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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A família não morre é perene por Alexandre Cardia Machado


A família não morre é perene

A família do meu pai se parecia com um cenário de literatura, cresci num grupo familiar que havia migrado do interior do Rio Grande do Sul, mais precisamente de São Francisco de Paula, para Porto Alegre, lá pelos anos 50 do século passado. Logo após a segunda grande guerra.

Meus parentes, da forma como me lembro deles hoje, quando reunidos pareciam-se com personagens saídas de um livro de Erico Veríssimo, minhas tias-avós eram, algumas delas pedagogas, algo incomum à época, meus tios-avôs delegados de polícia, promotores de justiça, militares, ou juízes. As casas, eram cheias de livros nas estantes e as reuniões de família, sempre com muita gente ao redor da mesa e muita conversa sobre diversos assuntos. Aos pequenos nos ofereciam o pátio cheio de árvores frutíferas, cachorros para brincar e um mundo para explorar.

Um de meus tios-avôs era Vice-Consul de Portugal no Rio Grande do Sul e Comendador, pois havia sido instrutor de aviação do Exército Brasileiro, depois Força Aérea logo que chegou de Portugal. Ele havia recebido uma medalha por isto e adorava ser chamado assim. Ele era alto, claro, lutador de esgrima um verdadeiro tipo saído das telas de cinema americano.  Outro tio-avô era piloto da FAB, havia pilotado os B-25 caça bombardeiro especializado na busca de submarinos na segunda-guerra. 

Quase todos os filmes na TV eram de guerra o que transformava a todos eles como quase heróis. Meu pai também era um oficial do exército, para um piá, ser alguém era tudo que se queria. Este ambiente me ajudou a querer participar de alguma forma da construção deste país.

Acredito que este modelo familiar, este arquétipo, foi muito comum à minha geração, que cresceu nos anos 60 e 70. Quase todos meus amigos de infância se formaram em Engenharia.

Desculpe pela nostalgia, não se trata de retrotopia, ao contrário, é que eramos àquela época todos muito alienados, não só os jóvens, acho que todos, não entendíamos o mundo da forma que conhecemos hoje, as informações viajavam muito lentamente não havia TV via satélite e todo o jornalismo funcionava via radio/telex. Além disto vivíamos sob a efeito da censura e toda a propaganda era no sentido de que vivíamos “num país que vai pra frente”.

Descrevo este quadro, pois estes personagens tão marcantes em minha vida,  ajudaram a forjar o meu caráter,todos se ajudavam e sobretudo eram exemplos de integridade. Eles representavam, a energia, e a vontade que todos compartilhavam de ser bons exemplos e de participarem do progresso do Brasil, de construir alguma coisa boa. Impressão esta que me impulsionou.

Descrevi a família do lado de meu pai, a geração dele que hoje estaria beirando ou passando de 80 anos, todos já nos deixaram e foram morar no Plano Espiritual, mesmo nos dias de hoje quando vivemos mais. Este grupo em raras oportunidades conseguiu ultrapassar os 80 anos de idade. Mas deixaram o seu exemplo, o seu caminho trilhado. Por sorte o lado de minha mãe, muito viva ainda, sempre viveu mais. Minha avó materna, por exemplo desencarnou aos 100 anos.

A morte é algo natural, todos sabemos que caminhamos em sua direção, mas por sermos espíritas entendemos que a morte é somente física, nosso espírito segue integro na sua jornada de crescimento. No entanto evitamos falar disso, torna-se para a grande maioria um tabú.  A escritora Muriel Barberi escreveu” viver, morrer são consequências daquilo que se construiu, o importante é construir bem”.

Algumas pessoas se afastam dos mais velhos, refiro-me claro, aos muito mais velhos do que eu. Pela vida que vivi em minha juventude aprendi que não podemos esquecer os mais velhos, pois eles foram jóvens antes e contribuíram, em seu tempo para a construção do mundo que vivemos agora. É hoje que construímos o amanhã e foi ontem que eles construíram o hoje que vivemos. “Nascer, viver, renascer esta é a lei”, nos ensina Kardec. Saber disso é uma coisa, levar numa boa é outra bem diferente. Jaci Régis costumava repetir uma frase que é de autoria de Tom Jobim que é muito verdadeira, o que “a gente leva desta vida é a vida que a gente leva”. Logo viver cada momento é o que importa, pois é a cada momento que criamos, que aprendemos, que planejamos e que executamos.

Além do ADN eles nos transmitiram valores, esta talvez seja a maior influência que a família tem sobre nós, pois cada vez mais temos grupos familiares mais diversos, com ou sem laço sanguíneo, mas a transferência cultural continua sendo o seu forte.

Os espíritas sabem que devem viver bem, harmoniosamente, focados no bem, no caminho da ética. Construir bem o hoje pois isso só contribuirá para o nosso crescimento espiritual e por consequência da sociedade como um todo.

Sou muito feliz, por ter tido esta oportunidade, não só de conviver nos meus grupos familiares iniciais, mas por ter tido a sorte de sempre estar convivendo com muitas pessoas de bem.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A reencarnação na História da Humanidade - por Jaci Régis


A reencarnação na História da Humanidade


A idéia da reencarnação é conhecida desde a mais remota antiguidade. Mas perdeu-se no emaranhado das superstições e do misticismo, refletindo as dificuldades da cultura em desvencilhar-se das pressões atávicas a respeito da relação da criatura e o Criador.

A vivência dos problemas cotidianos, a fragilidade do ser humano diante da natureza, fomentou uma relação casual entre os humores dos deuses e os sofrimentos baseada no medo, na condição de culpa, castigo, desobediência e punição.

Dentro desse quadro confuso, criaram-se seitas fundamentadas em crendices e superstições, seitas baseadas em crendices e superstições acerca da reencarnação. Por isso, a metempsicose foi aceita largamente por simbolizar o castigo mais cruel imposto ao pecador, fazendo com que, sendo uma pessoa humana, reencarnasse num animal. Até um filósofo como Pitágoras a aceitou e difundiu.

            A reencarnação é muito aceita na cultura asiática, mas não teve uma ação social redentora, revolucionária. Ao contrário, propiciou uma atitude contemplativa, conformista e acomodatícia. Em culturas como a indiana, a reencarnação não evitou, ao contrário, deu certa consistência à separação em castas sociais, mantendo um estado de flagelo para os mais pobres e desafortunados.

            A cultura ocidental sofreu sucessivas transformações até cristalizar-se, de uma maneira geral, sob a égide da Igreja, com a visão judaico-cristã. A predominância da religião como centro de conhecimento e comportamento, criou uma forma não racional de ver e compreender o ser e o mundo.
            Embora espiritualista, a Igreja não aceitou a reencarnação e fixou-se na unicidade da existência. Com isso estabeleceu o princípio de finitude e concretude para o ser humano. Ele é produto biológico ao qual se adiciona uma alma. Vive um certo tempo e morre e aí finda seu período produtivo. A imortalidade da alma é reflexo da existência terrena e não apresenta qualquer oportunidade de reciclagem, uma vez que após o período da encarnação da alma está definitivamente catalogada como boa ou má.

            Logo, a pessoa humana é um ser com trajetória fixada entre o berço e o túmulo. Na cultura isso significa que ele é concreto, definido e mortal.

            Toda a estrutura doutrinária da Igreja se funda no pecado original. A moralidade e a culpa se inserem na cultura como instrumentos de como preparatória para a vida eterna.

            Certamente a idéia de punição pela desobediência e até pelos humores dos deuses e de Deus não é exclusiva do judaico-cristianismo. Mas a adoção do deus Jeová dos judeus, manteve a relação criatura-Criador dentro dos limites do medo, terror e insegurança.


A Reencarnação no Espiritismo

A reencarnação, todavia, não é um princípio solitário e autônomo no pensamento kardecista. Faz parte de um corolário de leis que se encadeiam e dá um novo sentido, uma nova visão de vida e da pessoa.

            O projeto espírita é abrangente e inovador. Ele aproveita velhos conceitos sobre a natureza do ser humano, o progresso, sobre Deus e os redefine, atualiza, dando-lhes novas dimensões e refugando superstições e crendices.

            A Doutrina Kardecista procura escoimar seus princípios das concepções místicas procurando dar-lhes uma base científica, caminho que Kardec definiu para dar validade à proposta doutrinária.

            A doutrina kardecista reformula o entendimento sobre a Justiça Divina, que tem sido vista como uma forma policial, punitiva, exigindo pagamento. Para isso apresenta uma nova compreensão da lei de causa e efeito, geralmente tomada no seu aspecto negativo, de expiação. Para a doutrina kardecista, a Justiça Divina, ao contrário, só tem por objetivos dar oportunidade de crescimento e ampliação das qualidades do ser espiritual.

A reencarnação, como foi dito, é um elo no processo evolutivo a Lei da Evolução, uma concepção revolucionária do Espiritismo que ajuda a entender o ser humano e o mundo.

Texto extraído do livro Novas Ideias de Jaci Régis

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Abrindo a Mente - O que significa Modelo Conceitual – Doutrina Kardecista? por Alexandre Cardia Machado

Abrindo a Mente


O que significa Modelo Conceitual – Doutrina Kardecista?


Recentemente fui surpriendido por esta pergunta, vinda da platéia enquanto eu proferia uma palestra, ainda que em nosso ambiente, miutas vezes não nos damos conta de que nem todos conhecem a história recente do movimento Laico.

Respondi que havia sido uma proposta de atualização de alguns conceitos, claramente ultrapassados e que precisavam de um novo vigor, ar fresco e que havia sido uma proposta para discussão de Jaci Régis.

Extraíndo d capítulo entitulado “explicação” trago aqui as palavras do autor:

“ Este trabalho é a apresentação de um modelo conceitual, desenvolvido a partir de uma análise crítica e releitura da obra de Allan Kardec.
Cento e cinqüenta anos depois do lançamento de O Livro dos Espíritos, as idéias básicas por ele lançadas continuam válidas. Entretanto, dois fatores evidenciam a necessidade dessa releitura. O aspecto evolutivo do Espiritismo, que permite analisar os progressos realizados pela sociedade humana nesse período e incorporá-los, equilibradamente e a sua transformação em religião, que tende a fraudar seus conceitos revolucionários.

Somente o pensamento religioso pode afirmar que nada precisa mudar, nem atualizar.
Existe um fato inegável, criou-se uma divisão talvez irremediável entre os adeptos. Os que praticam o Espiritismo como uma religião, sendo a grande maioria e os que o entendem como uma reflexão positiva, dinâmica, mas desvinculada do culto, dos rituais que compõem necessariamente o  pensamento religioso.

Parece que o ponto de discórdia nesse processo divisório, é o papel de Jesus de Nazaré. Se aceito como o Cristo formatado pela Igreja, conduz ao dogmatismo e à idolatria e liga o Espiritismo aos cultos cristãos. Se olhado sob a luz do processo evolutivo, torna-se o Mestre, o homem superior com missão especial.

Nosso propósito é apresentar um elenco de idéias em linguagem desvinculada do cristianismo, quer dizer das igrejas cristãs.

A Doutrina Kardecista quer caminhar aberta ao novo, sem perder as raízes do pensamento de Allan Kardec. Santos, março de 2008. Jaci Régis”

Jaci produziu uma brochura, que o ICKS ainda tem disponível para venda, convidou para o debate muitos pensadores, apresentou o seu modelo em várias cidades, nem sempre convencendo, mas de alguma forma divulgando as suas ideias.

Hoje, se analisarmos veremos que muitas de suas contribuições fazem parte de diversos discursos e foram absorvidas, não foi bem assim há nove anos atrás. Claro nem tudo, e nem todos os conceitos novos vingaram, mas vale a pena reler.

Para abrir mais a sua mente: Leia  DOUTRINA KARDECISTA - Modelo Conceitual (reescrevendo o modelo espírita) de Jaci Regis, 1º edição - Março de 2008. Edições ICKS


sexta-feira, 7 de julho de 2017

É possível ser livre-pensador espírita? por Alexandre Cardia Machado

É possível ser livre-pensador espírita?

Muitos de nós já nos fizemos esta pergunta, seria possível ser livre-pensador espírita? O fato de nos auto denominarmos espíritas, já não trás consigo uma série de restrições ao pensamento?
Tentando responder esta inquietação, poderíamos pensar que ter o pensamento livre nos permite ir além dos conceitos originais da Kardequiana, comparar o que foi dito e pesquisado, ao tempo de Kardec, com os avanços das diversas áreas do conhecimento humano atuais. Podemos também incoporar novos ensinamentos espirituais, desde que façam sentido.

Ser livre-pensador é não aceitar amarras, outras que não sejam as do limite da razão, é questionar o até então considerado verdade, buscando sempre um novo aprofundamento, uma nova abordagem, ou mesmo uma nova aplicação para um determinado conhecimento.

Trazer novos conhecimentos, para o âmbito do Espiritismo, nos torna Livre-Pensadores Espíritas. A espiral do saber não para nunca, quando algo novo é descoberto, volta-se ao que sabíamos antes e por obrigação, devemos repensá-lo, este é o método científico. A cada evolução de instrumentos de medição, de métodos de estudos, de novos estudos publicados, outras pessoas podem apoiar-se sobre este conhecimento e fazer novas perguntas, novos testes, enfim aprimorar o conhecimento até então dominado sobre uma área de saber.

Esta sistema de perguntar e testar as respostas é o que produz o conhecimento, as perguntas movem o mundo, através de novas respostas. Isto acontece em todas as áreas. Esta é a razão principal de Allan Kardec escrever, no livro a Gênese que: “Assimilará as idéias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade”.

Ser livre-pensador é ser questionador, inconformado, ser culto, integrado, atualizado, ser livre-pensador é ser progressista por natureza, pois estaremos sempre pensando em coisas novas, novas perspectivas, um novo olhar.

Estas considerações, não se restringem apenas ao aspecto científico, vale para tudo, para uma análise social, para uma abordagem poética, não importa. O mundo muda o tempo todo, os conceitos evoluem, novos problemas éticos surgem e merecem uma nova observação e um novo pensamento sobre eles.

Aqui está a beleza, a estética de uma Doutrina em permanente mutação. Mudanças estas que devem ser feitas observadas algumas condições que permitam a formulação deste pensamento livre e isto seria através do método científico. Recorro a Reinaldo di Lucia, em seu trabalho “ EPISTEMOLOGIA E CIÊNCIA ESPÍRITA - Contribuição para Debate” donde extraio:

“Assim, podemos definir os princípios do moderno método científico:

- A experimentação, através da qual se pode comprovar ou não a teoria, e que permite a repetição por qualquer cientista convenientemente aparelhado.

- A universalidade, isto é, a confirmação dos experimentos em diversos locais por diversos cientistas.

- O critério de falseabilidade, que permite que uma teoria possa ser falseável, para que possa, também, ser convenientemente demonstrada.

- A quantificação, que permite uma delimitação precisa do "até onde" podemos considerar válida a teoria. A partir da definição do princípio da incerteza, esta quantificação passou a incluir, necessariamente, critérios estatísticos.

Seguir estes passos, garantem ao menos uma ordem, um processo facilmente reproduzível, explicável, e vale, como já mencionamos, para todos os aspectos do conhecimento.

Assim voltando à questão de ser Livre-pensador Espírita, sim, temos limites metodológicos e de princípios. Pois se ao estudarmos, refletirmos, venhamos a mudar algum ponto central do Espiritismo, alteraremos tanto a Doutrina que ela necessariamente passaria a ser outra coisa. Agora se este princípio central se demonstrar errado, não haveria outro caminho a seguir senão denunciá-lo, pois não poderíamos admitir um erro central no Espiritismo, pelo medo de balançar as estruturas. Este risco tem que estar presente sempre, pelo bem do progresso do conhecimento. Este seria quem sabe exatamente este ponto que diferencia o Espiritismo de uma religião.

Este risco é intrínseco ao Espiritismo, desde a sua fundação, pois Kardec o considerava progressivo: do trabalho do ICKS - Pode o Espiritismo ser considerado Ciência da Alma?  Uma análise epistemológica da  proposta do pensador espírita Jaci Régis


“Porque já dizia que o Espiritismo terá que estar alinhado ao desenvolvimento das ideias que contribuem para o melhor entendimento do homem.
É progressista porque atendendo os anseios da alma que está em evolução acompanhará as mudanças e crescimento para atender os seus conflitos, problemas, respondendo as suas inquietações.

As regras de moralidade e as relações sociais e interpessoais progridem e a ciência da alma terá que interagir com estas mudanças, influindo e sendo influenciada para que siga progredindo.”
Este caráter de progresso atende a lei de progresso e é sustentado por Kardec na criação da Doutrina Espírita num de seus postulados como coloca Jaci no livro Doutrina Kardecista “é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a sabedoria de abrir o caminho para o progresso, de tal forma que seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas idéias e mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se, que seria, disse, o suicídio da doutrina”.

Reafirmado no livro A Gênese “Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que se apoiando em fatos, tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação...”

Portanto, ser Livre-Pensador Espírita obriga a pensar com responsabilidade, visando o aprimoramento e atualização de uma Doutrina que tem a capacidade de abrir um caminho para o engrandecimento da sociedade, de uma maior compreensão da sua imoratalidade dinâmica.
O jornal Opinião de Porto Alegre publicou em sua última edição de Janeiro/Fevereiro um artigo denominado “Os Espíritas são Livres-Pensadores” de onde extraio uma frase muito interessante de Allan Kardec “ O Livre-pensamento eleva a dignidade do homem, dele fazendo um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer”.

Recorro a Allan Kardec, que na revista Espírita no ano de 1867 escreve um artigo denominado “ Livre Pensamento e Livre Consciência” que foi analisado aqui no ABERTURA na coluna Revista Espírita em Foco de Julho de 2016, lá Kardec assim se refere “ é o Espiritismo, como pensam alguns, uma nova fé cega substituíndo a outra fé cega? Por outras palavras, uma nova escravidão do pensamento sob nova forma? Para o crer, é preciso ignorar os seus primeiros elementos. Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender. Ora, para compreender há que usar o raciocínio ... Não se impõe a ninguém; diz a todos: Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente, se vos convier”. Acredito que o que precisa ser dito está mais do que exposto.

Alexandre Cardia Machado




sexta-feira, 12 de maio de 2017

O Laço Mental - Alexandre Cardia Machado

O Laço Mental




Krisnamurti de Carvalho Dias no seu livro O Laço e o Culto fala sobre a religião como um laço, uma união entre pessoas que comungam da mesma ideia.

Muitas vezes nos perguntam se o jornal ABERTURA tem uma pauta, uma reunião de definição de assuntos que devem ser escritos. A verdade é que isto não existe, temos sim em muitas edições um laço mental entre os articulistas.

Esta edição é uma delas, temos dois artigos que tratam profundamente do livre-pensamento, um de nosso editor Alexandre Machado e outro de Ricardo Nunes, na coluna do CPDoc. São artigos que se complementam e ajudam a propagar nossa maneira de pensar o mundo.

Reinaldo di Lucia tem seu trabalho, apresentado no SBPE em 1995 citado no editorial abaixo e também parcialmente reproduzido na coluna Espiritismo para o Século XXI.

Roberto Rufo, na coluna Fato Espírita comenta o livro Revolução Espírita de Paulo Henrique de Figueiredo, este que estará em Santos em Março no 12° Forum do Livre-Pensar da Baixada Santista, vejam os detalhes na capa do Abertura.

Creio que estas coincidências, são na verdade união de pensamento, demontra a força de nosso pensamento plural, livre-pensador. Na página 8, Roberto Rufo aborda a questão do preconceito de cor algo que ao tempo de Kardec, já haviam algumas considerações, mas que nos dias de hoje, todo este modo de ver e pensar foi atualizado e o Espiritismo não pode ficar para trás. Hoje nosso grupo enfrenta de frente todo e qualquer ataque à liberdade do ser humano.

Esta força plural, aberta, nos motivou a mudar um pouco nosso logotipo, queremos reforçar a ideia de abertura de pensamento e de pluralidade. Nosso jornal tem o subtítulo Jornal de Cultura Espírita o que nos impulsiona para a necessidade de nos abrirmos aos fatos. Tem também em sua barra azul a frase Espiritismo – Ciência da Alma, pois o que importa mais ao espiritismo são as coisas que afetam o ser humano e sua alma encarnada.

Já temos hoje um conjunto de ideias estabelecidas que cada vez mais nos aprofundamos, buscando com isto desenvolver o progresso do Espírito, foco da Ciência da Alma. O nosso movimento progressista já é um segmento separado do Espiritismo à Brasileira, somos um grupo que trabalha, dedica-se a ratificar a ideia de um Espiritismo Livre-Pensador.

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura - Janeiro/Fevereiro de 2017


quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Problemas da Puberdade - por Jaci Régis

PROBLEMAS DA PUBERDADE

Jaci Regis

O episodio das pulseirinhas coloridas que as adolescentes usam  como indicação visual de seus desejos  de relacionamento sexual chamou a atenção para o que todos sabemos:a extrema vulnerabilidade dos púberes, adolescentes.

A aceleração das mudanças do comportamento social que ocorreram a partir principalmente da segunda metade do século vinte deveria ser a principal preocupação da sociedade.

As novas premissas e os desmantelamento dos velhos padrões e a dilatação dos limites da liberdade de agir, criaram rotas de colisão a que a maioria adere levadas pelo vendaval de mudanças que serve, sobretudo, para atender os desejos das pessoas.

A sexualidade reprimida pelo cristianismo explode agora sem uma ponderação. Destruídas as bases da repressão cristã, o materialismo surge como resposta natural, porque motiva a busca do prazer como única resposta capaz de dar algum sentido à vida corpórea.

Todavia, a estrutura psicológica da pessoa baseia-se em valores que foram estabelecidos ao longo da evolução social e, mais precisamente, na construção de uma individualidade espiritual que, na atualidade, continua precária no seu equilíbrio e no discernimento das razões da vida corpórea.

Não se trata, como muitos supõem,  de restabelecer as crenças antigas, de resto impossível. Mas de encontrar alguma base para o porquê da vida em termos de satisfação de modo que o prazer se espraie como força criativa, sem dilacerar, como tem acontecido,  a própria pessoa.

Porque nosso equilíbrio emotivo, nosso universo intimo, baseado, sobretudo,  na emoção responde de formas auto agressivas, penalizando a alma, destruindo a esperança e criando doenças de fundo espiritual ou psicológico, que trazem a infelicidade e, muitas vezes, precipitam a pessoa no abismo da insanidade moral e mental.

A noção evolutiva das vidas sucessivas

Na visão pós-cristã as vidas sucessivas, são entendidas como um instrumento da evolução. Mostra-nos que os mecanismos da vida corpórea foram desenvolvidos para proporcionar o aprendizado indispensável para a estruturação de uma individualidade equilibrada e, ao fim, feliz.
Isso nos permite definir a vida corpórea como um hiato evolutivo da vida da alma, do Espírito, atemporal e imortal.

O fato de ser considerada um hiato, não diminui, nem subestima o valor da vida corpórea...

Ao contrário, sendo esse hiato fundamental para o desencadeamento das potencialidades intrínsecas do Espírito, seu valor deve ser colocado no devido lugar.

Em conseqüência podemos afirmar:

·                     A encarnação é um fato natural,  cada encarnação é como se fosse a primeira;

O processo reencarnatório produz em cada encarnação um novo ser. Todo o mecanismo da produção de uma nova experiência corpórea conduz à criação de uma experiência traumática para o Espírito, de modo que ele entre na vida basicamente “nu”, como é o bebe.. Ou seja, despido de perispirito, personalidade, lembranças, como uma página em branco do livro da existência.

·                     Esquecimento do passado;
·                      
Sendo atemporal, o Espírito, traz em si a permanente atualidade de seus méritos e deméritos. Inseridos na estrutura dinâmica de seu desenvolvimento ético e intelectual. O processo de desestruturação ocorrido durante a gestação produz um estado de latência da memória e desfaz a personalidade atual.
·                     Reestruturando a si mesmo;
·                      
Vencido o período inicial, bem ou mal conduzido, o Espírito entra no período de reestruturação ou, seja, criar uma personalidade adequada ao momento em que vive, de modo a poder relacionar-se com o mundo exterior como alguém que chega pela primeira vez. Tentando situar-se no mundo.

Terá vivido pelo menos sete anos.

Ai começará a reconstruir  seu caráter forjado pelos valores da família e pela auto-herança que traz como individualidade permanente...

Enfim, preparando-se para a grande virada - a puberdade.

·                     Puberdade
                      
Aos antigos limites da puberdade foram corrompidos pela precipitação moderna ao despertar das paixões.

Quando entra na puberdade, a criança se defronta com desafios que não esperava.

Saindo da infância agora ele é desafiado a definir seu destino mais próximo.

A sexualidade é um desafio presente na explosão natural da emotividade e das realidades biológica.

É época de afirmação pessoal, de encontrar parceiro, de ser aceito no grupo em que se situa. E atualmente o relacionamento sexual está na base desse relacionamento grupal, com todos os problemas que, muitas vezes, desencadeia.

A sexualidade não se manifesta como uma linha reta, mas  muitas vezes, tortuosa. E a realidade sensível se conturba em muitos adolescentes, pressionados pelas dúvidas e questões internas e o ambiente externo. O que preocupa é a prematura adesão ao jogo sexual, sem um mínimo de maturidade física e psicológica.

A sexualidade natural  em jovens saudáveis e relativamente equilibrados, na idade certa parece ser o menor perigo.

O perigo está na gravidez precoce. Nas doenças sexualmente transmissíveis. No desvão da sexualidade compulsiva e nos conluios desviantes das emoções.

Talvez a maior parte dos jovens passe a puberdade e chegue à idade da juventude mais equilibrada, mais ou menos bem, ou seja, sem traumas maiores, mas nem por isso sem seqüelas emocionais.

Outro caminho dificil é o apelo ao álcool e às drogas ilícitas. Na verdade esse caminho não raro é sem volta.

Procura-se as causas da adesão tão grande de adolescentes ao uso de drogas, isso em todas as camadas sociais. Ousaríamos pensar que decorre do vazio intrínseco, depositado na alma imortal, que não foi suficientemente superado na infância, devido a falhas de relação com os pais ou pela rebeldia em aceitar qualquer disciplina ou limites, fomentados nas mentes  em viez de pseudo independência próprios de almas imaturas que pretendem superar os complexos pela ousadia ou pelo enfrentamento das regras sociais.

Outro desafio que o adolescente enfrenta é o futuro econômico. Aí precisa ter animo e estimulo para estudar e criar uma profissão.

Um fator moderno é a ligação compulsiva ou de fuga com o computador. Em famílias sem bases autenticas de relacionamento e disciplina, jovens se ligam aos programas da Internet como fuga da realidade, vivendo num mundo virtual, onde exercitam suas emoções sexuais e seus desvios sensíveis, ligados e isolados em seus quartos ou lugares isolados.Também entram nesse rol, as necessidades ou não do trabalho precoce, desviando do estudo e limitando o futuro profissional a níveis inferiores, marcando a vida e as relações do futuro.

NR: Artigo Publicado no Jornal Abertura de outubro de 2015


segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Espiritismo para o século 21 - O que queremos - por Alexandre Machado

Espiritismo para o Século XXI - O que queremos

 “ Eu não tenho talento especial; eu sou apenas um curioso apaixonado” – Albert Einstein




Objetivo desta coluna

Iniciamos este mês esta coluna destinada a registrar contribuições feitas por espíritas livre-pensadores que através de seu trabalho de pesquisa, estudo ou elaboração filosófica produziram material inovador, contribuindo para o desenvolvimento do Espiritismo Laico.

Jaci Régis estava muito focado em estimular a atuação de nosso grupo livre-pensador, sua grande procupação estava ligada à nossa capacidade de produzir conhecimento. Este foi quem sabe o maior motivador da criação do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que neste momento está na fase de preparação para a sua 15ª edição.

Jaci assim se referia à questão da produção de novas ideias:

“ A resistência às novas ideias é um fato real, porque as pessoas tendem a se acomodar com o que aceitam como verdade. Embora a dinâmica da cultura, a tendência é manter e cristalizar as verdades conhecidas, o que sugere conforto e tranquilidade.” ( Resistência às novas ideias – Jaci Régis, Abertura Outubro 2007)

Evidentemente que este jornal, busca permanentemente trabalhar para a consolidação das ideias renovadoras, buscando agir conforme ensinado por Allan Kardec. Sabemos do enorme desafio que temos pela frente. Para reforçar a importância e a dificuldade da tarefa destacamos algumas considerações de Régis:

“Embora teoricamente o Espiritismo seja uma Doutrina progressiva e progressista, a tendência é manter o conhecimento atual num patamar estável, senão intocável”.

Todavia, o Espiritismo foi estruturado para manter-se atualizado, acompanhar o desenvolvimento das ideias e das alterações das verdades consagradas.

O ponto crucial é a estrutura mental do espírita.

Ele precisa mobilizar suas energias, sua inteligência, seu tirocínio para que o Espiritismo não permaneça à margem do progresso e, simultaneamente, manter seu eixo de consciência e consistência doutrinária.

Esse perfil do adepto do Espiritismo foi desenhado por Kardec ao criar uma Doutrina sui generis que se propõe a se auto revisar, evoluir e crescer”. ( Resistência às novas ideias – Jaci Régis, Abertura Outubro 2007)

Allan Kardec em seu livro Obras Póstumas, que como todo sabemos foi editado bem depois de sua desencarnação, utilizando-se de textos que Kardec haviavinha trabalhando e que nos deixa tres pontos importantes sobre o futuro do Espiritismo:

O primeiro ponto não tem a ver com o propósito deste artigo, e trata da formação de seitas ou dissidências que não considerassem todos os princípios espíritas.

O segundo trata de não sairmos, no processo de atualização, do campo das ideias práticas e em terceiro, trata do caráter essencialmente progressista da Doutrina.

Resumindo:
“ Se é certo que a utopia da véspera se torna muitas vezes a verdade do dia seguinte, deixemos que o dia seguinte realize a utopia da véspera” ou seja um pouco de prudencia não faz mal.

“Apoiada tão só nas leis da Natureza, não pode variar mais do que estas leis; mas, se uma nova lei for descoberta, tem ela que se por de acordo com essa lei, não lhe cabe fechar a porta ao progresso, sob pena de suicidar-se. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituíndo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.”(Obras Póstumas – páginas 348 e 349).

Complementamos com as palavras de Jaci Régis, ressaltando o trabalho que temos seria conveniente que realizássemos:

“Diante desse quadro, a pretensão de Kardec de criar uma mentalidade capaz de mudar, de aceitar o novo, de reconstruir, a cada momento específico, o conjunto de verdades aceitas parece cada vez mais distante”. ( Resistência às novas ideias – Jaci Régis, Abertura Out/ 2007)

Sobre como fazer isto, nos deixou um caminho que buscamos caminhar nesta coluna.
“ Os espíritas que se consideram progressistas, leigos, precisam pensar em pesquisas, releituras, descobertas de novos caminhos, novas linguagens.”

A inserção dos conceitos espíritas na discussão e solução dos problemas humanos atuais é uma necessidade crescente.

Porque, caso contrário, a Doutrina ficará à margem como uma religião estática, tendendo a seguir os passos da Igreja, como tem acontecido.

O trabalho é urgente, porque a cultura adotou uma visão do Espiritismo que o aproxima dos cultos religiosos mais atrasados. O Centro Espírita, tomado como pronto socorro, hospital, etc. Não consegue, de modo geral, adeptos, mas clientes”. ( Produzindo ideias – Jaci Régis, Abertura Abril 2009)

“Estamos carentes de produções com conteúdo, com respaldo em investigações e conexão com os temas da ciência, da política, da filosofia.

Mergulhar na reflexão, na investigação, na busca de respostas e apresentar suas descobertas, suas posições, provocando o debate, o questionamento”. ( Produzindo ideias – Jaci Régis, Abertura Abril 2009)

Portanto, o papel dos laicos em resumo é:

“ O grupo de espíritas que se auto-denomina de laico, compões uma fração pequena do movimento espírita.
Ser laico exige uma renovação mental para que  não se patine no mesmo refrão anti-religioso, mas avance no sentido de penetrar no pensamento de Allan Kardec e torná-lo atual, capaz de revolucionar o entendimento humano.
O dinamismo do pensamento espírita precisa ser acelerado e explorado pelos laicos de maneira muito mais agressiva e produtiva do que tem sido”. ( O papel dos Laicos – Jaci Régis, Abertura Agosto 2009)

Nesta coluna portanto estaremos trazendo uma releitura do vasto material produzido nas diversas edições dos Simpósios Brasileiros do Pensamento Espírita, que tiveram a capacidade de resignificar e avançar no conhecimento espírita.

Alexandre Cardia Machado

NR: Publicado originalmente no Jornal Abertura - novembro de 2016


Alexandre Cardia Machado

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sobre a Morte e o Morrer - por Alexandre Cardia Machado

Sobre a Morte e o Morrer

Durante muitos anos o ICKS, através de Jaci Régis, promoveu seminários com este tema, sempre muito concorridos. A principal razão disto é que mesmo sendo a morte uma certeza, temos todos medo da mesma.

Como espíritas, não deveríamos temer a morte e filosoficamente não tememos. Mas no dia a dia é que a coisa pega.

Os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e socorristas são treinados para enfrentar o inevitável, fazem tudo o que é possível para evitar, mas ao mesmo tempo, precisam estar preparados para o pior.

Veja que ao nos referirmos à morte, falamos em pior, certeza, preparação. Como reencarnacionistas, sabemos que a vida física é apenas uma metade de nossa existência, sabemos que sobrevivemos à morte física e seguimos vivendo como espíritos imortais que somos.

Pela intensidade da vida cotidiana, muitas vezes nos esquecemos disto e pensamos igual aos não espíritas. Pode ser que seja pelo instinto, ou por amarmos muito a vida e os que aqui estão conosco, mas deveríamos nos esforçar para viver bem, considerando que a morte sempre é uma possibilidade presente. Valorizar o presente sem descuidar do preparo espiritual, sempre focados no fazer o bem, amar e ajudar nossos filhos e amigos.

Jaci Régis sempre repetia uma frase que incorporou em sua bagagem, durante sua proveitosa vida, “o que se leva desta vida é a vida que a gente leva”. Jaci nos deixou de forma inesperada, sem preparação... tudo em que trabalhava intensamente, de um dia para o outro, ficou órfão. Acredito que Jaci não ficou muito preocupado, pois sempre dizia que enquanto estivesse vivo, faria o máximo esforço para levar suas ideias e projetos em frente.

Todos os projetos seguiram em frente, outros ocuparam o seu lugar. Ninguém é insubstituível, por melhor que sejamos. O que for importante seguirá, se o mestre for bom, os alunos saberão o que fazer.

Jaci, sabemos hoje, está integrado em várias atividades no mundo dos espíritos. Os sucessores aqui estão no ICKS, na Lar Veneranda, já antes de sua desencarnação. O CEAK, onde foi presidente por muitos anos,  seguia seu caminho sem precisar dele.  Me refiro a Jaci por ser um exemplo à todos em nosso grupo livre pensador, de alguma forma ao citá-lo todos nós de certa forma nos sentiremos tocado. Mas muitos outros passaram por aqui e deixaram também as suas marcas. Esta é a lei da vida, é o projeto Divino, através da lei de progresso, da reencarnação e da evolução infinita.
Não precisamos morrer antes do tempo, com excessivos cuidados, não tomando vento, não comendo isto, não bebendo aquilo. Vivamos com equilíbrio encarando sempre novos desafios, esta é a melhor maneira de um dia morrer e reacordar no lado de lá,  percebendo que a encarnação valeu muito e foi gratificante.


Chorar, bem esta é a primeira coisa que fazemos ao reencarnar, nosso primeiro respiro vem acompanhado de choro.  Portanto vamos sim chorar os mortos, mas não vamos morrer antes da hora, pois a vida é infinitamente bela!

NR: Publicado originalmente no jornal ABERTURA em junho de 2016

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Entrevista com Jaci Régis - Blog Observador Espírita

Texto obtido no blog – Observador Espírita de Delmo Duque dos Santos autor do livro Nova História do Espiritismo. A ele Jaci deu uma entrevista por telefone em 2010, que aqui publicamos inteiramente.

“Para os novos simpatizantes e pesquisadores do Espiritismo, o psicólogo e escritor Jaci Régis realmente não dispensa apresentações. Ativista histórico, começou no movimento espírita liderando a mocidade Estudantes da Verdade, cuja primeira empreitada foi mudar o nome da casa que frequentavam: saiu o Centro Beneficente Evangélico e nasceu o Centro Espírita Allan Kardec, até hoje em funcionamento. Jornalista sindicalizado, editou durante muitos anos o periódico Espiritismo e Unificação, mudado nos anos 1980 para o provocativo nome “Abertura”. Criado na onda da redemocratização do País, o jornal continua ativo e sempre aberto aos novos articulistas. ... Sua trajetória jamais deixará de ser associada ao chamado Grupo de Santos, formado por pensadores de vários lugares do Brasil e da América Latina que enxergam o Espiritismo de uma forma bem diferente daquilo que é praticado pela maioria dos espíritas. É o espiritismo laico, não religioso, voltado para as questões sociais e cotidianas e não somente para os problemas espirituais. Só esses dois adjetivos são suficientes para avaliar as repercussões e o incômodo que ele causa entre os espíritas tradicionais.

Mas Jaci não é nada daquilo que pintam sobre ele, sobretudo o líder radical e intolerante desenhado pelos que se sentem inseguros e impotentes diante de suas idéias e da coragem de divergir da maioria. É uma pessoa fraterna, muito franca, bem-humorada, sensível, enfim, um típico espírita que convence mais pela forma como age do que propriamente pelo que pensa. Ele sua esposa Palmira , com a ajuda dos filhos e de alguns amigos, dirigem há muitos anos o Lar Veneranda e mais recentemente o Instituto Cultural Kardecista , dois espaços muito conhecidos em Santos. O Lar é uma típica obra social espírita, da qual Jaci sempre diz que é simples obrigação de cidadão: “Não me sinto nada caridoso fazendo isso”. Já o ICKS é trabalho de prazer e combate ideológico, espaço de cultura, de agitação e realização de eventos, principalmente o Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita.Também nos concedeu uma interessante entrevista sobre todas essas coisas a seu respeito e também sobre a sua última novidade. ”

OE - A religião continua sendo um equívoco dentro do movimento espírita? 

JR - Sem dúvida. Na medida e que o Espiritismo se torna uma religião, perde a flexibilidade evolutiva que lhe caracteriza a estrutura criada por Allan Kardec. A religião, por definição, apóia-se em verdades absolutas e por afirmações dogmáticas. 

OE- Por que os espíritas têm tanta dificuldade para romper com os laços religiosos e cultivar uma religiosidade mais natural? 

JR - Devemos ter em mente que as estruturas religiosas se sedimentaram em nossa mente através das reencarnações. Romper com elas é tarefa de reflexão, meditação, raciocínio e decisão. Isso acontece quando a pessoa consegue superar o medo de ficar desamparada pelo divino e compreende que o divino se manifesta diariamente na vida de todos. 

OE- Você acredita que Kardec estranharia o atual movimento espírita no Brasil? 

JR -Creio que sim, porque a forma como foi desenvolvido o Espiritismo no Brasil contraria a linha que ele adotou na criação da doutrina. 

OE- Queiram ou não queiram os antipáticos, o chamado Grupo de Santos formou escola e já entrou para a história do movimento espírita. Como você vê tudo isso? 

JR -O “grupo de Santos” do qual eu fui o principal articulador, teve a coragem, no seu tempo, de apresentar uma visão dinâmica da doutrina em contraposição ao esquema montado por pessoas e Espíritos ligados umbilicalmente ao sentido cristão da vida. 

OE- Você sempre foi muito crítico ao perfil doutrinário da FEB e de outras entidades federativas. Houve alguma mudança na sua opinião? 

JR -A FEB é uma instituição respeitável e lidera a maior parte do movimento espírita. A ela estão ligados os representantes dos centros e federações. Entretanto, desde sua fundação ela seguiu um caminho próprio, diferente do preconizado por Kardec. Esse caminho compreendeu um extremo sentido religioso, místico e até aceitando as teses de Roustaing. Ultimamente se tornou menos inflexível, mas prossegue na sua intenção de liderar o movimento espírita mundial, na feição de corrente evangélico-mediúnica. 

OE- A CEPA é realmente uma alternativa crescente no movimento espírita? 

JR- A CEPA pode se tornar uma alternativa positiva ao Espiritismo mundial, na media que se espalha não apenas na América, mas também na Europa. É numericamente pequena, mas reúne um grupo de espíritas que possui gabarito intelectual para disseminar uma forma de entender o Espiritismo adequado ao progresso e à realidade social. Para isso, contudo, é necessário definir claramente seus objetivos e trabalhar por eles. 

OE- E sobre as práticas espíritas, você considera o passe uma autêntica atividade espírita? 

JR - Hoje em dia se diz aplicação ou transmissão energética, por ser mais adequada ao processo de transmissão de energia humana e magnética. Não se trata de uma prática genuinamente espírita, mas oriunda do magnetismo. Penso que é útil e efetiva quando aplicada de forma consciente e fraterna, sem considerá-la uma panacéia. 

OE- Por que você passou a utilizara expressão “kardecista”, não bastava apenas “espírita”?
JR -Entre as muitas deturpações a que o Espiritismo tem sofrido, incluímos a apropriação de desvio do significado dos termos “espiritismo” e “espírita”. Correntes esotéricas e de base dos cultos africanos se auto denominaram espíritas e as ousadias de dirigentes de centros que se intitulam espíritas criando “doutrinas próprias”, tornou o ambiente confuso, de modo que a palavra “espírita” não significa necessariamente o que Allan Kardec criou. Por isso, acreditamos que a palavra “kardecista” oferece uma apropriada denominação ao esforço que temos feito de reescrever o pensamento de Allan Kardec, adequando-o ao processo evolutivo das idéias e da humanidade. Daí crermos que “kardecista” refere-se mais especificamente ao trabalho original de Allan Kardec, delimitando nosso espaço e definindo nossos propósitos. Certamente jamais a palavra “espírita” será substituída por ter sido criada por Kardec, mas “kardecista” está diretamente ligada ao criador da doutrina. 





OE- Ser kardecista hoje significa ser fiel, sectário e até fanático em algumas situações e agremiações espíritas. O que está acontecendo? 

JR - Ser kardecista é ter conseguido livrar-se dos condicionamentos sectários e ter um novo pensar, dinâmico e reflexivo sobre os problemas humanos, a partir dos enunciados iniciais de Allan Kardec.
OE- Finalmente, o que está desatualizado: Kardec ou o Espiritismo? Kardec é necessariamente sempre sinônimo de Espiritismo? 

JR - Kardec é o criador do Espiritismo. Daí ser a raiz do pensamento espírita agora e sempre. Mas ele deixou claro um caminho de evolução e aperfeiçoamento do corpo doutrinário. Sendo como foi um homem atual, moderno e um pensador sábio, ao constatar que o Espiritismo seria ultrapassado se fosse uma religião ou tentasse ter as respostas absolutas para os problemas da pessoa humana com os conhecimentos de sua época. Por isso, deixou claro que o Espiritismo evoluiria ou morreria. A “morte” do Espiritismo não se dará por desaparecer, mas por perder seu significado progressivo e progressista e quando não puder oferecer ao ser humano uma reflexão cabível e atual sobre si mesmo e seu futuro”.

NR1: Para conhecer o blog Observador Espírita digite: http://observadorespirita.blogspot.com.br/

NR2: Se você quiser conhecer quem foi Jaci Régis: http://icksantos.blogspot.com.br/2011/10/jaci-regis-bibliografia.html?_sm_au_=iMH10HsW67SnZngR