segunda-feira, 15 de abril de 2019

BREVE REFLEXÃO SOBRE ESPIRITISMO, POLÍTICA E SOCIEDADE NO ÂMBITO DA CEPA - por Ricardo de Morais Nunes


BREVE REFLEXÃO SOBRE ESPIRITISMO, POLÍTICA E SOCIEDADE NO ÂMBITO DA CEPA.

Em tempos de polêmicas políticas e sociais, tanto na esfera nacional quanto internacional, vale a pena pensarmos sobre o papel dos espíritas laicos e da CEPA (Associação Espírita Internacional) em relação a estes temas. Trata-se de uma reflexão de grande importância no que diz respeito as diretrizes fundamentais do movimento espírita laico e livre pensador, que precisa delinear, com precisão de princípios, o que poderíamos chamar de um pensamento social espírita, com vistas a compreensão e enfrentamento dos temas sociais e políticos do mundo contemporâneo.

  O intelectual espírita deve ter uma abrangência global em seu olhar para a realidade. Deve ser alguém capaz de pensar desde as questões metafísicas até as estruturas sociais. O intelectual espírita, portanto, deve refletir sobre o além, sobre as condições existenciais na esfera extrafísica; sobre o homem terreno, enquanto indivíduo encarnado; e sobre o mundo, em seu aspecto de organização social.  Devemos ser capazes de abrigar no âmbito da CEPA e da CEPABrasil (Associação Brasileira dos delegados e amigos da CEPA) espíritas que pensem e falem sobre todos os temas da filosofia espírita.

Neste sentido, temos que ser capazes de discutir sobre o períspirito, mas também devemos refletir sobre as exclusões econômicas e sociais proporcionadas pelo sistema capitalista de produção. Devemos ter a capacidade de refletir sobre os efeitos benéficos do magnetismo, mas também sobre as restrições à liberdade individual geradas pelas chamadas ditaduras do proletariado. Devemos ser livres para discutir sobre “Nosso lar”, a colônia espiritual revelada pelo espírito André Luiz, mas também devemos refletir sobre a importância da defesa do laicismo ante a influência das religiões no Estado. Por fim, devemos filosofar sobre a ideia de Deus, mas também devemos nos dedicar a pensar nos processos de corrupção pública e privada que abalam os orçamentos das nações e desviam recursos fundamentais que deveriam ser aplicados no bem comum.

 Devemos discutir todos estes temas e outros de natureza política e social, à luz da filosofia espírita e das ciências sociais, abertamente, dialeticamente, sem sectarismo, e com pleno respeito a opinião do outro, em uma tentativa honesta, verdadeira, de compreensão profunda de fenômenos políticos, sociais e econômicos complexos, que não se prestam a simplificações através de frases feitas ou sentenças definitivas.

No campo das ideias políticas e sociais, há alguns companheiros que defendem que a CEPA e a CEPABrasil devem ser uma espécie de guarda-chuva, com vistas a abrigar tanto os espíritas de direita, quanto os de esquerda, e os que não tem posição política. Apesar de concordarmos com a necessidade de abrigar a todos, em um espírito de alteridade e fraternidade, pensamos que a CEPA e a CEPABrasil, enquanto instituições, não devem ser neutras no que diz respeito a estes temas.

 Em conformidade com os princípios sociais humanistas da filosofia espírita, a CEPA e a CEPABrasil devem se colocar expressamente, inequivocamente, a favor das liberdades democráticas, da justiça social, do laicismo, dos direitos humanos, da ética na condução dos negócios públicos e privados, e da preservação ecológica do planeta.  Na ordem internacional, os espíritas laicos e livre pensadores devem ser defensores do pacifismo, ou seja, da resolução não violenta dos conflitos entre as nações, e devem ser contrários a quaisquer tipos de imperialismos ou neocolonialismos, em pleno e absoluto respeito à soberania dos povos para decidir seus destinos.

 Em especial, estas instituições do movimento espírita laico e livre pensador devem se colocar decisivamente a favor dos mais fracos economicamente na sociedade.  Quanto a preocupação com os mais carentes que alguns no Brasil de hoje em dia lamentavelmente chamam de partidária ou esquerdista, e que preferimos chamar de humanista, vale lembrar uma frase de O Livro dos Espíritos que sintetiza esta preocupação na obra espírita: “Numa sociedade organizada segundo a lei do cristo, ninguém deve morrer de fome” (reposta a questão 930 LE). Esta frase deveria ser um antídoto contra qualquer tendência a uma pretensa neutralidade dos espíritas nestes temas.  Aliás, quanto a acusação de que pensar nas estruturas injustas da sociedade e nos mais carentes é coisa apenas de comunista, lembramos de uma célebre frase do cristão Dom Hélder Câmara: “Quando alimentei os pobres chamaram-me santo, mas quando perguntei por que há gente pobre chamaram-me comunista”.

Os espíritas têm sido muito eficazes ao longo da história do movimento espírita na criação de instituições de caridade, em cuidar dos efeitos das sociedades desiguais, o que é muito bom e sempre deverá ser incentivado. No entanto, o pensador espírita deve ir além com vistas a pensar nas causas profundas das desigualdades sociais, a fim de construir um pensamento social espírita maduro sobre tais temas.

A CEPA e a CEPABrasil não podem cair no erro de pensar apenas no indivíduo, na reforma moral ou intima, ignorando as estruturas econômicas, sociais e, principalmente, as ideológicas, uma vez que estas últimas condicionam e atravessam o indivíduo, constituindo lhe a subjetividade e sua maneira de ser e estar no mundo. A ideologia vigente, de índole materialista, estimulada pelos interesses do capital, baseada na mercantilização da vida, fundamentada na preferência do ter sobre o ser, na ideia de concorrência de todos contra todos, na acumulação financeira, e na exaltação do supérfluo sobre o necessário, concorre na deformação ética do indivíduo, daí a necessidade do pensamento crítico com vistas ao aperfeiçoamento moral do homem.

A ideia de um homem e de um mundo melhor, mais fraterno e justo, está presente na filosofia espírita. Esta ideia perpassa desde a mudança do indivíduo até a mudança das instituições. Portanto, cabe ao espírita intelectualmente maduro pensar globalmente sobre todas as questões, sobre todos os assuntos, a partir de todas as perspectivas do conhecimento filosófico. O espiritismo deve permanentemente dialogar com todas as ciências desde as ciências físicas, psicológicas, biológicas, parapsicológicas, humanas, astronômicas, etc. Os espíritas e o espiritismo têm muito a contribuir com estes ramos do conhecimento, mas também tem muito a aprender e assimilar em um contexto de progressividade do pensamento espírita.

 Entendemos que o adjetivo “progressista” que adotamos na CEPA e CEPABrasil não deve ser compreendido pela metade, apenas no que diz respeito a liberdade no campo dos costumes, mas também no que diz respeito ao avanço dos processos sociais no sentido do progresso, em direção a mais vida, mais igualdade, mais liberdade, para todos que se encontram neste planeta, independentemente dos governos de plantão.

 Alguns dirão que existem as verdades eternas com as quais devemos particularmente nos preocupar. E que não devemos nos preocupar com as questões terrenas e transitórias. Certamente que não precisamos nos envolver com a pequena política partidária dos interesses egoístas, bem como com as mesquinhas disputas pelo poder. Certamente que não devemos fazer campanha política dentro do centro espírita, e muitos menos querer formar uma bancada espírita no congresso.  Não precisamos formar o partido espírita. No entanto, podemos discutir nos centros, federações e eventos espíritas, princípios filosóficos de caráter social e político, podemos elaborar debates, produzir palestras, artigos, trabalhos e livros, em absoluto clima de livre pensar, com vistas a estabelecermos uma concepção espírita humanista, democrática, equitativa e ecológica de mundo e sociedade. E podemos até mesmo realizar ações, enquanto membros da sociedade civil, com vistas a contribuir de alguma forma para a melhoria da vida social.

   Temos condições de estabelecer no âmbito do movimento espírita laico e livre pensador um pensamento social espírita crítico, isento de preconceitos filosóficos, que se proponha a estudar e refletir desde o liberalismo até ao marxismo, o que fará com que nos habilitemos a dialogar com o mundo contemporâneo no que diz respeito aos temas políticos e sociais. Podemos compreender esta necessidade de formação intelectual séria dos espíritas ante as inúmeras mensagens e declarações pueris e alienadas que são enviadas por alguns espíritas pela internet e redes sociais, as quais muitas delas passam a imagem que os espíritas como um todo vivem em um mundo abstrato, de colorido fantasioso, e de expectativas messiânicas e mágicas.

É preciso lembrar que o espiritismo considera a presença do homem no mundo, encarnado, como um fator de evolução intelecto- moral, não apenas do indivíduo, mas também das sociedades. Além do mais, os problemas estruturais de nossa sociedade produzem extremo sofrimento em grande parte da população, e conhecer as causas do sofrimento humano, para atenua-lo, certamente é um dos interesses do espiritismo.

Outros dirão que o ambiente político e social brasileiro e internacional está polarizado, e que tais reflexões perturbariam nosso ambiente e não seriam fator de agregação e harmonia. Porém, é justamente nos momentos de crise que temos a oportunidade de dizer ao mundo a que viemos. É nos momentos de crise que revelamos integralmente quem somos. É nestes momentos que devemos oferecer àqueles que se aproximam dos espíritas laicos e livre pensadores uma reflexão séria do mundo e da sociedade, a partir de todo o arcabouço filosófico produzido pelos pensadores espíritas de todos os tempos no campo político e social, e também levando em consideração toda a produção das ciências humanas produzidas até este momento histórico.

 Existirão aqueles que, ante as reflexões acima, dirão que o que importa mesmo é o melhoramento intelecto-moral do indivíduo, e que o progresso social virá por consequência. Porém, a filosofia espírita nos convida a um pensamento mais amplo, não restritivo, no que diz respeito aos problemas do mundo. Vivemos em sociedades extremamente individualistas, desiguais, ainda extremamente injustas para a grande maioria das pessoas. Se não nos preocuparmos com isso estaremos nos alienando. Por fim, a filosofia espírita nos convida a pensar e a crer   em um outro mundo terreno possível, mais justo, solidário, livre, e amoroso, quando nos fala da lei de progresso. Se ignorarmos este aspecto do espiritismo, estaremos compreendendo o espiritismo de forma incompleta.


RICARDO DE MORAIS NUNES: É presidente do CPDoc (Centro de Pesquisa e documentação Espírita- Instituição filiada a CEPA – Associação Espírita internacional)

Nota : Este artigo será publicado no Jornal Abertura nas edições de abril e maio de 2019








quarta-feira, 10 de abril de 2019

O Espiritismo que queremos? por Alexandre Cardia Machado



Allan Kardec certamente queria algumas coisas como: antepor-se ao materialismo que começava a tomar conta do pensamento moderno; queria demonstrar que a vida no Universo tinha dois componentes o físico e o espiritual; queria demonstrar que existia uma lógica moral regendo este Universo, determinada por Deus; queria que compreendêssemos e espíritismo de uma maneira mais uniforme possível. Para isso manteve o monopólio do que era ou não espiritismo sob sua batuta até o sua desencarnação.

No livro Obras Póstumas, no capítulo Constituição do Espiritismo, os passos para a sua atualização estão ali escritos, vale salientar que este livro, feito sobre manuscritos do Professor Rivail, não foi publicado por ele, caso o fosse o nome do mesmo não seria este, foi publicada somente em 1890, 21 anos após a desencarnação de Kardec.

Mas o que queremos mesmo do espiritismo hoje, passados 150 anos da desencarnação do professor Hipollyte Léon Denizard Rivail que se completará este mês, no dia 31 de março?
Como somos livres-pensadores, unanimidade não é o nosso forte, não conseguimos, ainda que tenhamos tentado, criar mecanismos de atualização, não gostamos de comitês e acreditamos que grupos de especialistas tendem mais a afastar ideias novoas do que aceitá-las. Mas existiram iniciativas de consolidação do pensamento livre-pensador da CEPA, dois livros publicados e os congressos que periodicamente revisitam temas importantes.

Desta forma, e através dos jornais como o nosso Abertura e o Opinião do CCEPA, grupos como o CPDOc e editoras como as do ICKS, do CCEPA que com seus livros fomos consolidando um novo vocabulário, mas atual, ainda que longe de representar um pensamento organizado. No entanto trás o convívio de ideias novas aos velhor livros da codificação. Nos ajudaram a nos livrar das amarras do entendimento errado das reencarnações punitivas e permitiu um transitat num frescor de um novo pensar espírita.

Este caminhar nos afastou do movimento religioso e se formos bastante críticos, dos próprios textos básicos espíritas, não que não reconheçamos seu valor, são importantíssimos como caminho necessário ao conhecimento, mas estão muito ultrapassados em forma e conteúdo, especialmente em pontos que se aproximam da ciência, ou de algumas questões humanas como racismo, papel da mulher entre outros.

Relatando aqui uma experiência do ICKS de sete anos seguidos, ministrando um curso chamado – Estudo Dirigido do Livro dos Espíritos – enfocado a pessoas comuns, por onde mais de 200 pessoas, espíritas ou não, passaram por nós. Nos vimos na situação de selecionarmos as questões que iríamos apresentar, pois cerca de 30% das respostas de questões do Livro dos Espíritos estão obsoletas, ou então não apresentam Deus como Inteligência Suprema e sim como o deus de Abraão, raivoso e punitivo, algo que pode ter passado despecebido por Kardec, talvez  por que ao seu tempo este questionamento não estivesse maduro suficiente ainda.

Somos, verdadeiramente um grupo pós Kardec e quanto mais rápido aceitarmos isso, melhor será para nosso grupo. Não entendam o pós-Kardec como anti Kardec, pois isso não somos. Mas buscamos ver além de Kardec do século XIX tentando nos colacar na posição dele hoje, pensando como pensaria Kardec se hoje estivesse encarnado.

Talvez não haja consenso no que escrevo aqui, mas acredito que vale o exercício, aberto naturalmente à crítica construtiva.

O que queremos do espiritismo:

- um espiritismo livre, atual, capaz de enfrentar as questões do nosso tempo, de nosso cotidiano;

- que tenha uma linguagem moderna, capaz de atrair a juventude;

- que entenda e que ensine a imortalidade dinâmica, como instrumento de aperfeiçoamento do espírito;

- que seja uma ciência da alma, pois nosso objeto muda do espírito desencarnado, para o espírito imortal, com enfase na sua atuação enquanto encarnado, pois é sobre ele que o espiritismo pode fazer a diferença como um instrumento de entendimento do mundo;

- que seja tolerante, fraterno e humanista;

- que incorpore a Declaração Universal dos Direitos do Homem como um de seus fundamentos;
- que seja legitimamente democrática;

- que não seja oportunista, nem tudo que vem dos espíritos pela mediunidade é espiritismo;

- que as casas espíritas incentivem o estudo, o diálogo e a produção de trabalhos espíritas;

- que as relações entre seus membros sejam ditadas pelo respeito;

- que possa ser político, mas não partidário.

Poderíamos seguir listando ideias, mas mais importante do que escrever é fazer, esta sempre foi a característica de um espírita a ação que corresponde às palavras.

Gostou, quer ler o jornal abertura de março de 2019 onde foi publicado?





terça-feira, 26 de março de 2019

A Tão Complexa Lei do Progresso - por Alexandre Cardia Machado


A Tão Complexa Lei do Progresso

Gostaríamos de discutir um pouco esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem, nos explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento natural no orgulho e o egoísmo.

Da Questão 793 do Livro dos Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “ À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a pergunta e uma parte da resposta abaixo:

“793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?
“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral...”

Não há dúvida alguma que em todas as áreas do conhecimento, existe uma curva de aprendizado, onde algo novo é tentado, e funciona por algum tempo até que alguma coisa diferente das condições de projeto original ocorrem e o equipamento ou a construção vem a falhar. Em pouco mais de 3 anos vivemos no Brasil, duas catástrofes ambientais e humanas, ambas em Minas Gerais e em processos de mineração.

A mineração existe na face da Terra, desde a era do bronze há cerca de 3000 anos a.C. – ou seja mineramos, os mais diversos materiais há mais de 5000 anos, são incontáveis os acidentes. Quase todo mês há uma notícia aqui ou ali de algum acidente. Os mais comuns são em minas de cobre, ouro e carvão, que normalmente são feitos em minas subterrâneas. O incomum são acidentes de grandes proporções em minas a céu aberto.

77% das jazidas de minério de ferro estão concentradas em 5 países: China, Brasil, Austrália, EUA, Índia e Canadá. O Brasil é o maior exportador mundial, sacudido pelos desastres de Mariana em 2015 e Brumadinho em 2019, muita coisa neste campo de produção deverá mudar. Não vamos aqui aprofundar a discussão técnica sobre os acidentes, pois para isso a imprensa geral está trazendo a público a todo o momento, nos cabe entender o processo social sob a ópica espírita.

Com na resposta à questão 793 do LE, “À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou” é nisto que esperamos que nossos legisladores atuem, é inegável a importância da mineração de minério de ferro, para o Brasil e para Minas Gerais, são milhares de pessoas que vivem e dependem disso, trabalhando diretamente na Vale , ou em outras empresas prestadoras de serviço. Todos querem voltar em segurança para casa, no fim do seu turno de trabalho.
Como exemplos de acidentes que mudaram de certa forma as diversas industrias cito os acidentes na geração de energia nuclear, após Tree Miles Island (EUA-1979) e Chernobyl (Ucrânia- 1986) por falta de controle de processo e recentemente Fukushima (Japão-2011) – atingida por um Tsunami fizeram com que este setor mudasse completamente, hoje em dia poucas Usinas Nucleares estão sendo construídas, devido ao risco ambiental e humano que ele acarreta. A Alemanha tomou a decisão histórica de parar todas as suas usinas até 2022. Há grandes empresas que desapareceram como a Union Carbine, após o vazamento de gás – isocianado de metila em 1984 em Bhopal na Índia. A nuvem de gás, mais pesada que o ar se espalhou pelo vale e mais de 5000 pessoas morreram em uma noite.

Dizer que a engenharia não aprendeu nada com estes acidentes, seria um absurdo, hoje existem técnicas de análise de riscos que são aplicadas a todos os projetos e alterações de instalações em operação e que não eram utilizadas nos anos 70’s ou 80’s, Relatório de Impacto no Meio Ambiente (RIMA) são exigidos pelas autoridades antes que qualquer nova instalação. Todas estas medidas existem hoje. Constatamos sim, muito pouca fiscalização nos casos recentes no Brasil.

Mas acidentes ainda ocorrem por algumas razões externas que não foram consideradas no projeto ou que se alteraram sem que se percebesse. Ou causas internas como falta de manutenção, falha de equipamento, erro operacional. Além disto podem haver três causas criminais, são elas: negligência, imprudência ou omissão. Estas três causas  acarretam a chamada responsabilidade civil – para sua caracterização é preciso provar e determinar que há culpa, nexo causal e dano. Sempre que há dano ambiental considerável ou morte cabe à polícia investigar e a justiça julgar.

Na trajédia de Mariana-2015, 21 altos executivos foram arrolados em processos diversos de responsabilidade civil e criminal, o de Brumadinho deverá seguir pelo mesmo caminho, quem sabe com agravo, por estar a mesma empresa envolvida nos dois casos, pessoas que atestaram a segurança da barragem foram submetidas a prisão.

Mas o que os engenheiros aprenderam com isto, o que os legisladores farão com o conhecimento e o que o poder público vier a fazer é o que pode realmente evitar um terceiro caso, uma terceira tragédia. Somente isso é que ... “faz cessar alguns dos males que gerou ...”, conforme a resposta do LE.

A engenharia, costuma agir rápido, pois as empresas, gerenciam os riscos, neste caso os reservatórios e ao contrário que que a opinião pública costuma pensar, elas são as maiores interessadas em que acidentes não ocorram, pois sua ações caem no mercado, seus executivos e engenheiros são afetados, seus empregados expostos em primeiro grau, suas atividades econômicas são paralisadas. Em Brumadinho mais de 200 empregados da Vale estão desaparecidos ou mortos, gerenciar isto numa empresa é extremamente difícil. No entanto só ter interesse em resolver não é o suficiente, há que haver normas rígidas a seguir e nisto está evidente temos falhado.

... “males que desaparecerão todos com o progresso moral...” é o que desejamos mas para isso todos devemos elevar o nosso senso crítico, não nos acomodarmos com pequenos desvios de procedimentos, atentarmos para as pequenas mudanças em equipamentos, não achar que são coisas normais, estarmos atentos, fazermos corretamente e com responsabilidade o nosso trabalho é a única forma de evitar que pequenos e grandes brumadinhos ocorram.

Artigo publicado no ABERTURA de janeiro de 2019 - quer rever todo o jornal?




terça-feira, 19 de março de 2019

14º Fórum Espírita do Livre Pensar da Baixada Santista ESPIRITISMO E SOCIEDADE

ESPIRITISMO E SOCIEDADE 
As relações humanas e o progresso social em tempos de intolerância nas redes sociais 


Dia 24/04/2019 Tema: Existe um Espiritismo progressista? 
Palestrante:  Dora Incontri                                                                                                                        Coordenação:   Ademar Arthur Chioro dos Reis  
Local: CEB Ângelo Prado - Av. Almirante Tamandaré, 238 - Santos                                                                  

Dia 25/04/2019 Tema: Espiritismo e Mídias Sociais 
Palestrante: Cavour Chrispim Neto            
Coordenação:  Ricardo de Morais Nunes                       
Local: GE Trabalho e Amor – R. Eng. Manoel Ferramenta Jr, 88 – Santos 


Dia 26/04/2019 Tema: Alteridade e a Ética Espírita Palestrantes:
Reinaldo Di Lucia                       
Coordenação:   Alexandre Cardia Machado                       
Local: CE Allan Kardec – Rua Rio de Janeiro, 31 - Santos 


Todas palestras serão realizadas das 20 às 22 horas. 

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Realização: CE Allan Kardec – CEB Ângelo Prado – Instituto Cultural Kardecista de Santos - GE Trabalho e Amor – CE Missionários da Luz – GE León Denis (Guarujá) – CEB Amor Fraterno Universal
Apoio: CEPA (Associação Espírita Internacional) e CEPABrasil

quarta-feira, 13 de março de 2019

Não haverá SBPE neste ano de 2019


Não haverá SBPE este ano (2019)

O último SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita foi realizado em Santos em 2017 e foi o 15° SBPE.

Me dê um ponto de apoio e uma alavanca e eu moverei o mundo (Arquimédes 287 a.c.)

Jaci Régis usou deste princípio de Arquimédes e em 1989 resolveu que era preciso haver um fórum, um local para seminários e juntou amigos espíritas para viabilizar o Simpósio Nacional do Pensamento Espírita. O SBPE foi por algum tempo este ponto de apoio.

A necessidade em 1989 era imensa, pois, após a realização de um Congresso da USE – União das Sociedades Espíritas de São Paulo, em 1986 havia ficado claro que nosso grupo era incompatível com o resto do movimento da USE. Precisavamos de novos espaços – neste momento surge o Simpósio Nacional do Pensamento Espírita, que naquela época foi realizado com palestrantes convidados, lideranças livre-pensadoras que exploraram temas específicos, como a influência de Roustaing ou Emmanuel no Movimento Espírita em desacordo com as premissas de Allan Kardec, se o espiritismo era ou não uma religião ou ainda se a prece inicial nas reuniões espíritas poderia ser considerada  ou não um ritual, que haviam se transformado em  debates acirrados que em muitos casos, ultrapassaram o limite da educação.

Escultura - parte do trabalho do ICKS em 2015 -mostrando o aporte de conhecimento dos então 14 SBPEs

Com o sucesso da primeira edição, decidiu-se ao seu final em realizá-lo a cada 2 anos, passando então a chamar-se Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.

Desde a segunda edição o seu novo formato se manteve até 2017.  Não tínhamos palestrantes convidados, tínhamos sim espíritas que queriam expor suas ideias, seus trabalhos. Ao longo destes 30 anos mais de 280 trabalhos foram expostos e oferecidos aos espíritas livre-pensadores.  

O SBPE foi na maioria de suas edições organizado por um grupo pequeno de pessoas do Instituto Cultural Kardecista de Santos e do Jornal Abertura, este foi o seu maior fator de regularidade, mas também o seu calcanhar de Aquiles. O grupo do ICKS envelheceu, sendo portanto impossível proseguir com a sua organização, esta decisão doí em nossos corações, mas ao mesmo tempo ficamos com a sensação do dever cumprido.

A notícia de que não realizaríamos o evento este ano mobilizou os amigos da CEPA e uma reunião no dia 1° de Fevereiro com a presença de 20 pessoas no Centro Espírita Beneficiente Ângelo Prado, chamada pelo Presidente da Cepa Brasil – Jaílson Mendonça, discutiu as alternativas possíveis. De forma geral refletimos que o modelo de livre apresentação de trabalho é algo que deva ser preservado e caberá à CEPA-Brasil definir em quais de seus eventos poderá ser mantida esta metodologia.

Livre participação significa não existir temas pré-escolhidos, você leitor, interessado,  é quem decide, se o tema for espírita deverá ser aceito, esta foi a grande força do SBPE. Manter esta ideia viva, independe da realização do SBPE. Isto já é um ganho de nosso grupo Ademar Arthur Chioro dos Reis em julho de 2013, escreveu neste jornal um grande depoimento pessoal que destaco aqui mais uma vez alguns pontos: “ Estive presente em praticamente todas as edições do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita (SBPE), tendo apresentado diversos trabalhos e participado ativamente dos debates nele proporcionados. A minha formação e trajetória como intelectual e dirigente espírita é muito devedora ao evento, que ao longo de mais de duas décadas ininterruptas de existência vem assumindo diversas representações e cumprindo distintos papéis para o movimento espírita e para cada um dos participantes. No presente artigo procuro expressar o que significa pra mim o SBPE, criado e mantido por anos pelo líder espírita Jaci Regis e que se mantém mais vivo do que nunca após o seu desencarne, tendo se constituído num espaço vital e imprescindível de produção e reflexão sobre o pensamento espírita.

Pessoalmente, tenho um débito de gratidão muito grande como o SBPE. Os trabalhos que tenho apresentado em Congressos, Encontros e Conferências, no Brasil e no exterior, e os livros que publiquei - “Magnetismo, Vitalismo e o Pensamento de Kardec” e “Mecanismos da Mediunidade – o Processo de Comunicação Mediúnica”, assim como as contribuições espíritas mais importantes que produzi até hoje, contidas em dois capítulos no livro “A CEPA e a Atualização do espiritismo” e que versam sobre a Agenda e o Método para a atualização do espiritismo, tiveram como laboratórios as reuniões do CPDoc e as sessões de apresentação de trabalhos do SBPE. Não apenas porque me instigaram a produzi-los e apresentá-los, mas porque ali obtive um retorno dos demais participantes, extremamente qualificados, que me aportaram reflexões e críticas tão importantes que praticamente os transformaram em coautores.

Outro aspecto que destaco é o caráter metodológico revolucionário assumido pelo SBPE, proporcionando um espaço inédito para a produção intelectual de autores, grupos de pesquisa e instituições espíritas comprometidas com o pensamento kardecista. Concebido num formato muito simples, em que cada participante pode propor com total liberdade um tema, bastando remeter seu resumo, inscrever-se no evento e dele participar para fazer a sustentação oral e debatê-lo livremente com os demais participantes, o SBPE demonstrou o quanto este tipo de espaço é rico e proveitoso, tanto que assim se mantém desde a primeira edição, com pouquíssimas mudanças, tornando-se referência para outros eventos espíritas. “ O SBPE não ocorrerá mais, tudo na vida tem ciclos e este finda aqui. Mas o que aprendemos a fazer pode ser fácilmente copiado e aprimorado, queremos aqui agradecer as centenas de pessoas que participaram, apoiaram se fizeram presentes, nos acompanharam por todo este tempo e fizeram a história do SBPE.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Curiosidade sobre a musica – Tocando em frente: de Almir Sater por Alexandre Cardia Machado


Curiosidade sobre a musica – Tocando em frente:


Outro dia eu buscava a música de Almir Sater que me agrada muito, acalma minha alma em momentos em que me pego ansioso, o que não é difícil nos dias de hoje, com o nosso rítmo alucinante.
Ao ouvir a música, entrou em seguida pelo youtube uma entrevista do autor, ele conta tranquilamente, que estava sentado na casa de um amigo e que veio em sua mente uma melodia e que ali mesmo, tocando num violão de um menino, faltando uma corda,  em 3 minutos, desenvolveu música e letra.


Para quem quiser conferir a entrevista:




Leiam a letra devagar, sem pressa, pois é uma verdadeira poesia destinada ao bem viver:


Ando devagar
Porque já tive pressa E levo esse sorriso Porque já chorei demais
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no vai embora


Hoje me sinto mais forte
Conhecer as manhas
É preciso amor
Penso que cumprir a vida
Como um velho boiadeiro
Conhecer as manhas
É preciso amor
Todo mundo ama um dia
Cada um…

Na referida entrevista, dada na TV Cultura para Inesita Barroso,  o autor declara que não poderia fazer uma música tão boa, uma letra tão bonita, neste tempo, só poderia ter sido psicografada. Vale a pena conferir e cada que tire a sua conclusão.


Alexandre Cardia Machado
 

Este artigo foi publicado no Abertura de janeiro de 2019, quer ler o jornal completo? Clique abaixo:

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Encontrado planeta sólido, tipo Terra há 6 anos luz de distância por Alexandre Cardia Machado


Encontrado planeta sólido, tipo Terra há 6 anos luz de distância

Cientistas anunciam em novembro a descoberta de um planeta que orbita a estrela de Barnard e, provavelmente, é rochoso. O exoplaneta é congelado e muito pouco iluminado – recebe de sua estrela apenas 2% da luz que a Terra recebe do Sol.

O exoplaneta é congelado e muito pouco iluminado – recebe de sua estrela apenas 2% da luz que a Terra recebe do Sol - Foto: ESO/M. Kornmesser / BBC News Brasil. 

É o segundo exoplaneta - como são chamados os planetas fora do Sistema Solar - mais próximo da Terra já descoberto.

O planeta está na categoria de superterra, ou seja, tem massa maior do que a Terra, mas menor do que os gigantes gasosos do Sistema Solar - por definição, o termo é empregado para planetas com massa de 1 a 10 vezes a da Terra. Barnard b, deve ter uma massa pelo menos 3,2 vezes a da Terra e dá uma volta completa em torno de sua estrela a cada 233 dias.

A descoberta foi realizada por um grupo internacional de astrônomos, unidos em dois consórcios internacionais de busca por planetas rochosos, o Red Dots Project e o Carmenes, e acaba de ser divulgada pela revista científica Nature.

Em termos de distância da Terra, o exoplaneta só está mais longe, dentre todos os já descobertos, do que Proxima b, cuja existência foi anunciada em 2016 e está a pouco mais de 4 anos-luz da Terra.

Vida

"O planeta está localizado a uma distância de 0,4 unidades astronômicas - 40% da distância Terra-Sol - ou 60 milhões de quilômetros de sua estrela", confirma Ribas.

Entretanto, como a Barbard é uma estrela fria e de baixa massa, provavelmente duas vezes mais velha que o Sol, ele está em uma zona em que a temperatura média seria de 170 graus negativos - a luz da estrela de Barnard fornece ao seu planeta apenas 2% da energia que a Terra recebe do Sol.

"Este planeta é muito frio, está fora da chamada 'zona habitável'. Se pensarmos que a água superficial líquida é importante para a vida, este planeta provavelmente não é um bom candidato. No entanto, eu diria que quanto mais podemos aprender sobre pequenos planetas - onde eles são encontrados, do que são constituídos, se têm atmosferas - mais iremos compreender se a Terra é única ou não", comentou à BBC News Brasil a astrônoma Johanna Teske, pesquisadora do Instituto Carnegie de Washington e uma das autoras do estudo.

Para nós espíritas acompanhar a busca por planetas potencialmente habitáveis é uma parte necessidade, pois se existe vida em alguns planetas, lá estarão se desenvolvendo princíos espirituais. Hoje sabemos como é difícil o aparecimento da vida, parecisa muito mais fácil em 1857. Portanto cuidemos de nosso planeta, pois daqui poderá migrar a vida para outros orbes.

Para abrir a sua mente: leia o artigo original, no site da BBC NEWs Brasil: https://www.bbc.com/portuguese/geral-46210585

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A igualdade natural e a farsa do coletivo por Roberto Rufo


A igualdade  natural e a farsa do coletivo

"O perigo de uma meia verdade é você dizer exatamente a metade que é mentira" (Millôr Fernandes).
"Em todo ser humano existe algo de sagrado. Mas sagrada não é sua pessoa. Tampouco a pessoa humana. Sagrado é apenas ele, ser humano" (Simone Weil).

Allan Kardec complementando a resposta dos espíritos à pergunta 803 do Livro dos Espíritos afirma que "todos os homens serão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem com a mesma fraqueza, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destroi como o do pobre. Portanto, Deus não deu, a nenhum homem, superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais".

Se é verdade como dizem os espíritos que os homens procuram a sociedade por instinto e que devem concorrer para o progresso ajudando-se mutuamente, não é menos verdade que o espírito individualmente tomará as decisões por aquilo que se convenciou chamar de livre escolha. Aqui reside o perigo. De qual perigo estou falando? De que essa escolha esteja subordinada a uma obediência cega ao coletivo.

Neste ano de 2018 completou-se 75 anos da desencarnação da pensadora francesa Simone Weil. Morreu jovem aos 34 anos de idade. Recomendo a leitura do livro de sua autoria "Sobre a supressão geral dos Partidos Políticos" da Editora Iluminuras onde aparece também um texto muito instigante denominado "A Pessoa e o Sagrado" abordando a questão do coletivo, da pessoa, o impessoal, o direito e a justiça.

 Concordo plenamente com ela ao afirmar que "a paixão coletiva é uma compulsão para o crime e a mentira infinitivamente mais poderosa que qualquer paixão individual". O nazismo, o fascismo e o comunismo estão aí para comprovar tal afirmação. Segue daí que se uma paixão coletiva toma conta de um país inteiro, o país todo é unânime no crime. Daí a critica feita por Simone Weil aos partidos polítcos, que à sua época teriam se transformado numa máquina de fabricar paixões coletivas. E não seria semelhante  nos dias de hoje?

Para Jesus de Nazaré só o bem é o fim a ser alcançado, quando diz que quem quiser ser o maior que sirva a todos. Isso só é possível pela decisão individual de me construir num homem de bem. Pode e deve influenciar a sociedade ou ser influenciado por ela, mas sua afirmação como espírito livre só existe se não estiver subordinado a nenhuma teoria de cunho coletivo. O problema neste é que inexiste  uma procura do que poderíamos chamar de impessoal a nos ajudar na caminhada da encarnação, algo que a doutrina espírita nos fornece numa dimensão acima do coletivo, o dirigir-se para a verdade.

É uma construção basicamente individual. O que nos garante que teremos sucesso? A existência de uma inteligência suprema e causa primária de todas as coisas. E a lei natural existente na consciência de cada um.

Afirmações tais como a dos espíritos à pergunta 812 "É possível os homens se entenderem"? Falando que os homens se entenderão quando praticarem a lei de justiça, só se concretizará segundo Simone Weil ao se acentuar a primazia da pessoa sobre o coletivo. O bem é o sagrado (não no sentido religioso) e qual seria sua medida: a verdade, a justiça e apenas em terceiro lugar a utilidade pública, ou como se fala na linguagem política dos partidos o "bem públivo" que obviamente no caso dos partidos políticos não é nem um bem, muito menos público, porque é deles partidos. O modo de caminhar baseado no coletivo enquadra-se para mim na resposta à pergunta 781 de que só serviram para entravar a marcha do progresso. 

Precisamos nos "treinar" mais em comportamentos baseados na pessoa humana, naquilo que todos nós temos de reserva impessoal, termo esse que designa algo além dos pensamentos "unificadores". É difícil acostumados que estamos a nos fornecerem as respostas prontas por aqueles que julgam possuir o discurso competente.

O Brasil passou 13 anos sob um regime doutrinador de esquerda e vamos agora, tudo leva a crer, para um regime doutrinador de direita (vide influência das igrejas evangélicas na escolha do Ministro da Educação). Se o coletivo do partido for substituído pelo coletivo religioso, o impessoal de cada ser humano ficará tolhido de manifestar-se, e os "donos do poder " não aceitarão críticas que coloquem em dúvida decisões coletivas. Isso é péssimo, pois passam a aceitar placidamente a corrupção do partido como natural ou necessária e a intolerância religiosa como destino divino.

Tomara eu esteja errado. Oremos.


Roberto Rufo.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A família não morre é perene por Alexandre Cardia Machado


A família não morre é perene

A família do meu pai se parecia com um cenário de literatura, cresci num grupo familiar que havia migrado do interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente de São Francisco de Paula, para Porto Alegre, lá pelos anos 50 do século passado. Logo após a segunda grande guerra.

Meus parentes, da forma como me lembro deles hoje, quando reunidos pareciam-se com personagens saídas de um livro de Erico Veríssimo, minhas tias-avós eram, algumas delas pedagogas, algo incomum à época, meus tios-avôs delegados de polícia, promotores de justiça, militares, ou juízes. As casas, eram cheias de livros nas estantes e as reuniões de família, sempre com muita gente ao redor da mesa e muita conversa sobre diversos assuntos. Aos pequenos nos ofereciam o pátio cheio de árvores frutíferas, cachorros para brincar e um mundo para explorar.

Um de meus tios-avôs era Vice-Consul de Portugal no Rio Grande do Sul e Comendador, pois havia sido instrutor de aviação do Exército Brasileiro, depois Força Aérea logo que chegou de Portugal. Ele havia recebido uma medalha por isto e adorava ser chamado assim. Ele era alto, claro, lutador de esgrima um verdadeiro tipo saído das telas de cinema americano.  Outro tio-avô era piloto da FAB, havia pilotado os B-25 caça bombardeiro especializado na busca de submarinos na segunda-guerra. 

Quase todos os filmes na TV eram de guerra o que transformava a todos eles como quase heróis. Meu pai também era um oficial do exército, para um piá, ser alguém era tudo que se queria. Este ambiente me ajudou a querer participar de alguma forma da construção deste país.

Acredito que este modelo familiar, este arquétipo, foi muito comum à minha geração, que cresceu nos anos 60 e 70. Quase todos meus amigos de infância se formaram em Engenharia.

Desculpe pela nostalgia, não se trata de retrotopia, ao contrário, é que eramos àquela época todos muito alienados, não só os jóvens, acho que todos, não entendíamos o mundo da forma que conhecemos hoje, as informações viajavam muito lentamente não havia TV via satélite e todo o jornalismo funcionava via radio/telex. Além disto vivíamos sob a efeito da censura e toda a propaganda era no sentido de que vivíamos “num país que vai pra frente”.

Descrevo este quadro, pois estes personagens tão marcantes em minha vida,  ajudaram a forjar o meu caráter,todos se ajudavam e sobretudo eram exemplos de integridade. Eles representavam, a energia, e a vontade que todos compartilhavam de ser bons exemplos e de participarem do progresso do Brasil, de construir alguma coisa boa. Impressão esta que me impulsionou.

Descrevi a família do lado de meu pai, a geração dele que hoje estaria beirando ou passando de 80 anos, todos já nos deixaram e foram morar no Plano Espiritual, mesmo nos dias de hoje quando vivemos mais. Este grupo em raras oportunidades conseguiu ultrapassar os 80 anos de idade. Mas deixaram o seu exemplo, o seu caminho trilhado. Por sorte o lado de minha mãe, muito viva ainda, sempre viveu mais. Minha avó materna, por exemplo desencarnou aos 100 anos.

A morte é algo natural, todos sabemos que caminhamos em sua direção, mas por sermos espíritas entendemos que a morte é somente física, nosso espírito segue integro na sua jornada de crescimento. No entanto evitamos falar disso, torna-se para a grande maioria um tabú.  A escritora Muriel Barberi escreveu” viver, morrer são consequências daquilo que se construiu, o importante é construir bem”.

Algumas pessoas se afastam dos mais velhos, refiro-me claro, aos muito mais velhos do que eu. Pela vida que vivi em minha juventude aprendi que não podemos esquecer os mais velhos, pois eles foram jóvens antes e contribuíram, em seu tempo para a construção do mundo que vivemos agora. É hoje que construímos o amanhã e foi ontem que eles construíram o hoje que vivemos. “Nascer, viver, renascer esta é a lei”, nos ensina Kardec. Saber disso é uma coisa, levar numa boa é outra bem diferente. Jaci Régis costumava repetir uma frase que é de autoria de Tom Jobim que é muito verdadeira, o que “a gente leva desta vida é a vida que a gente leva”. Logo viver cada momento é o que importa, pois é a cada momento que criamos, que aprendemos, que planejamos e que executamos.

Além do ADN eles nos transmitiram valores, esta talvez seja a maior influência que a família tem sobre nós, pois cada vez mais temos grupos familiares mais diversos, com ou sem laço sanguíneo, mas a transferência cultural continua sendo o seu forte.

Os espíritas sabem que devem viver bem, harmoniosamente, focados no bem, no caminho da ética. Construir bem o hoje pois isso só contribuirá para o nosso crescimento espiritual e por consequência da sociedade como um todo.

Sou muito feliz, por ter tido esta oportunidade, não só de conviver nos meus grupos familiares iniciais, mas por ter tido a sorte de sempre estar convivendo com muitas pessoas de bem.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Sobre o Amor por Ricardo Nunes


SOBRE O AMOR

O amor, de fato, possui várias dimensões...
O amor por si mesmo, que nos faz aceitar as próprias virtudes e limitações, sem prepotência ou culpa, e, ao mesmo tempo, nos convoca ao aperfeiçoamento.
O amor do pai e da mãe, biológicos ou não, por um filho. Amor imenso, qual um oceano, que desvela novo sentido para a vida.
O amor dos filhos pelos pais. Amor que se expressa em necessidade de proteção, conselho e segurança.
O amor de um avô e de uma avó por um neto ou neta. Amor doce com gostinho de infância feliz.
 O amor pela família, que apesar de ter sua origem no sangue, não está isento de conflitos e contradições.
O amor romântico dos casais, que empresta colorido e alegria à vida.
O amor pelos amigos, que se expressa pela afinidade de ideias e ideais. Pelo prazer de estar junto, de compartilhar a música, o vinho, e os sentimentos.
O amor pelos inimigos, a mais desafiadora expressão do amor.
O amor pelos animais, essências imortais, em início de trajetória evolutiva.
O amor pela natureza, que nos faz admirar a unidade na diversidade, em uma escala infinita de beleza, luz, cores e vida.
O amor pelo trabalho, que além de garantir o pão, nos oferece uma razão   para acordar pela manhã.
O amor pela arte, que nos convida à contemplação do belo e ao exercício de novos olhares sobre o mundo.
O amor pela filosofia, que se traduz na busca permanente da verdade, a qual se afasta de nós a cada passo conquistado.
O amor pela ciência, que tem o potencial de melhorar a vida.
O amor pelo espiritismo, que nos descortina os horizontes da imortalidade.
O amor pelo transcendente, que tem o poder de nos ligar a Deus.
O amor por um ideal, que nos faz enxergar além de nós mesmos, além de nossas pequenas preocupações cotidianas.
O amor pela democracia, que nos ensina o respeito às ideias de liberdade, igualdade, justiça e diversidade.
O amor pela humanidade, que nos faz enxergar em cada ser humano um irmão.
O contrário do amor é o ódio. O ódio separa, fere e mata.

Que o amor ilumine o nosso caminho!