segunda-feira, 9 de maio de 2022

Imortalidade em nossas vidas - por Cláudia Régis Machado

 

Imortalidade em nossas vidas

Cláudia Régis Machado

Às vezes pensar sobre a imortalidade nos parece algo distante que só pensamos quando estamos perto da morte. Mas como inseri-la em nosso dia a dia? Que comportamentos nos fazem expressá-la?



Primeiro o principal, ter o conceito que a imortalidade é dinâmica, não é um lugar, ou um estado do plano extrafísico. A Doutrina Espírita nos dá oportunidade junto do seu arcabouço estrutural de analisá-la de uma forma distinta da explicada pelo espiritualismo cristão, pois dentro da visão evolucionista que o Espiritismo nos propõe, de um continuum existencial, a vida se expressa e acontece em uma dimensão interexistencial no plano físico e extra físico Isto nos leva a perceber que a imortalidade não é estável. “A descoberta do plano extrafisico deu sentido à imortalidade e integrou as dimensões em que se manifesta o ser humano”. (Jaci Régis).

O conceito de imortalidade é de grande importância, o início, muitas vezes, para a compreensão da idéia espírita. Este é um do motivo que escrevi o livro – Kadu e o Espírito Imortal – livro infanto- juvenil que foi elaborado como um jogo, de idas e vindas para encontrar respostas e entender o fenômeno da morte, compreendendo assim a imortalidade de forma tranqüila, com leveza e de forma lúdica. O livro também é para adultos, iniciantes da Doutrina Espírita, que gostam de adentrar no assunto de um jeito ameno e pedagógico, que com certeza apreciariam, há no livro fatos da história do Espiritismo, sobre a mediunidade e outros pontos.

Mas voltando, o que a imortalidade propicia em nosso dia a dia?

Perceber-se imortal é um estado que é construído pouco a pouco na estrutura mental do espírito e, colocar em prática este estado é aprender a sua importância em nosso circulo de vivencia. Com isto seremos favorecidos, através de sua compreensão, um olhar, um sentir, um enxergar as coisas, os acontecimentos em nossas vidas e as pessoas do nosso redor com uma lente diferente.

Além do mais, e de suma relevância, levar a transformar nossa relação com os outros e também a visão de nós mesmos, porque a imortalidade dinâmica amplia a consciência de quem somos e o nosso papel e atuação no mundo e isto sem dúvida se reflete em nosso comportamento.

Esta é uma escolha que deve ser feita por nós todos os dias para que se torne um estado cotidiano e esteja presente em nossas reflexões e atitudes.

 Concretamente sabendo da existência do plano extrafísico, está demonstrado que somos imortais e sendo a vida um continum, o intercâmbio do plano físico e extrafisico torna-se presente onde as vibrações energéticas interligam e interagem. Como na manifestação da mediunidade de todas as ordens onde a comunicação com os amigos espirituais é uma realidade e nos fenômenos que sugerem reencarnação através da lembrança de sua vida pregressa.

Assim percebemos que ser imortal é real. “A imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser inteligente. Ela o define como um ente que permanece”.

A imortalidade se expressa também quando traz esperança para lidar com os conflitos da vida e quando amplia nosso ponto de vista para o futuro para a evolução espiritual.

Como coloca o Espiritismo- Ciência da Alma- o conceito de espiritualidade, de sermos espíritos imortais, atemporais em nossa estrutura de vida nos traz benefícios e responsabilidades.

O objetivo da Ciência da Alma é desenvolver a espiritualidade na estrutura da pessoa. Lutar para que a espiritualidade seja inserida como natural no comportamento humano, sendo assim, a “Imoralidade ganha um novo sentido e um novo horizonte, como a seqüência natural da pessoa além do fenômeno da morte”.

Lutar porque sabemos a significância desse conceito- sabemos aonde queremos chegar, mas há um caminho a percorrer , é preciso encontrar ferramentas, estudo, persistência, coragem para alcança- lo. É uma jornada para se viver melhor.

Artigo foi publicado no Jornal Abertura de maio de 2022.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=174:jornal-abertura-maio-de-2022


 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Realizado o 16° Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista

 16o Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista.


Nos dias 18 e 20/04/2022, no horário das 19h45 às 21h30, virtualmente, foi realizado o 16o

Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista. Este fórum ocorre anualmente,

sempre no mês de abril, em referência a data da publicação de O Livro dos Espíritos.

Este ano a organização ficou a cargo das seguintes instituições: Centro Espírita Allan Kardec

– CEAK, Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado - CEBAP, Grupo Espírita Leon Denis -

GELD, Grupo Espírita Trabalho e Amor – GETA e o Instituto Cultural Kardecista de Santos –

ICKS. Com o apoio da CEPA – Associação Espírita Internacional e da CEPABrasil –

Associação dos Delegados e Amigos da CEPA no Brasil.


O tema central foi O CENTRO ESPÍRITA E A PANDEMIA, que foi desenvolvido em dois dias,

no primeiro abordando o “Como Foi” e no segundo “Como Será?”.


Nos dois dias a apresentação dos temas foram desenvolvidos em forma de painel com

representantes de cada instituição organizadora do evento. Cada um teve 10 minutos para

fazer sua apresentação, especificando a realidade e perspectiva do seu grupo. Ao final das

apresentações foi aberta a conversação com publico através de perguntas e proposições.


No primeiro dia, 18/04, sob a moderação de Jailson Lima de Mendonça, a atividade foi

iniciada com a apresentação de um vídeo contendo uma reflexão sobre a pandemia e uma

música e em seguida a abertura e boas vindas pela presidente da CEPA, Jacira Jacinto da

Silva.


Participaram do painel “Como Foi?” representando o CEAK – Sandra Régis, CEBAP – Míriam

Barros Moreira, GELD – Katia Cilene Guimarães da Costa Ferreira, GETA – Valter Pinto e

ICKS – Alexandre Cardia Machado.


Neste dia, os painelistas abordaram como foi o período de pandemia, as dificuldades no uso

de novas tecnologias, o distanciamento, expectativas, apresentando conteúdos, abordagens

e reflexões particulares, mas que ao final observou-se muitos pontos em comum a todas

instituições.


Link para acesso do dia 18/04/2022: https://www.youtube.com/watch?v=NIYRAO5mZdI

No segundo dia, 20/04, sob a moderação de Sandra Régis, a atividade foi iniciada com o

vídeo de um Coro/Música/Poesia que foi apresentado no XXIII Congresso da CEPA (outubro

de 2021) - Clamor da Terra (música de Rica Silva) e em seguida a abertura e boas vindas

pelo presidente da CEPABrasil, Ricardo de Morais Nunes.


Participaram do painel “Como Será?” representando o CEAK – Márcia Rahabani Elias,

CEBAP – Jailson Lima de Mendonça, GELD – Katia Cilene Guimarâes da Costa Ferreira,

GETA – José Marcos de Messias e ICKS – Alexandre Cardia Machado.

Os painelistas abordaram como será o pós pandemia, como estão se preparando para o

retorno, as dificuldades e suas perspectivas.


Link para acesso do dia 20/04/2022: https://www.youtube.com/watch?v=EbjRG66JYF8

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O ser humano é bom ou ruim por natureza ? por Marco Videira

 

O ser humano é bom ou ruim por natureza ?

Na parede do salão abobadado da ONU há uma tapeçaria com dois versos escritos pelo poeta persa Saadi – século XIII:

·         Os seres humanos são partes de um todo

·         Na criação de uma só alma e essência.

Plagiando o historiador Leandro Karnal digo: querida leitora e estimado leitor, caso esteja iniciando a leitura deste texto na intenção de encontrar uma resposta para a pergunta do enunciado, não perca o seu tempo, pois só tenho elocubrações....

Pensadores ao longo dos tempos se debruçaram sobre esta questão a respeito do comportamento dual do homem: bom x ruim (no Brasil de hoje, a discussão é se o homem é fascista ou comunista).

·         A seguir, algumas posições de pessoas que alegam que o homem possui, por natureza, um comportamento ruim:

Segundo o psicólogo francês Gustave leBom (1841-1931), durante uma época de crises, o homem desce vários degraus da escada da civilização; porém isso não foi confirmado por ocasião do bombardeio em Londres, provocado pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial. A população apesar do todo sofrimento continuou a vida normalmente. Numa das lojas destruídas pelos bombardeios havia um cartaz: estamos mais abertos do que o normal e num bar havia outro: nossas janelas foram destruídas, mas nossas bebidas continuam ótimas.

As ideias do biólogo holandês Frans de Waal (1948) vão ao encontro do que pensava le Bon, pois ele diz: a civilização não passa de uma fina camada de verniz que pode descascar ante qualquer provocação.

Desde a origem, o cristianismo também foi permeado por uma visão negativa acerca da natureza humana. Agostinho (354 – 430), o Pai da Igreja, ajudou a popularizar a ideia de que os humanos nasceram em pecado: “ninguém está livre do pecado e nem mesmo uma criança, cujo ciclo de vida na Terra é de um único dia”. Bastou nascer para você estar...danado.

Não foi só Agostinho que difundiu o lado mal da humanidade. João Calvino (1509-1564), que rompeu com o Catolicismo, disse: “nossa natureza não só é destituída e vazia de bem, mas também tão fértil e frutífera para todo o mal”.

O filósofo Thomas Hobbes (1558 – 1679) defendia que os seres humanos são motivados pelo medo, o que geraria uma situação de anarquia (guerra de todos contra todos), mas tal situação poderia ser aplacada se nos entregarmos, de corpo e alma, às mãos de um único soberano (cubanos e venezuelanos podem nos falar se isso é verdade...).

Temos que considerar que a visão de Hobbes a respeito da humanidade estava “contaminada” pelos fatos que ele vivenciou (peste em 1628 e a guerra civil de 1640).

 

·         A seguir, algumas posições de pessoas que defendem uma visão positiva a respeito do comportamento humano:

Para o filósofoJean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)o homem é naturalmente bom e que só com o advento da civilização que teve início a nossa ruína. Ele considera que, a partir do momento em que o homem cercou um pedaço de terra e declarou, “isto é meu”, tudo se desmoronou.

Em 2007 a psicóloga KileyHamlin desenvolveu uma pesquisa com bebês de 6 a 10 meses no Centro de Cognição Infantil (Baby Lab) do Canadá, utilizando um espetáculo com duas marionetes. Um boneco apresentava comportamento de forma prestativa e o outro comportamentos maus. Após o espetáculo, os pesquisadores ofereciam aos bebês os dois bonecos e aquele que era bom, praticamente todos os bebês tentavam pegar.

Segundo o sociólogo e educador francês Pierre Bourdieu (1930 – 2002) o indivíduo é moldado desde o seu nascimento, passando por todas as etapas de escolarização, convivência familiar e comunitária. Cada pessoa forma inconscientemente o seu próprio capital cultural, aprendendo e incorporando o que viu, traduzindo tudo isso para a sua vida na forma de ações práticas. Ninguém pode dar aquilo que não tem.

·         O que o espiritismo no diz a respeito da natureza do homem ?

Para nós, espíritas, além de toda essa formação na vida presente, temos que considerar a “carga energética” trazida de vidas passadas. Em suma, o ser humano é algo extremamente complexo e às vezes, fazer o “simples” (agir em prol do próximo) se torna difícil.

Vejamos abaixo três passagens do Livro dos Espíritos que tangenciam o tema em pauta:

Questão 365 diz: “O espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período da sua existência ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade”.

Na questão 768 (adendo) Kardec diz: “Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso, é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não insulados”.

A questão 779 vai ao encontro da questão 768, pois diz: “dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social”.

Dentro da linha sustentada pelo Espiritismo, o egoísmo, juntamente com o orgulho, são os grandes males da humanidade e, somente quando nos despojarmos do egoísmo, viveremos como irmãos, nos auxiliando reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida matéria.

 

 

·         Considerações gerais

O lado positivo da pandemia Covid, se assim podemos falar em algo positivo, foram as inúmeras campanhas para arrecadação de alimentos e o engajamento de milhares de pessoas, incluindo aí os empresários, pois são membros da sociedade civil e não podem ser generalizados como exploradores dos pobres, como costuma ser o discurso da esquerda.

Aqui em Santos, durante o inverno do ano passado, participei como voluntário num programa social conduzido pela prefeitura local, que distribuía roupas para os moradores em situação de rua (não são moradores de rua, pois não nasceram na rua) e pude ver a quantidade de doações de roupas feitas pelos santistas, que carregam no brasão da cidade o lema: À Pátria ensinei a caridade e a liberdade.

Quando somos crianças estamos despojados de todos os preconceitos formados pela nossa convivência. Percebemos isso com clareza na resposta de uma criança para sua mãe, quando esta lhe pergunta se na sua classe havia alguém diferente, já sabendo que havia uma criança com síndrome de Down: “tem sim mamãepois se todas fossem iguais, os pais não saberiam achar os seus filhos na hora de buscá-los”.

Após a 2ª Guerra Mundial, a Marinha dos Estados Unidos para conquistar a boa vontade dos moradores do minúsculo atol chamado Ifallik no Oceano Pacífico, exibiu alguns filmes de Hollywood e tais filmes continham cenas de violência, o que provocou um estresse na população local, levando alguns nativos a ficar vários dias doentes. Anos depois, quando uma antropóloga chegou a Ifalik para um trabalho de campo, os nativos perguntaram se era verdade que nos USA havia pessoas que matavam outras pessoas...

A empresa de pesquisas World ValueSurvey realiza anualmente um levantamentoa respeito do nível de confiança das pessoas e faz aos cidadãos a seguinte pergunta: “em média, você acredita que as pessoas são confiáveis”? Na última pesquisa, o Brasil teve o percentual de 5%, contra 70% na Noruega, ou seja, considerando esse baixo percentual é possível entender o descrédito, principalmente, em relação à classe política. Nem tudo está perdido, pois a pandemia mostrou que as pessoas aderiram à campanha de vacinação e ao uso de máscaras, apesar de que alguns ignorantes (aquele que ignora) acharem que era uma gripezinha...

Mudar sua visão sobre a natureza humana, olhar para os humanos de uma forma radicalmente nova, implicará consequências para sua própria vida.

No início do texto disse que não tinha respostas para o enunciado, mas ao encerrar o mesmo, cheguei à mesma conclusão da Anne Frank, uma adolescente judia,  que escreveu um diário, enquanto conseguiu sobreviver escondida dos alemães na Holanda:

“É espantoso que eu não tenha abandonado todos os meus ideais, que parecem tão absurdos e impraticáveis. Mas eu me apego a eles porque ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas são realmente boas de coração” - Anne Frank (1929-1945).

Obs.: o texto acima foi calcado no livro Humanidade – uma história otimista do homem – Rutger Bregman, e, em alguns momentos, cópias literais foram utilizadas. No livro, o autor relata uma série de experimentos que queriam provar a “natureza má” do homem; porém ao longo da história, o autor vai em busca de vários desses experimentos e ao revisitá-los encontra muitas falhas. Infelizmente, até hoje prevalece os dados iniciais dos experimentos, que continuam a alimentar uma visão negativa a respeito do homem. O autor relata as dificuldades encontradas para publicar a sua obra e “demonstrar” a natureza boa do homem.

 

Marco Videira é administrador, Presidente do Conselho da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda e reside em Santos

Artigo publicado no Jornal Abertura de abril de 2022 - quer acessar o jornal completo:

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/22-jornal-abertura-2022?download=147:jornal-abertura-abril-de-2022


A Tragégia da Boate Kiss por Milton Medran Moreira

 

Opinião em Tópicos

 

                A TRAGÉDIA DA BOATE KISS

                Nove anos após o acontecido, os responsáveis pela tragédia da Boate Kiss, de Santa Maria/RS, começam a ser julgados pelo Tribunal do Júri.

                No incêndio de janeiro de 2013, morreram 242 pessoas, a maioria delas jovens de 20 a 30 anos, restando com sequelas mais de 600 outras.

                Como sempre acontece, quando de tragédias coletivas, intérpretes de plantão da lei de causa e efeito, dando a ela uma exegese linear, vingativa e cruel, não hesitaram em atribuir às vítimas a condição de verdugos do passado. Todas elas, atraídas pela draconiana “justiça divina”, que com fogo fere quem com fogo feriu, teriam purgado, naquela noite, as culpas que lhe incendiavam a alma, agora vendo incendiados seus próprios corpos jovens, em plena flor de uma nova encarnação.

                A “JUSTIÇA DIVINA RETRIBUTIVA”

                Ora, se assim fosse, os empresários e músicos que agora sentam no banco dos réus, ao darem causa à terrível tragédia, já estariam, de igual forma, plasmando uma futura encarnação na qual, eles próprios, terão de resgatar, com idênticos sofrimentos, o que infligiram às suas vítimas. Que “justiça divina” é essa que pereniza, encarnação após encarnação, mecanismos de pena retributiva, num infindo círculo vicioso?

                Pior que isso: aquele incêndio não teria punido apenas suas vítimas diretas. Perder um filho em circunstâncias assim implica em sofrimento de tal intensidade aos pais que, presume-se, supera, inclusive, a dor de quem parte. No caso, uma cidade inteira sofreu intensamente. Santa Maria é um grande centro universitário para o qual acorrem jovens das mais diferentes regiões. Nosso Estado, particularmente, e o mundo inteiro, viram as cenas dantescas do incêndio e não houve quem não se comovesse com a tragédia. Todos os que sofremos com isso estaríamos, diante do raciocínio linear da “justiça divina retributiva”, pagando débitos do passado?

                DORES QUE NÃO SE PODE MEDIR

                O tempo decorrido já deve ter amenizado um pouco a dor dos familiares das vítimas. Estes formaram uma associação de apoio e assistência mútua. Correto! A dor sofrida solidariamente é mais facilmente administrável. Mesmo assim, à luz do pensamento espírita, um aspecto me preocupa: o papel, aparentemente central, assumido pelos familiares, qual seja o de agravar o mais possível a pena a ser aplicada aos acusados.

                Impressionou-me uma entrevista dada por um dos réus que, inclusive, já esteve temporariamente preso. Ele diz que, decorridos nove anos, a tragédia está permanentemente em seu pensamento. Dorme e acorda com as cenas daquela madrugada. Nunca mais conseguiu sequer trabalhar. Não há divertimento, lazer ou consolo capazes de afastar a dor que lhe ficou na alma. Poderá haver pena maior?

                JUSTIÇA E VINGANÇA

                Embora a mim pareça tratar-se de um crime de natureza culposa (quando o agente dá causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia), a definição jurídica finalmente dada ao delito foi a de dolo eventual (quando o agente, mesmo não querendo o resultado, assume o risco de produzi-lo).

                Aceita a tese dolosa, os réus deverão ser condenados a longos anos de prisão. E aí a pergunta que me faço: que benefício esse encarceramento poderá trazer à sociedade, aos acusados, aos familiares das vítimas, a elas próprias (se estas, em outra dimensão, ainda se preocupem com isso)?

                Tantos anos envolvido com questões de direito conjugado com a reflexão espírita, penso que o cometimento de um erro, sejam quais forem suas consequências – e aqui elas foram particularmente trágicas -, gera proporcional sofrimento ao transgressor.

                Chego a esta fase amadurecida de minha encarnação com um convencimento acerca do complexo problema crime/castigo: a prisão, via de regra, é medida inócua. O encarceramento de alguém só se justifica como defesa social e não como instrumento de retribuição do mal com o mal. A vida tem mecanismos naturais de sofrimento, aprendizado e recuperação só alcançáveis pelo exercício do amor e do perdão.

 Justiça sempre. Vingança jamais!

Artigo publicado no Jornal Abertura -dezembro de 2021

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Em janeiro de 2017 este blog publicou um artigo de Roberto Rufo - Tragédia de Santa Maria e os nossos filhos. Você pode revisar aqui neste link:

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8190435979242028935/7961016368892947702

quarta-feira, 6 de abril de 2022

O Novo - por Cláudia Régis Machado

 

O NOVO

Minha primeira proposta é “abra-se ao novo”. Aproveitando o dizer do poeta Zack Magiezi

“O novo todo dia nos procura / Todo dia nos convida / Nos chama para ir /

Conhecer o desconhecido”.

Viver é estar em constante transformação. O novo muitas vezes aparece de circunstâncias sociais, econômicas, de proposta de desenvolvimento, e bate à porta a todo momento.

Este cenário se dá tanto nas situações pontuais ou em várias áreas da vida tanto na profissional como no pessoal. Este nos coloca necessariamente face a face com a mudança.



Mudar é o que o novo pede, e isto é um mecanismo imprescindível para o progresso e o crescimento.

Atentos e com a percepção do que estava ocorrendo ao nosso redor e com o nosso jornal Abertura que pleiteava que entrássemos em uma situação nova, isto é, o processo digital na distribuição do ABERTURA. A era digital já está aí há algum tempo, mas até então não sentíamos a necessidade desta mudança, mas o momento urgiu e pediu uma posição.

Estamos neste momento, o de transformação, de passar o jornal da forma impressa para a digital. Entrar na era digital que não é algo novo, mas para o jornal ABERTURA é uma nova etapa depois de 34 anos de jornal impresso. Este passo foi pensando com cuidado e dedicação advindo de um processo econômico, da tendência mundial e da simplificação, que nos fez buscar uma solução para que a continuidade do jornal que tem a função de divulgar e pensar na doutrina kardecista fossem preservados. A transição foi lenta para que todo o ano de 2021 preparássemos o nosso público leitor e isto ocorresse de forma tranquila e coesa com os compromissos assumidos anteriormente. 

Voltamo-nos a encontrar um caminho onde a permanência do bom trabalho realizado fosse conservada e a enfrentar o progresso, e com isto conquistar maior divulgação e penetração das ideias que o jornal defende e que se propõe a aprimorar e difundir. Abre-se um novo empreendimento com a visão de expandir, com as mídias sociais, para uma interação maior com um público novo. Não há mais distância, o acesso é ilimitado.

A informação, os artigos e os conteúdos estarão sempre disponíveis, assim também como o campo de pesquisa juntos aos jornais antigos, com mais facilidade e praticidade, as diversas fontes de conhecimento que geramos durante todos estes anos.

Pretendemos atingir leitores que não tinham acesso ao nosso jornal e com essa ferramenta expandir para aqueles que tenham interesse em conhecer o Espiritismo com um novo pensar.

A era digital é um impulso que nos encoraja a criar trilhas, levando-nos a pensar que existem outros moldes e que outras oportunidades podem advir, já que temos amealhado experiência com o blog do ICKS e a experiências de outros veículos.

“Com reflexão, disciplina e bom senso podemos transformar os espaços virtuais numa extensão de nossa criatividade, da nossa sede de conhecimento e de nossa empatia”. (Alexandre Carvalho)

Quando falamos do jornal falamos também de nós mesmo, o progresso está no seu percurso, solicitando tomada de posição de nossa parte. Segui-lo ou não é uma escolha. Mas uma boa atitude é:” vamos receber o que nos pede passagem. Vamos olhar as mudanças sob novas luzes”.

É natural que junto com o novo venham anseios, receios e incertezas, O novo é quase sinônimo de desconhecido e traz inquietude; o que irá ocorrer? var dar certo? a escolha foi a melhor? É um processo que não deve ser irracional, é preciso pensar, refletir, pesquisar e planejar qual o melhor caminho a seguir. É um desafio, mas é possível.

Como é um desafio para nós que fazemos o jornal, também é para o usuário que muitas vezes tem dificuldade de manejar essas ferramentas. Esperamos que os leitores se atualizem, busquem ajuda ou que nos solicitem pelo nosso e-mail -ickardecista1@terra.com.br  para que possamos orientá-los.

O leitor aqui é convidado a se reciclar e ampliar os seus conhecimentos tecnológicos. Com essas novas informações e perspectivas, o repertório de possibilidade e habilidades são enriquecidas. Não é um processo difícil e sim de fácil adaptação. Aceitação das coisas como elas se apresentam não negando os fatos produz efeitos positivos e, maiores são as chances de nos movermos em direção ao desconhecido com mais curiosidade e menos temor. Vendo potenciais

É necessário um espírita ou uma pessoa comprometida e com disposição de aprender, estudar a Doutrina Kardecista Progressista e Livre Pensadora. Um espírita proativo.

O aprendizado contínuo é pauta maior da nossa evolução. Acreditarmos que estamos velhos para aprender algo novo, é uma grande limitação. Temos potencial e em qualquer idade devemos olhar-nos como autores de novas alternativas para um bom existir.

Evoluir sempre, mesmo que a pequenos passos.

Vamos renovar uma história.

“No ainda desconhecido, algumas histórias só estão esperando começar” (Raphaela Mello).

Experimente:https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/20-jornal-abertura-2021 

Artigo publicado no Jornal Abertura de dezembro de 2021.



terça-feira, 5 de abril de 2022

O AI-5 e seu comparativo com o Espiritismo - por Roberto Rufo

 

O AI-5 e seu comparativo com o Espiritismo

 

"Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência" (Frase do Ministro do Trabalho Jarbas Passarinho em dezembro de 1968 ao presidente Costa e Silva.  Passarinho foi um dos 17 signatários do AI-5). 

 

"O ser humano é responsável pelo seu pensamento? Sim, é responsável diante de Deus. Só Deus, podendo conhecê-lo, o condena ou o absolve segundo a sua justiça". (Pergunta 834 do Livro dos Espíritos).

 

Em tempos de muita ideologia e pouco pensamento produtivo assiste-se no Brasil uma polarização irritante e desgastante produzindo uma insuportável avalanche de mensagens de fakenews nas redes sociais. Não adianta responder mostrando o contraditório do absurdo, pois a resposta feita e fabricada pelos líderes dessas redes logo se apresenta: "quem pesquisa se é fakenews pertence a grupos comunistas". Pronto de homem burguês conservador sou alçado à condição de comunista impatriota.

Muitos espíritas, dentro do seu inalienável direito de expressão e opinião, manifestam profundas simpatias pelo presidente Bolsonaro, a quem abomino por profundas discordâncias de consciência. Não só pelo seu inútil período de 28 anos como Deputado Federal, mas pelo seu histórico de impulsos desequilibrados e preconceitos ridículos.

No citado histórico o atual presidente, em 1987 confessou que elaborou um plano que previa a explosão de bombas em quartéis e outros locais estratégicos no Rio de Janeiro (Adutora de água do Guandu). Sua luta era pelo aumento do soldo dos militares. Note-se que ainda era Capitão da ativa. O plano foi descoberto.

Nesse artigo quero analisar em particular a ausência de autocrítica dos espíritas simpatizantes do presidente pelos apelos incessantes do grande grupo de apoio que clama por uma intervenção militar e pela volta do Ato Institucional nº 05. Ou para minha imensa tristeza talvez apoiem tais sandices.

Nas mega manifestações de apoio ao presidente em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo lá estavam dezenas de cartazes pedindo a volta do AI-5.

Os mais jovens talvez não conheçam o que foi esse famigerado artigo, mas os maiores de 65 anos têm a obrigação de saber. Pretendo com a minha experiência ajudar os mais jovens na compreensão desse hediondo artigo comparando alguns de seus itens com os conceitos espíritas, mesmo sabendo que "a luz que a experiência nos dá é de uma lanterna na popa, que ilumina apenas as ondas que deixamos para trás" nas sábias palavras do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834)

De início vamos esclarecer que o Ato Institucional Número Cinco (AI-5) foi o quinto de dezessete grandes decretos emitidos pela ditadura militar nos anos que se seguiram ao golpe de estado de 1964 no Brasil.O AI-5, o mais duro de todos os Atos Institucionais, foi emitido pelo presidente Artur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. 

 

Consequências imediatas do Ato Institucional Número Cinco foram:

1º) - O Presidente da República recebeu autoridade para fechar o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas dos estados; esse poder foi usado assim que o AI-5 foi assinado, resultando no fechamento do Congresso Nacional e de todas as Assembleias Legislativas dos estados brasileiros (com exceção de São Paulo) por quase um ano; o poder de fechar forçadamente o Congresso Nacional seria novamente usado em 1977, durante a implantação do Pacote de Abril;

Comparativo com o ideal espírita: Pergunta 837 do Livro dos Espíritos "qual o resultado dos entraves postos à liberdade de consciência"? Respondem os espíritos: "constranger os homens a agirem de modo contrário ao que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso".

 

2º) - A permissão para o governo federal, sob pretexto de "segurança nacional", para intervir em estados e municípios, suspendendo as autoridades locais e nomeando interventores federais para dirigir os estados e os municípios;

Comparativo com o ideal espírita: Kardec em comentário à pergunta 872 diz que sem o livre-arbítrio o homem não tem demérito no mal, nem mérito no bem, e isso é igualmente reconhecido no mundo, onde proporciona a censura ou o elogio à intenção , quer dizer à vontade,. Ora, quem diz vontade diz liberdade. 

Em resumo, indicar interventores, como aconteceu nas cidades de Santos e Cubatão é vilipendiar a vontade popular. Durante muitos anos essas cidades foram impedidas de eleger seus representantes.

 

3º) - A censura prévia de música, cinema, teatro e televisão (uma obra poderia ser censurada se fosse entendida como uma subversão dos valores políticos e morais) e a censura da imprensa e de outros meios de comunicação; A ilegalidade das reuniões políticas não autorizadas pela polícia; houve também diversos toques de recolher em todo o país;

Comparativo com o ideal espírita: Pergunta 795 do Livro dos Espíritos : "qual é causa da instabilidade das leis humanas"? Respondem os espíritos: "Nos tempos de barbárie, são os mais fortes que fazem as leis e as fazem para eles". Aqui me permito contar um caso ocorrido com o meu estimado sogro, o pensador espírita Jaci Regis. Nessa triste época do AI-5 ele como jornalista possuía um pequeno jornal na cidade de Cubatão em sociedade com um amigo. O jornal era muito crítico ao interventor do momento em Cubatão. Este por sua vez fez uma denúncia ao DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social). Neste local aconteciam prisões e torturas a quem ousasse criticar o regime militar. O jornalista Vladimir Herzog foi um trágico exemplo.

Denunciado, Jaci Régis foi "convidado" a comparecer à sede do DOPS em Santos. Algumas pessoas entravam e não saiam mais. Jaci informou apenas seu grande amigo José Rodrigues e sua esposa Palmyra. Felizmente foi apenas um susto, mas que tirou o sono do Jaci até o caso ser resolvido. Resultado: fecharam o jornal. 

 

4º) - A suspensão do habeas corpus (por crimes de motivação política): 

Explique-se: o habeas corpus é o mais básico dos processos porque ele protege o mais básico dos direitos: à liberdade pessoal;

Comparativo com o ideal espírita: Pergunta 880 do Livro dos Espíritos: "Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem"? "O de viver. Por isso ninguém tem o direito de atentar contra a vida de seu semelhante. Nem de fazer nada que possa comprometer a sua existência corporal". 

 

Espero ter esclarecido a total incompatibilidade do ideário espírita com o AI-5. Por isso espíritas simpatizantes do presidente Bolsonaro, solicito-lhes que pelo menos se recusem a aceitar essa aberração em suas vidas doutrinárias.

 

Roberto Rufo

 

quinta-feira, 17 de março de 2022

Allan Kardec e o Código Da Vinci - por Jaci Régis

 

Allan Kardec e o Código Da Vinci

 

“Este artigo de Jaci Régis, originalmente publicado em abril de 2010 neste jornal (Jornal Abertura republicado em Janeiro 2022), volta a ser publicado pela importância de refletirmos sobre o Jesus real, desta forma, poderemos tê-lo de forma digital, permitindo que muito mais pessoas possam tomar conhecimento desta análise e reflexão.”

 Fiquem com Jaci Régis:


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Em 2003, Dan Brown, escritor norte americano, publicou o livro O Código de Da Vinci, que obteve retumbante sucesso, com milhões de cópias vendidas em vários idiomas ao redor do mundo.

A repercussão foi grande porque ele postulava – pois é um romance não histórico – que Jesus de Nazaré era um homem comum, teria casado com Maria Madalena, recuperada de sua história de prostituta e ali elevada à discípula mais inteligente e coordenadora após a morte de Jesus.

No rastro desse livro polêmico, surgiram controvérsias, denuncias e pesquisas que mostraram que a história do cristianismo foi forjada pela Igreja.

Hoje se sabe que dezenas de evangelhos circularam nos primeiros anos do cristianismo, entre eles o de Felipe que escreveu que Jesus beijava Maria Madalena na boca, mostrando não apenas intimidade, mas provavelmente uma relação matrimonial.

Tanto a Igreja Católica, quanto as protestantes e pentecostais negaram a teses e mantém a mesma história sobre o Nazareno.

Como tudo começou

Ao contrário do que se diz e escreve, os primeiros anos do cristianismo foram marcados por controvérsias e formação de seitas que defendiam pontos de vistas diferentes. Cada uma se apoiava na interpretação da natureza de Jesus: uns acreditavam que ele era um homem, outros que era Deus.

Os que acreditavam que era homem formavam o arianismo, derivado do presbítero Ario. Os Católicos, da Igreja de Roma, ao contrário, afirmavam que ele era Deus e criaram a figura da Santíssima Trindade para adequar as várias correntes.

No Concílio de Nicéia a pendência foi solucionada com a vitória dos católicos e banimento de Ário e do arianismo, como heresia.

No artigo que abaixo nos referiremos, escrito em Obras Póstumas, Kardec diz sobre as conclusões do Concílio de Nicéia: “Se o Símbolo de Nicéia se tornou o fundamento da fé católico (...) A que se deve a sua adoção? À pressão do Imperador Constantino que fez dele uma questão mais política do que religiosa. Sem a sua ordem não se teria realizado o Concílio e sem sua intimidação é mais que provável que o arianismo tivesse triunfado. Dependeu, pois, da autoridade soberana de um homem, que não pertencia à Igreja que reconheceu mais tarde o erro que cometera e que procurou inutilmente voltar atrás conciliando os partidos, não sermos hoje arianos em vez de católicos e não ser hoje o arianismo a ortodoxia e o catolicismo a heresia”.

Esse fato histórico mostra a artificialidade com que se conduziu em relação à natureza de Jesus de Nazaré. Com a vitória em Nicéia, o catolicismo impôs suas ideias e durante milênios elas foram consideradas como provindas de Deus.

Para Kardec Jesus não era divino

Allan Kardec sempre foi muito cauteloso no confronto com os dogmas católicos. Quando publicou o Evangelho Segundo o Espiritismo, a primeira pergunta que dirigiu aos Espíritos foi sobre “Qual a repercussão do clero?”.

Em setembro de 1867, ele publicou na Revista Espírita, um longo artigo intitulado “Caráter da Revelação Espírita”, depois usado como o Capítulo I do livro A Gênese.

Na revista, ele adicionou um comentário ao item 44, sobre a natureza do Cristo, que eliminou no livro. Nesse comentário ele se mantém muito prudente, preferindo calar, mas diz que “quando o momento for propício levaremos para a balança, não a nossa opinião, que não tem nenhum peso nem pode fazer lei, mas fatos até este momento inobservados e então cada um poderá julgar com conhecimento de causa”.

Esse “momento” surgiu com a publicação em Obras Póstumas de um artigo de 31 páginas, o” Estudo sobre a natureza do Cristo”.

Como sabemos, Kardec estabeleceu claramente a estratégia[MA(GP1]  do Espiritismo afirmando que o milagre não existe. Por isso diz ele “convém riscar os milagres do rol das provas que pretendem basear a divindade do Cristo”. E afirma “Visto produzirem-se aos nossos olhos, quer espontaneamente, quer provocados, não há nada de anormal no fato de Jesus ter possuído faculdades idênticas as de nossos magnetizadores, curadores, sonâmbulos, videntes, médiuns, etc.”

Pode-se dizer que todo o esforço de Kardec ao se ocupar das parábolas, milagres do Evangelho foi justamente pra provar que Jesus era um homem. Teria Kardec diminuído Jesus? Como se diria hoje “tirar Jesus do Espiritismo”?

De maneira alguma. Em “Caráter da Revelação Espírita”, ele coloca Jesus como patrono da segunda revelação e o Espiritismo como caudário de seus ensinos.

No artigo de Obras Póstumas ele afirma “Jesus era um messias divino pela dupla razão de ter recebido de Deus a sua missão e de estar, pela sua perfeição em relação direta com Deus”. Que é uma opinião pessoal, dentro do horizonte em que se colocou ao filiar o Espiritismo o cristianismo.

Dan Brown mexeu no vespeiro que continua existindo nas religiões cristãs, quanto à natureza de Jesus de Nazaré. Os mitos, as histórias que a Igreja criou são milenares.

Pode-se afirmar, por mera aproximação, que muito antes de Brown, Kardec afirmou a humanidade de Jesus. Muitas de suas palavras decorreram da prudência que sempre teve em lidar com a Igreja.

Mas ele escreve “sobre essa questão, como sobre de todos os dogmas em geral, o acordo entre os Santos Padres e outros escritores não poderia ser tomado como argumento preponderante, nem como prova irrefutável a favor de sua opinião, considerando-se que nenhum deles foi capaz de citar um único fato fora do Evangelho, referente a Jesus, nenhum deles descobriu documentos novos, desconhecidos de seus predecessores. (...) O acordo dos Santos Padres, portanto, nada tem de contundente, visto constitui uma unanimidade selecionada”.

 

A divindade do Cristo foi restabelecida no Brasil

 O Espiritismo no brasil enfrentou, desde logo a disputa e a vitória dos místicos. No rio de janeira, oriundos da Igreja Católica, místicos, cristolatras e mariolatras. Como Bezerra, Sayão, Bittencourt Sampaio, para citar alguns, moldaram a doutrina às suas idiossincrasias. A mensagem atribuída a um “anjo” bem diz do nível místico dos primeiros líderes.

Esse Espírito, provavelmente um ex-prelado da Igreja, determinou que a tarefa do Espiritismo seria “pregar o evangelho” e estabeleceu o dístico fundamental “Deus, Cristo e Caridade”.

Nos primórdios havia um sentimento anticatólico. Caibar Schutel, na minúscula Matão, no interior de São Paulo, constitui-se num foco de equilíbrio e serenidade na divulgação do Espiritismo criando em 1905 a Revista Internacional do Espiritismo, escrevendo livros e entrando em polêmicas com padres.

Mas a partir de Francisco Cândido Xavier e de seu “guia” o padre Manuel da Nóbrega, com o pseudônimo de Emmanuel, definiu-se o Espiritismo como uma religião cristã e Jesus voltou a ser o divino Mestre, o governador e fundador do mundo Terra, possuidor de toda a verdade.

A Igreja tinha vencido. Os docetistas de antanho ressurgiram com Roustaing e o corpo fluido de Jesus, tese que afirmava que ele sendo Deus não podia se encarnar.

Hoje, qualquer argumento contra essa divindade é rejeitado. Como nos velhos tempos da Igreja, se expulsa, se condena quem se insurge contra o dogma.

 

Entretanto ...

 

O Valor da missão de Jesus de Nazaré está em suas lições insubstituíveis. Incorporar ao Espiritismo a estrutura de fé e de princípios do cristianismo é manter-se preso ao passado, quando a Igreja e todas as igrejas penam para sobreviver, apoiadas na tradição e o medo ou impossibilidade de seus crentes de mudar.

O Espiritismo pós-cristão de modo algum despreza Jesus de Nazaré. Mas certamente não aceita o cristo divino, porque temos aprendido que a atuação de Deus no mundo se faz sem a pirotecnia das dramatizações, mas na competente construção de caminhos que o ser humano vem trabalhando e trilhará.

Jesus de Nazaré, homem, casado, brilhante, superior é um dos grandes líderes da humanidade. Para nós o maior.

Jaci Régis – Desencarnado em dezembro de 2010 – é o fundador do Jornal Abertura.

 

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

·         O que é Arianismo:

Arianismo, originalmente, era um pensamento filosófico que não considerava Jesus Cristo e Deus como uma só pessoa.

Esta ideia surgiu nos primeiros séculos do cristianismo, afirmando que só poderia existir um único Deus e Jesus era apenas o seu filho. Mesmo sendo considerado um ser superior ao homem, Jesus não era um deus para os seguidores do arianismo.

Etimologicamente, a palavra arianismo teria surgido a partir do nome Ário, um padre cristão de Alexandria que teria criado esta nova doutrina.

Fonte: significados.com.br

 

·         Quem foi o Padre Manuel da Nóbrega?

Padre Manuel da Nóbrega (1517-1570) foi um missionário jesuíta português, chefe da primeira missão jesuíta mandada para a América. Deixou valiosas notícias históricas sobre o Brasil Colonial, nas cartas que enviava para a Companhia de Jesus em Portugal.

Fonte: www.ebiografia.com

·         O que significa docetismo?

Docetismo (do grego δοκέω [dokeō], "para parecer") é uma doutrina cristã do século II, considerada herética pela Igreja primitiva. Antecedente do gnosticismo, acreditavam que o corpo de Jesus Cristo era uma ilusão, e que sua crucificação teria sido apenas aparente.

Fonte: Https: // pt.wikipedia.org

 

quinta-feira, 3 de março de 2022

CIMA - Movimento de Cultura Espírita Cima - da Venezuela faz pronunciamento a favor da Ucrânia

 moderador do blog: Com eles a nossa integral solidariedade

MOVIMIENTO  DE  CULTURA  ESPÍRITA  CIMA

DIRECCIÓN NACIONAL

 

NUESTRA  FRATERNAL  SOLIDARIDAD  CON  UCRANIA

 

El Movimiento de Cultura Espírita CIMA, institución dedicada al estudio y divulgación de la Doctrina Espírita, conforme a las enseñanzas de Allan Kardec, fundador y codificador del Espiritismo, colocadas en una perspectiva laica, librepensadora, humanista y progresista, da a conocer a la comunidad espírita internacional y al mundo su posición ante la sangrienta invasión que sufre Ucrania, Estado europeo independiente y miembro de la Organización de las Naciones Unidas, por parte de los ejércitos de Rusia que siguen las órdenes del autócrata que gobierna en esta nación:

 

1 – Expresa su plena solidaridad con el pueblo y el gobierno ucranianos en su heroica decisión de ejercer la legítima defensa de su nación, de su soberanía, de su derecho a la autodeterminación y a vivir en una sociedad libre, democrática, justa, pacífica y fraterna.

2 – Condena y rechaza de la manera más categórica e inequívoca la invasión militar rusa, desencadenada por ambiciones autocráticas y respaldadas en la infinita superioridad bélica del agresor.

3 – Trasmite al pueblo ucraniano su sentimiento de pesar y de solidaridad ante el inmenso sufrimiento que le aflige por los miles de fallecidos y heridos, por el desamparo de sus familiares, por los refugiados que son acogidos en países vecinos, por el temor ante los bombardeos y lanzamientos de misiles que destruyen de manera incesante sus ciudades, y causan daños irreparables en las viviendas, escuelas, hospitales y demás edificaciones públicas y privadas, que han sido reducidas a escombros.

4 – Declara también su solidaridad con el pueblo ruso, que no tiene responsabilidad por las acciones enloquecidas de su gobierno, y también padece las consecuencias de la invasión a Ucrania. Solidaridad y admiración con los ciudadanos que con mucha valentía desafían en las avenidas de las capitales rusas a los cuerpos policiales para expresar su indignación ante los acontecimientos.

5 – Manifiesta su adhesión a la Resolución de la Organización de las Naciones Unidas del día 2 de marzo de 2022, adoptada por una abrumadora mayoría de las naciones del mundo, en la que se condena de manera contundente la agresión contra Ucrania y se exige el inmediato cese al fuego y la desocupación de las fuerzas invasoras del territorio ucraniano.

6 – Respalda las conversaciones que se realizan entre representantes rusos y ucranianos para intentar un acuerdo de paz y el cese de las operaciones bélicas.

7 – Exhorta a la intensificación de la ayuda material al pueblo ucraniano y a ofrecer asistencia inmediata y acogida a los centenares de miles de refugiados que huyen de la guerra, en especial a los niños, mujeres y ancianos.

8 – Llama a la paz y al cese inmediato de la guerra. Convoca a todas las personas de buena voluntad a manifestarse en favor de la paz y por un mundo mejor, de mayor humanismo y humanitarismo. Toda guerra es una desgracia, por las víctimas y los daños colaterales que provoca. Muestra la peor parte de los seres humanos y constituye la demostración palmaria del atraso moral en que todavía se encuentra sumergida nuestra humanidad. Solo en la paz y la convivencia entre pueblos y naciones, en la cooperación recíproca, en el respeto al derecho internacional, en la vigencia del sistema democrático de libertades, en la justicia social, en la equidad e igualdad entre los seres humanos, podrá alcanzarse un mundo de regeneración moral y social, tal cual lo expresaron Kardec y los Espíritus que le asesoraron en las obras fundacionales del Espiritismo.        

 

¡ ESTA GUERRA NO ES SOLO CONTRA UCRANIA SINO CONTRA LA CIVILIZACIÓN HUMANA ¡

¡ UCRANIA NO ESTÁ SOLA !

¡ UCRANIA SOMOS TODOS !

 

Dirección Nacional del Movimiento de Cultura Espírita CIMA

 

Jon Aizpúrua – Presidente

Ávaro Latorre – Vicepresidente

 

Junta Directiva – Seccional CIMA Caracas

 

Yolanda Clavijo – Directora

Vicente Ríos

Leida de Ochoa

Conchita Delgado

Víctor da Silva

Ingrid Obelmejías

 

Junta Directiva – Seccional CIMA Maracay

Teresa de Álvarez – Directora

Antulio Malavé

Asunción Morales

 

Caracas, 3 de marzo de 2022

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Que venha 2022 por Alexandre Cardia Machado

Que venha 2022

Nosso grupo de espíritas livre pensadores vive um momento de grande penetração entre os espíritas, são diversas as iniciativas nos últimos anos de democratizar o acesso à informação de qualidade sobre o espiritismo laico e à nova visão do homem e do mundo.

Antes de destacar o que existe hoje, vale a pena refletir sobre o que já vínhamos fazendo há mais de 10 anos.

Na década passada, durante cerca de seis anos já o ICKS apresentou à sociedade Santista uma gama enorme de cursos presenciais, tínhamos a nosso favor a localização do Instituto, sito em uma avenida ampla e de grande circulação. Nesta avenida passavam os ônibus que faziam e fazem o transporte de pessoas que residem na cidade e trabalham em São Paulo, era impressionante a quantidade de pessoas nestas condições que faziam cursos conosco. Utilizávamos a famosa faixa de propaganda, era um sucesso absoluto.

 Realizamos os cursos: Estudo Dirigido do Livro dos Espíritos; Curso Básico de Espiritismo; Curso Prático de Mediunidade, Curso Teórico de Mediunidade de Cura, Curso sobre o Desenvolvimento do Espírito, sempre de casa cheia. Os cursos eram cobrados, pois fornecíamos material didático. Um fator importante deste sucesso, além da qualidade de todos os expositores era a existência de uma secretaria em horário comercial.

Há cerca de 10 anos ou talvez um pouco mais o CPDoc também se dispôs a desenvolver um curso online de espiritismo, funcionou por cinco anos permitindo que pessoas por todo o Brasil e até fora daqui pudessem participar, usávamos uma plataforma profissional. Foi criado um marco referencial para este tipo de curso online no meio espírita.

Ainda em Santos o CEAK e o CEBAP mantêm há muitos anos diversos cursos de espiritismo, uma tradição nesta cidade.

Jaci Régis enquanto encarnado e o CPDoc até produziram uma série enorme de livros que representam a evolução do pensamento que defendemos, os amigos no Rio Grande do Sul do CCEPA da mesma forma seguiram os mesmos caminhos.

Mais recentemente outra leva de bons livros foram publicados especialmente os da CEPA em conjunto com o CPDoc, como explicaremos abaixo.

Na gestão da Jacira Jacinto da Silva, na Presidência da CEPA – Confederação Espírita Internacional, uma conjunção de ideias e esforço pessoal e coletivo produz a série de livros Livre-Pensar, disponíveis no site da CEPA de forma gratuita, esta iniciativa acreditamos será um fator determinante de nosso processo de crescimento. Pensado, planejado antes da pandemia, se desenvolve durante este período. Os livros estão disponíveis em várias línguas, outro importante diferencial.

A pandemia e as palestras virtuais.

Youtube, Zoom, e outras plataformas estão mudando a relação entre os expositores e o público, os Centros Espíritas estão abrindo TVs no Youtube, caso de nosso querido CEAK de Santos, dentre outros, as palestras ficam disponíveis para que sejam acessadas a qualquer momento e em qualquer lugar.

O auge desta caminhada foi a realização do XXIII Congresso da CEPA de forma totalmente virtual, hoje mesmo você leitor ainda pode assistir às apresentações realizadas no Congresso, basta acessar o Youtube ou o Google no seu celular ou computador conectado à internet e digitar - XXIII Congresso da CEPA – e todas as sessões estarão lá a seu dispor. Isso, claro tem por detrás todo um planejamento, um grupo grande de pessoas que trabalharam para que isso fosse possível, mas está aí, acessem – é muito fácil.

Esta edição traz alguns artigos que giram em torno da questão religiosa, tema sempre presente nestas obras citadas anteriormente, vale conferir nas páginas 2 e 3 o artigo de Jaci Régis - Allan Kardec e o Código Da Vinci -, importantíssimo e republicado aqui, além deste mais dois artigos de profunda reflexão de Roberto Rufo – Não vim destruir a lei, na página 4 e - Meu reino não é deste mundo - na página 8. Também traz um relevante artigo de Milton Medran, na página 4 – Reminiscências.

E para terminar por hoje, os jornais espíritas Abertura, Opinião e Harmonia agora são 100% online, é um passo importante que nos levará muito longe, nos sigam! 

Este foi o Editorial do Jornal Abertura de janeiro-fevereiro de 2022, se quiser ler o jornal inteiro clique:

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/22-jornal-abertura-2022