O PAPEL DO
ESPIRITISMO NO PROGRESSO
Na primeira parte de A Gênese, após dedicar grande espaço para explicar os vários
significados para a palavra revelação,
ele caracteriza o Espiritismo como uma
revelação cientifica, talvez porque insista que a doutrina baseia-se na
observação dos fatos como fazem “as ciências positivas”.
Apesar disso, o Espiritismo é uma verdade revelada, tem
inspiração divina “pois provem dos Espíritos”
como porta vozes de :Deus.
Em conseqüência, estabelece o Espiritismo como a 3ª revelação, sucessora
e reformadora do cristianismo, do evangelho, o Consolador Prometido, no sentido
profético dado à missão de Jesus de Nazaré, dentro dos padrões criados pelo
catolicismo.
Entretanto, na última parte do livro, tratando das
mutações sociais que seriam promovidas no futuro, ele coloca o Espiritismo como coadjuvante do processo
evolutivo, no que, aliás, estava muito certo.
“O Espiritismo não cria a renovação social”, afirma. Porque nenhuma instituição, movimento, ou
pessoa, por si só, cria a renovação social. Ela se realiza em velocidades
diferenciadas, acelerada, e forma desigual nas várias partes e civilizações, a
partir da ruptura de algumas idéias cristalizadas, resultado complexo de
ansiedades, decepções, sofrimentos e desilusões. Pois são esses
fatores que mobilizam as mudanças, a busca de um novo sentido, um novo
paradigma para a vida, nem sempre encontrado imediata ou mediatamente,
demandando tempo de correção, reajuste e sofrendo o império de forças obscuras,
desequilibradas, que se apresentam como escoadouro de frustrações apelando para
a liberação sensual e egoísta das pessoas.
“Quando,
por conseguinte, a Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se
que são chegados os temos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em
tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita.” afirma
Kardec..
É difícil, na atualidade, caracterizar essa
“humanidade”, pois as diferenças entre
os povos, religiões e regiões, descompassadas, desniveladas, não estabelece uma
unidade para o amadurecimento indicado. O que temos são etapas desiguais na
apreensão e necessidade do progresso, embora a globalização dos meios de
comunicação, a tecnologia e as interelações
entre povos tenda a acelerar, ao longo do tempo, uma mistura de aspirações a caminho de uma certa nivelação
do progresso
Tudo isso nos leva a revisar os conceitos revelados
atribuindo a decisão divina para as
etapas do progresso e fazendo-as acontecer através de mecanismos
extraordinários ou formas puramente externas que promoveriam, talvez pelo medo,
a renovação das coisas..
Na realidade geralmente o progresso se faz e as coisas
vão mudando sem o aparato espetacular que se propagava. Processa-se a evolução
natural, etapas por etapas, com mutações progressivas. As mutações são feitas
numa lenta engrenagem que demanda paciência e apresenta surpresas, a despeito
das contradições e resistências..
. No jogo de xadrez da
evolução, a partir da premissa de que há um planejamento em longo prazo para a
evolução da humanidade, os mentores cristãos e, possivelmente o próprio Jesus,
sabiam que ressuscitar a igreja era impossível porque a transição que viria no
século vinte abriria outras portas para o entendimento humano, com o surgimento
da verdade
investigada, libertando do jugo da verdade revelada como única via da
verdade.
Nesse jogo, o Espiritismo tem seu papel. O que se
reservava, sobretudo, ao Espiritismo era o uso da mediunidade, a exploração do
fenômeno mediúnico para a prova da imortalidade. “Iniciando a humanidade no mundo
invisível, (o Espiritismo) mostra-lhe o seu verdadeiro papel espiritual, como
no estado corporal. O homem já não caminha às cegas: sabe de onde vem, para
onde vai e por que está na Terra. O futuro se lhe revela em sua realidade
despojado dos prejuízos da ignorância e da superstição” afirma o
fundador do Espiritismo.
Entretanto, a análise que o Espiritismo faz desses
fenômenos têm critérios diferenciados do cristianismo e
outras denominações religiosas, como o islamismo,, budismo, hinduismo, todas
comprometidas com a visão mística e contraditória, sobre o ser humano, a
divindade e o objetivo da existência.
A visão espírita é específica e contrária,
na essência, aos conceitos dessas religiões que dominam o cenário mundial,
formatando a mente de milhões de pessoas, ao
longo de milênios.. Espiritismo poderia ter desempenhando esse novo
papel, mas o próprio Kardec teve
dificuldades em definir uma linha independente ao pensamento católico na
análise das realidades psicológicas e, evolutivas das pessoas.
Seguiu a regra de que a vontade e a
determinação tudo resolvem e que as verdades estavam a disposição de todos e
que a humanidade não seguiu porque as pessoas eram desobedientes, preguiçosas e
más.
Na sociedade atual, há um espaço cada vez maior para a
fenomenologia mediúnica, dramatizada e estilizada em filmes, séries de tv e
livros, com o surgimento de gurus, seitas e
movimentos pessoais, fora dos limites doutrinário do Espiritismo e se
afirma como uma atividade cada vez mais urgente, isto é, a definição da
dimensão extra corpórea do ser humano.
Infelizmente, esses fatos têm sido analisados dentro da visão da verdade
revelada das igrejas, religiões, de cunho cristão ou não. Então, usa-se
o fenômeno para ressuscitar o velho paradigma do catolicismo do bem e do mal, do demônio e dos anjos, da
culpa e do castigo, da impotência do ser humano, da ascendência irracional do
divino sobre a pessoa e a aplicação de forças ocultas determinando o destino de
cada um.
Essa é uma etapa que ainda deverá ser
vencida para que a compreensão mais clara do porquê da vida, da intervenção
divina, nos permita vislumbrar o prazer e a felicidade a ser construída, sem
apelos à regeneração, á salvação, mas como afirma Kardec que o ser humano
reconheça que “do que ele é hoje, qual se fez a si mesmo, poderá deduzir o que virá a
ser um dia