segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

DA ESPANHA ÀS AMÉRICAS: A TRAJETÓRIA DA TRADIÇÃO ESPÍRITA LIVRE-PENSADORA - por Herivelto Carvalho

DA ESPANHA ÀS AMÉRICAS: A TRAJETÓRIA DA TRADIÇÃO ESPÍRITA LIVRE-PENSADORA
Herivelto Carvalho

Por volta de 1870, Don Justo de Espada, um espanhol oriundo de Málaga, veio tentar a sorte na Argentina, trabalhando em empreendimentos comerciais, na capital Buenos Aires. Trouxe consigo uma carta de recomendação que comprovava sua vasta experiência no ramo, porém, sua maior contribuição ao país que o acolhera, não foi no campo profissional, mas sim no das ideias espiritualistas, pois foi o primeiro divulgador de um movimento que, no dizer de Cosme Mariño, preocupava os intelectuais mais avançados do Velho Mundo: o Espiritismo. Outro espanhol, Angel Aguarod, antigo integrante do Centro Barcelonés de Estudios Psicológicos, se tornou no início do séc. XX, um dos principais divulgadores do Espiritismo na América do Sul. Em Cuba, imigrantes catalães deram início aos primeiros agrupamentos espíritas do país.

Estes exemplos ilustram como a vinda de imigrantes espanhóis foi fundamental para o desenvolvimento do Espiritismo em vários países da América Latina. Além de atuarem como propagandistas da nova doutrina, trouxeram consigo algumas características que eram peculiares do movimento espírita espanhol, dentre elas, uma forte tendência de associação doutrinária com os ideais de livre-pensamento, secularismo e atuação social.

Esse movimento desenvolveu grande unidade e atuação na sociedade espanhola, cuja proposta filosófica se apresentava como a superação das religiões positivas. Esta forma moderna de espiritualismo rechaçava os elementos de dogmatismo existente nas religiões do passado e pretendia desenvolver uma nova espiritualidade racional, capaz de se relacionar com a filosofia e a ciência. Pelas particularidades que o mesmo desenvolveu, formou uma escola de pensamento que tem como atributo principal a interpretação do Espiritismo como um sistema de ideias aberto, progressivo, não-dogmático e relacionado com o livre-pensamento, constituindo, portanto, no sentido filosófico, uma tradição.

Podemos afirmar que o surgimento da tradição espírita livre-pensadora ocorreu, no final do séc. XIX, quando as obras de Allan Kardec se popularizaram na Espanha. Seus expoentes iniciais foram Alverico Perón, Fernandez Colavida, Torres-Solanot e Amália Domingo Soler. Esta tradição adquire características próprias não porque fez um rompimento com o pensamento kardecista, mas sim pelo método de desenvolvimento adotado e pelo modo de atuação no seu contexto social, que se distinguiu do modo como os espíritas franceses praticavam e divulgavam o Espiritismo.

Profundamente organizado e ativo, o movimento espírita espanhol se internacionalizou, influenciando a formação de movimentos espíritas nos países americanos. A Espanha, portanto, se tornou para estes, a principal fornecedora de conteúdo doutrinário, através de periódicos e livros que atravessavam o Atlântico, tornando alguns autores espanhóis muito populares no Novo Mundo. Essa situação fez com que, no final do séc. XIX, a figura da espanhola Amália Domingo Soler se tornasse uma das maiores divulgadoras internacionais do Espiritismo, tendo seus escritos reproduzidos em publicações por toda a América Latina.

Outro exemplo de intercâmbio cultural entre os movimentos espíritas dos dois continentes pode ser notado, durante a realização do Primeiro Congresso Internacional Espírita, em Barcelona, no ano de1888, em que as duas maiores delegações, com exceção da própria Espanha, eram as de Cuba e México, bem como, um dos secretários do evento foi o destacado líder espírita cubano Eulogio Prieto.

Apesar de as ideias de laicidade, livre-pensamento e constante atualização serem praticadas por espíritas latino-americanos e espanhóis, desde as últimas décadas do séc. XIX, com o passar dos anos, no âmbito do movimento espírita pan-americano, o conhecimento acerca desse fato, ficou perdido, a ponto de muitos integrantes desse movimento acreditarem que tais ideais se consolidaram após a fundação da Confederação Espírita Pan-americana em 1946.

Após o resgate e disponibilização virtual de obras clássicas de autores que atuaram como protagonistas no desenvolvimento do Espiritismo pan-americano, realizada com muito zelo pela equipe do projeto PENSE, foi possível uma leitura mais atenta deste material, o que permitiu identificar um grande número de citações e referências a autores espanhóis que se consagraram nas primeiras décadas do movimento espírita daquele país, cujo trabalho apresentava uma ascendência sobre o pensamento dos espíritas latino-americanos. Naum Kreiman, por exemplo, ao falar sobre seu conceito de ciência espírita, cita, diversas vezes, o pensamento de Manuel Sanz Benito, espanhol que, em 1890, publicou importante obra sobre a epistemologia espírita.

Uma análise atenta desse fato confirma que o Espiritismo divulgado e vivido pela CEPA é o desenvolvimento das ideias da tradição espírita livre-pensadora, elaborado durante um intercâmbio cultural, onde o conhecimento espírita produzido nos dois continentes possuía mútua influência. Trata-se de uma escola de pensamento espírita perpetuada e ampliada por pensadores latino-americanos como Mariño, Porteiro, Mariotti, Fernández, Kreiman, Grossvater, Postiglioni, Aizpúrua, dentre outros.

Esse intercâmbio foi crescente e progressivo até os anos 1930, quando a Guerra Civil Espanhola e a perseguição imposta pela ditadura do General Franco destruiu o forte movimento espírita espanhol. A partir desse momento, os espíritas americanos perceberam que estava sob sua responsabilidade, a tarefa de manter vivo o projeto de desenvolvimento do Espiritismo, e que para efetivar esta atividade, seria preciso instituir um movimento integrador para o continente. O resultado dessa percepção culminou com a iniciativa de criação da CEPA.

Os ideais de defesa do caráter progressivo, laico e livre-pensador do Espiritismo bem como o desenvolvimento da Filosofia Espírita e sua atuação em diversos setores da sociedade como a política, a educação, a justiça, etc, tão defendidos na atualidade pelos espíritas cepeanos, podem ser facilmente encontrados na aurora da tradição espírita livre-pensadora.  Em 1890, Sanz Benito, alegava que “nunca o Espiritismo poderá constituir escola, doutrina ou sistema, com afirmações definitivas, pois que sempre deixará amplo campo às investigações e sempre irá ampliando seu curso científico”, dando destaque ao seu caráter progressivo. O próprio Congresso de 1888 se pautou pela manutenção deste mesmo caráter ao buscar efetivar o projeto de Kardec sobre os "congressos orgânicos", que seriam responsáveis pela revisão geral e a adesão de novos princípios. O mesmo evento salientou a característica de laicidade, ao afirmar, no texto de sua declaração final, que era preciso um “esforço constante para difundir o laicismo por todas as esferas da vida”. Alguns anos antes, Colavida, em carta a Albert de Rochas, afirmava essa mesma característica ao declarar que “O espiritismo não é nem cristão, nem muçulmano, nem judeu, etc.”.

Ao longo de sua existência, a tradição espírita livre-pensadora, através das obras de autores clássicos e modernos, contribuiu para o desenvolvimento dos fundamentos e da natureza do Espiritismo. A CEPA ampliou sua participação, nos últimos anos, no Brasil, na Espanha e na França, além de continuar atuante em todo o Continente Americano, e, como uma legítima herdeira dessa tradição, tem a tarefa de manter vivos seus ideais, especialmente, o tão importante caráter progressivo do Espiritismo, considerado por Kardec como a condição essencial para a sua perpetuidade e sobrevivência.

Herivelto Carvalho é servidor público municipal, membro do CPDoc e delegado da CEPA em Ibatiba ES.

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.www.cpdocespirita.com.br / contato@cdocespirita.com.br

NR: Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Abertura de outubro de 2016 - na coluna CPDoc em Foco.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Espiritismo em Sociedade - Reinaldo di Lucia

Espiritismo em sociedade

A crise que enfrentamos no Brasil – ética, econômica e política – tem minado a esperança do brasileiro em dias melhores. Ao conversarmos com as pessoas, notamos que, de maneira geral, já não se acredita mais no futuro. A frase “o Brasil não tem mais jeito” é muito comum, e tem sido mais e mais dita por gente de todas as idades e classes sociais.

O efeito mais evidente deste sentimento é a observação de que, a cada dia que passa, temos mais jovens mostrando um grande desejo de deixar o país. Quando perguntados o porquê disso, esse grupo aponta a falta de perspectiva de trabalho, a descrença absoluta na classe política e em sua capacidade (e vontade) de mudar a situação e, principalmente, a certeza de que o brasileiro é assim mesmo e a situação não vai mudar jamais.

Como nós, como povo, deixamos a coisa chegar neste ponto? Há inúmeras explicações históricas que demonstram o impacto que a colonização portuguesa, a cultura autoritária e, mais recentemente, a ditadura militar tiveram para este resultado – todas, a meu ver, absolutamente corretas, mas de pouca ação prática. O problema é que, com a situação posta do jeito que está, o que teremos em breve é um país no qual o aprofundamento das desigualdades sociais tornará o Brasil mais parecido com o Haiti que com a Noruega.

Precisamos pensar em soluções diretas e urgentes. Mas o que vemos, institucionalmente, é uma paralisação global: a classe política não tem interesse em modificar este estado de coisas, a justiça se perde em tecnicalidades, a escola foca o currículo sem se preocupar com sua aplicação e as instituições religiosas, possivelmente as mais conservadoras, prometem, no máximo, a abundância material e a salvação eterna, desde que o fiel seja submisso aos seus desígnios.

E nós, espíritas, o que estamos fazendo? Como doutrina humanista e  livre-pensadora, temos a obrigação de contribuir para que as pessoas tenham mais acesso a discussões que levem a uma ação efetiva na construção de um futuro melhor. Se ficarmos na dependência do poder público, nada acontecerá, ao menos no médio prazo. Penso que é necessário que nossa visão de mundo, profundamente libertadora, seja cada vez mais difundida, porém com um viés prático. Precisamos deixar de lado as discussões inócuas e superficiais, bem como as acusações “alimentares” (coxinhas x mortadelas) e mostrar causas e consequências do que aí existe, debatendo o modelo de sociedade e de país que queremos e como podemos chegar a ele.

Não, não podemos mais esperar que seja feita uma reforma política, uma reforma do ensino ou o que quer que seja. Precisamos agir diretamente, com os recursos – ainda que parcos – que temos. Não faz sentido, numa situação cada vez mais crítica, dissociarmos a teoria espirita da discussão social, prática; especular sobre o mundo dos espíritos e deixar para depois nossa realidade física. É vital travarmos este debate nas casas espíritas, de forma respeitosa quanto às diferenças e tendo em mente que o objetivo é o mesmo: uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais nobre.

NR: Originalmente publicado no Jornal Abertura em outubro de 2016

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A Liberdade Sexual da Mulher - por Jaci Régis

A liberdade sexual da mulher

 A oradora explicava o significado da introdução das pílulas anticoncepcionais na vida das mulheres. Segundo ela, graças à pílula, as mulheres casadas puderam limitar o número de filhos e com isso ganhar espaço para a sua realização pessoal.

Aberto o debate, afirmei que o importante era a liberdade sexual da mulher e que a pílula tinha permitido que ela pudesse transar com menor risco de gravidez, isso sem relação direta e necessária com o casamento. Tanto a oradora, quanto a plateia pareceram pouco à vontade.

Todos falaram da necessidade e da liberdade. Sem ela, não se vislumbra a possibilidade de crescimento real do homem, do espírito. Mas, quão difícil é exercer a liberdade! Quase sempre é imediatamente limitada pela responsabilidade que é o elemento qualificador, o que qualifica o sentido real da liberdade.

Sobre a liberdade sexual há terríveis enganos, porque geralmente age-se por comparação, contradição ou transgressão. Há inevitável transição no percurso para a liberdade real. Essa transição poderia ser suavizada se houvesse uma reciclagem maior nas mentes. Trabalha-se com modelos repressores e teme-se que se transforme em libertinagem, de desregramento puro e simples.

Se, genericamente, a questão da liberdade sexual está confusa e difusa, fica muito mais aguda e inconciliável quando se refere, especificamente, à sexualidade da mulher. Esse parece ser o ponto crucial de toda a questão, por1que a tradição moral e moralista pressionou negativamente a mulher, de modo a fazê-la sentir-se envergonhada e pecadora porque tinha desejo e desejava o prazer.

A oradora a que nos referimos, por exemplo, explicitou essa posição preconceituosa de dizer “isso é outra questão. Não estou me referindo à possibilidade de a mulher se relacionar ou transar com qualquer um...”. O que me fez retorquir: “com qualquer um não, com quem quiser ou desejar...”.
Porque a moral estabeleceu que a mulher devesse ter apenas um parceiro sexual, ser “propriedade” daquele que a tomasse como esposa. Nessas condições seria ele, realmente um parceiro ou alguém que fazia sexo com ela, às vezes sem considera-la?

Alguém me alertava que escritores e psicólogos que comandaram campanhas pela libertação sexual, estão agora, preocupados com os rumos dessa abertura, pelo número alarmante de abortos praticados por meninas de 13 a 15 anos, levadas pela ignorância da realidade afetiva e que seriam vítimas dessa pregação pelo prazer.

Esse fato merece reflexão. A primeira é que, as mentes dos adultos estão apenas pseudo abertas. Mães e pais atuais falam de liberdade sexual, mas geralmente continuam presos a medos e limitações e transmitem noções teóricas, sem coragem para examinar suas realidades afetivas. Pode-se dizer que não possuem condições de orientar positivamente os filhos. A maioria guarda a esperança de que suas filhas se casem virgens.

O discurso religioso prossegue ainda hoje sobre a tônica cristã da repressão e negação do prazer, especialmente para mulher. Há desconsideração para a sua qualidade de Espírito, acima das especificações sexuais típicas.

Pede-se sacrifício, renúncia aos sentimentos, mantendo a imagem de serva do lar, dentro de padrões conservadores, seja em nome da felicidade futura ou erros do passado.
Na luta pela conquista da liberdade e participação da mulher, envolvem-se, não apenas ela mesma, como um ser, uma pessoa, mas todo o sistema moral, social, todo o conjunto de fatores que recebem o impacto direto dessas mutações.

Creio que há um excesso de apelo racional aos critérios de justiça e igualdade, que certamente imperarão inevitavelmente, pois o caminho iniciado e já percorrido não terá volta, Mas, será possível proceder a essas mutações fundamentais sem abalos emocionais, sem atingir o afeto?
É fácil condenar racionalmente o tabu da virgindade, apoiar o aborto em nome do direto de usar o próprio corpo, abominar o casamento, e desestruturar a família, baseados em posições psicológicas e socialmente defensáveis.

Todavia, não se pode esquecer o vazio emocional que se segue. E não se veja nessas palavras qualquer apelo à moratória no trajeto da libertação feminina. Mas uma reflexão sobre as condições da realidade pessoal, de4 estruturas mentais, individuais e coletivas, que não podem ser negadas.
O sexo existe e é um sentimento básico, determinante do equilíbrio interno. Reprimi-lo é atirar-se em prisão degeneradora da mente. Consumi-lo à saciedade é cair em abismo de desestruturação da alma.
A transição deve ser considerada. Mas as correntes religiosas, tanto o ativismo feminista, colocam-se em polos opostos, sem encontrar recursos para auxiliar a internalização dessas mudanças. Há toda uma tendência a preservar a sociedade machista, erguida sobre infindáveis equívocos acerca da natureza da estrutura espiritual do ser humano. De outro, uma negação insensata de qualquer espiritualidade, cingindo-se a moral proposta a estreitos limites sensoriais.


Jaci Régis

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura da Março 2016.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Amai os vossos inimigos - por Alexandre Cardia Machado

Amai os vossos inimigos:

Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. – Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?”

Esta frase de Jesus é sempre um desafio a todos nós, mas interpretando com Allan Kardec, como buscamos fazer abaixo , nos parece mais fácil de concordar  – “2. “Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam?

– Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? – Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma.”  - Evangelho Segundo o Espiritismo.

Neste momento em que vivemos é necessário apelar ao bom senso e baixar o nível de ódio, que nos cerca, passamos pelo momento em que uma Presidente da República  está em processo de Impeachment e o Presidente da Câmara dos Deputados está com seu mandato suspenso onde, uma sensação de revanche, toma conta de grande parte da sociedade. Este sentimento de revanche não pode ser, de maneira alguma, o sentimento que nos move, em momento tão grave. Temos que ser motivados pela concordância que o Poder Judiciário defende o direito da cidadania.

O momento é de encontrar meios de união, capaz de permitir que o país volte a crescer, aumentando as oportunidades de trabalho para a população.

As disputas políticas são a normalidade em uma democracia, perder ou ganhar é parte do processo, se respeitarmos a Constituição, toda a disputa política é valida. O que queremos dizer é, não importa o lado que cada um de nós está, em alguns meses haverão novas  eleições e em dois anos e pouco, uma nova eleição para Presidente da República acontecerá. Ou seja é hora de trabalhar para construir uma nova fase positiva que beneficiará a todos os brasileiros.

A sequência do texto do Evangelho leva à considerarmos as reencanrnações, como um instrumento de ajuda no processo de reduzir o ódio, mas não precisamos esperar tanto, temos que com maturidade, enfrentar o que está  muito claro, houve aparelhamento da máquina pública, com o objetivo de financiar um projeto político, feito de forma ilegal, conforme amplamente divulgado pelas Delações Premiadas. Este grave problema foi identificado e está sendo desmantelado, o erro não está nesta ou naquela ideologia, mas sim na prática do ilícito. Ora, passado este momento, as diversas correntes que busquem novas lideranças internas, pois só a pluralidade é que permitirá o progresso reto da nação brasileira.

Há que se continuar investigando em todas as operações da Polícia Federal, pois não há como conviver com a corrupção. Esta maturidade que nosso país começa a atingir, quer no campo do Judiciário, quer no campo da Polícia Federal – à partir de um novo marco obtido pela união da Receita Federal com a Polícia Federal e do episódio do Mensalão, nos faz atingir um potencial investigativo jamais possível. Para encontrar o corrupto, basta seguir as movimentações financeiras, desde que todo o processo esteja revestido de um mandato judicial.

Esta interpretação, sabemos, não é unanime, alguns acham que a justiça está ultrapassando os direitos individuais, não somos tão avançados no conhecimento jurídico, mas a experiência comum é que a jutiça sempre é feita considerando os dois lados o da acusação e da defesa, portanto este é o processo e o contraditório é o normal. Errar, ser punido, aprender com o erro e melhorar, está na basa de nossa Doutrina Espírita, faz parte da sabedoria Divina e portanto é um processo natural. Aqueles que erraram precisam necessariamente mudar seus métodos, rencontrar-se. Ficar com o pensamento fechado em teorias de conspiração em nada ajuda. Há que se olhar para dentro e renovar-se.

Que no próximo número possamos estar escrevendo sobre coisas mais amenas e que diversifiquemos o nosso pensamento, bastante concentrado nestes problemas que expõe  diariamente a fragilidade moral humana.



A Doutrina Kardecista - uma reflexão -por Roberto Rufo

DOUTRINA KARDECISTA - Parte I

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” ( Allan Kardec ).


Em Março de 2008, portanto há oito anos, Jaci Regis lançava uma cartilha de nome "Doutrina Kardecista - ( Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita). Passado esse tempo já é possível uma discussão desapaixonada sobre o material e as suas pretensões. Abordarei em vários artigos o conteúdo dessa cartilha e suas consequências. Logo na sua explicação o autor Jaci Regis fala que esse modelo conceitual surgiu a partir de uma análise crítica e da releitura da obra de Allan kardec. Obviamente toda releitura está sujeita a contraposições de quem já está acostumado a afirmar conceitos fincados no subconsciente há muito tempo.

Apesar se sabermos que as ideias básicas continuam válidas, alguns fatores impulsionam a necessidade dessa releitura. São: o aspecto evolutivo do Espiritismo, que permite segundo Jaci a adaptação aos progressos da sociedade em geral e a sua transformação em religião, que fraudaria seus conceitos evolutivos. A meu ver o maior problema seria a diversidade de atuação de cada Casa Espírita, mesmo adesas à CEPA, em se tratando da forma como abordam os conceitos espíritas. 


O principal deles é o papel de Jesus de Nazaré, que via de regra, é visto como o Cristo das igrejas. Não é visto como um homem simplesmente, um espírito com uma evolução muito grande. O Mestre como falava Allan Kardec. 


Criar uma linguagem nas casas espíritas, desvinculada do cristianismo, é o maior desafio dos espíritas livre-pensadores da CEPA. Como fazer isso sem correr o risco de perder adeptos?  Se continuarmos simplesmente a respeitar as características de cada região em busca apenas de alguns pontos comuns não alcançaremos o progresso das ideias.
Nas Diretrizes Estratégicas da CEPA 2016/2020, existe no seu Plano de Trabalho, uma proposta de regionalização muito interessante, onde deve-se incentivar a organização a partir de semelhanças, incentivando encontros que favoreçam essa regionalização. O problema maior está na pouca mão de obra para essa execução, bem como a forma de abordagem para se atingir as mudanças que se pretendam na linguagem e no comportamento.


Por exemplo, quantos estariam dispostos a renunciar na consideração do Espiritismo como a terceira revelação da Lei de Deus? Como a CEPA apresentaria um elenco de ideias desvinculadas do cristianismo? Nos artigos seguintes veremos como Jaci Regis pretende fazer com que as pessoas se abram ao novo, sem no entanto perder as raízes do pensamento  de Allan Kardec. 


Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual




Parte II

“Não afirmo que conspirações nunca acontecem. Ao contrário, elas são  fenômenos sociais comuns. Mas tornam-se importantes, por exemplo, quando pessoas que acreditam em teorias conspiratórias chegam ao poder e se engajam contra inexistentes conspirações. Por que precisam explicar seu fracasso em produzir o prometido paraíso".  ( Karl Popper - A Sociedade Aberta e seus Inimigos).

“Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender” (Allan Kardec).



O pensador espírita Mauro Spínola, em seu excelente artigo’O Sorriso de Diegues’(Abertura de Julho/2016), nos recorda das eleições da USE em 1986 onde um grupo de pessoas vibrantes e sonhando com uma proposta inovadora decidiu montar a chapa Unificação hoje! Para os novos tempos uma nova USE. A chapa concorrente “Tríplice Aspecto” colocava-se claramente como o antídoto contra a destruição da religião espírita. Lembro bem, criou-se uma teoria conspiratória por parte dessa chapa de que a outra na disputa queria tirar Jesus Cristo do Espiritismo. 
Foi o  golpe de misericórdia. Derrota por 63 votos a 13. A religião e Jesus Cristo estavam salvos dos conspiradores.

Em seu trabalho Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita, Jaci Regis em seu capítulo I - Modelos Conceituais, expõe claramente que o modelo espírita se deturpou e perdeu o eixo de sua originalidade, devido às influências das ideias cristãs. A chapa vencedora fracassou em produzir o prometido paraíso para o Espiritismo, ao se deixar aliciar “pela absorção total do sentido e da linguagem do evangelho cristão” nas palavras de Jaci Regis. Me pergunto se na sua proposta modernizadora, o grupo perdedor das eleições da USE em 1986 já conseguiu, após 30 anos, fazer com que suas casas espíritas adesas à CEPA possuam uma linguagem limpa, não mais viciada em teses como considerar o Espiritismo a terceira revelação da Lei de Deus, dentro da cultura cristã. Que tal um questionário aos dirigentes e frequentadores dessas instituições adesas á CEPA se já abandonaram essa linguagem inadequada. Ou uma lista com terminologias corretas, mais adequadas ao modelo que se quer do Espiritismo exprimindo sua visão de homem e de mundo.

Jaci Regis, com este trabalho, pretendeu a recuperação da identidade da obra de Allan Kardec. Para tanto ele indicou que a revisão da linguagem e a atualização de conceitos é indispensável para essa finalidade.

Caso isso não ocorra, perderemos o lugar na história do pensamento humano em se tratando de espiritualidade para as ciências, que exercem hoje o papel de principal opositora ao modelo cristão. O que não concordamos com as ciências em geral é o seu modelo limitador a uma visão totalmente orgânica.

Jaci Regis não viveu para ver o nascimento do Estado Islâmico, com seu fanatismo muçulmano, mas escreveu que “some-se a isso a abrangência da geopolítica mundial, a influência das religiões orientais e do Islamismo e veremos que todos os modelos religiosos, com suas nuances específicas, são incapazes de dar uma direção, ajudar a criar uma forma de respeito recíproco e da fraternidade básica entre as pessoas”.


                                                                                                                                            Roberto Rufo.

NR: Este artigo foi publicado no Jornal Abertura, nos meses de julho e setembro de 2016.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO por Roberto Rufo

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO

“E educação e a cultura são mais importantes que a saúde “(Roberto Rufo).

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele “. (Kant).


Para o Espiritismo a educação tem enorme importância para a evolução espiritual desde a mais tenra idade, ou seja, no período em que o espírito encarnado passa pela fase da infância.  Diz a teoria espírita que nesta fase, o espírito encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período às impressões que recebe, para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados de sua educação. Daí a importância da família e dos educadores.

Quando se fala em distribuição de renda no Brasil, o pensamento comum é de que bastam programas de transferência de renda pecuniária. Sem uma edução formal de qualidade a distância injusta entre ricos e pobres só tende a se perpetuar. Vamos a alguns dados da “Pátria Educadora “(os governantes são muito bons em criar nomes bonitos): entre Janeiro/2012 a Outubro de 2015, no governo Dilma Roussef tivemos 06 ministros da educação. Logo se vê que a coisa não é séria. Mas abordemos alguns dados estatísticos para se ter a dimensão do drama que a educação vive no nosso país:
O Plano Nacional da Educação (PNE) foi aprovado em 2014 com 20 metas a serem alcançadas no país até 2024. Passados dois anos constata-se que nenhuma das ações com prazos previstos para 2016 foi cumprida.

No Livro terceiro do Livro dos Espíritos, das Leis Morais, em seu capítulo XII - Perfeição Moral pergunta 914, os espíritos colocam uma importância fundamental na educação no combate ao egoísmo pelo esclarecimento que se adquire sobre as coisas espirituais, onde podem ser incluídas a ética e o respeito ao próximo. Com o deslocamento das classes média alta e rica para o ensino particular, perdeu-se um contato muito importante entre todas as classes, o que ajudaria no combate ao egoísmo. Entristece-me muito  ver dois jovens dançando numa festa de casamento com dinheiro obtido irregularmente através da Lei Rouanet, dinheiro este que teria seu deslocamento previsto para projetos de arte com crianças carentes.

Aqueles jovens egoístas pertencem a uma geração que estudou nos melhores colégios que o dinheiro pode pagar, se educaram nos mais modernos métodos de educação e pedagogia, a dita geração do diálogo, que nunca apanhou dos pais, nunca pegou um ônibus lotado, fez vários intercâmbios no exterior. Aplicação espiritual em cidadania é nota zero no caso dos jovens citados acima.

Ainda segundo o PNE, deveria ter sido alcançada, até 2016 a universalização da educação infantil na pré-escola para crianças entre quatro e cinco anos. Há porém 600 mil crianças nessa idade fora da rede escolar  o que representa 11% do total. Ao se falar então da qualidade final do ensino nas escolas públicas constata-se que é muito ruim, com alunos saindo do ensino fundamental como analfabetos funcionais. Tudo isso resulta numa sociedade muito injusta, onde o fosso de oportunidades que só a educação pode mitigar, aumenta velozmente. E muitas dessas crianças e jovens da classe popular se tornam uma presa fácil ao mundo do crime, onde principalmente os mais jovens “enxergam “uma oportunidade de ascensão social.

O menino de 11 anos que foi assassinado pela PM de São Paulo, estava num carro com dois menores de 13 e 14 anos que havia roubado um carro para “ostentar” nas palavras de um deles. Falta dinheiro? Duvido. A roubalheira colossal que esse país enfrenta passa da casa dos bilhões. Como disse a atriz Fernanda Torres, o Brasil é hoje uma terra arrasada. A classe política, indistintamente, é uma vergonha. 

No entanto vale recordar que segundo os espíritos a desigualdade social não é obra da Inteligência Primeira e sim obra dos homens, cabendo portanto a nós a solução da grande desigualdade brasileira. 
Sem educação de ponta não há saída.

Roberto Rufo

NR: Artigo publicado no Jornal ABERTURA em Agosto de 2016 - quer ser nosso assinante? Entre em contato conosco pelo email: ickardecista1@terra.com.br valor anual R$ 55,00



                                      



sábado, 10 de dezembro de 2016

ARTE ESPÍRITA, UM SONHO DE KARDEC - por Jaci Régis

Allan Kardec acreditava que “Assim como a Arte cristã sucedeu à arte pagã e a transformou, assim a Arte espírita irá complementar e transformar a arte cristã.”
Existe uma arte espírita, como queria Kardec?
Costuma-se dizer que existe arte com temática espírita. Mas não é a mesma coisa.
Existem produções mediúnicas com reprodução de artes plásticas. Mas a essa “arte mediúnica” poderia ser enquadrada no que Kardec sugeriu?
Na poesia, na literatura, no teatro, na música, há atividades de grupos espíritas. Mas certamente não foi inventada uma arte especificamente espírita, talvez porque “arte espírita”, “arte cristã” e “arte pagã” sejam apenas adjetivações da mesma Arte, colocada em letras maiúsculas para sinalizar que ela, como tal, não pode ser mais inventada, existe desde sempre.
Neste artigo vamos analisar essas questões.


A ARTE ESPIRITA

No livro Obras Póstumas, existe um capítulo denominado “Influência perniciosa das idéias materialistas” que contém uma análise de Kardec sobre artigo do jornal “Courrier de Paris du Monde Illustré” de 19 de dezembro de 1868, há 138 anos.

O artigo comenta a fugacidade da fama e cita Caromouche que “escreveu mais de duzentas comédias e revistas teatrais e seria muito justo que ainda hoje seu nome fosse lembrado. Mas é tremendamente fugaz essa glória dramática que excita tantas ambições. A não ser que trate de autor de obras-primas excepcionais, tudo está votado ao esquecimento logo que ele abandona o campo de batalha” O artigo afirma que “as preocupações materiais soprepõem-se cada vez naus aos interesses artísticos”.

Para Kardec “a decadência das artes no século atual (século dezenove) é o resultado inevitável da concentração das idéias nas coisas materiais e essa concentração, por sua vez, é o resultado da ausência de qualquer crença na espiritualidade do ser.” E sentencia: “As artes só sairão de seu torpor quando houver uma reação visando às idéias espiritualistas” Ainda “É matematicamente exato dizer que, sem crença, as Artes não têm vitalidade possível.”.

O fundador do Espiritismo descreve seu sentimento sobre a arte: “O sublime da arte é a poesia do ideal que nos transporta fora da estreita esfera de nossa atividade. E o ideal está precisamente nesta região extra-material, onde só penetramos pelo pensamento e que a imaginação concebe, embora não a alcance os olhos do corpo. Que inspiração pode trazer ao espírito a idéia do nada?”.

A análise continua “O Espiritismo, realmente, nos mostra o futuro sob uma nova luz, mais ao nosso alcance (...) Que inesgotáveis fontes de inspiração para a arte! Quantas obras primas, de todos os gêneros, poderão estas novas idéias criar, pela reprodução das múltiplas e tão variadas cenas da vida espírita!

Em vez de representar frios e inanimados despojos, ver-se-á a mãe tendo a seu lado a filha querida em sua forma radiosa e etérea; a vítima perdoando o algoz; o criminoso fugindo em vão o espetáculo, sempre presente, de suas ações culposas; o isolamento do egoísta e do orgulhoso no meio da multidão; a perturbação do Espírito que renasce par a vida espiritual, etc, etc.

E, se o artista quiser elevar-se acima da esfera terrestre aos mundos superiores, verdadeiros edens onde os Espíritos adiantados gozam a felicidade que conquistaram, ou se quiser reproduzir algumas cenas dos mundos inferiores, verdadeiros infernos, onde dominam as paixões que cenas comoventes terá parta reproduzir! Sim! O Espiritismo abre para a Arte um campo novo, imenso, ainda inexplorado.”.

Passados 149 anos da fundação do Espiritismo não se viu o nascimento de uma arte espírita.

Embora Kardec afirme que “a Arte espírita irá complementar e transformar a Arte cristã” A arte espírita que ele desenhou no texto acima parece muito com um simulacro da arte cristã. Esta, segundo ainda Kardec, “Adquiriu um caráter grandioso e sublime ainda que sombrio, Essa fase pode ser apreciada nas pinturas da Idade Média, representando o inferno e o céu, as penas eternas ou, então, uma beatitude tão elevada que nos parece inacessível. E talvez por isso, tão pouco impressione quando a vemos reproduzida na tela ou no mármore”.

J.Herculano Pires comenta essa parte afirmando que “O caráter grandioso e sublime da arte medieval foi determinado pela concepção cristã. O Renascimento determinou a volta ao Paganismo, mas numa assimilação renovada dos valores antigos sob a influência cristã. O mundo moderno não ofereceu elementos para uma renovação profunda das artes porque não trazia ainda uma cosmovisão nova. As artes modernas são prelúdio de uma nova fase que só o Espiritismo, a concepção espírita do mundo irá difundir. É o que Kardec viu com clareza neste trabalho.

Herculano também disse em nota de rodapé que “A Arte Espírita já uma realidade nascente. A Pintura Espírita começou no tempo de Kardec (...) A Poesia Espírita é realidade que já mereceu antologia (...) A ficção espírita impõe-se no mundo e a influência espírita no Cinema, na Música, no Rádio, na Televisão, no Teatro é visivelmente crescente. (O volume analisado de Obras Póstumas é de 1971).

Além da costumeira ufania de Herculano relativamente ao Espiritismo no mundo, a nota remete a outra questão. Como é ai definida a “arte espírita?” ou seriam apenas temas espíritas e assemelhados?

Claro que Kardec retratou sua época e sua concepção de arte, para ele assentada sobre a crença. A arte espírita seria, então, na sua visão, uma arte voltada para o sublime de um lado e para o horror de outro, com seus edens e infernos, seus Espíritos atormentados e felizes.

Seria, todavia,  uma visão extremamente sectária querer que a artes plásticas, por exemplo, abandonassem a apresentação do que seria “material”. Some-se isso que desde a desencarnação de Kardec muitas escolas artísticas foram criadas, algumas com duração efêmera e que artistas geniais ou pelo menos talentosos surgiram e que exprimir o corpo, a beleza, o cenário material, físico também é obra de arte, quando o artista consegue superar-se.

Depois, se a arte cristã “Adquiriu um caráter grandioso e sublime ainda que sombrio” devido sua ambição de retratar, sobretudo, a visão mística e uma beatitude tão elevada que nos parece inacessível, uma arte inspirada pelo Espiritismo teria quer ser equânime, ou seja, abranger também a beleza e os problemas do ser encarnado e não apenas as projeções da vida futura.


A arte, de modo geral, reproduz o momento, a angustia, a ansiedade e o amor das pessoas encarnadas, vivas, atuantes ou amortalhadas. Poderá fazer introdução na vida extra corpórea sem aquela beatitude ou aquele descer ao inferno.

A ARTE MEDIÚNICA

A produção mediúnica no campo das artes é muito grande. Mas isso caracterizaria a “arte espírita”?

Desde o tempo de Kardec realmente foram produzidos desenhos através da mediunidade.

No Brasil, mais recentemente tivemos o fenômeno Gasparetto, com sua assombrosa produção pictográfica. Com os dedos da mão e do pé, a partir de um borrão de tintas, aleatoriamente misturadas, em poucos segundos surgia uma figura, uma paisagem assinada por um artista famoso, desencarnado.

Logo seguiram-se outros médiuns que fizeram e fazem demonstrações públicas desse tipo de mediunidade. . Todavia, os supostos autores espirituais reproduzem seu estilo, sua marca, talvez como forma de identificação e aí, parece que o que está em jogo é mais a confirmação da imortalidade da alma do que propriamente a arte, embora algumas telas tenham merecido elogios e admiração de especialistas.

 No campo da literatura temos obras de poesia, como O Parnaso de Além Túmulo obra primeira do médium Francisco Cândido Xavier, coletânea de poemas, sonetos e poesias de autores brasileiros e portugueses desencarnados geralmente famosos quando encarnados.

A ficção teve no passado recente, algumas produções muito bem escritas. Atualmente, porém, existe uma produção em escala de romances, novelas, contos, agora assinados por autores desconhecidos, sem biografia ou antecedentes.  São designados por um nome simples e cujo conteúdo e a forma, com raríssimas exceções, não constituem propriamente um literatura, mas uma subliteratura.

Como sabemos que o médium é interprete, por isso nenhuma produção artística pode ser considerada “pura”, isto é, sem interferência do médium. Este interpreta o desejo, a habilidade, o gênio do artista desencarnado dentro de suas possibilidades.

Por isso, a produção mediúnica não pode, a rigor, ser considerada “arte espírita”, como produto próprio, inédito, diferente.

Não se pode negar a crescente invasão de temas espíritas, se considerarmos como tal, todos os fenômenos mediúnicos, no cinema, na televisão, no teatro, mesmo em paises onde a tradição religiosa não tem qualquer ligação com o Espiritismo.

Filmes como Ghost, Sexto Sentido e outros foram saudados com grande entusiasmo e alcançaram muito sucesso e séries de televisão americana, por exemplo, apóiam-se em atuação de médiuns, sem qualquer ligação com a “paranormalidade” defendida pela parapsicologia, embora esta, se consultada, não deixará de encontrar uma explicação fora da mediunidade.

A televisão brasileira também tem aproveitado temas mediúnicos ou espíritas em novelas e séries.

Seria isso, afinal que Kardec pensou? Ou devemos repensar o que ele queria com a arte espírita? Sem dúvida as pessoas com pendores artísticos e que se tornam espírita devem e podem apoiar-se na filosofia espírita como base de suas produções.

Cabe-lhes, contudo, a responsabilidade de veicular o Espiritismo de forma positiva e coerente, pelos canais da música, do teatro, da televisão, da literatura, sem desvios e misturas espiritualistas... 


NR: Encontramos este artigo no computador de Jaci Régis, o artigo tem o estilo de Jaci, mas não está assinado, publicamos aqui, por mostrar uma vertente distinta do autor, na próxima edição complementaremos o artigo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A escola sem partido, ou “isso não pode ser discutido”. por Reinaldo di Lucia

A escola sem partido, ou “isso não pode ser discutido”.

Das diversas crises que o Brasil enfrenta, há uma, algo silenciosa, que se agrava gradativamente ao longo dos anos, vem tomando proporções alarmantes e que não tem previsão nem a curto nem a longo prazo de solucionar-se: é a crise educacional.

A educação no Brasil já teve seus bons momentos, nos quais podíamos, mesmo no ensino público, apresentar alguma qualidade. Não escrevo aqui como especialista em história da educação, o que não sou, mas apenas como alguém que recebeu, nos anos 70, uma educação que me permitiu formar uma base conceptual suficiente para que o prosseguimento dos estudos se desse sem grandes percalços. Mas nunca foi algo que pudesse ser uma referência mundial em qualidade de ensino. Principalmente porque, numa época em que vivíamos um regime de exceção, não era objetivo formar pensadores, mas técnicos que pudessem contribuir para o "milagre brasileiro".

Entretanto, ao longo desses últimos 40 anos, a educação básica no Brasil, em linhas gerais, só piora. Talvez pelo desestímulo dos professores, cujo salário é um acinte, talvez pela falta de estrutura escolar e, certamente, pelo interesse da classe política em evitar transformar nossas crianças em cidadãos donos de seu próprio destino, o fato é que a qualidade do ensino básico é das piores do mundo.

Como se não bastasse essa verdadeira catástrofe, vem agora uma organização propor, com o apoio de uma parcela do Congresso Nacional, mais uma excrescência: a "Escola sem Partido". Com o suposto objetivo de impedir uma mítica ideologização nas escolas, na verdade evita a única forma de proporcionar o crescimento intelectual, que é a contraposição de ideias que permitirá o surgimento de jovens livre pensadores, sem amarras e preconceito, prontos a tornarem-se conscientemente responsáveis por suas escolhas e aptos a construir seu futuro
Há que se discutir que finalidades escusas se ocultam nesta proposta. Não sou daqueles que veem em tudo a mão maquiavélica da elite dominante tentando massacrar a plebe ignara. Mas não se pode bancar a Poliana e achar que o mundo é rosa. Há, sim, o claro interesse de uma certa classe de manter a população o mais intelectualmente despreparada possível, pois é obviamente muito mais fácil o domínio sobre os ignorantes. É pensar pode ser muito perigoso...
Como espíritas, temos o dever de desaprovar qualquer tentativa de cerceamento da liberdade de pensamento, de crença, de expressão. 
O Espiritismo surgiu a partir de um amplo debate realizado entre encarnados (principalmente Kardec) e desencarnados, no qual questões muito profundas e polêmicas foram analisadas e discutidas. Assim, em consonância com nossa visão laica, livre-pensadora, humanista e progressista, qualquer tentativa de bloquear o debate livre, desde que imparcial, deve ser amplamente rechaçado.


Se algo não for feito para frear este tipo de proposta, a consequência será a formação de um contingente de jovens que delegará a outros seu direito inalienável de pensamento e escolha, pois será facilmente manipulável. Como professor universitário, percebo a cada ano que passa o quanto aqueles que ingressam no ensino superior estão cada vez menos preparados, não conseguindo realizar tarefas básicas, como leitura e interpretação de textos simples, compreensão das relações causais e entendimento das vertentes históricas que formam a realidade atual. E afirmo, sem medo de errar: não ha ação que tire o país do buraco que não passe pelo investimento maciço em educação. O que, com os políticos que temos, está longe de acontecer.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Progresso – lei inabalável - por Alexandre Cardia Machado

Progresso – lei inabalável
Marcha do Progresso
779. A força para progredir, haure-a o homem em si mismo, ou o progresso é apenas fruto de um ensinamento?
“ O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente  e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meiodo contato social.”
Creio que esta resposta é muito boa, no Livro dos Espíritos ao longo do capítulo se pode entender com mais detalhes a questão da evolução pessoal e moral versus a evolução intelectual e social. Mas a marcha é inevitável.
A seguir dou alguns exemplos do que está acontecendo no mundo que comprova este avanço:
Udo Gollub em Messe Berlin- (Conferência da Universidade da Singularidade)

Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendeu 85% de todo o papel fotográfico vendido no  mundo. No curso de poucos anos, o modelo de negócios dela desapareceu e eles abriram falência. O que aconteceu com a Kodak vai acontecer com um monte de indústrias nos próximos 10 anos – e a maioria das pessoas não enxerga isso chegando. Você poderia imaginar em 1998 que 3 anos mais tarde você nunca mais iria registrar fotos em filme de papel?

No entanto, as câmeras digitais foram inventadas em 1975. As primeiras só tinham 10.000 pixels, mas seguiram a Lei de Moore. Assim como acontece com todas as tecnologias exponenciais, elas foram decepcionantes durante um longo tempo, até se tornarem imensamente superiores e dominantes em uns poucos anos. O mesmo acontecerá agora com a inteligência artificial, saúde, veículos autônomos e elétricos, com a educação, impressão em 3D,  agricultura e quem sabe, nossos empregos atuais.

Bem-vindo à quarta Revolução Industrial!

O software irá destroçar a maioria das atividades tradicionais nos próximos 10 a 15 anos.

O UBER é apenas uma ferramenta de software, eles não são proprietários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo.

Inteligência Artificial: Computadores estão se tornando exponencialmente melhores no entendimento do mundo. Com o WATSON, da IBM, qualquer americano pode conseguir aconselhamento legal (por enquanto em assuntos mais ou menos básicos) dentro de segundos, com 90% de exatidão se comparado com os 70% de exatidão quando feito por humanos.

O WATSON já está ajudando enfermeiras a diagnosticar câncer, quatro vezes mais exatamente do que enfermeiras humanas.  O FACEBOOK incorpora agora um software de reconhecimento de padrões que pode reconhecer faces melhor que os humanos. 

Veículos autônomos: em 2018 os primeiros veículos dirigidos automaticamente aparecerão ao público. Ao redor de 2020, a indústria automobilística completa poderá iniciar um processo de reposicionamento.  As pessoas  não desejarão mais possuir um automóvel

Os negócios imobiliários mudarão. Pelo fato de poderem trabalhar enquanto se deslocam, as pessoas vão se mudar para mais longe para viver em uma vizinhança mais bonita.

Carros elétricos se tornarão dominantes até 2020. As cidades serão menos ruidosas porque todos os carros rodarão eletricamente. A eletricidade se tornará incrivelmente barata e limpa: a energia solar tem estado em uma curva exponencial por 30 anos.

No ano passado, foram montadas mais instalações de geração de energia elétrica solares que fósseis. O preço da energia solar vai cair de tal forma que todas as mineradoras de carvão cessarão atividades ao redor de 2025.

Com eletricidade barata teremos água abundante e barata. A dessalinização agora consome apenas 2 quilowatts/hora por metro cúbico. Não temos escassez de água na maioria dos locais, temos apenas escassez de água potável. Imagine o que será possível se cada um tiver tanta água limpa quanto desejar, quase sem custo.


Estes são apenas alguns exemplos – tipo Desenho animado dos Jetsons, só que reais, coisas que estão acontecendo e mundando o mundo.  Nem tudo são flores, há toda uma adaptação humana e claro, tudo dependerá de quão democrática estas mudanças acontecerão, nos poderão ajudar ou não a diminuir as diferenças sociais. Isto dependerá de nossa real vontade de melhorar o conjunto da sociedade, pois o progresso tecnológico virá de qualquer forma.