domingo, 30 de novembro de 2025

Será que não estamos normalizando o mal? por Roberto Rufo e Silva

 

                      Será que não estamos normalizando o mal?

 

"O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aqueles que permitem a maldade" (Albert Einstein).

"Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele" (Martin Luther King Jr.)

 

                              

Genocídios são tratados como simples disputas , mera polêmicas. Aceita-se a permanência de uma situação fundada na infelicidade de muitos. Não estaríamos capitulando diante da situação do extermínio na faixa de Gaza, perpetrado por um governante doente e cruel?

Os horrores de George Bush no Iraque, Putin na Ucrânia, e outros malucos do século XX e XXI parecem não produzir nos seres humanos o horror ao terror dos governos, pelo contrário, parece ter produzido nas pessoas a normalização do absurdo. Para nossa felicidade e tranquilidade tanto o Espiritismo e o estoicismo nos indicam um caminho sereno para superação desse ambiente perturbador e além disso nos mantermos serenos.

 Pergunta 877 do Livro dos Espíritos - A necessidade para o homem de viver em sociedade ocasiona-lhe obrigações particulares? Respondem os espíritos: - Sim, a primeira de todas é a de respeitar o direito dos seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos será sempre justo. No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e é isso o que faz a perturbação e a confusão de vossa sociedade. A vida social confere direitos e impõe deveres recíprocos. Texto brilhante e muito atual.

Em matéria do site O Antagonista foi abordado o seguinte assunto:

A frase da filosofia estóica que é um guia para o bem viver: o que significa Imperare sibi máximo?

Os ensinamentos da filosofia antiga, especialmente aqueles provenientes do estoicismo, possuem uma relevância que transcende o tempo. E podem nos ser muito úteis nos dias que correm. Segue a matéria do site:

"Os ensinamentos da filosofia antiga, especialmente aqueles provenientes do estoicismo, possuem uma relevância que transcende o tempo. Em um mundo contemporâneo, saturado de pressões e distrações, os conselhos de filósofos como Sêneca adquirem uma atualidade impressionante. A proposta de Sêneca sobre o autodomínio destaca-se por sua simplicidade e profundidade ao afirmar que a verdadeira força está em sermos senhores de nós mesmos.

Sêneca, um dos mais ilustres pensadores estoicos, enfatizava a importância do controle interno sobre o externo. Em sua visão, o poder autêntico não reside na supremacia sobre os outros, mas na capacidade de dirigir nossas próprias emoções e comportamentos. Essa ideia se condensa na célebre frase latina “Imperare sibi maximum imperium est”, que pode ser traduzida como “Governar a si mesmo é o maior poder”. Esse princípio estoico ressalta que a verdadeira liberdade e poder derivam do nosso domínio sobre o que pensamos e sentimos.

A dificuldade que prevejo para a sequência e atualidade do Espiritismo e do estoicismo é o fanatismo político dos dias atuais; hoje existem inúmeros "inocentes úteis" que dão suporte às loucuras dos populistas, demagogos e autoritários que vicejam atualmente no planeta Terra. Temos que superá-los com a certeza dos nossos conceitos, que se traduzem, a meu ver, num humanismo responsável e sereno. 

Concluo com uma frase do matemático e filósofo britânico Bertrand Russell (18.05.1872/02.02.1970): "O problema do mundo é que tolos e fanáticos estão sempre certíssimos, e os sábios, cheios de dúvidas".

Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de novembro de 2025 - gostou, quer ler o Jornal Completo?

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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Jornal Abertura - novembro de 2025

Em função da alteração do site da CEPA - Associação Espírita Internacional optamos por também oferecer o Abertura no blog, em forma de fotografias, os links não funcionarão, mas está permitida a leitura.

Quem preferir pode baixar, ou visualizar no novo site da CEPA:

https://cepainternacional.org/jornal-abertura-novembro-2025/
















































quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Jornal ABERTURA novembro de 2025 - disponível grátis em pdf

 

Amigos divulgadores do Espiritismo, pedimos que repassem aos seus seguidores este Concurso Literário sobre o Tema – Mocidades ou Juventudes Espíritas, tão crítico ao Movimento Espírita como um todo.

Prorrogamos o prazo de envio de sinopses, agora até 15 de dezembro de 2025

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Baixe aqui - link anterior temporariamente indisponível

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terça-feira, 21 de outubro de 2025

A Questão da Nomenclatura - Reinaldo Di Lucia

 

A questão da nomenclatura – Reinaldo di Lucia

 

Publicado no Jornal Abertura de Santos em agosto de 1992

 

 O II Congresso Internacional de Transcomunicação Instrumental, realizado em São Paulo em maio último acabou sendo um elemento profundamente perturbador na ordem algo monótona do movimento espírita, mesmo sem ter esta intenção.

Esta perturbação deve-se, primeiramente, ao tema do Congresso: o fato de ter sido exposta a um público acostumado a ouvir apenas palestras de cunho evangélico a possibilidade de um contato com o  "Piano Espiritual” através de aparelhagem eletrônica, dispensando-se mesmo  a presença de um médium ostensivo na reunião,  causou um verdadeiro pânico. Que, no entanto, é facilmente explicável se considerarmos que a maioria absoluta das casas espiritas de nosso país baseia sua existência em reuniões mediúnicas de aconselhamento e/ou desobsessão, tendo os principais médiuns poderes quase ditatoriais, que as vezes estendem-se à própria vida dos frequentadores.

 Mas pode-se localizar ainda uma fonte de perturbação: a apresentação de um novo termo -  Transcomunicação Instrumental (TCI) - que mais que uma simples sigla passou a significar quase uma ameaça à Doutrina Espírita. Levantam-se então os defensores de uma suposta “pureza doutrinária” a proclamar que a TCI, tal qual a TVP (Terapia de Vidas Passadas), a Parapsicologia, e outras tantas descobertas modernas são doutrinas espúrias que tentam incorporar-se ao Espiritismo.

Mais ainda, chegam ao ponto de supor que os Espíritos envolvidos na pesquisa dessas paraciências são necessariamente de caráter inferior, já que manifestam algumas posições que contrariam a Doutrina Espírita.

Esta postura, mais do que ama preocupação com a possibilidade de descaracterização do Espiritismo, espelha um outro fator: o verdadeiro pavor que o movimento espirita possui do novo, da possibilidade que novas concepções venham a impor-se com a força da demonstração cientifica, subvertendo o status que e colocando em xeque a posição dos "donos de centro”.

 

E é exatamente nessa posição que reside o perigo de ver a Doutrina Espirita estagnar-se no tempo, estratificar-se em seus próprios conceitos, dogmatizar itens que mesmo Kardec considerava com simples opiniões sujeitas a verificação. Numa palavra, ver a Doutrina Espírita transformar-se  numa seita de cunho religioso, perdendo suas grandes forças, que são o poder de argumentação e a agilidade para acompanhar as descobertas da ciência.

Obviamente, não são defende aqui a tese de que a Doutrina Espírita deva acolher qualquer novidade mística, por mais estapafúrdia que seja, apenas acompanhar modismos. Entretanto, é necessário recordar que ela possui, ao lado de seu caráter filosófico (racional), uma estrutura cientifica (experimental), e  que, se àquela basta teorizar sobre o universo, a esta última cabe o dever de demonstrar suas leis, estando, portanto, sujeita à análise de fatos, por mais exaustivo que isso possa ser.

Esta análise de fato deve obrigatoriamente ser feita em conjunto com as ciências de investigação do universo, para que a ciência espirita não fique enclausurada em si mesma, desatualizando-se. Porém, para que isto ocorra, a ciência espírita deve, antes de mais nada, utilizar um vocabulário que permita o livre trânsito das informações. É por aí que deve iniciar-se a modernização da Doutrina Espírita.  

Analisando-se o Espiritismo em sus perspectiva histórica, observa-se que Kardec, como homem de ciência que era, empregava termos que eram utilizados pelos cientistas da época, como magnetismo, animismo, fluido, entre outros. Entretanto, o meio científico evoluiu sensivelmente desde a metade do século XIX, e a ciência espirita deve acompanhar esta evolução. Para isso, sugere-se, a título de exemplo, algumas alterações necessárias.

 

1) FENOMENOS ANÍMICOS. O termo animismo deve ter sido empregado pela primeira vez por Stahl, em seu sistema médico, considerando a alma como o princípio vital.  Atualmente onde não há a interferência de um Espírito desencarnado.

Na verdade, praticamente todos os fenômenos mediúnicos conhecidos podem ser produzidos por faculdades especiais de determinadas pessoas (comumente conhecidas como sensitivos). Sugere-se então o emprego dos termos FENÔMENO PARAPSIQUICO para aquele em que não há interferência de desencarnados, e  FENÔMENO MEDIÚNICO para aquele em que os desencarnados ocupam o papel preponderante.

2) FLUÍDO: A época de Kardec, vigorava a necessidade de meios materiais para a  transmissão de energias. Um exemplo disto é o conceito  de éter, um material sutil que preencheria o universo e serviria para a transmissão  da luz. A eletricidade e o magnetismo e também considerados fluídos, e Kardec estendeu o uso do termo a todos  os elementos matérias sutis postulados pela Doutrina Espírita.

 

Em nossos dias a palavra fluido é usada nas ciências físicas para designar qualquer líquido ou gás. Percebe-se facilmente a mudança total de sentido em relação à sua utilização por Kardec. O termo atual que mais se aproxima do conceito original é ENERGIA.

 

3) MENTE:  É muito comum, tanto dentro como fora do meio espirita, empregar indistintamente  mente e cérebro para indicar o elemento pensante do ser humano. Entretanto, de ponto de vista conceitual, o Espiritismo considera o Espirito como elemento inteligente, sendo o cérebro nada mais que um instrumento material de transmissão das ideias e controle do corpo. Deve-se tanto quanto possível, utilizar apenas termo ESPÍRITO para designar o princípio inteligente.

4) ALMA: O próprio Kardec define alma como sendo o Espírito encarnado. No entanto, nada difere um Espirito encarnado de um desencarnado, em sua essência. O termo alma, porém, está bastante desgastado, sendo utilizado para expressar os mais diversos conceitos, muitas vezes conflitantes entre si. É aconselhável que se empregue apenas ESPÍRITO.

Os exemplos acima são apenas alguns que se pode citar, dentre os muitos existentes. É importante lembrar que não se pode estabelecer um conceito filosófico sem ter suficientemente claro o significado dos termos usados para exprimir este conceito. É impossível fazer o Espiritismo acompanhar a evolução cientifica sem antes atualizar sua nomenclatura.

Reinaldo Di Lucia é engenheiro e membro do GPCEB

Conhece a homepage do ICKS - www.icks.ong.br

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

sábado, 18 de outubro de 2025

O poder da fé e da política por Roberto Rufo e Silva

 

                                                      O poder da fé e da política

 

"A política é um bordel. Sempre foi e sempre será. Na verdade, é pior. O bordel é mais honesto. O sujeito paga e tem um serviço".(Luiz Felipe Pondé).

 "O mal do mundo é que Deus envelheceu e o Diabo evoluiu". (Millôr Fernandes).

 

Roberto Rufo e Silva

 Quem deseja ascender e se manter no poder se utiliza de várias estratégias espirituais ou filosóficas para arregimentar o maior número de seguidores e com isso pôr em prática a ideologia que lhe convém.

A cultura e a política são dois caminhos muito utilizados para se introduzir artigos de fé ou ideologias totalitárias nas mentes e corações dos cidadãos. 

Com seu aspecto mais racional e de equilíbrio emocional o Espiritismo procura, com pouco sucesso, introduzir conceitos que visem a evolução intelecto-moral da humanidade. O Espiritismo não fala às paixões, tão ao gosto dos líderes populistas e demagogos. Daí sua parca percepção junto ao conjunto da sociedade.

A literatura espírita em geral aborda temas como a vida após a morte, a reencarnação e a comunicação com os espíritos. A cultura espírita promove atividades assistenciais e educativas, valoriza a fraternidade, a solidariedade o que deveria influenciar o comportamento e as relações sociais dos seus seguidores. Sem arroubos de fé ou discursos revolucionários de tomada do poder pela força.

De larga influência nos meios de esquerda mundiais o filósofo marxista Antônio Gramsci viu com clareza em sua teoria da hegemonia cultural que o Estado usa , nas sociedades  ocidentais, as instituições culturais para conservar o poder. Logo para se alterar esse quadro urge que os grupos de esquerda assumam o controle dos meios culturais e de comunicação. Sua teoria obteve grande êxito nos países do ocidente, já que no países do leste europeu o estado totalitário sempre teve enorme poder sobre os  meios culturais. O cancelamento é hoje  uma ação muito utilizada em redes sociais por quem detém o poder dos meios de comunicação culturais e artísticos. Atualmente é um alto risco o livre pensar pois a patrulha ideológica, como descreveu o cineasta Cacá Diegues a respeito da crítica cinematográfica de sua época, hoje está instalada nas universidades  federais, nas redações de jornais e no sites. Ouso dizer que o Jaci Regis que conhecemos não teria o mesmo espaço hoje e sofreria na pele o processo de cancelamento. Depois de desencarnado o processo de apagamento já se instalou.

Do lado do "pensamento" espiritual de direita o perigo para a obstrução da evolução racional das pessoas é mais devastador ainda. O novo filme da diretora Petra Costa de nome Apocalipse nos Trópicos, se propõe a examinar a interseção entre a política e as lideranças evangélicas no Brasil. Ela filmou um ato convocado pelo pastor Silas Malafaia e ouviu uma declaração inflamada que lhe chamou a atenção: "Deus deve tomar o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, e expulsar a escória desse país". E um dos pastores falava que "deus decretou o fim do governo do ímpio e falava da necessidade de uma guerra espiritual". As músicas eram sobre o apocalipse, os cultos falavam e associavam a pandemia ao apocalipse. Os pastores pediam ao governo Bolsonaro que ele criasse uma situação que aceleraria o fim do mundo e, portanto, a volta de Jesus.

Isso é uma teologia muito presente entre os evangélicos fundamentalistas no Brasil e nos EUA. Os aliados  dominionistas de Donald Trump acreditam nisso, e que acelerar o fim do mundo vai acelerar a volta de Jesus.

Dominionismo, também conhecido como teologia do domínio, é uma corrente teológica e política que interpreta Gênesis 1:28 como um mandado para os cristãos exercerem controle sobre a sociedade e suas diversas esferas, como governo, cultura (olha ela aqui de novo) e economia.

Nos resta o Espiritismo com sua visão otimista da vida, enfatizando a imortalidade da alma, a reencarnação como motor da evolução pela sucessão de aprendizados. A vida passa a ser uma oportunidade de crescimento, mesmo diante de adversidades. Se vai triunfar só saberemos num futuro muito distante.

Artigo Publicado no Jornal de Cultura Espírita - ABERTURA setembro de 2025. baixe aqui abaixo.

https://cepainternacional.org/jornal-abertura-setembro-2025/



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Roberto Rufo é Bacharel em Filosofia, colunista do Abertura e reside em Santos.


o link abaixo está temporariamente indisponível

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/45-jornal-abertura-2025?download=354:jornal-abertura-setembro-2025

 

 

sábado, 27 de setembro de 2025

Palestra online - La Reencarnación a la luz de la fé razonada - por Alexandre Cardia Machado

 Quem tiver interesse, houve uma interessante conversa entre Engenheiros Espíritas, em espanhol, sobre o tema:La Reencarnacion a la luz de la fe razonada - ou Reencarnação sobre a ótica da fé Raciocinada em português.

veja aqui:

https://youtube.com/live/8KkYauzteLw?si=7PAsOeUQbCt_QoVE 


Participação de Alexandre Cardia Machado



segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O Censo de 2023 e o Espiritismo - ICKS

 

O Censo e o Espiritismo

O Censo de 2022 registrou uma redução percentual e real de pessoas que se declararam espíritas. 0,3% a menos. O espiritismo é mais importante na Região Sudeste com 2,7%.

Na cidade de Santos onde resido, 29.196 pessoas se declararam espíritas, 7,87% da população, ficando no terceiro lugar após católicos e evangélicos. A sensação é de que muito mais gente se interessa pelo espiritismo, só que não se declara espírita apesar deste percentual estar mais que o triplo da média nacional de 1,9%.

Na divulgação do Censo anterior ... Jaci Régis escreveu sobre este tema, um artigo de nome – Espiritismo segunda opção. Acredito que a releitura faz todo o sentido neste momento.

O artigo foi publicado no Jornal Abertura de junho de 2005 e pode ser acessado  no blog do ICKS: https://icksantos.blogspot.com/2022/07/espiritismo-segunda-opcao-por-jaci-regis.html

A época a FEB assim se pronunciou à Veja que fez uma reportagem a respeito: "Segundo a Federação Espírita Brasileira", diz a reportagem da VEJA, mais de 40 milhões de pessoas seguem a doutrina de Allan Kardec no Brasil. Apenas 2% dos brasileiros se dizem Espíritas, nos censos oficiais. A imensa maioria simplesmente acrescenta, sem dramas de consciência, os ensinamentos de Kardec, aos das religiões que professam oficialmente".

Do artigo de Jaci Régis reproduzimos integralmente o foco dado pelo autor a esta questão:

“O QUE BUSCAM OS CATÓLICOS NO ESPIRITISMO?

Certamente é hipotético afirmar que quarenta milhões "seguem" a doutrina de Allan Kardec, no Brasil. O que acontece é que milhões de católicos, pois é pouco provável que protestantes o façam, frequentam algumas vezes ou seguidamente os centros espíritas em busca de serviços que eles oferecem à população, seja no campo da assistência social, seja no consolo espiritual, através de consultas e passes.

 Essa multidão seria bem menor se os centros espíritas ensinassem efetivamente a doutrina de Allan Kardec, mas não uma adaptação religiosa e personalista dos princípios espíritas. Com isso a comunicação dos Espíritos e a reencarnação, não teriam o caráter folclórico que assumem, como se vê na reportagem.

Em muitos dos que se chamam de "centro espírita", lamentavelmente extremamente distantes do Espiritismo, esses católicos ficarão muito à vontade, porque neles se faz uma imitação medíocre do catolicismo, inclusive com preces católicas como ave-maria e outras. E, quando ali se discursa, os discursos não diferem do catolicismo, a não ser no que tange à comunicação com os Espíritos e uma tênue referência à reencarnação, moldada, contudo, no viés da punição e da purificação, bem ao gosto da doutrina católica.

Essa é a tal de multidão que acredita na reencarnação e na comunicação com os mortos. Para eles, não se trata apropriadamente de assumir o Espiritismo como uma segunda religião, como uma opção mais folclórica, mais ansiosa e supersticiosa sem qualquer reflexão filosófica ou prova científica.

 O que se pode dizer também de muitos que se dizem oficialmente espíritas.

 O QUE DEVERIA SER DADO AOS CATÓLICOS QUE BUSCAM O ESPIRITISMO

A transformação do Espiritismo numa religião formal, cada vez mais formal, acaba numa deformação do conteúdo doutrinário e numa traição aos projetos e finalidades dadas por Kardec à sua doutrina.

A reportagem de Veja, traduz que os católicos que procuram o Espiritismo querem informações concretas e objetivas sobre a reencarnação, a imortalidade e a comunicação com os mortos, onde eles vivem e como vivem.

Entretanto, não é isso que encontram nos centros espíritas. Estes, quase sempre, se formam com "principal finalidade será o estudo e a divulgação do evangelho de Jesus".

 O que marca a existência do Espiritismo é o seu conteúdo filosófico, seu esforço por provar cientificamente a existência e a evolução do Espírito, na qual a reencarnação se insere. Para isso utiliza a mediunidade como instrumento de prova da Imortalidade, da sobrevivência e comunicabilidade entre vivos e mortos. A partir dessa compreensão que o Espiritismo trará sua contribuição à humanidade. Ora, o "estudo do evangelho", é feito nas igrejas católicas e protestantes, diariamente. O que o Espiritismo brasileiro acrescenta ao fixar-se nesse estudo evangélico? Explicações sobre fatos ali narrados e acompanha, insensatamente, a sacralização feita pela Igreja da figura de Jesus Nazareno.

 A reportagem diz que "O que o Espiritismo tem de próprio, ainda que não seja um monopólio seu, é o fato de acenar com a certeza de que, no futuro, haverá outras vidas, quantas forem necessárias para tirar as manchas da alma".

 Aí entra a deformação básica do instituto da reencarnação, pois a transformação religiosa do pensamento espírita fixou-se, como era de esperar, na questão das penas e gozos futuros, de acordo com o viés judaico-católico, que se assenta na concepção do pecado original, na necessidade de purificação.

Mas a reencarnação no Espiritismo não é instrumento de resgate, de pagamento de dívidas de "outras vidas". Na essência, o processo evolutivo guarda a relação do Espírito consigo mesmo, na relação com os outros, sem estar ligado a erros pontuais ou severos de "outras vidas", como se cada capítulo do processo evolutivo, ficasse estanque e restrito, desconhecendo que o ser espiritual é uma individualidade permanente e que seu projeto é evoluir para compreender a si mesmo e sua inserção na vida.

 Fora dessa visão, tudo gira em torno de explicar de forma diferente as crenças, os castigos, as dores, os pecados.

 Na verdade, o próprio Kardec, devido às premências do seu tempo, utilizou-se de explicações para contestar tradições judaico-cristãs.

Por exemplo, os anjos da guarda seriam Espíritos protetores. Os demônios, Espíritos obsessores. Os Anjos, Espíritos puros.

Foi um erro. Porque na verdade para o Espiritismo não existem anjos da guarda, demônio ou anjos, céu ou inferno. Nada disso tem qualquer respaldo na teoria espírita. Simplesmente não existem.

Tentar dar versão espírita a essas tradições só prejudica a separação necessária de nossos conceitos com o judaico-cristianismo, promovendo confusões e permitindo interligações conflitantes.

Então, o que poderíamos fazer e alguns estão fazendo, é limpar essa linguagem, caminhar para a pesquisa e para produção de uma filosofia capaz de suplantar o obscurantismo católico e protestante e afirmar o Espiritismo não como uma segunda opção, mas como a opção clara, despida de crendices e confusões.

Para isso é preciso um novo posicionamento.

 Kardec admitiu que o Espiritismo poderia ser um auxiliar das religiões. Para isso, naturalmente, é preciso manter sua identidade, sua diferença e fazê-lo promíscuo com elas.

 Auxiliar é uma coisa, é dar subsídios, explicações para as religiões e não tornar-se satélite delas.

 Talvez para os dirigentes da Federação Brasileira e outros, ser a segunda opção da Igreja Católica, seja a gloria. 


Artigo publicado no Jornal Abertura de julho de 2025.

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