COSMOLOGIA,
EXOBIOLOGIA E ESPIRITISMO UM ESTUDO SOBRE A VIDA E O UNIVERSO
Reinado Di Lucia
INTRODUÇÃO
A questão "Estamos ou não sozinhos no
Universo?" não é recente. Entretanto, ela é de fundamental importância,
não só como mera especulação intelectual, mas também, e principalmente, na
criação de um modelo coerente que sirva para explicar este Universo.
A ciência inicia-se com problemas. Enquanto
nenhum problema, nenhuma inquirição afeta o ser humano, ele se vê desobrigado
de pensar, observar, buscar. Assim, conhecer é, simplesmente, reduzir o
desconhecido ao conhecido. A verdade científica é des-velamento (aletheia, para
os gregos). Para tanto, os cientistas criam modelos, que, posteriormente
testados, dão origem às teorias e às leis.
Atualmente, neste mundo de incertezas em que a
própria ciência nos colocou, é grande presunção falar-se em comprovação científica.
A "prova" em ciência é uma quimera a ser usada, no máximo, com a
finalidade de engrandecimento pessoal de um cientista ou de um grupo, com
vistas, normalmente, a um aumento na verba de pesquisa. Os bons resultados
obtidos com os testes de uma teoria servem tão somente para que esta continue
presente no rol de teorias possíveis.
As teorias
só permanecem válidas enquanto explicam e prevêem todo o universo de fatos de
que se propõem a tratar. Assim, toda descoberta de fatos novos, de novos
elementos que devam ser agregados àquele universo leva à necessidade de novos
exames na teoria, para que se verifique sua validade.
É por isso
que não se pode dizer que as afirmações científicas são verdades absolutas. No
dizer de Karl Popper1 "A ciência não é um sistema de declarações certas e
bem estabelecidas; nem é ela um sistema que avança para um estado final. Nossa
ciência não é conhecimento; ela não pode nunca pretender haver atingido a
verdade, nem mesmo um substituto para ela, a probabilidade" . Isto ocorre
porque não se pode, em nosso estágio atual de evolução intelectual, ter certeza
que são conhecidas todas as variáveis que afetam o universo de fatos
considerados na determinação de uma teoria.
Quando se
analisam as ideias sob este prisma, o espiritismo cresce de modo brutal como
possibilidade de alternativa científica. Em verdade, sua grande contribuição
foi ter imaginado um modelo lógico, coerente e baseado, tanto quanto possível,
em fatos palpáveis para explicar e prever o Universo. Este modelo (que podemos
chamar, sem medo de erros, de teoria espírita) diferencia-se dos demais modelos
científicos vigentes por considerar uma nova dimensão para o Universo, a
dimensão não-física do espírito. Ao fazer isto sem as considerações puramente
místicas da grande maioria das filosofias que trataram do espírito, a doutrina
espírita colocou-se em lugar de destaque entre as teorias científicas de sua
época.
O modelo
espírita de Universo fundamenta-se em seis princípios básicos que encontram-se
de tal forma interligados logicamente na teoria que a demonstração da
inexatidão de um deles faria desabar todo este modelo, obrigando a uma revisão
estrutural da teoria. São eles:
1 Existência de Deus.
2
Existência e imortalidade do espírito.
3 Evolução
infinita.
4
Pluralidade das existências (reencarnação)
5
Pluralidade dos mundos habitados.
6
Comunicabilidade entre encarnados e desencarnados (mediunidade).
Apenas dois destes princípios são
considerados, de algum modo, pelos representantes das ciências em nosso mundo:
a evolução e a pluralidade de mundos habitados.
No que diz
respeito à evolução, o princípio geral é bem aceito, embora as nuanças e a
extensão desta evolução sejam fortemente questionadas. A mais conhecida
proposta, formulada por Darwin em meados do século XIX, é bastante contraditada
por diversos outros cientistas que acham-na mais abrangente do que deveria ser
(e isto para não falar nas religiões, em sua grande maioria criacionistas, e
que, portanto, negam a possibilidade de evolução das espécies). Entretanto, no
que tange à visão científica da evolução, esta é restrita à matéria, jamais
sendo o espírito considerado, ao menos na acepção de espírito defendida pela
doutrina espírita.
Já a
possibilidade de vida em outros planetas, apesar de não ter a chancela das
academias de ciência, tem sido teoria validada por muitos eminentes cientistas,
entre eles físicos, astrônomos, biólogos, etc. Esta teoria (em seu aspecto
não-espírita) baseia-se menos em fatos evidentes que no cálculo de
probabilidades; mas este cálculo leva, quase que de modo inevitável, à
aceitação desta possibilidade.
Para o
modelo espírita, ambas as teses andam juntas, não sendo possível uma sem a
outra. Entretanto, esta teoria espírita data também da metade do século XIX,
tendo sido muito pouco (ou talvez nada) complementada desde então. Ela se
refere à vida, e ao modo como esta desenvolve-se no Universo.
A proposta deste trabalho é confrontar esta
teoria espírita sobre a origem da vida com as descobertas que foram feitas pela
ciência nestes últimos cento trinta anos: o novo modelo de matéria proposto
pela física, as descobertas da genética, as considerações da filosofia da
ciência (que mudaram o posicionamento dos cientistas em relação às suas
próprias teorias), os avanços na descrição matemática do universo, todos estes
novos elementos devem MT comparados à idéia espírita. E, como disse Kardec, se
uma verdade nova se revelar, o espiritismo a aceitará.2
O estudo
sobre a vida em outros planetas não pode prescindir de duas questões cruciais,
e ambas de difícil análise: Como surgiu o Universo? E, uma vez tendo ele
surgido, como surgiu e desenvolveu-se a vida?
Tais
questões são muito difíceis porque encontram o início de suas respostas no
limiar daquilo que é possível pesquisar, em termos científicos, no estágio
atual da ciência. Em sendo real a teoria do surgimento universal a partir de
uma grande explosão (o Big Bang), o elemento inicial que originou esta explosão
é classificado, pelos astrofísicos, como uma singularidade, fenômeno no qual as
leis físicas conhecidas deixam de ter validade. Pode-se, então, apenas propor
modelos sobre modelos, todos absolutamente possíveis, para este início.
A segunda questão, sobre a vida, esbarra num
problema ainda mais básico: o que é, afinal, vida? Como podemos conceituá-la e,
mais, como distingui-la da, digamos assim, "não vida"?
O que se pretende, com este trabalho, não é,
obviamente, a resposta a estas questões singularmente complexas do conhecimento
humano. A intenção é tão somente examinar o que se apresentou de novo neste
século, verificar se a teoria espírita permanece válida e propor eventuais
modificações a serem consideradas para esta teoria. Para tanto, partir-se-á de
um pequeno histórico da idéia de vida em outros planetas. Serão demonstradas as
principais teorias que hoje tratam da origem do Universo, e também das teorias
sobre a origem e o desenvolvimento da vida.
Uma outra
questão que deve ser estuda é a existência de evidências sobre a possível vida
em outros planetas. Neste aspecto, os fenômenos hoje estudados pela ufologia
podem trazer alguma luz. Tal como o espiritismo, a ufologia padece da
existência de muitos charlatães que distorcem tanto suas idéias centrais quanto
sua base teórica. O que se procurará mostrar é que, quando eliminadas estas
interferências, resta uma protociência interessante, que pode colaborar com
algumas das teses espíritas.
CAPÍTULO 1
- O UNIVERSO
Origens:
O conceito
de Universo variou em extensão, forma e propriedade ao longo da história da
humanidade, mas nem por isso deixou de significar sempre, no fundo, a mesma
coisa: o conjunto de matéria (e, a partir da relatividade, de energia)
existente no espaço. Essas variações deram-se em função da diferença de
conhecimentos científicos e tecnológicos em cada época da humanidade. Assim,
quando ainda não havia instrumentos para observação, o Universo observável a
olho nu media não mais de 2 x 10 anos-luz (o que já é uma distância bastante
considerável). Atualmente, os modernos telescópios, como o Hipparcos3 , já
conseguiram elevar este número para 2 x 10 anos-luz (ou 20 bilhões de anos
luz).
Segundo
Ronaldo R. de Freitas Mourão, os físicos conceituam hoje Universo observável
como sendo todos os corpos celestes que podem ser detectados diretamente,
através dos diversos tipos de radiações por eles emitidas; Universo físico como
a extensão do observável, isto é, todos aqueles objetos que podem ser
detectados pelos efeitos físicos por eles provocados; e Universo total como o
tratamento matemático, metafísico ou filosófico resultante da extrapolação de
nossos conhecimentos sobre o Universo4 .
Entretanto,
uma pergunta fundamental não foi, até hoje, respondida de maneira inequívoca:
qual a origem deste nosso Universo?
As
primeiras fontes conhecidas no ocidente sobre a origem do Universo são gregas.
Já antes do século VIII a.C. as questões sobre qual o princípio daquelas coisas
conhecidas, que os cercavam, eram preocupações comuns entre os gregos. E, como
não podia deixar de ser, os primeiros relatos escritos sobre a origem do
Universo (cosmogonia) são descritos em linguagem mítica, através,
principalmente, dos poemas de Homero e Hesíodo.
O que se
observa nesses textos, é que há uma mescla entre a cosmogonia (o nascimento do
Universo) e a teogonia (o nascimento dos deuses). O pensamento grego desta
época não dissocia a divindade do Universo em que vive, unindo-os todos num
mesmo princípio - e daí vão surgir escolas de conhecimento esotéricos, como,
por exemplo, o orfismo.
Não se deve
entender com isto que a formulação cosmogônica grega seja totalmente voltada
para o misticismo. Há, nesta forma de descrever a origem do Universo, mais um
problema de linguagem. O grego antigo não formula explicações racionais dos
fenômenos, talvez por incapacidade de fazê-lo. "(...) o grego espanta-se e
admira-se. Descreve isso perante o que se espanta e se admira. Omite o discurso
lógico explícito mas, na própria forma como descreve o que vê insere, ou
implícita, uma lógica explicitação das causas e dos processos."5 . É a
partir daí que surge o pensar filosófico.
Para
Hesíodo, no início tudo era o Caos. O conceito de Caos em Hesíodo é o de
desordem, não no sentido de "bagunça", mas como um campo inicial,
onde ainda não há o ser, mas existem as condições para sua existência. E esta
existência dá-se pela intervenção de Eros, que, com sua dialética dynamis -
energeia (potência e ato), constitui o espaço e tudo o que nele há. Este
conceito não é irracional. É, ao contrário, bastante profundo, e merece um
melhor estudo, que não cabe neste trabalho. Quando, a partir do século VI a.C.,
os pensadores passaram a descrever o mundo de uma forma lógica, abandonando,
por assim dizer, a expressão mítica, as idéias sobre a formação do Universo
seguiram duas linhas distintas.
A primeira,
apresentada por nomes como Aristóteles, Platão e Ptolomeu, postulava a Terra
como sendo um ponto fixo e central do Universo (concepção geocêntrica). A idéia
básica é a tendência a acatar a observação visual de que há um movimento
aparentemente circular dos demais astros em torno da Terra. Esta, portanto,
devia estar fixa, e todos os corpos celestes a recobririam. É interessante
notar que, apesar disto, já por esta época não se acreditava mais numa Terra
chata, mas sim que ela deveria ser esférica.6
A outra,
defendida por pensadores como Pitágoras, Aristarco e, mais tarde, Copérnico,
afirmava que a Terra não era o centro do Universo, mas um corpo celeste que
girava ao redor de algum outro astro. Entretanto, enquanto que Pitágoras dizia
que este centro era um "fogo central" (e não o Sol), Aristarco de
Samos, no século II a.C., já defendia a posição que a Terra, como os demais
corpos celestes, orbitavam circularmente em volta do Sol. Estavam, já nesta
época, lançadas as bases da concepção heliocêntrica.
O grande
problema com a primeira hipótese (geocêntrica) é que ela não consegue explicar
todos os movimentos dos astros observáveis. De fato, os planetas mais distantes
do Sol que a Terra movem-se, de maneira geral, de leste para o oeste, mas, em
determinados períodos, parecem retroceder. Estes movimentos retrógrados,
explicados facilmente num Universo heliocêntrico, constituíram-se em grandes
obstáculos à teoria de uma Terra central, a ponto de ter sido necessária a
criação de um sistema de epiciclos, "rodas" mantidas juntas por
eixos, movendo-se livremente umas em volta das outras, e todas elas movendo-se
em volta da Terra. Estes movimentos deveriam ser muito complexos, e Aristóteles
previa cinqüenta e cinco dessas esferas.
Entretanto,
por imposição da Igreja Católica, o sistema geocêntrico prevaleceu por toda a
Idade Média, e, no século XVI, astrônomos como Copérnico, Tycho, Kepler e
Galileu enterraram-no definitivamente. Nasce, então, o que poderíamos chamar de
cosmologia moderna, com toda a complexidade matemática que a caracteriza.
Cosmologia
Moderna:
A partir
das observações astronômicas de Tycho e Galileu, e das contribuições de Newton
(notadamente a teoria da gravitação universal), ainda no século XVI, foi-se
formando uma determinada concepção de Universo que, ao mesmo tempo que diferia
das demais, era singularmente complexa. Esta concepção foi alavancada por
William Herschel, no final do século XVIII, com a descoberta do planeta Urano e
com a constatação que as nebulosas observadas nos telescópios eram sistemas
galácticos de estrelas e planetas, tão grandes ou maiores que a nossa galáxia
(a Via-Láctea).
Tais
pesquisas levaram à idéia fundamental do Universo, vigente a partir de meados
do século XIX: a de que o Universo é aproximadamente igual em todas as
direções, e que nossa galáxia é destituída de qualquer localização preferencial
no espaço. Essa idéia, chamada de princípio cosmo lógico de Copérnico, leva
facilmente à constatação que o Universo é localmente isotrópico7 no espaço, e,
portanto, que é espacialmente homogêneo.
Desta
constatação surgem duas linhas de pensamento distintas: a primeira, defendida
por Newton e, mais tarde, também por Einstein (ao menos preliminarmente) diz
que o Universo é isotrópico não só no espaço, mas também no tempo (princípio
cosmológico perfeito), o que levou às diversas teorias do Estado Estacionário,
isto é, à idéia de um Universo infinito, estático no tempo e no espaço.
Há um
problema com esta teoria, facilmente verificável: se o Universo é infinito e
homogêneo, para qualquer ponto do céu que olharmos, nossa linha de visão
cruzará necessariamente com um número infinito de estrelas. Portanto, o céu
deveria ser, sempre, fortemente iluminado, o que não ocorre. Este paradoxo,
descrito pela primeira vez em 1826, pelo astrônomo alemão Heinrich Olbers, é
fundamental para a cosmologia moderna: qualquer cosmologia bem-sucedida deve
resolvê-lo satisfatoriamente.
A segunda
linha de pensamento, em oposição à anterior, afirma que visualizamos o Universo
de um ponto de vista privilegiado, seja no tempo, seja no espaço (ou mesmo em
ambos). Conhecido como princípio cosmológico antrópico, vai de encontro à
teoria anterior principalmente num item: admite que o Universo não é
estacionário, isto é, está em constante mutação (e nós sabemos hoje que é
teoricamente impossível a existência de um modelo estático infinito de Universo
no qual a gravidade seja sempre atrativa). Mas, mais do que isso, é coerente
também com as observações realizadas neste século, e que levaram à teoria do
Big Bang.
Em 1916,
Albert Einstein revoluciona a cosmologia com o lançamento da teoria da relatividade
geral, em que dava um passo além da gravitação newtoniana. Entretanto, do modo
como foi formulada, esta teoria preconizava um Universo não estático, o que o
próprio Einstein não conseguia aceitar. Ele introduziu então um elemento
desnecessário em suas equações, que visava manter este Universo estático: a
constante cosmológica. Ele mesmo admitiu, posteriormente, que este foi um dos
maiores erros científicos que já cometeu.
A constante
cosmológica foi definitivamente eliminada como possibilidade para o Universo a
partir dos trabalhos teóricos de Friedmann e Lemaítre e das observações de
Hubble.
Alexander
Friedmann (matemático e meteorologista russo), em 1922, e Georges Lemaí'tre
(clérigo belga), em 1927, trabalhando independentemente descobriram um conjunto
de soluções para as equações da relatividade que admitiam universos abertos e
fechados, mas não estáticos. Em 1929, Edwin Hubble, astrônomo norte-americano,
anunciou uma lei simples, baseada em suas observações no observatório de Mount
Wilson, na qual descrevia a recessão das nebulosas. Era a primeira indicação
que o Universo poderia estar expandindo-se.
A proposta
de um Universo em expansão foi-se fortificando no decorrer dos anos, de acordo
com previsões teóricas dos mesmos estudiosos já citados. E o modelo que foi
mais aceito foi o de um Universo que tivesse começado num estado de densidade
infinita (uma singularidade), e evoluído a partir de uma grande explosão: é a
chamada teoria do Big Bang.
O Big Bang
foi praticamente confirmado (e a teoria do estado estacionário definitivamente
afastada) em 1964, quando dois físicos dos laboratórios Bell descobriram uma
radiação de fundo, de aproximadamente 2,5 a 4,5 K8 , isotrópica e homogênea.
Esta radiação, chamada de radiação de fundo das microondas cósmicas,
praticamente comprova a primitiva fase quente do Universo.
Estado
atual da Cosmologia:
1 No atual estágio da cosmologia, podemos
dizer que são melhor aceitas as seguintes teorias sobre a origem e a formação
do Universo:
2 O Universo é constituído por um continuum
quadridimensional de espaço-tempo, regido, em escala macro, pelas equações da
relatividade de Einstein. Isto significa, entre outras coisas, que o tempo é
uma função variável do Universo, dependente fundamentalmente da velocidade.9
3 Tal espaço-tempo
quadridimensional é curvo, e sua curvatura depende da quantidade de massa
(matéria) ao seu redor. Graças a isso, a geometria que o descreve não é a
euclidiana, mas uma das muitas geometrias alternativas desenvolvidas a partir
do século xx. O Universo foi criado a partir de uma singularidade, num instante
qualquer há aproximadamente 20 bilhões de anos atrás. Neste momento, não se
sabe por que motivo, houve uma grande explosão (Big Bang), que criou o espaço
tempo e o pôs em movimento de expansão contínua, a qual dura até hoje.l0
4 Esta
expansão é uma expansão do próprio espaço-tempo, o que equivale dizer, do
próprio Universo, podendo, portanto, estar-se expandindo a velocidades
superiores à da luz no vácuo. O modelo geométrico mais aceito é o de um Universo
finito e ilimitado (como uma bola de gás).
5 A
singularidade que originou o Universo, como qualquer outra singularidade (um
buraco negro, por exemplo), não é explicada pela física quântica. Assim,
qualquer explicação que tentemos dar para este nosso cosmo está limitada à
idade de 10 segundo e a um comprimento de 10 centímetros.
6 Toda a
matéria existente no Universo deve-se a uma ligeira dissimetria entre os pares
de matéria / antimatéria formados durante o período de transição de fase
(também chamado de período catastrófico ou período inflacionário da expansão).
Tal dissimetria é prevista, estatisticamente, pelas teorias unificacionistas
mais modernas.
7 O
Universo primitivo demorou ainda 700 000 anos para que esfriasse o bastante
para que os núcleos atômicos assim formados pudessem dar início à formação de
galáxias, estrelas e planetas - base para a vida como nós a conhecemos.
A formação
dos planetas:
Planetas,
na definição de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, são "corpos celestes de
massa muito reduzida, incapazes de gerar energia equivalente à das estrelas, e
que se movem em órbita elíptica em torno delas".11
Para
considerarmos a formação dos planetas, em particular da Terra, que é o nosso
objetivo, não podemos prescindir do estudo da formação do sistema solar, uma
vez que ambos formaram-se contemporaneamente.
O Sol é das
estrelas mais comuns que poderia existir. É uma estrela de meia idade, em
relação às demais da galáxia (deve ter, aproximadamente, 5 bilhões de anos),
situado a dois terços do seu núcleo central (isto é, nem muito próximo, nem
muito distante dele). A galáxia (a Via Láctea) é uma galáxia espiral que tem em
seu núcleo um grande aglomerado de massa (um buraco negro, provavelmente) e,
aproximadamente, 100 bilhões de estrelas das mais diversas ordens. Nós
realmente não temos nada de muito especial.
Um estudo
sobre a origem do sistema solar, levado a efeito principalmente através de
estudos espectrais e análises físico-químicas de meteoritos, indica que nosso
Sol e todo o sistema originaramse pela contração gravitacional de matéria
dispersa na galáxia a partir de ondas de choque geradas pela explosão de uma ou
duas supernovas. Esta conclusão origina-se da grande quantidade de isótopos
exóticos de muitos elementos químicos presentes nestes meteoritos (por exemplo,
magnésio-26 e oxigênio-l7, entre outros).
O modo pelo
qual os planetas vieram a existir ainda é controvertido. Qual m teorias
despontam, apesar de apenas uma ainda possuir credibilidade. São elas: a da
turbulência, a das marés, a das nebulosas e a da acumulação.
A teoria da
turbulência é baseada na teoria dos vórtices, de Descartes. Afirma que, no
início do sistema solar, havia uma turbulenta atmosfera de gases girando em
torno do Sol, que, com sua dissipação, levaria à formação de regiões mais
densas, as quais condensar-se-iam em núcleos dos planetas. Como não há
evidências que esta turbulência tenha existido, nem uma idéia do porque elas
existiriam, esta teoria foi deixada de lado.
A teoria
das marés é uma seqüência daquela exposta por Georges Louis de Buffon em 1785,
que afirmava que a colisão de um cometa com o Sol teria expelido destes pedaços
de matéria que teriam transformado-se nos planetas. A moderna teoria, sabendo
que os cometas não têm massa suficiente para arrancar nada do Sol, parte do
princípio que a passagem de uma outra estrela suficientemente perto do Sol é
que teria arrancado destes filamentos de matéria que se condensariam nos
planetas.
Esta teoria, exposta no início do século XX por James Jeans e Harold
Jeffreys, possui uma dificuldade teórica: os gases assim produzidos teriam uma
temperatura muito alta, o que provocaria sua dissipação antes da condensação.
Outras dificuldades de cunho matemático, se não inviabilizaram a teoria, ao
menos tornaram-na mais improvável que a das nebulosas.
A teoria das nebulosas não é nova: vem das
idéias de Kant (1755) e Laplace (1796). Propõe que as forças centrífugas da
nebulosa protossolar (que, segundo ela, girava lentamente) provocaram ejeção de
material, que teria formado os planetas. Apesar de explicar o motivo pelo qual
os planetas movem-se num mesmo plano e numa mesma direção, sabe-se hoje que o
momento angular do sistema solar é provavelmente insuficiente para ter causado
ejeção de material.
A teoria
atualmente mais aceita é chamada teoria da acumulação, e prevê que a nebulosa
protossolar, afetada pela explosão das supernovas, teria colapsado. A região
central, onde se acumulava grande parte da matéria da nuvem, geraria o Sol. As
demais regiões densas teriam gerado os outros corpos do sistema solar, como os
planetas, asteróides, satélites. Ainda não se conhece bem o processo de
construção, mas a teoria é chamada de acumulação porque prega que os corpos
maiores (planetas) tenham-se formado pela fusão (colisão a altas velocidades e
pressões) de vários corpos menores (asteróides e planetóides).
A posição
espírita:
Em vários
textos, Kardec discute a questão da formação do Universo. Os principais deles
são aqueles descritos na Revista Espírita, além dos já consagrados capítulos de
A Gênese, que discutiremos mais adiante.
Os
principais textos da Revista Espírita são:
⎫ A pluralidade dos mundos habitados
- janeiro de 1863, trata da obra homônima de Camille Flammarion.
⎫ Estudos uranográficos - setembro de
1862 é o texto base do capítulo sobre Uranografia Geral da Gênese.
⎫ O planeta Vênus - agosto de 1862
trata sobre a constituição eos habitantes deste planeta.
⎫ Descrição de Júpiter - abril e
agosto de 1862 é uma comunicação sobre a constituição e os habitantes deste
planeta.
Podemos
resumir no quadro seguinte as principais idéias dos referidos textos:
1- A pluralidade de mundos habitados é
uma realidade inconteste. Dois argumentos existem a seu favor: a insensatez da
crença que todo o Universo foi criado só para agradar aos olhos dos terráqueos,
e os testemunhos dos espíritos que neles vivem, via mediúnica. Afirma
taxativamente que todos os planetas do nosso sistema solar, e mesmo a Lua,
devem ser habitados. 12
2- 2- Há uma escala de superioridade
dos mundos do sistema solar. Assim, do mais inferior para o mais superior,
temos: Marte, Terra, Mercúrio, Satumo, Lua, Vênus, Urano, Netuno e Júpiter.13
3- 3- Em Júpiter, a organização dos
corpos é totalmente diferente daquela da Terra. Seus habitantes deslizam pelo
solo, alimentam-se de frutas e plantas, a duração da vida é maior que a da
Terra e praticamente não existe infância. Com a morte do corpo, este
dissipa-se, não apodrece, e não se conhecem moléstias.14
4- 4- Os animais em Júpiter são também bastante
evoluídos, sendo encarregados de todas as tarefas manuais, como servos e
capatazes. As ocupações dos homens são puramente intelectuais.15
5- 5- O planeta Vênus é um intermediário entre
Mercúrio e Júpiter. Lá, os mares são cal mos, os ventos não sopram com
violência, o ar é mais rarefeito, os costumes são mais puros; em suma, um mundo
de bem-aventuranças.16
6- 6- Os planetas têm o mesmo estilo evolutivo
dos espíritos, isto é, são criados na escala mais inferior e evoluem até o mais
alto deles.17
Como se pode observar há uma série de conceitos
que a ciência atual demonstrou serem equivocados. O livro de Kardec que mais
trata deste assunto é A Gênese. Nele, os capítulos de VI a XII são dedicados ao
estudo do Universo, da formação da Terra, dos seres vivos e dos espíritos. Ou
seja, tratase da Gênese material, orgânica e espiritual.
As principais idéias novas, desenvolvidas neste
livro são:
1- Existe um paralelo entre as
descobertas científicas da época e a Gênese de Moisés (descrita na Bíblia),
que, na opinião de Kardec, era a mais próxima da verdade entre as teorias da
formação do mundo dos povos antigos.
2- O Universo é infinito, assim como
o espaço, e o tempo é característico deste nosso universo material, tendo sido
criado juntamente com a matéria.
3- As forças que percebemos no
Universo são, na verdade, diversificações de uma força única, assim como os
diversos tipos de matéria são diversificações da matéria primitiva.
4- Há um fluido, etéreo, que permeia todo o
Universo e que serve de veículo para o pensamento. Este fluido é chamado, por
vezes, de hausto divino.
5- Os planetas e os satélites, aí incluídos a
Terra e a Lua, são formados pelo destacamento de matéria da nebulosa que
origina o centro do sistema (em nosso caso, o Sol).
Fala-se também de muitos outros temas, como
precessão dos equinócios, revoluções dos planetas e seus movimentos, etc. Sobre
as questões da Gênese orgânica, falaremos mais no próximo capítulo.
Algumas das idéias adotadas por Kardec já foram
ultrapassadas, como se pode ver ao se comparar as novas descobertas científicas
(previamente expostas) com tais idéias. Entretanto, isto não invalida a obra,
já que o próprio Kardec, com a precaução que lhe é peculiar, adverte que só
está colocando estes temas como propostas, mas que sua aceitação definitiva
dependerá de comprovação científica.18
Entretanto,
já há, nas idéias de Kardec sobre o Universo, uma indicação de algumas das mais
recentes descobertas, como a unificação das interações, o espaço-tempo como um
continuum tetradimensional e a própria pluralidade de mundos habitados. As
idéias de Kardec, no fundo, concordam com as teorias que resistiram aos testes
das novas descobertas, e que apontam para um Universo dinâmico, em constante
mutação, e, portanto, mais apto ao desenvolvimento da vida.
CAPÍTULO 2 - A VIDA
Definições
Qualquer consideração sobre a origem da vida,
ou sobre como ela pode ter vindo a existir, deve passar por uma questão básica:
o que é vida? Apesar de esta questão parecer absolutamente irrelevante, já que,
em nível macro, é fácil distinguir que um cachorro tem vida, enquanto que uma
pedra não tem, ela se enche de sentido quando pensamos no nível molecular da
existência.
Consideremos os vírus. Estes consistem em
partículas de diferentes tamanhos, que variam da menor das bactérias até o de
algumas complexas moléculas de proteínas. São basicamente formados de ácidos
nucléicos (DNA ou RNA) e seu formato é, via de regra, icosaédrico ou
helicoidal.
Considerados do ponto de vista cristalográfico, eles seriam
inanimados, já que possuem todas as características dos cristais,
principalmente no tocante à sua forma. Porém os vírus têm a interessante
potencial idade de reproduzir-se, e de manter suas capacidades, digamos,
vitais, inalteradas, mesmo quando separado em suas partes constituintes,
recuperando estas capacidades assim que estas partes são postas juntas
novamente.
Talvez a melhor definição de vida seja:
"Vida é uma propriedade da matéria que confere a seus possuidores a
capacidade de metabolismo e replicação". Metabolismo é a "capacidade
de manter a integridade da célula através de um contínuo reembaralhamento de
componentes químicos, convertendo material bruto de fora da em substâncias
necessárias à sua existência"19 Já replicação é a possibilidade de um
organismo qualquer de fazer cópias de si mesmo. A replicação permite a cópia de
informação hereditária, garantindo que as características de uma célula possam
ser herdadas com precisão por sua descendência.
É possível usar um computador como metáfora
deste processo: o metabolismo seria como um hardware, requerendo atividade
constante - é assunto das proteínas. Já a replicação, devido às suas
necessidades de estabilidade e legibilidade, é como um software - e assunto dos
ácidos nucléicos. "Ácidos nucléicos, como disquetes, são facilmente lidos
e copiados. Proteínas, como computadores, são feitas seguindo as instruções, e
não por cópias."20
Existe
uma química da vida - que é essencialmente, a química de um elemento chamado
carbono, e, em particular, das cadeias de carbono muito longas. É exatamente
por isso que a química do carbono é chamada de química orgânica.
Pode-se
dividir os compostos orgânicos encontrados em organismos vivos em,
principalmente, quatro grandes classes: carboidratos, gorduras, proteínas e
ácidos nucléicos. As gorduras são as mais simples, consistindo cada uma de três
ácidos graxos unidos a um glicerol. Os amidos e os glicogênios são constituídos
ácidos graxos unidos a um glicerol. Os amidos e os glicogênios são constituídos
de unidades de açúcar (carboidratos) pareados. A função dos carboidratos e
gorduras no organismo é servir como combustível- fonte de energia.
Os ácidos nucléicos são estruturas muito
grandes, complexas, compostas d\' agregados de pelo menos quatro tipos de
unidades: os nucleotídeos. São os principais componentes dos genes, os
portadores da constituição hereditária.
Variedade e especificidade são as principais
características das proteínas, que incluem as maiores em mais complexas
moléculas conhecidas. Cerca de vinte e cinco tipos distintos de aminoácidos
constituem sua estrutura, sendo, assim, possível a existência de um número
virtualmente infinito de proteínas.
Existe uma propriedade importante da vida tal
como a entendemos hoje - e que é base para um sério paradoxo na questão da
origem da vida: os ácidos nucléicos são sintetizados nas células somente com a
ajuda de replicadores (proteínas); ao mesmo tempo, as proteínas são
sintetizadas somente se sua seqüência correta de nucleotídeos estiver presente.
Num estágio da Terra antes do aparecimento da vida (chamado de estado
pré-biótico), no qual não havia nem ácidos nucléicos nem proteínas, como pode a
vida surgir?
Pequeno histórico sobre o aparecimento da vida:
Uma das primeira teorias sobre este tema foi
atribuída a Arrhenius21, que, (domando uma idéia já exposta pelo filósofo grego
Anaxágoras (sec. V a.C.) sugeriu que esporos poderiam ter sido trazidos do
espaço para fertilizar a jovem Terra, através de poeira estelar, meteoritos ou
vento (radiação) solar. Esta teoria, à qual deu-se o nome de panspermia, tem um
inconveniente: a improbabilidade de quaisquer microorganismos terem sobrevivido
a uma viagem a tais distâncias, principalmente graças à radiação. Mas, ainda
que isto tivesse ocorrido, restaria uma questão: como se originaram os esporos?
Muito tempo passou-se antes que surgisse a
teoria clássica sobre a origem da vida: em 1924, o bioquímico russo Alexander
Ivanovich Opárin afirmava que não há nenhuma diferença fundamental entre um
organismo vivo e matéria sem vida, e que a complexa combinação de manifestações
e propriedades tão características da vida devem ter surgido no processo de
evolução da matéria, Esta idéia é aceita ainda hoje, como se pode ver nas
palavras de Steven Weinberg, prêmio Nobel de física: "A experiência dos
últimos 150 anos mostrou que a vida está sujeita às mesmas leis da natureza que
a matéria inanimada".22
Em 1928, independente de Opárin, o biólogo
britânico J.B.S. Ha1dane publicou um artigo no "Rationalist Animal",
no qual especulava sobre as condições que devem ter existido para emergir a
vida terrestre. Ele considerou que a luz ultravioleta proveniente do Sol,
aliada às descargas elétricas da jovem Terra, agiu sobre a primitiva atmosfera
existente no planeta, composta principalmente por amônia (NH3), metano (CH4) e
vapor d'água (H2O), formando compostos de carbono, entre os quais, possivelmente,
açúcares e alguns aminoácidos necessários para as proteínas. Haldane postulou
que estes compostos acumularam-se nos oceanos primitivos, até que eles
atingiram a consistência de um "tépido caldo primordial". E foi aí
que a vida provavelmente começou.
Origem e desenvolvimento da vida:
O
problema que aqui se coloca, em relação à origem da vida, é, na verdade,
posterior à grande questão básica, de caráter quase que inteiramente
filosófico: ou a vida foi criada por um ente superior (Deus), tese aceita por
todas (ou quase todas) as religiões, e conhecida como criacionismo, ou evoluiu
a partir de compostos não vivos, ocasionando a tese da geração espontânea. Não
há outra alternativa.
Discorrer sobre a hipótese criacionista da vida
é, de certa forma, redundante, já que nosso conhecido Gênese bíblico é um
exemplo clássico dela: no primeiro dia, Deus criou o céu e a terra; no segundo,
separou o firmamento e as águas; no terceiro, Ele fez a terra firme e as
plantas; no quarto dia, Deus fez o Sol, a lua e as estrelas; no quinto, fez os
pássaros e os peixes, e, no sexto dia, os animais terrestres e o homem. É
interessante notar que como Deus ordenou à terra e às águas que produzissem os
seres vivos, em vez de os criar diretamente, não há conflito teológico entre o
Gênese e a criação espontânea. Entretanto, permanece o fato de o homem ter sido
criado diretamente por Deus, e não evoluído de formas inferiores de vida.
Entretanto, assumindo somente a hipótese não
criacionista, o problema que se apresenta é saber se é possível que a vida
surja a partir de compostos mais simples não vivos. Admitindo tal
possibilidade, resta um mundo de idéias que podem ser desenvolvidas,
principalmente a que, admitindo a isotropia universal, propõe a presença de
vida em outros planetas.
A resposta parece estar, apesar de tudo, na
teoria da seleção natural. Com a repetição, geração após geração, esta teoria
parece apontar para a evolução de organismos complexos a partir de outros mais
simples, e implica que todas as formas de vida atuais evoluíram de um único e
simples progenitor - um organismo a que se refere como o último ancestral comum
da vida.
Na verdade, existem, atualmente, três grandes
teorias que buscam explicar o problema da origem da vida:
A primeira, defendida já antes de 1930 por
Opárin, baseia-se na existência dos coacervatos - uma mistura estável de um
líquido oleoso em água, na qual aquele fica disperso dentro de gotículas que se
mantêm suspensas na água. Para ele, a moldura física (as células) apareceram em
primeiro lugar, a exemplo dos coacervatos. A seguir, pela organização das
moléculas dispersas no interior das células em ciclos metabólicos
auto-sustentados, criaram-se as proteínas. Finalmente, em último lugar,
apareceram os genes. Deve-se notar que Opárin tinha um limitado conhecimento
sobre a estrutura destes últimos; apesar disto, sua teoria permanece com alguma
validade.
A segunda teoria, proposta pelo físico-químico
alemão Manfred Eigen, prêmio Nobel de química, inverte a ordem dos
acontecimentos. Propõe que, em primeiro lugar, apareceram os genes, a partir da
auto-replicação do RNA. Em seguida, as proteínas, que plasmaram junto com o RNA
as bases do moderno sistema genético. Finalmente, a célula apareceu para dar
coesão a este sistema previamente formado. Esta é a teoria mais em voga
ultimamente, principalmente depois das experiências com replicação do RNA sem a
presença de proteínas, feitas por Eigen e Leslie Orgel (Ph.D. em química e
pesquisador da NASA para assuntos sobre a vida).
Finalmente, a última teoria, proposta por
Cairns-Smith, baseia-se na idéia de que, antes de os ácidos nucléicos serem
criados, o material genético original consistia de cristais microscópicos de
minerais, com uma distribuição irregular de metais (encontrados, naturalmente,
no barro comum). Os átomos de metal eram os mensageiros, transportando as
informações do mesmo modo que, posteriormente, o RNA. Esta teoria apresenta o
barro em primeiro, as proteínas em segundo, as células em terceiro e os genes
em quarto lugar.
Todas estas teorias baseiam-se nos experimentos
que foram levados a cabo por alguns cientistas experimentais, a partir de
meados do século XX, tentando comprovar a possibilidade de a vida ter surgido
de elementos não vivos. O primeiro destes experimentos, a talvez o mais significativo,
foi o de Harold Urey e seu aluno Stanley Miller, em 1953.
Nesta experiência, Miller propôs um ambiente
supostamente similar ao da Terra no seu início, isto é, um "oceano"
de água tépida produzindo vapor, e uma atmosfera redutora, composta de compostos
como amônia e metano, submetida a intensas descargas energéticas, sob a forma
de raios e radiação ultravioleta. A experiência foi realizada num aparelho onde
tais condições eram reproduzidas. Como resultados, em uma semana foram
produzidos 3% de aminoácidos, componentes básicos das proteínas.
Um interessante adendo à experiência foi um
meteorito encontrado, anos depois, em Murchinson, Austrália, e que demonstrou
conter os mesmos aminoácidos produzidos por MilIer, nas mesmas quantidades,
aproximadamente. Isto pode indicar que condições pré-bióticas, isto é, antes da
existência de vida, podem estar sendo produzidas em outros lugares do espaço.
Outras experiências semelhantes produziram
resultados muito compatíveis: assim, Manfred Eigen conseguiu produzir RNA
usando apenas proteínas, sem nenhuma molécula de RNA para servir como modelo
aos replicadores.
Da mesma forma, Leslie Orgel produziu o mesmo
RNA usando apenas um modelo de RNA, na ausência das proteínas replicadoras.
Todas estas experiências apontam para o fato de que é possível que condições
iniciais pré-bióticas tenham levado à produção dos elementos necessários à
vida, desde que em presença de uma quantidade suficiente de energia, o que
resulta, simplificadamente, na seguinte equação:
Composto simples + Energia > Precursores da
Vida
Entretanto, as teorias não param por aí: a
partir da década de 1960, um importante geneticista japonês, o Dr. Motu Kimura,
conferiu uma base matemática para o tratamento estatístico da evolução
molecular, que derivou na chamada teoria neutra da evolução. A proposta desta
teoria, bastante coerente com os postulados da física moderna, é que, durante o
desenvolvimento da vida, a deriva genética, isto é, flutuações estatísticas
aleatórias têm sido mais importante que a seleção natural como causa da
evolução das espécies.
O que se pode concluir é que a busca da ciência
por uma teoria da vida que prescindisse de intervenção sobrenatural, se não é
um sucesso absoluto, tem, ao menos, grande probabilidade de estar no caminho da
verdade. Apesar disto, pouco se sabe sobre a origem e o desenvolvimento da
vida.
A posição espírita:
Kardec era defensor da teoria da geração
espontânea. Tanto na Gênese (cap. X - Gênese orgânica) quanto na Revista
Espírita (A geração espontânea e a gênese - junho de 1868) ele reafirma essa
posição, fazendo a ressalva que ele a admite pessoalmente, mas não a coloca
como princípio da doutrina espírita devido a ela não estar ainda plenamente
desenvolvida e aceita pela ciência em geral.
Efetivamente, Kardec aceita a idéia da geração
espontânea em sua forma comum no século XIX, a de que seres vivos complexos
poderiam surgir da matéria inanimada, notadamente aquela em decomposição, como
mostra o seguinte texto: "É hoje reconhecido que os pelos do mofo
constituem uma vegetação que nasce sobre a matéria orgânica chegada a um certo
estado de fermentação. O mofo nos parece ser o primeiro, ou um dos primeiros
tipos de vegetação espontânea."23 E ainda: "A matéria orgânica
animalizada, isto é, contendo uma certa porção de azoto, dá origem a vermes que
têm todos os caracteres de uma geração espontânea."24
As idéias de Kardec estavam em consonância com
o espírito de sua época, pois, apesar de os experimentos de Pasteur que
demonstraram o erro destas idéias terem sido publicados já em 1861 (com o
título de Memória sobre corpúsculos organizados que existem na atmosfera),
ainda haviam sérias oposições às suas conclusões, por parte de cientistas de
renome, como é o caso de Henry Bastian, professor de anatomia patológica no
University CoIlege, de Londres. A geração espontânea só iria cair
definitivamente a partir das experiências de John Tyndall, em 1880.
Para a explicação da existência de vida em
alguns corpos, enquanto que outros apresentam-se inanimados, Kardec lança mão
do conceito de princípio vital. Para ele, tal princípio, ativo nos seres vivos
e extinto nos mortos, confere à substância orgânica as propriedades
características que a distinguem das substâncias inorgânicas. É uma modificação
da matéria básica que forma o Universo, e modifica a constituição molecular dos
corpos, dando-lhes as propriedades especiais orgânicas.
Um ponto importante desta teoria de Kardec
sobre a vida é que esta é estritamente material, não interferindo o espírito,
entendido como o princípio inteligente do Universo, em nada para sua
manutenção. Esta idéia, que vem de encontro às recentes descobertas da
biologia, é bastante deturpada no meio espírita brasileiro, que ensina que o
espírito é que vivifica a matéria.
A idéia
de um fluido vital não é original de Kardec. O vitalismo é uma doutrina que
pode ser encontrada em muitos povos antigos, da China aos europeus, passando
pela Grécia e por Roma. Definido como "a doutrina segundo a qual os seres
vivos são dotados de uma força particular em si mesmos, a força vital,
irredutível à físico-química, e que dá origem aos fenômenos vitais", o
vitalismo era uma idéia corrente na Europa do século XIX, uma escola que
buscava contrapor-se ao mecanicismo e ao reducionismo que, já então, eram
dominantes nas academias de ciência.
O vitalismo, enquanto escola filosófica com a
pretensão de explicar os fenômenos da vida, foi seriamente abalado pela
sintetização da uréia em laboratório, por Friedrich W6hler, em Leipzig, 1828.
Atualmente, apesar de ainda existir uma corrente neovitalista que mantém essa
idéia acesa, é abafada pelas teorias e experimentações que discutimos acima.
A questão, para o espiritismo, resume-se em
discutir a necessidade de lançar mão da tese do princípio vital, tal como
definido por Kardec, para explicar a origem da vida. Em função de todas as
descobertas feitas pelos biólogos, pode-se sugerir que, no estágio atual do
conhecimento, tal tese não é absolutamente necessária, e que a própria idéia de
Kardec que a vida pertence ao âmbito da matéria, e não do espírito, é
perfeitamente avalizada por estas descobertas.
CAPÍTULO 3 - PLURALIDADE DE MUNDOS HABITADOS:
AS EVIDÊNCIAS
A vida no espaço:
Considerando que a vida, muito provavelmente, é
uma conseqüência de um arranjo peculiar de átomos de carbono, hidrogênio e nitrogênio,
e que estes elementos encontram-se distribuídos no espaço exterior, pode-se
questionar sobre a existência de vida, ou ao menos de predecessores de vida, no
espaço.
Na realidade, desde a metade deste século era
sabido, através de análise espectral, que nas nuvens interestelares existiam
alguns compostos simples, como CN e OH. Entretanto, foi somente em 1968 que uma
equipe da Universidade de Berkeley, rastreando moléculas poliatômicas no espaço
interestelar, concluiu pela existência de uma grande variedade delas26, em
particular, o ácido fórmico (HCOOH) e a metanimina (H2CHN), cuja reação produz
o mais simples dos aminoácidos, a glicina (NH2CH2COOH). Há, então, excelentes
razões para crer que a complexidade molecular baseada em carbono é uma característica
presente em todo o Universo, e não só na Terra.
Até a década de 1960, a principal teoria acerca
da natureza dos grãos interestelares considerava-os como sendo gelo de água,
amônia e metano. Mas, em meados desta década, observações espectroscópicas
mostraram uma forte absorção na faixa dos 2 200 A, que não coadunava com nenhum
daqueles elementos. Em paralelo, estudos sobre as radiações infravermelhas
destas nuvens indicam temperaturas acima do ponto de ebulição da água.
Necessitava-se de uma nova teoria, e ela foi
estabelecida pelos astrônomos Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe. Segundo
eles, o elemento que melhor absorve naquela faixa de comprimentos de onda é o
carbono. Esta idéia foi consideravelmente confirmada pela análise do espectro
de uma substância que coincide significativamente com as observações
experimentais: a celulose, por coincidência (ou não) um constituinte básico das
estruturas vegetais.
A construção de grandes moléculas de
polissacarídeos, como a celulose, no espaço não é tão absurda. Quimicamente,
carbono e oxigênio podem, a temperaturas compatíveis com aquelas do espaço
exterior, unir-se formando anéis pirânicos, compostos que crescem como
cristais, "simulando", por assim dizer, o comportamento das células
vivas.
Outra descoberta interessante neste campo
situa-se na faixa dos 4 430 A, e poderia dar uma idéia de como o nitrogênio
estaria presente. A absorção nesta faixa combina com a de uma grande molécula
(MgC46H30N6), da família das profirinas, componentes básicos da clorofila, substância
necessária à fotossíntese, e, portanto, à existência de vida na Terra.
Todas estas observações, aliadas à descoberta,
a partir da década de 1950, de aminoácidos em amostras de meteoritos, sugerem
que o "caldo primordial" poderia estar no interior de um cometa, onde
polissacarídeos, porfirinas e outros componentes orgânicos poderiam ter-se
composto em formas vivas autocopiadoras.
Estas
considerações são usadas pelos astrônomos e alguns biólogos para suportar a
tese que a vida na Terra foi semeada por moléculas vindas do espaço - o que
seria uma adaptação e uma evolução da teoria da Panspermia. Entretanto, podem
também apontar para a hipótese de a vida ter-se desenvolvido em outros locais
do espaço, além da Terra.
Evidências de vida fora da Terra:
A idéia da existência de vida em outros
planetas possivelmente já existia nos antigos gregos, aparecendo em algumas das
odes de Píndaro. Apesar disso, a idéia só pode desenvolver-se quando o homem
passou a encarar tais planetas como sendo mundos semelhantes ao nosso. Foi
assim que essa idéia, proposta inicialmente por Nicolau de Cusa, foi aceita por
Kepler e outros cientistas de renome, desde essa época até nossos dias,
crescendo continuamente em força e argumentação.
Entretanto, muitos contestaram esses argumentos.
Em 1851, William Whewell, em seu livro Pluralidade dos Mundos, considerava a
necessidade de um conjunto de condições básicas para o desenvolvimento da vida:
luz, temperatura, pressão, umidade, etc. Tais condições formavam a chamada zona
de habitabilidade, da qual planetas muito próximos do Sol (como Mercúrio e
Vênus), ou muito distantes (Saturno, Urano, Netuno e Plutão) estariam fora.
Apesar
da força desses argumentos contrários, a partir da metade do século XX a
comunidade científica tem cada vez mais aceito a tese da vida em outros
planetas. Uma série de razões contribuíram para que isso acontecesse:
⎫ Em 1958, Harlow Shapley e Stanley Miller, através de cálculos
estatísticos, l'sl imaram uma provável população para o Universo. Mesmo
utilizando-se de cálculos conservadores, eles concluíram pela possibilidade de
100 milhões de planetas capazes de abrigar vida, dos quais 100 000 teriam
civilizações tecnologicamente mais desenvolvidas que a nossa, considerando como
Universo apenas o número de estrelas visíveis pelo telesc{wio. Atualmente,
cosmólogos menos cautelosos admitem aproximadamente 10 possibilidades de vida
no Universo.
⎫ Em 1961, Frank Drake propôs uma fórmula que forneceria o número de
possíveis civilizações em nossa galáxia; esta fórmula foi posteriormente
reformulada, e sua forma atual é:
Nv=Mn.Pp.Pi.Pa.Pz.Pe.Pb.Pr.Pd.Pt.
Onde: Nm = N° de estrelas de massa compreendida
entre 0.72 e 1.43 vezes a massa do Sol. Pp = Probabilidade que a estrela possua
um planeta orbitando em sua proximidade. Pi = Probabilidade que a inclinação da
órbita do planeta em relação a seu equador seja correta para a distância
orbital. Pa = Probabilidade que o planeta possua uma massa tal que lhe seja
possível possuir uma atmosfera - 0.4 a 2.35 vezes a massa da Terra. pz =
Probabilidade que ao menos um dos planetas do sistema esteja dentro da zona de
habitabilidade. Pe = Probabilidade que a excentricidade da órbita do planeta
seja suficientemente baixa, isto é, inferior a 0.2. Pb = Probabilidade que a
presença de uma segunda estrela companheira não torne o planeta inabitável. Pr
= Probabilidade que a rotação do planeta não seja muito rápida nem muito lenta
- dia de 3 a 96 horas. Pd = Probabilidade que o planeta esteja numa idade que
tenha permitido o desenvolvimento de vida. Pt = Probabilidade que a vida tenha
desenvolvido-se.
A conclusão estatística é que, apenas em nossa
galáxia, haja 600 milhões de planetas habitáveis.
- O lançamento do satélite soviético Sputnik,
em 04 / 10/ 1957, que inaugurou oficialmente a era espacial, e a descida do
homem na Lua, em 1969, convenceram os homens da possibilidade das viagens
interplanetárias.
- O desenvolvimento das teorias sobre a origem
da vida, e a descoberta dos precursores de vida nos meteoritos e nas nuvens
interestelares.
- O satélite IRAS ("Satélite Astronômico
Infravermelho"), colocado em órbita a 900 km de altura em 1983, descobriu
um sistema planetário em formação em tomo da estrela Vega, distante 26 anos-luz
da Terra, além da descoberta de outros sistemas planetários, como o da estrela
de Barnard, descoberto em 1967.
- A experimentação sobre existência de vida em
Marte, realizada pela sonda Vicking, que demonstrou, senão a existência de vida
propriamente dita, ao menos forte possibilidade de ela ter existido num passado
não tão remoto. Suposição esta que foi aumentada pela descoberta de um
microorganismo em um meteorito proveniente de Marte, em 1996.
A descoberta, em 1986, realizada pela sonda
Giotto, que o núcleo do cometa de Halley deve ser formado por, pelo menos, 25 %
de matéria orgânica.
Evidências como estas fazem com que,
atualmente, quase não existam astrônomos imparciais que não acreditem em vida
em outros planetas.
Evidências na Terra:
Um quase corolário da idéia da existência de
vida em outros planetas é a possibilidade de outras civilizações,
tecnologicamente mais avançadas, terem visitado a Terra. Se assim foi, devem
existir ainda hoje fatos que sugiram estas visitas. Este tema é abordado por
Erich von Daniken, em seu livro Eram os deuses astronautas?
A tese
principal da obra de von Daniken, que os deuses dos povos antigos foram, na
verdade, astronautas de civilizações mais avançadas, baseia-se em dois pontos
principais: a vida fora da Terra e a crença em deuses com características muito
semelhantes.
Para apoiar sua tese, o autor lança mão de
algumas evidências arqueológicas, mais ou menos recentes, porém encaradas sob
uma ótica sensivelmente diferente. Dentre estas evidências, pode-se citar:
- Textos da Índia de mais de 3 000 anos de
idade, que falam numa espantosa arma, cuja descrição evoca, para nós, a bomba
atômica.
- Cientistas russos descobriram, também na
Índia, um esqueleto com 4 000 anos de idade que portava radioatividade superior
em 50 vezes a do ambiente, com forte indicação que o indivíduo havia consumido
alimentos contaminados com radioatividade.
- No início do século XVIII, foram encontrados
alguns mapas muito antigos, pertencentes ao almirante Piri Reis, da marinha
turca. Tais mapas eram bastante precisos, mas não estavam desenhados de modo
correto. Um estudo mais profundo demonstrou que estão registrados nos mapas
cadeias de montanhas da Antártida, descobertas somente em 1952. Além disso, as
distorções nos desenhos dos mapas são perfeitamente explicáveis se eles
tivessem sido feitos a partir de fotos tiradas por uma espaçonave sobre a
cidade do Cairo.
- No Iraque e no Egito foram encontradas lentes
de cristal, lapidadas, que hoje só podem ser manufaturadas mediante a aplicação
de óxido de césio, produto só obtido por processos eletroquímicos.
Esses argumentos são realmente muito fortes.
Ainda assim, algumas das evidências de Daniken já foram contestadas, como é o
caso das pirâmides do Egito, que um grupo de cientistas japoneses demonstrou
ser possível de construir usando apenas a tecnologia da época, em não mais de
20 anos.
Apesar disto, o raciocínio de von Daniken é
muito lógico, e, se não quisermos ser preconceituosos, devemos aceitá-lo, ao
menos, como uma teoria plausível.
Evidências da ufologia:
A
protociência que se costuma chamar de ufologia tem se destacado para o público
leigo da mesma forma que o espiritismo, isto é, em seu aspecto mais
sensacionalista. Como o espiritismo, a ufologia tem estado sujeita a ações de
uma infinidade de charlatães de todos os tipos, que, a pretexto de apresentar
novidades, denigrem sua imagem como uma possível ciência, ainda que
alternativa. Finalmente, da mesma forma que o espiritismo, a ufologia tem sido
severamente rechaçada pela ciência formal, ainda que com ridículas alegações.
Entretanto, a ufologia tem sofrido também sério ataque dos governos, o que tem
dado origem a uma enorme gama de especulações, algumas completamente absurdas,
outras com fundamento.
O nome ufologia deriva da sigla inglesa UFa
(Unindentified Flying Objects), que significa Objetos Voadores Não Identificados
- OVNI em português. A sigla não é capaz de transcrever toda a profundidade do
tema tratado, uma vez que, ao pé da letra, qualquer objeto que voe e que seja,
de alguma sorte, desconhecido, é um OVNI. A grande discussão é que,
normalmente, estes OVNI estão associados a visitantes de outros planetas.
A aparição de estranhos objetos voadores não é
recente. Vários relatos da antigüidade apontam para a possibilidade de antigas
lendas serem, de fato, visitas de seres de outros planetas. Por exemplo, uma história
chinesa refere-se a um povo que habitava um distante "terra de carretas
voadoras", e que conduzia carros alados com rodas douradas. O Drona Parva,
um texto sânscrito, descreve combates aéreos entre deuses, a bordo de máquinas
voadoras chamadas vimanas. O profeta Elias, no Velho Testamento, subiu aos céus
numa carruagem de fogo.
O caso antigo mais interessante talvez seja o
do profeta Ezequiel, narrado também no Velho Testamento. Ele descreve uma visão
de um globo de fogo, que tinha ao seu redor uma espécie de metal brilhante. No
meio do fogo, apareciam o que ele julgou ter "a semelhança de quatro
animais", parecidos com homens, e cada um deles possuía quatro faces e
quatro asas. Em 1968, o engenheiro da NASA Josef Blurnrich, procurando contestar
a idéia que a roda de Ezequiel era uma nave espacial, acabou desenhando uma
nave viável a partir desta descrição. Tão convencido ficou que disse,
posteriormente: "Raras vezes uma derrota absoluta foi tão compensadora,
tão fascinante e tão prazerosa!".
A moderna
ufologia começou em 14 de junho de 1947, nos EUA. Kenneth Arnold, presidente de
uma firma de extintores de incêndio, pilotava seu próprio monomotor quando
avistou uma série de estranhos objetos voadores que se dirigiam ao sul. Os
objetos, de formato discóide, voavam numa formação que cobria 8 quilometros, a
uma velocidade de aproximadamente 2 600 km/h. Chamou aqueles objetos deflying
soucers (pires, ou discos, voadores), inaugurando a era ufológica.
O acontecimento mais marcante dessa época, e
também o primeiro em que houve desmentidos oficiais à hipótese UFO, foi o
ocorrido com o capitão-aviador Thomas Mantell, em 7 de janeiro de 1948. Mantell
era um piloto altamente qualificado, veterano da Segunda Guerra Mundial,
condecorado por bravura.
Devido ao aparecimento um objeto prateado, em
forma de disco, sobre a base aérea de Fort Knox, no Kentucky, Mantell decolou
num caça F-5l, em missão de reconhecimento, disposto a interceptar o disco.
Depois de várias comunicações pelo rádio, descrevendo-o (um objeto de aproximadamente
80 metros de diâmetro, girando em tomo de um eixo central com incrível
velocidade e deslocando-se mais rápido que o caça), a base perdeu contato com o
piloto. Seu avião foi encontrado algumas horas depois, completamente destruído.
A versão oficial para o acidente foi
estarrecedora: "Mantell teria perseguido o planeta Vênus e pereceu quando
dele se aproximou em demasia". Esta teoria foi desqualificada pelos
astrônomos, dizendo que, à luz do dia, naquele dia em especial (o céu esta encoberto,
com muitas nuvens), o planeta Vênus era invisível. A seguir, disseram que
Mantell havia perseguido um balão meteoro lógico, tese que foi desmentida pela
Central de Inteligência Técnica Aérea. Desde então, os governos de maneira
geral, principalmente os dos EUA, tem sistematicamente desmentido qualquer
interpretação que leve à idéia de OVNI, algumas vezes com alternativas
completamente ridículas, como no caso Mantell. Talvez seja esta insistência em
negar o fenômeno, tão grosseiramente, que tenha feito que a ufologia tenha-se
difundido a tal ponto.
Muito do que aparece em ufologia tem a marca da
fraude, causada por pessoas que mais querem aparecer. Algumas fraudes
fotográficas foram descobertas em análises por computadores, o que, se por um
lado contribuiu para livrar a ufologia destes charlatães, por outro leva
algumas pessoas mais preconceituosas a julgar que qualquer relato, foto ou
avistamento deva ser, necessariamente, fraude. Tal como acontece com o
espiritismo. Entretanto, numa amostragem feita por pesquisadores sérios, não
ligados à área ufológica, concluiu-se que, no mínimo, 23 % dos casos não
poderiam ser explicados por teorias convencionais (fraude, alucinação, confusão
com balões meteorológicos ou aeronaves, ilusão de ótica causada por fenômenos
naturais, como a aurora boreal, etc.).
O que se conclui é que, quando se destitui a
ufologia de toda a pasmaceira infundada, restam alguns fatos que, apesar de
severamente pesquisados por meios químicos, eletrônicos, informatizados,
hipnóticos, etc., resistem bem a todos eles. Tais fatos apontam inegavelmente
para uma possibilidade de que existam realmente civilizações mais avançadas em
outras partes do Universo que, tendo dominado tecnologias para nós ainda
inimagináveis, conseguem transpor distâncias galácticas e visitar-nos. Se este
for o caso, a evidência ufológica pode vir ao encontro da tese espírita.
A posição espírita:
Kardec deixa bastante claro, em vários dos
textos que escreveu, sua posição cm prol de um Universo infinitamente povoado
por espíritos, das mais diversas ordens, nos mais diversos globos. Já no
primeiro Livro dos Espíritos, editado em 1857, se dizia dos mundos habitados, e
de que o homem erra ao julgar-se o primeiro em inteligência, bondade e
perfeição.
Kardec faz da pluralidade de mundos habitados
um dos princípios básicos da doutrina espírita, conforme nos mostra n' O Livro
dos Espíritos: "Os espíritos encarnados habitam os diferentes globos do
Universo."27 Entretanto, deixa claro que todos os globos, sem exceção (aí
incluídos os satélites, como a Lua), abrigam seres corpóreos, ainda que de
constituição adequada ao estado de cada um deles. E refuta as objeções que a
ciência já fazia em sua época (por exemplo, no que tange à ausência de ar ou
água na Lua) com a argumentação: não é porque não percebemos água ou atmosfera
que elas não existem.28
Ora, é
certo que a ciência atual já demonstrou que nem todos os corpos celestes são
habitados; nem mesmo todos os planetas o são, e, no caso específico do nosso
sistema solar, parece que a Terra é o único a ter este privilégio. Entretanto,
a idéia espírita da plural idade de mundos habitados vem de encontro àquilo que
a astronomia e a física afirmam atualmente, de modo que as eventuais
discrepâncias que a teoria espírita, tal como proposta por Kardec, e a ciência
atual tenham não invalida a obra do fundador do espiritismo.
CONCLUSÃO
A idéia
espírita sobre o surgimento, desenvolvimento e existência da vida no Universo
não foram calcadas em observações experimentais. A tecnologia disponível à
época do surgimento da doutrina espírita não permitia tais observações. Esta
idéia é um desenvolvimento lógico da filosofia espírita, isto é, do modo como o
espiritismo vê o Universo, aliado a comunicações de origem mediúnica.
Entretanto, sua posição a respeito não o coloca
na contramão do pensamento científico atual, principalmente no tópico referente
à pluralidade de mundos habitados. Ao contrário, as posições dos cientistas
hoje concordam admiravelmente, ao menos nas linhas gerais, mais amplas, com as
posições lJuc o espiritismo vem defendendo há 140 anos.
Uma concordância importante entre a doutrina
espírita e as modernas teorias científicas, concernente ao tema em pauta, é que
a vida é uma conseqüência direta da matéria, e que o elemento espiritual só
participa deste processo para efetivar a intelectualização desta última. Assim,
ao contrário do que dizem alguns sistemas filosóficos do passado, e muitas das
religiões do presente, a alma não tem relação com a animalização da matéria.
Desta forma, o espiritismo permanece à vontade
para manter sua concepção dualista do Universo: de um lado, o espírito,
princípio inteligente e responsável por todas as manifestações desta ordem; de
outro, a matéria, elemento intelectualmente inerte, mas possuidor de todas as
condições para sua manutenção independente, condições estas que lhe é dada
pelas leis físicas, parte integrante da lei divina ou natural.
Todavia, não custa relembrar que este dualismo
não é opositivo. Ao contrário das religiões, o espiritismo não prega a
inferioridade da matéria em relação ao espírito, nem faz juízo de valor,
dizendo que a matéria é um peso morto, um sofrimento de que o espírito deve
lutar para se livrar. Matéria e espírito complementam-se, e, se aquela não
seria mais que uma massa inerte sem este, o espírito não prescinde do contato
material para seu crescimento e evolução.
Ainda assim, não se pode afirmar que o
espiritismo tenha antecipado as conclusões que a ciência hoje admite sobre a
vida e a pluralidade de mundos habitados. As diversas diferenças entre a teoria
espírita e as observações experimentais fazem com que possamos dizer, sem medo
de errar, que, se a idéia filosófica estava correta, as considerações
científicas afastavam-se da realidade. Porém, como o próprio Kardec afirmou,
estes temas devem ser estudados pelas ciências materiais. A ciência espírita
deve, apenas, servir de baliza, fornecendo bases teóricas.
Em particular, uma destas teorias espíritas
merece uma maior atenção: é o caso do princípio vital. Empregado por Kardec
como artifício para explicar por quê alguns seres são vivos, enquanto outros
não são, suas bases não encontram, na ciência atual, nenhum indício. Na
verdade, as observações experimentais apontam para a noção que a vida é um
desenvolvimento natural da evolução da matéria. Parece uma tese mais
apropriada, posto que mais fácil de entender, com a vantagem de não estar em
desacordo com os princípios da doutrina espírita.
Este é um campo onde os biólogos e astrônomos
de formação espírita têm bastante a contribuir.
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NOTAS 1 The logic of scientific discovery, New York: Harper & Row, 1985, p.
278, citado por ALVES, Rubem, Filosofia da Ciência.
NOTAS
1 The logic of scientific discovery, New York: Harper &
Row, 1985, p. 278, citado por ALVES, Rubem, Filosofia da Ciência.
2 A Gênese, 28ª ed. Brasília: FEB, 1985, p. 45.
3 Hipparcos (sigla de High Precision Parallax
Collecting Satellite - Satélite de Coleta de Paralaxe de Alta Precisão) é um
telescópio orbital astrométrico (isto é, que serve para determinar a posição e
o movimento de astros) em órbita geoestacionária a 36 000 km acima do equador
terrestre.
4 Ronaldo
R. F. MOURÃO, Da Terra às galáxias, p. 293.
5
Pinharanda GOMES, Filosofia grega pré-socrática, p. 30.
6 O
postular a Terra como uma esfera "lisa e igual, e eqüidistante do centro
em todos os lugares, um corpo completo e perfeito" tinha por detrás a
idéia de que o círculo e a esfera seriam as formas mais perfeitas do Universo.
É um sinal da influência do pensamento pitagórico sobre os filósofos clássicos.
7 Um
Universo isotrópico é aquele que parece o mesmo em diferentes direções, quando
visto a partir da Terra.
8 Graus Kelvin (símbolo K) é uma unidade de
medida de temperatura. Zero K equivale a - 2730 C e é chamada de zero absoluto.
É a temperatura em que todo o movimento cessa, mesmo no nível subatômico.
9 Como, em
escala micro, o Universo é regido pelas equações da mecânica quântica, segue-se
que uma teoria que buscasse explicá-lo precisaria promover a união dessas duas,
resultando naquilo que se convencionou chamar de Teoria grã-unificada, ou
Teoria do campo unificado. Este é um grande sonho, que os físicos teóricos vêm
perseguindo há décadas.
10 Existem
outros modelos de cosmogonias que prevêem não só Universos eternos, mas também
Universos em que a matéria está sendo continuamente criada. Neste último caso,
a geometria poderia até mesmo ser euclidiana (e o tempo ser infinito), e ainda
assim estaria explicada a expansão do Universo. O maior problema desta teoria é
que, se não for admitido um criador (por exemplo, Deus) para esta matéria,
deve-se admitir que ela veio do nada.
11 Da Terra
às galáxias; uma introdução à astrofísica, p. 33.
12 Revista Espírita, fevereiro de 1858.
13 Idem,
ibidem.
14 Idem,
ibidem.
15 Idem,
Ibidem.
16 Revista
Espírita, agosto de 1862.
17 Idem,
ibidem.
18 Na
edição da Gênese da LAKE (com notas de Herculano Pires), este já faz esta
advertência, especificamente na questão sobre a Teoria da Lua (por quê a Lua
apresenta sempre a mesma face voltada para a Terra? ) - p. 117.
19 Freeman
DYSON, Infinito em todas as direções, p. 70.
20 Idem,
ibidem, p. 71.
21 Svante
Arrhenius (1859 -1927), físico químico sueco, prêmio Nobel de química de 1903,
criador da teoria da dissociação eletrolítica. Trabalhou também nas áreas de
fisiologia (imunoquímica), e física cósmica.
22
Scientific American, outubro de 1994, p. 47.
23 Opus
citatus, ano 1868, p. 205.
24 Idem,
ibidem, p. 205.
25 Ademar
A. CHIORO DOS REIS, Magnetismo, Vitalismo e o pensamento de Kardec, p. 63.
26 Um
artigo da revista Nature de 1980 relacionou 90 moléculas interestelares até
então identificadas. 27 Opus citatus, p.25.
28 Revista
Espírita, março de 1858, p. 65.
Nota do blog - artigo publicado no V SBPE relaizado em Cajamar - SP em 1997
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