principio espiritual”.
E sobre isto diz mais “... O espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência sem o Espiritismo se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos sós pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltaria apoio e comprovação...” (opus cit. pág.21).
Caio Prado Jr. Define ciência como: ”Conhecimento sistematizado, e advertida e intencionalmente elaborado, não se distinguindo senão por essa sistematização em nível, elevado da elaboração intencional do Conhecimento comum ou vulgar...”... “O objeto da Ciência é a Realidade Universal, isto é, o Universo e seu conjunto de ocorrência, feições, circunstâncias que envolvem e também compreendem o Homem” (3).
Pode-se dizer que não existem fronteiras para a Ciência, assim como para o Conhecimento uma vez que o conhecimento científico de hoje será o vulgar de amanhã. Ou ainda, Ciência pressupõe temporalidade, ou seja, uma teoria cientifica fatalmente será substituída por outra que representa melhor a realidade.
A CIENCIA COMO EVOLUÇÃO
É mais do que sabido que o conhecimento científico evolui. Qualquer ramo do conhecimento, da tecnologia desenvolve-se a uma velocidade muito grande, a tal ponto que hoje se dobra a quantidade de artigos publicados sobre qualquer matéria científica a cada 6 ou 10 anos.
Quando a produção científica em determinado campo reduz-se muito se diz que este ramo do conhecimento estagnou “parou no tempo”.
SERÁ O ESPIRITISMO CIENTÍFICO?
O Espiritismo enquanto busca de conhecimento é científico, foi científico nos anos de 1850 a 1870. Sob este ponto de vista, pode-se dizer que o processo de elaboração da obra Kardequiana foi científico. Não o é mais. Isto é fundamental para que não percamos a dimensão da Doutrina!
Hoje não se busca conhecimento novo algum, estamos estagnados praticamente. Não há mais produção científica no Espiritismo, o que existe hoje não é mais Ciência e sim, simplesmente, Conhecimento.
Portanto, hoje podemos substituir o vocábulo Ciência Espírita por Conhecimento Espírita numa abordagem dentro da Teoria do Conhecimento é preciso que entendamos isto: Kardec foi cientista, mas o Espiritismo de hoje não é mais cientifico e, sem demérito algum, um conhecimento incorporado ao conhecimento universal.
CONCLUSÃO
A principal característica do conhecimento científico é que ele é autocorretivo, “capaz de colocar em dúvida, antigas “verdades” quando encontra provas mais adequadas, corrigindo-se, progredindo, aperfeiçoando-se”. (4)
Sobre esta característica Kardec concorda e tece o seguinte comentário “Há”, todavia, capital diferença entre a marcha do Espiritismo e a das Ciências; a de que estas não atingiram o ponto que alcançaram, senão após longos intervalos, ao passo que alguns anos bastaram ao Espiritismo, quanto não a galgar o ponto culminante, pelo menos a recolher uma soma de observações bem grande para formar uma Doutrina”. (4).
Segundo Popper, “a melhor estratégia que um cientista deve seguir não é a de tentar comprovar uma hipótese”. Ao contrário, ele deve pensar sempre em realizar testes, isto é, quando resistir à refutação, será considerada pelos menos provisoriamente, como uma explicação adequada dos fatos, e pode até mesmo ser aceita ou adotada para fins práticos, ganhando inclusive o estatuto de uma lei científica. (4)
Kardec entendia bem isto e declarou em A Gênese “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se as novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”.
Portanto, Kardec tinha noção de que o Espiritismo haveria de evoluir o que, no entanto, não foi entendido por seus seguidores que elegeram a Doutrina escrita em 1857 como a verdade acabada. Quase nada mais se acrescentou e incorreu-se no erro e no risco de passar-se de Científico para Pseudocientífico ou, nas palavras de Gewandsznajder “Não é por acaso que algumas pseudociências estagnaram e seus seguidores tenham se limitado a repetir as mesmas ideias, técnicas e princípios pretensamente verdadeiros de centenas até milhares de anos atrás. As pseudociências,... costumam se isolar-se da ciência. Seus seguidores ostentam às vezes completa indiferença para com as descobertas científicas, sustentando princípios e leis que frequentemente contradizem os princípios científicos”. (4)
Precisamos estar atentos quanto a isto, para não permitirmos que uma Doutrina de tamanha abrangência seja transformada em pseudociência por falta de produção cientifica.
Para saber mais
(1) O Livro dos Espíritos, Kardec, A.
(2) A Gênese, Kardec, A.
(3) O que é filosofia, Prado, C- Série- Primeiros Passos.
(4) O que é método científico, Gewandsznajder,F.
Outros artigos de Alexandre Cardia Machado:
Pode o Pensamento deslocar-se acima da velocidade da luz?
http://icksantos.blogspot.com/2011/10/pode-o-pensamento-deslocar-se-acima-da.html
Abrindo a Mente - Uma entrevista com Hernani Guimarães de Andrade
http://icksantos.blogspot.com/2011/10/abrindo-mente-uma-entrevista-com.html
Curso sobre a EVOLUÇÃO DO PRINCÍPIO ESPIRITUAL
http://icksantos.blogspot.com/2009/06/blog-post.html
terça-feira, 21 de maio de 2013
27 anos de Jornal ABERTURA
O ABERTURA surge então como uma luz, como um farol a iluminar o caminho daqueles que tem uma opção livre-pensadora, focada na orientação inicial de Allan Kardec, aos moldes da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada como um centro cultural e não como um templo religioso.
Nestes 27 anos, presenciamos mudanças políticas no Brasil que vivia então na ditadura militar, passando pelo período de redemocratização. Este jornal assinalou o fim do Apartheid na África do Sul, a queda da Cortina de Ferro, o aparecimento do telefone celular, da internet, mas principalmente, fizemos parte da história do crescimento no Brasil, da Confederação Espírita Pan-americana - CEPA.
Jaci Régis criou um espaço de defesa de grandes ideias liberais, com a criação da LICESP – editora vinculada à Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, do ABERTURA e do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita e, depois, do ICKS.
Este jornal ajudou a viabilizar a existência de um grupo de resistência, que cresceu e amadureceu, companheiros de ideal, pelo Brasil afora, prosperou a ideia de um Espiritismo laico. Hoje, temos como centralização de nosso esforço a CEPA Brasil, que surgiu neste contexto e, mais amplamente, a CEPA. Nenhum de nós se mantem só. É preciso uma corrente de ideias e a sua divulgação sistematizada e, neste aspecto, o ABERTURA tem sido um elo forte desta corrente.
A primeira edição do ABERTURA trazia uma matéria sobre o momento em que vivíamos: trazia Henrique Diegues que havia sido presidente da UMES por muitos anos e também candidato derrotado com todo o nosso grupo a presidente da USE – União das Sociedades Espíritas de São Paulo, em 1986. Nesta edição apresentaremos mais uma vez a sua lucidez e as suas palavras, em uma entrevista especial.
Estamos em uma segunda geração do ABERTURA, agora sob a liderança de Alexandre Cardia Machado que neste exemplar edita o 28º jornal sem a presença de Jaci Régis. Seguimos firmes na missão de ser um portal capaz de mostrar ao mundo a existência de um Espiritismo belo, livre, não menos fraterno, capaz de servir como instrumento de refino de nossa alma. Podemos ser admiradores da mensagem renovadora de Jesus de Nazaré, podemos analisar friamente as contribuições de outros Espíritos, com o exercício equilibrado do livre-arbítrio.
domingo, 12 de maio de 2013
O Dilema dos Laicos – Jaci Régis
Mas e quanto aos laicos?
O laicismo é, por definição, a separação do Estado e da religião. Isso porque a religião, aqui entendida como instituição física e espiritual, se impôs sobre o Estado, talvez porque, na verdade, representava a nação.
Os espíritas laicos não são religiosos e, às vezes, contra a religião. Todavia, será possível desligá-lo, na prática, dos religiosos?
Não apenas em suas instituições que, de maneira geral, seguem o modelo tradicional dos centros espíritas religiosos, como na mentalidade.
Devido a isso, fizemos a proposta de denominar os “laicos” como espíritas kardecistas. Aí as controvérsias repousam na semântica, do gostar ou não de substituir “espiritismo” genericamente, por “kardecista”, especificamente.
Às vezes, como disse o rei Herodes Agripa para Paulo de Tarso: “as muitas letras”.
Isso pode acontecer a miúde entre os intelectuais laicos, não raro pelejando sobre palavras e ditando doutrina sobre exceções.
O que precisamos é uma mínima identidade de vista para que nosso segmento seja claramente distinguido dos religiosos, porque somos diferentes e nada mais que isso.
Diferentes porque temos um modelo distinto para nortear nosso entendimento.
Somos minoria e aceitar essa condição impõe, também, a não dispersão de forças.
Todavia, o ponto crucial desse problema é evitar o centralismo e manter a relação de entendimento.
Aliás, é o que queria Kardec na sua Constituição do Espiritismo. Unidade de vista, abertura mental. O que também levanta outro problema, porque exige flexibilidade de estar aberto ao novo, sem desprezar as raízes.
Há entre certos espíritas a tendência de acreditar na infalibilidade da ciência e questionar as bases da Doutrina, chegando quase ao materialismo espiritual, se isso fosse possível.
Outros artigos de Jaci Régis:
Livros de Jaci Régis a venda pela Internet:
http://icksantos.blogspot.com/2011/12/livros-de-jaci-regis-venda-pela.html
Um ano sem a presença física de Jaci Régis
http://icksantos.blogspot.com/2011/12/um-ano-sem-presenca-fisica-de-jaci.html
Do Jesus Pré-cristão ao Jesus Cristão - Jaci Régis
http://icksantos.blogspot.com/2011/10/do-jesus-pre-cristao-ao-jesus-cristao.html
Jaci Régis biografia e vida – por Ademar Arthur Chioro dos Reis
http://icksantos.blogspot.com/2011/10/jaci-regis-bibliografia.html
Ligação espírito cérebro
http://icksantos.blogspot.com/2009/08/ligacao-espirito-cerebro-jaci-regis.html
terça-feira, 23 de abril de 2013
Minha Experiência no SBPE - Vida longa ao Simpósio! por Eugenio Lara
É nesse novo contexto que se delineia o projeto de um evento que pudesse reunir o amplo segmento de espíritas descontentes com os rumos do Espiritismo no Brasil. Sob a liderança e tirocínio do escritor espírita Jaci Regis (1932-2010), foi lançado o Simpósio Nacional do Pensamento Espírita (1989), que a partir de sua segunda edição, passou a ser denominado de Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, realizado de dois em dois anos.
Se de início o Simpósio contou com expositores consagrados na exposição de temas e textos encomendados, a partir de sua segunda edição todo o temário passou a ser definido pelos próprios participantes. A apresentação livre de temas, de textos e ensaios, sem censura prévia, mostrou-se bem sucedida.
Ao contrário dos congressos espíritas tradicionais onde o público assiste passivamente a torneios de oratória, exposição de lideranças consagradas e temários fechados, o Simpósio se definia segundo a ação de seus próprios participantes, numa atitude ativa e decisiva na definição dos temas a serem apresentados. A troca de ideias, o livre-pensar, o debate intenso e respeitoso foi se consolidando com o tempo, transformando o Simpósio num dos eventos de maior sucesso no movimento espírita brasileiro, inclusive com a participação de espíritas de outros países.
Lembro-me com carinho das reuniões preparatórias do primeiro simpósio, muitas delas realizadas na casa de Jaci e Palmyra Regis. Tardes agradáveis, ao mesmo tempo em que batia forte o coração na expectativa de se estar criando algo novo que pudesse redundar em fracasso, num tremendo fiasco. Não foi o caso. O Simpósio é hoje um evento consolidado e um raro espaço para apresentação de reflexões e pesquisas espíritas, sempre acompanhado do contato fraterno, da amizade e da ternura que naturalmente envolve seus participantes.
Ter participado desse grande momento é para mim motivo de muito orgulho, ao ver de perto algo novo surgindo e se consolidando, resultado de muito trabalho e de muita perseverança. Pois é pela paixão, o amor ao Espiritismo, através do trabalho e de muita perseverança que o Simpósio prossegue. E não há como negar que o legado de Jaci Regis permanece vivo. Vida longa ao Simpósio!
Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, é membro-fundador do CPDoc - Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita e autor do livro Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita. Publicou também em edição digital os seguintes livros: Racismo e Espiritismo, Milenarismo e Espiritismo, Amélie Boudet, uma Mulher de Verdade - Ensaio Biográfico, Conceito Espírita de Evolução e Os Quatro Espíritos de Kardec.
E-mail: eugenlara@hotmail.com
quinta-feira, 11 de abril de 2013
Arquétipos – Jaci Régis
Joaquim comentou a persistência das ideias através dos tempos: Passam anos e você vê que a maioria continua acreditando nos mesmos símbolos e ideias, disse.
José lembrou-se dos arquétipos, ideia de Carl Jung, criador da Psicologia Analítica.
Segundo Jung, ensinou José, os arquétipos ou “ideias primordiais” se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências.
São estruturas autógenas que se multiplicam decorrendo de fatores culturais, ou seja, elas existem, formam verdades, formas de pensar e agir supostamente espontâneas se impondo à sociedade e, naturalmente, também às pessoas.
Após o longo esclarecimento houve um silêncio. Joaquim voltou à carga.
- Será que a persistência das ideias cristãs seria um exemplo dos arquétipos?
José pensou e disse: Talvez não exatamente como Jung definiu. Mas nos permite pensar como, geração após geração, certos símbolos, mitos e ideias atravessam a cortina do tempo.
- Sob o ponto de vista da reencarnação, talvez possamos explicar a perpetuação das ideias, intervi por minha vez. E aduzi: A fixação na mente da pessoa através das experiências vividas nas culturas em que se encarnou ao longo do tempo possivelmente explique o fenômeno.
José completou: Por isso os arquétipos possuem como que uma identidade especifica e persistem como herança cultural a se imporem aos grupos sociais.
Penso, falei, no mito do messias. É um arquétipo da cultura judaica. Com o cristianismo esse mito foi universalizado e identificado em Jesus de Nazaré.
Nesse caso, continuou José, o arquétipo do cristianismo é posterior ao do mito do messias, pelo menos em quatro séculos.
O que passou, prosseguiu ele, é que essa carga arquetípica estabelece uma cortina pesada contra a renovação. Esse fato me faz analisar como as religiões mantém-se apesar da queda vertiginosa de seu poder.
Dei continuidade ao diálogo: Como, desde a mais remota antiguidade, a ação divina sempre foi predatória, resignar-se e submeter-se foi o caminho ensinado para prolongar a vida, pois o deus tem o poder de matar quando sua vontade assim quiser. E nada nos protege, ponderei.
A tradição pesa e cria uma atmosfera de proteção contra o novo, que se apresenta quase sempre como um abismo, falou Joaquim.
Continuei: Quando a ciência penetra o nebuloso das verdades fundamentais, que inclui Deus e a razão de viver, a natureza e o destino das pessoas, a maioria nega-se a mudar, a retificar o caminho e despreza as verdades. O novo pode afetar o equilíbrio que arquetipicamente mantém a maioria nos limites de suas crenças.
O interessante, completou José, é que o crente, de modo geral, aceita os progressos da ciência no campo das realidades mais objetivas, como a saúde, tanto quanto adere aos novos hábitos e comportamentos que se modificam conforme os tempos.
Mas o crente rejeita as evidências, atalhou Joaquim, quando a ciência contraria as afirmativas seculares sobe a divindade e a natureza humana. Talvez os arquétipos da certeza da fé permaneçam na base dessa resistência.
Essa indecisão, falei por minha vez, facilita a vida das religiões, ancestrais, afirmativas. Mantendo suas verdades e usando da estratégia do mistério e do poder a que se atribuiu, elas se mantêm imunes ao novo. Seja como for, são um refúgio para o ser humano desnorteado com a revelação de fatos que desmontam todo o esquema de fé e certeza em que se sustenta precariamente.
José fez a pergunta: Como superar o peso dessas ‘ideias primordiais’?
Foi Joaquim, inspirado, quem respondeu: Ainda que demore, pela ciência. Porque ela investiga os fatos, descobre as razões e estabelece uma compreensão razoável das coisas, ainda que temporariamente. Porque a ciência descobre verdades parciais, sujeitas a mudar.
Comentei que estava lendo um livro sobre uma filosofia espiritualista que, como qualquer uma, descobriu a verdade. Seu fundador, para afirmar suas teses, simplesmente nega os fatos cientificamente comprovados.
Para ele, repetindo a ideia da criação bíblica, o ser humano foi criado por Deus, isolado de todos os mecanismos da evolução das espécies. Nega, inclusive, a relação dos seres humanos com as civilizações pré-humanas. Deus, para o fundador, tira as pessoas do vazio.
Nada tenho com esses pensamentos, mas vejo que mesmo os indivíduos mais letrados, na pressuposição de terem encontrado um caminho próprio para entender o mistério da vida, não titubeiam em rejeitar os fatos para manter sua fé.
Depois de tomarmos um cafezinho, José fez uma análise interessante. De modo geral, disse ele, as religiões estão paradas conceitualmente e os avanços da ciência não abalam seus alicerces, pelo menos a curto prazo. A Igreja católica mantém seus princípios medievais em pleno século vinte e um. E como ela, todas as crenças religiosas se referem ao passado, às verdades que desbotaram, mas se apegam a elas como boias de salvação.
Mantém-se, interveio Joaquim, porque para ao crente não importam, pelo menos para a maioria, os escândalos, as descobertas cientificas. Ele se agarra à sua crença que tem o selo divino e diante do divino a ciência ainda é vista como sacrílega.
Provoquei: E o Espiritismo? E continuei: Allan Kardec afirmou que se qualquer principio da doutrina for desmentido pela ciência, passaríamos a seguir a ciência e abandonaríamos aquele principio. A medida não é apenas inteligente. É sábia.
Todavia, voltou José, ainda que muitas das afirmações espíritas tenham sido desmentidas pela investigação cientifica há quem se mantenha apegado aos ditames de cento e cinquenta anos atrás. Aqui também, a fé religiosa, nega evidências, concluiu.
A força de um arquétipo diminui, mas talvez nunca desapareça, comentou José. Pode ser e é substituída por outros arquétipos, pois assim tem sido, conforme os modelos cultuais se modificam.
Sempre houve os que se rebelaram contra a tutela dos modelos. Em todas as épocas essa rebeldia foi a brecha para a renovação Agora, neste século vinte e um, a força das investigações cientificas está criando, paulatinamente, um arquétipo materialista contrariando todo os arquétipos anteriores, espiritualistas, deístas, religiosos.
O futuro mostrará como nos livraremos do materialismo, disse eu.
E a conversa terminou, pois era hora do almoço.
Texto publicado na coluna Ciência da Alma no Jornal Abertura – Março 2013
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Abrindo a Mente - Matéria Escura e o Fluído Cósmico Universal? por Alexandre Cardia Machado
Hoje acredita-se que esta matéria exista, mas que teria características estranhas, por não interagir com a matéria normal, pelo menos não diretamente, mas atuaria sim na gravidade ou através da gravidade. Todos os experimentos realizados até agora, não obtiveram exito, fato este que fez os físicos apelidarem as possíveis partículas de matéria escura de “chatas” e as suas características de “chatice”. Muitos espíritas tem defendido que a matéria escura, assim como a sua também companheira energia escura nada mais sejam do que o Fluído Cósmico Universal. Trateremos da Energia Escura na próxima edição do Jornal.
Muita expectativa, relativa à matéria escura está associada às experiências que estão sendo realizados no acelerador de partículas CERN ( Grande Colisor de Hadrons) na Suiça. Estão atrás das partículas de Higgs ou Super WIMPS – partículas que teriam surgido nos primeiros instantes após o Big Bang e que não interagem com a matéria, mas que por possuir massa, afetam a gravidade.
O que não combina muito com a idéia do FCU é que sempre fomos informados de que o FCU seria a matéria quintessenciada que nos levaria a pensar em algo muito leve ou muito energético. No entanto a matéria escura seria 100 vezes mais densa que a matéria comum e não interagir com a matéria normal (mundo material) não parece realmente fazer nenhum sentido imaginá-la como sendo o FCU. Entretando o fato de muitos cientistas de ponta acreditarem na existência de alguma coisa que ainda não foi diretamente detectada, e que tenha características tão “estranhas”, certamente é um passo para a aceitação de que outras formas de matéria ou energia, ainda não detectadas pelos experimentos científicos possam também existir, como o plano espiritual e as energias espirituais por exemplo.
Este sim me parece ser o mote que nós estudiosos da Teoria Kardecista deveríamos adotar. Seguindo esta linha, nos interessa realçar que os cientistas admitem que a materia escura não tenha sido detectada por produzir radiações ainda desconhecidas por nós e que portanto não fomos capazes de montar os equipamentos para isto. Este é exatamente argumento não aceitado por outros cientístas quando se referem às questões paranormais. Aqui mais uma vez nos interessa aproveitar esta abertura e por aí postularmos, pois é exatamente isto que repetimos há 150 anos com relação ao mundo espiritual.
Não creio que o plano espiritual seja feito de matéria escura, mas sim de algo muito mais sutil, no entanto poderíamos defender da mesma forma a sua detecção direta inda não é possível, poderíamos modelar a sua descrição pelos seus efeitos. Sobre estes efeitos, temos 150 anos de história a nosso favor – que é interação espírito matéria.
Para abrir mais a sua mente leia: Criação Imperfeita – Gleiser, Marcelo ed. Record 2010; O tecido do Cosmo – Greene, Brian. EdCompanhia das Letras 2004; Scientific American – Mundos Ocultos de Matéria Escura – número 103, Dezembro 2010.
Em Março de
2011, publicamos nesta coluna um artigo, hoje disponível no blog do ICKS –
Matéria escura e o Fluído Cósmico Universal – onde claramente demonstramos que
a tese hoje corrente entre os espíritas pseudocientíficos, de que a ainda não encontrada
matéria escura possa ser o que os Espíritos chamam de Fluído Cósmico Universal.
O FCU é
definido como intermediário entre espírito e matéria, o que não combina com a
matéria escura que não interage com a matéria (conceito básico do FCU) e por extremamente
pesada.
Este mes o
Cern publicou o relato positivo de um investimento feito junto com a Estação
Espacial Internacional, o projeto orçado
quem sabe poderá explicar um dos maiores mistérios do universo. Uma equipe
internacional de cientistas afirmou nesta quarta-feira que o detector de
raios cósmicos encontrou o primeiro indício da matéria escura, algo que
nunca foi observado.
Do portal
Terra assim relata “ O Nobel de física Samuel Ting, que lidera a equipe do
laboratório europeu localizado nas proximidades de Genebra, na Suíça, disse que
espera uma resposta mais conclusiva nos próximos meses. O anúncio se
baseia na descoberta de um excesso de pósitrons - partículas
subatômicas com carga positiva, equivalentes ao elétron da matéria
escura. Cerca de 400 mil pósitrons foram encontrados pelo AMS.
A matéria
escura não emite luz e não pode ser detectada por telescópios - é
uma matéria invisível misteriosa que só pode ser detectada de modo
indireto pela força gravitacional que exerce. Especialistas sugerem que ela é
formada por partícula massivas que interagem fracamente (WIMPs, na sigla em
inglês) - que praticamente nunca interagem com partículas normais de
matéria. Acredita-se que essa substância constitui mais de 80% de toda a
matéria do universo.”
Os cientistas afirmam que observaram muitos novos fenômenos nesse espectro de pósitrons. Em breve, garantem, a origem desse excesso será compreendida. A matéria escura é uma parte integrante das teorias que explicam como é que as galáxias se formam e evoluem.
O experimento foi realizado
no espaço depois que todas as tentativas de detecção de matéria escura em
laboratórios na Terra falharam. Desde maio de 2011, o detector
do espectrômetro já mediu 6,8 milhões de pósitrons e
elétrons.
Para abrir mais a sua mente leia: Blog do ICKS: Matéria escura e o Fluído Cósmico Universal –
Alexandre Cardia Machado http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=8190435979242028935#editor/target=post;postID=8417213531583493724
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terça-feira, 2 de abril de 2013
A Palavra mais certa - Texto de Jaci Régis publicado mais uma vez no ABERTURA julho de 2012
Desde há muito ele se afastou e poucas vezes nos encontramos. Mas soube que fora operado do intestino. Encontrei-o animado. Recebeu-me com carinho. Depois de falarmos sobre sua cirurgia e as perspectivas futuras de sua saúde, passamos a conversar, como persistentes analistas dos problemas humanos.
-Tenho acompanhando teu trabalho no Espiritismo. Leio sempre teus artigos e livros. Certamente concordo com tuas idéias. Mas confesso que te vejo numa batalha difícil, talvez sem vitória possível.
-Eu sempre penso que nos compete lançar as sementes. O tempo e as pessoas é que serão, no futuro, os frutos, os que te acompanharão ou não. Mas confesso que é sempre muito bom abrir novos caminhos. Sinto-me confortável em poder ver e pensa as coisas de outros ângulos.Caminho com cautela, mas decidido.
-Você sempre foi visionário, sorriu.
-Não se trata de ser visionário. Mas caminhar sem medo, rompendo com velhos conceitos e enfrentando, a principio, a própria incerteza e prosseguir. É saltar sobre obstáculos e sentir liberdade.
-E a nossa Mocidade, perguntou, lembrando o tempo em que éramos membros da juventude espírita.
-A Mocidade que nos moveu a adolescência e a juventude, meu amigo, está a passos lentos...
-Que pena. Éramos tão felizes....
-Ela reúne uma ou duas dezenas de jovens que não parecem aspirar a liderança. E quando se é jovem e não aspira a liderança estamos incapazes de enfrentar obstáculos e conflitos.
-Lamentável...
-Esses jovens, a maioria oriunda de famílias espíritas, estão mergulhados até o pescoço na cultura materialista deste tempo. Comportam-se, pensam e vivem como a maioria, incapazes de resistir, de trilhar um caminho próprio, diferente. Justamente porque não sentem necessidade disso.
-E os teus companheiros que formavam contigo uma brilhante brigada pelos ideais espíritas?
-Bem, como você sabe, quando eclodiu a crise e fomos literalmente expulsos do Espiritismo cristão, as coisas mudaram. Aquele pequeno grupo, José, Ciro, Miguel e eu se desfez.
-Ficastes só?
-A solidão é emblemática na vida. Todo o ser humano é, constitucionalmente, solitário. Por vezes, o amor rompe essa solidão na relação afetiva profunda. Também a amizade é canal de liberação dessa solidão. Meus amigos seguiram seus caminhos.
-Esse caldo materialista parece realmente dominar a sociedade. Todas as coisas seguem um caminho mais ou menos parecido. Vejo até as religiões se preocuparem não com a espiritualidade, mas com o sucesso, a felicidade aqui e agora.
Ele fez uma pausa e continuou.
-Não encontro a palavra certa para exprimir o que sinto. Não quero condenar o mundo, nem as pessoas. Vejo todos apressados em busca de um objetivo diluído no amanhã. E falar em espiritualidade parece deslocado do tempo. Porque quase sempre sugere uma divisão irremediável entre o real e a fantasia..
-Como assim, perguntei.
-É tradicional na nossa cultura, dar à espiritualidade um sentido místico, ter fé, uma certa negação da vida corpórea, uma aspiração de felicidade além. Por outro lado, gostar da vida corpórea, produzir bens, vencer profissional e economicamente, aproveitar o talento, parece perder a vida. .
-Talvez você tenha razão. A visão atual é de desencanto com a espiritualidade. Como você disse olhada com certo desinteresse para não dizer o pior. A conjuntura criada, imediata, consumista vê a morte como fim. E o Espírito, a alma ficam como remotas crenças que não ajudam a criar uma vida feliz. O sucesso econômico, sobretudo, parece ser o que mede a vitória ou o fracasso. Surgem os problemas existenciais, a depressão, o medo e o egoísmo parece ser a defesa correta nessa luta.. No afã de garantir a vida, a maioria literalmente se perde na impossibilidade de realizar seus sonhos, desejos.
. -É muito difícil falar sobre a espiritualidade sem suscitar a resposta de que os tempos são outros, que não é bem assim... A vida voltada para Deus, no passado, era exatamente o afastar-se do convívio, das emoções, dos desejos. Agora as pessoas querem ser feliz aqui mesmo enquanto vivas.
Despedimo-nos.
Na volta, ouvi no radio a canção do Gonzaguinha que diz
“Busquei a palavra mais certa,
Vê se entende meu grito de alerta” .
Ponderei que justamente o difícil é encontrar a palavra mais certa, para exprimir no delicado terreno das concepções, que espiritualidade não é fuga do real, mas positivamente abraçar o real, com a certeza que encontrar em nós as almas ou espíritos somos.
Procurar a palavra mais certa para explicar que as aspirações de um mundo melhor, de uma vida equilibrada e uma sociedade mais justa começam dentro de cada um de nós. Porque somos sempre o fruto de nós mesmos.
Eu gosto de dizer a frase “ que se leva da vida é a vida que a gente leva”, significando a importância de nosso estar no mundo, de nosso viver. Sem esconder emoções, sem aprisionar-se em medos. Mas abrir o coração e caminhar, com a naturalidade da vivência da inteligência e o afeto.
Vi na televisão um anúncio de um belo modelo de automóvel que era apresentado como o grande desejo e terminava com a frase ‘o que se leva da vida e a vida que você leva”..
Porque a vida é comprometimento.
Palavra certa muito pouco ouvida e sobretudo vivida.
quinta-feira, 28 de março de 2013
Religiões arrecadam 21 bilhões de reais em 2011 - Alexandre Cardia Machado
Esta comparação faz sentido porque as igrejas obtêm esta quantia através das contribuições dos fiéis, enquanto o Governo Federal distribui quase o mesmo montante de volta à população de baixa renda.
Estão relacionadas nesta conta a Igreja Católica, as Igrejas protestantes e os Centros Espíritas, entre outras correntes religiosas.
Este ramo de atividade “econômica” está em franca expansão, crescendo, por exemplo, 35% no Nordeste, nos últimos 5 anos, 13% acima do crescimento do PIB nos estados desta região, onde 72,2% da população é Católica. Em todo o Brasil os católicos têm diminuído proporcionalmente e, hoje, representam 64,6% da população brasileira. No entanto, mesmo assim, os Evangélicos crescem a cada ano no Nordeste, já representando 10,8 % da população por lá.
Os três estados com maior arrecadação religiosa, no entanto, estão mais ao Sul: São Paulo, com 10,2 bilhões de Reais; Rio de Janeiro, com 2,39 bilhões de Reais; e Rio Grande do Sul, com 1,29 bilhões, ou seja, os estados mais ricos contribuem mais.
As entidades religiosas, por lei, não são obrigadas a pagar Imposto de Renda, mas precisam apresentar declarações como isentos à Receita Federal. Neste ponto, por nos declaramos laicos e, logo, não religiosos, pagamos um preço, pois caso venhamos a obter lucro pagaríamos Imposto de Renda.
Em outro artigo intitulado Análise – Legislação é despreparada para lidar com religião-negócio, publicado no mesmo jornal, o sociólogo gaúcho Ricardo Mariano, da PUC-RS, se refere ao Kardecismo da seguinte forma: “espera-se que a clientela dos médiuns após receber gratuitamente mensagens, passes e curas, doe alimentos, roupas e dinheiro para obras assistenciais”. Entendemos que a análise é rasa, pois esta forma de contribuição é mínima no conjunto de Centros Espíritas Brasil a fora.
As casas espíritas e dentre elas, nossos Institutos Culturais, em geral, funcionam como um condomínio, onde as despesas são pagas por seus sócios contribuintes e, claro, ações de arrecadação que variam bastante na sua forma de execução, mas em geral são pizzadas, bazares e feiras de livros. Algumas casas se destacam por possuírem Jornais, Livrarias, Editoras, TVs e rádio; claro, neste caso, possuem um negócio.
Não enxergamos o Espiritismo crescendo do mesmo jeito que as Igrejas, na forma de contribuições voluntárias, que existem mas são uma parcela muito pequena do capital que gira nas casas espíritas, onde, como já dissemos, servem apenas de manter a obra de caridade que cada instituição mantém.
Talvez até passe na cabeça de dirigentes espíritas cristãos que valorizam em excesso a fé, que possam pegar carona na necessidade das pessoas de ajudar, impulsionadas pela exacerbação da ajuda pela fé, que traz embutida a garantia da ajuda superior, mas pelo brilhante trabalho de Kardec, fica muito claro que não é ético cobrar pela mediunidade.
Os Grupos Kardecistas laicos seguem o caminho do trabalho, compromisso e compartilhamento de custos. Desta forma, contamos apenas com a receita de seus sócios e do pouco que arrecadam com a venda de assinatura de jornais e de livros, motivados pela vontade de construir um sociedade espiritualista melhor para se viver.