segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Jaci Régis e Seu Legado - por Alexandre Cardia Machado

 

Jaci Régis e seu legado

 A Literatura Espírita - Compilação da série publicada no Jornal Abertura

Nos aproximamos de dez anos sem a convivência com Jaci Régis desde sua desencarnação em dezembro de 2010, portanto publicaremos uma série de artigos voltados para a manutenção da memória e do reconhecimento de seu legado.

Começando pela literatura, Jaci Régis publicou 12 livros por diversas editoras, a primeira delas Dicesp pertencia à USE - Baixada Santista que também editava o jornal espírita Espiritismo e Unificação. Com o afastamento do nosso grupo da USE em fins de 1986 Jaci Régis cria, ligado à Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, a editora Licespe. Posteriormente em 1999 com a criação do ICKS, seus novos livros passaram a sair com o selo Edições ICKS.


Vejamos então as publicações de Jaci Régis.

A Mulher na Dimensão Espírita - Seu primeiro livro publicado em 1975 em parceria com Nancy Puhlmann Di Girolamo e Marlene Rossi Severino Nobre - pela editora Dicesp e depois reeditado várias vezes pela editora Licespe estando ainda disponível na sua 9ª edição.

Amor Casamento e Família – foram 13 edições entre Dicesp e Licespe– 1977 – livro atualmente esgotado.

Comportamento Espírita – editora Dicesp, depois Licespe, originalmente lançado em 1981. Foi  traduzido para o espanhol pelo Cima de Caracas – Venezuela, ainda disponível para venda em ambas línguas no ICKS.

Uma Nova Visão do Homem e no Mundo – Publicado pela editora Dicesp em 1984, depois a Licespe publicou a segunda edição. Este livro foi atingido em cheio pela ruptura com o movimento religioso, tendo sido colocado no Index, como obra a não ser lida.  Ainda é possível encontrar exemplares da segunda edição aqui no ICKS. Em 2013 foi produzida também pela editora Letras e Textos – com ortografia atualizada. No ano seguinte, 2014 foi traduzida e lançada em espanhol em Porto Rico.

Caminhos da Liberdade – lançado pela editora Licespe em 1990, ainda disponível, sendo um livro de fácil leitura, ainda muito procurado e atual.

Muralhas do Passado – único romance de ficção espírita escrito por Jaci Régis e lançado pela editora Licespe em 1993.  Foi posteriormente publicado pela editora DPL, ainda é possível encontra a edição da Licesp no ICKS.

Introdução a Doutrina Kardecista – publicado pela editoria Licespe em 1997, ainda disponível, altamente recomendado paro o entendimento de um Espiritismo laico e livre-pensador, iniciou a fase de propostas de repensar o Espiritismo.

A Delicada Questão do Sexo e do Amor pela editora Licespe de 1999, ainda disponível, consolida um período onde Jaci, psicólogo, e espírita resolve tratar estas questões delicadas, mas muito importantes e que de alguma forma ficaram marginalizadas, ou idealizadas no movimento espírita.

Doutrina Kardecista – Uma Releitura da Obra de Allan Kardec – Edições ICKS – 2005 – livro esgotado.

Novas ideias – Textos Reescritos – Edições ICKS – 2007 – livro esgotado.

Doutrina Kardecista – Modelo Conceitual (reescrevendo o modelo espírita) – Edições ICKS – 2008, disponível. Se algum quiser a versão em pdf, basta enviar um e-mail ao ickardecista1@terra.com e receberá gratuitamente.

Novo Pensar Sobre Deus, Homem e Mundo – Último livro de Jaci, Edições ICKS- 2009, o ICKS ainda possui 21 exemplares para comercialização.

Agregamos as palavras de nosso amigo e médico  Ademar Arthur Chioro dos Reis que escreveu a biografia de Jaci Régis e que foi publicada neste jornal em janeiro de 2011.

“Um autor que possuía um estilo peculiar, de reconhecida competência. Sua pena produzia há décadas ensaios e crônicas, publicadas em jornais e livros, de rara sensibilidade e ternura, que tocam as mais profundas fímbrias de nossos corações e mentes.

Um texto sensível e criativo, sem que recorresse à mesmice que caracteriza a literatura espírita. Ao mesmo tempo, era capaz de produzir artigos, trabalhos, textos e livros de cunho doutrinários que se constituíram em verdadeiros clássicos da literatura espírita contemporânea, indispensáveis aos estudiosos da Doutrina Espírita. Desenvolveu uma linha de raciocínio e argumentação extremamente fundamentada e consistente, a partir dos postulados de Kardec – que conhecia como poucos.

Era um líder nato e grande realizador. Não há dúvidas de que o Lar Veneranda foi a grande obra de sua vida, pois embora tenha tido inúmeros e valorosos colaboradores, sua obstinação, competência e liderança foram fundamentais para erguer e consolidar esta instituição modelar.

Sua contribuição intelectual ao pensamento espírita, por outro lado, foi sendo desenvolvida e aperfeiçoada num processo no qual se destacam três fatos de fundamental importância na definição de sua obra: a "descoberta" de Freud e sua formação psicanalítica, no curso de Psicologia; o acesso às informações contidas na Revista Espírita, o que lhe permitiu um aprofundamento e a contextualização do pensamento de Kardec; e, por fim, a elaboração de uma proposta de releitura de Kardec, uma reconceituação das atividades doutrinárias, de modo a adequá-las aos princípios e objetivos do Espiritismo, num movimento criado e difundido a partir de 1978, ao qual denominou "Espiritização", que alcançou grande repercussão no movimento espírita.

Constituiu-se, sem dúvida, no mais contundente e consistente crítico do Espiritismo evangélico/cristão e do não assumido roustanguismo da Federação Espírita Brasileira.

Denunciou a concentração de poder nas mãos dos conservadores dirigentes das federativas e suas nefastas consequências. Impulsionou, a partir de meados da década de 80, a discussão em torno do caráter religioso do espiritismo, defendendo vigorosamente que o espiritismo não é uma religião, combatendo a incorporação de práticas e rituais religiosos pelo movimento e as distorções no uso e prática da mediunidade.”

Jaci Régis biografia e vida – por Ademar Arthur Chioro dos Reis

jaci-regis-bibliografia.



Jaci Régis e seu legado:

 

A QUESTÃO RELIGIOSA

 

Para construir este capítulo desta jornada revisória de Jaci Régis vou me apoiar em dois artigos, o primeiro do próprio Jaci Régis “Breve Síntese Cronológica da questão Religiosa que publicamos neste jornal em maio de 2015 a partir de um material que recuperamos em seus arquivos pessoais. E buscamos a palavra de Eugenio Lara que  acompanhou Jaci no Espiritismo e Unificação e aqui mesmo no Abertura por cerca de 20 anos.

Jaci Régis agitou os alicerces do Movimento Espírita trazendo a que foi denominada “Questão Religiosa, foram diversos artigos, conferências e livros tratando disto.

Nas palavras de Jaci Régis:

1979

“Creio que posso dizer que o início de tudo começou em setembro de 1979 quando lancei no jornal Espiritismo e Unificação, a campanha da Espiritização.

1980

Nas edições seguintes, no ano de 1980, o tema da Espiritização esteve presente, inclusive com adesões e rechaço.

Já em setembro desse ano foi sugerida uma Campanha Nacional pela Espiritização

Em sequência, na edição de novembro de 1980, escrevi um artigo com o título:

Espiritismo religioso. existe isso?

1981

No ano de 1981 prossegui com a ideia da Espiritização.

1982

Também em 1982, o tema da Espiritização continuou.

Maio de 1982 – publiquei artigo do Krishnamurti “Polêmica Espírita”.

1983

Artigo do Krishnamurti “O Discurso de Abertura”, analisando o discurso de Kardec de novembro de 1868.

Artigo “Kardec afirmou que o Espiritismo não é religião”.

1984

Dezembro de 1984 – fórum debate religião espírita – na sede da Federação Espírita do Estado de São Paulo entre eu e Heloisa Pires.

 

1985

Publiquei uma coluna sobre a questão religiosa durante alguns meses,

Lançado o livro “O Laço e o Culto” de Krishnamurti

Foi apresentada a Chapa Unificação Hoje, para a diretoria da USE, com a candidatura de Henrique Diegues à presidência.

Editorial do Boletim da Federação do Rio Grande do Sul sobre a questão religiosa

1986

Participação ativa de Ciro, Jaci e Miguel na elaboração do 7º Congresso Espírita Estadual, realizado de 22 a 24 de agosto de 1986.

Centros ligados à UMES pedem definição não religiosa

Realização do 7º Congresso Espírita Paulista1896:

A discussão sobre o Espiritismo religioso, mobilizou muita gente, pró e contra. Artigos, cartas, editorais, foram publicados em vários jornais e realizados fóruns e debates.

A apresentação de uma chapa notoriamente não religiosa, para a diretoria da USE foi o ponto culminante da reação do sistema.

A situação cresceu quando a UMES de Santos e a 4º UDE, representadas por mim e por Ciro propôs e conseguiu a realização do 7º Congresso Estadual, que foi, afinal, o ponto de ruptura final.

A direção da UME de Santos foi praticamente destituída pela Diretoria da USE, DEIXAMOS A Dicesp, que criamos como parte da UMES como editora do jornal Espiritismo e Unificação e de livros.

Embora se tenha veiculado que existia o “grupo de Santos”, na verdade era eu, Jaci Regis, o único componente.

Vários espíritas contribuíram como Ciro Pirondi, Egydio Regis, Marcos Miguel, Krisnamurti C. Dias do nosso lado e vários do outro lado.

1987

 

Deixamos a direção do jornal Espiritismo e Unificação, no mês de fevereiro.”

Bem, neste momento, no mês de abril de 1987, nasce o jornal Abertura com projeto gráfico de Ciro Pirondi e diagramação de Eugenio Lara.

Algumas reflexões sobre Jaci e sua forma de trabalhar

 

Recorremos a Eugenio Lara, retirando alguns trechos de seu artigo - Jaci Régis – O homem e o Humanista - de janeiro/ fevereiro de 2011, primeira edição do Abertura após a desencarnação de Régis.

“O contato pessoal se deu no final daquele ano (1980), em um encontro de jovens espíritas promovido pela Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda. Foram momentos marcantes em um domingo ensolarado. Neste dia assisti a uma palestra sua e o conheci pessoalmente. Senti uma emoção muito grande. Nunca havia conhecido pessoalmente o autor de um livro (Amor casamento e Família), ainda mais um livro espírita de tão profundo conteúdo e arrojados pensamentos. Após o almoço, ele estava sentado numa cadeira observando a movimentação do ambiente. Fui até ele, me apresentei e falei o quanto eu havia gostado de seu livro. Agradeceu os elogios ao seu trabalho e disse-me que estava para lançar um novo livro, Comportamento Espírita, no início de 1981. Outra obra sua que li com avidez, assim como todos os seus livros posteriores e seu primeiro livro, em parceria com Marlene Nobre e Nancy Pullmann, A Mulher na Dimensão Espírita.”

“Nesse meio tempo tive a oportunidade de conhecer o periódico santista Espiritismo & Unificação, editado pela Dicesp. Foi total a identificação. Era exatamente o que eu pensava. Ele era editado pelo Jaci e o redator, José Rodrigues, uma dupla formidável. Vi que não estava sozinho. Centenas de companheiros de vários outros lugares do Brasil e fora dele comungavam dos mesmos ideais, da mesma visão e concepção de um Espiritismo cultural, dinâmico e orientado pelo genuíno pensamento de Allan Kardec.”

“Tive o grande prazer de trabalhar por quase 20 anos ao lado dele. Com os conflitos doutrinários na USE, o Espiritismo & Unificação, que passei a diagramar, foi sucedido pelo Abertura (1987), agora editado pelo Lar Veneranda, através da Livraria Cultural Espírita Editora, Licespe. Nesta época eu era o presidente do Conselho Regional Espírita e acompanhei de perto todo o conflito ocorrido em Santos e em vários lugares do País.”

O jornal Espiritismo & Unificação foi um dos poucos que manteve suas portas abertas para determinados movimentos de contestação como o MUE - Movimento Universitário Espírita, caracterizado por propostas que visavam uma correlação do Espiritismo com o Marxismo, com um discurso de esquerda, fundamentado em autores como Manuel S. Porteiro, Humberto Mariotti e Herculano Pires. Mariotti chamava esse grupo, carinhosamente, de esquerda kardeciana. Foi o periódico espírita que mais promoveu o trabalho realizado pela então Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA – hoje Associação Espírita Internacional), bem antes da penetração mais acentuada de seus quadros e princípios no Brasil, a partir da gestão do escritor espírita venezuelano Jon Aizpúrua, nos anos 90.”

“Muitos companheiros de minha geração me perguntavam: “como você consegue trabalhar com o Jaci?” Eu respondia tranquilamente, sem me incomodar: “nosso trabalho é realizado como se fossemos profissionais, como se fosse um trabalho profissional, apesar de ser voluntário e totalmente doutrinário. Procuramos ser eficientes no que fazemos, apenas isso”.

“O Jaci sempre teve fama de ser centralizador, exigente ao extremo, muito duro e seco, enérgico, grosseiro. Mas ao mesmo tempo era bem-humorado, jocoso, carismático e um exemplo de dinamismo, de trabalho, de perseverança, como se fosse uma força da natureza. De fato, ele era tudo isso. E mais, não tolerava corpo mole, ineficiência, incompetência. Não deixava barato, não poupava palavras, era duro mesmo, mas sem ser mal-educado. Ele não falava palavrão. Nunca ouvi dele alguma palavra de baixo calão.

 

Adorava vê-lo falar. Sempre fui um jacista de quatro costados, mas sem perder de vista suas contradições, sem deixar de contestá-lo quando julgava necessário. Suas palestras sempre traziam pontos polêmicos, criticidade, bom humor. Um debatedor implacável. Era muito difícil debater com ele.

 

Jaci Régis e seu legado:

 

Sua importante participação em casas espíritas.

 

Estamos tomando como base o texto de Ademar Arthur Chioro dos Reis que produziu uma importante biografia de Jaci Régis, sempre escrito entre aspas no texto que nos segue.

Inicialmente observamos os seus primeiros passos na Doutrina Espírita, Jaci Régis é “ filho de Octávio Regis e Izolina Adriano Regis, espíritas praticantes, nasceu em Florianópolis, em 30 de outubro de 1932, sendo o sexto filho de uma prole composta por oito irmãos: Otávio, Arnaldo, Francisco, Albertina, Mariazinha (já falecidos), além de Ivon, Luci e Egydio. Fez o curso primário nesta cidade catarinense, onde começou a frequentar o Catecismo Espírita e, mais tarde, a Mocidade Espírita”.

Em 1947 a família se muda para Santos e “em novembro deste ano entrou para a Juventude Espírita de Santos, recém-fundada pelo Centro Espírita Manoel Gonçalves. A partir daí começa a sua exitosa trajetória de líder, divulgador e pensador espírita, destacando-se pela sua inteligência, impulsividade e criatividade.

MEEV – Mocidade Espírita Estudantes da Verdade – do CEAK de Santos:

 “Em 1949, quando a Juventude, já então denominada Mocidade Espírita Estudantes da Verdade (MEEV), mudou-se para o Centro Beneficente Evangélico, assumiu a liderança da mesma (tinha então 17 anos) com a transferência de Alexandre Soares Barbosa, fundador e grande polarizador dos jovens, para a cidade de Araraquara.

CEAK – Centro Espírita Allan Kardec:

“Em 1952 liderou o movimento que assumiu a direção do Centro Beneficente Evangélico. A partir daí esse centro tomaria um rumo diferenciado dos demais. Por sua sugestão, a casa mudou o nome para Centro Espírita Allan Kardec (CEAK). Por cinco décadas foi membro do Conselho Diretor e participou de atividades doutrinárias no CEAK, do qual foi presidente por 12 anos

CAELV - Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda

“Em 1962 liderou outro movimento composto por um grupo de jovens que assumiu a direção da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, fundada em 1954, da qual foi presidente por 32 anos. Sua gestão foi marcada por grandes realizações, culminando com a construção de um belo prédio, sede da creche que atende hoje 130 crianças e 80 mães, e outro para a escola (posteriormente vendido) que continua atendendo 60 crianças”. Jaci ao desencarnar era o Presidente do Conselho Deliberativo do Lar, como costumamos chamar.

União Municipal Espírita de Santos (UMES)

Jaci “participou destacadamente do movimento juvenil no Estado de São Paulo, sempre combativo e inovador. Foi um dos fundadores da União Municipal Espírita de Santos (UMES), em 1951, sendo seu primeiro vice-presidente. Foi idealizador e presidente da Divulgação Cultural Espírita (Dicesp), órgão da UMES, desenvolvendo um grande trabalho de divulgação. Jovens da MEEV, editavam o jornal Espiritismo, que posteriormente fundiu-se com o jornal Mensageiro da União, órgão da UMES, surgindo o "Espiritismo e Unificação", do qual foi diretor e editor por mais de 23 anos, em companhia de José Rodrigues, que faleceu também em 2010”.

LICESPE - Livraria Cultural Espírita

“A partir das divergências e disputas encetadas com o segmento religioso da UMES, fundou a Livraria Cultural Espírita (Licespe), vinculada ao Lar Veneranda. E o Jornal ABERTURA, em 1987, do qual foi presidente e redator até o seu desencarne.

ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos

“Em 1999, afastou-se do CEAK e fundou o Instituto Cultural Kardecista de Santos (ICKS), entidade ligada ao Lar Veneranda, que presidiu até o seu desencarne. Sempre empreendedor, criou em 2009 uma OCIP, denominada então LarVen, para cuidar dos cursos profissionalizantes ministrados no Edifício Jaci Régis, pertencente ao Lar Veneranda e sede do ICKS e do LarVen, este último já não existe mais.

Espiritismo e Unificação e Jornal Abertura

Além de sua produção literária, já apresentada em artigo anterior neste jornal, Jaci Régis encabeçou como redator estes dois importantes jornais espíritas.

No Abertura Jaci Régis produziu 257 edições desde a fundação do mesmo em abril de 19987 até um mês antes de sua desencarnação em dezembro de 2010.


Jaci Régis e seu legado: a sua vida familiar.

 

Ainda que este não seja o aspecto mais relevante aos leitores espíritas não poderíamos, nesta retrospectiva abstermos de observar o lado familiar deste grande espírita.

 Este aspecto era de suma importância para Jaci, não por menos escreveu um livro que se tornou um clássico chamado Amor, Casamento & Família (1977) atualmente esgotado.

 Recorrendo novamente a Ademar Arthur Chioro dos Reis (AACR), seu biografo buscamos a riqueza de detalhes desta família Régis:

 “Filho de Octávio Regis e Izolina Adriano Regis, espíritas praticantes, nasceu em Florianópolis, em 30 de outubro de 1932, sendo o sexto filho de uma prole composta por oito irmãos: Otávio, Arnaldo, Francisco, Albertina, Mariazinha (já falecidos), além de Ivon, Luci e Egydio. 

 Jaci, era, portanto, oriundo de uma família numerosa, viver em família espírita era algo que ele conhecia muito bem.

 “Era casado com Palmyra Coimbra Régis há 57 anos, companheira dedicada que conheceu na época de mocidade espírita e com a qual teve 6 filhos: Valéria Régis e Silva (pedagoga), Rosana Régis e Oliveira (assistente social), Cláudia Régis Machado (psicóloga), Gisela Régis (biómédica), Fernando Augusto Coimbra Régis (médico) e Marcelo Coimbra Régis (engenheiro). 







Seus genros, Junior do Costa e Oliveira, Roberto Rufo e Silva e Alexandre Machado, inspirados em seu exemplo e dedicação, tornaram-se militantes espíritas muito valorosos. A maioria dos seus 11 netos participaram ativamente da MEEV. Atualmente o Lar Veneranda é dirigido por sua filha, Valéria Regis Silva, e sua numerosa e devotada família participa ativamente na gestão desta entidade, bem como do Jornal Abertura e do ICKS”. (AAQR)

 Neste exato momento se Jaci estivesse encarnado, estaria convivendo com seus 9 bisnetos, com mais uma já a caminho. Jaci pode estar muito tempo com a bisneta mais velha Maria Clara.

Colhemos o depoimento de sua filha Cláudia Régis Machado:



 

“Jaci um presente da vida, um pai próximo que nos envolvia e levava-nos a participar de suas múltiplas atividades. Tinha um olhar especial para cada um de nós. Sempre junto quando precisávamos de uma palavra, de uma orientação não descartava uma boa conversa, um abraço, uma celebração. Sua presença marcante era sentida com muito amor, carinho e respeito”.

Como genro me cabe comentar o que tive oportunidade de presenciar e sentir, o conheci em 1984, quando meus concunhados já estavam bem integrados às atividades espíritas, todos muito inteligentes e com grande conhecimento da Doutrina. Eu recém chegado ao espiritismo só pude ganhar com este ambiente.

Jaci nos liderava pelo exemplo, era incansável, sempre querendo fazer algo novo, um encontro, um novo livro, discutindo sobre as questões atuais. Vivíamos a abertura política ainda muito em seu início. A questão do espiritismo religioso a USE e os SBPEs.

Como toda a família grande, com sua partida, cada filha e filho acabaram por ser o centro de suas novas famílias como seria natural. Ficarão sempre em nossas memórias a sala sempre cheia nos “kerbs” dos feridões.

Nos coube dar seguimento ao Jornal Abertura, esta edição será minha centésima décima segunda, o que faço por prazer e por um imenso respeito por aquele que a iniciou.

Jaci Régis um homem que viveu plenamente.


Jaci Régis um homem múltiplo.

 

Encerraremos esta série em homenagem a Jaci Régis no mês que se completará no dia 13 de dezembro, dez anos da desencarnação do fundador deste jornal. O Abertura foi lançado ao público em abril de 1987, após o processo de fritura do “Grupo de Santos”, pela USE – União das Sociedades Espíritas de São Paulo por parte de seu segmento religioso. Jaci foi o redator chefe do Abertura por 257 edições.

 Perdida a eleição para a USE em 1985, Jaci junto com vários companheiros, não desiste, cria a Licespe, a Sociedade Espírita dos Estudos do Homem em São Paulo e em 1989 o Simpósio Nacional (depois Brasileiro) do Pensamento Espírita, aglutinando lideranças que mais tarde se auto definirão como promotores de um “Espiritismo Laico”.

“Jaci Régis – um homem múltiplo”, no XII SBPE, o ICKS fez uma homenagem a ele, de uma forma que traduz muito bem: “naquela mesa está faltando ele e a saudade dele tá doendo ...” só quem conviveu pode entender o significado desta falta. Jaci estava envolvido, ou melhor, comprometido com uma dezena de atividades e a sua desencarnação nos provou que sua liderança era chave para o sucesso que o “Grupo de Santos” ensejava. Da mesma forma que na natureza como no caso das florestas tropicais, quando uma árvore enorme é derrubada, pela característica da imortalidade dinâmica, outras árvores ocuparão o seu espaço, mas isto leva tempo.

 Mais uma vez irei recorrer a amigo Ademar Arthur Chioro dos Reis (AACR), seu biógrafo, onde buscarei detalhes importantes sobre a multiplicidade que representou a vida deste grande espírita.

 A seguir escreveremos sobre a sua vida de uma maneira geral como muito bem resume Ademar, (o que está em parêntesis é minha contribuição adicional) Jaci “Trabalhou durante 30 anos, até aposentar-se, na Refinaria Presidente Bernardes - Petrobrás, chegando a cargos de chefia de departamentos.

Formou-se em Economia (tendo inclusive dado aula de Macroeconomia na Faculdade de Ciências Econômicas São Leopoldo em Santos), Jornalismo (chegou a ter um jornal em Cubatão) e Psicologia. Freudiano assumido, era psicólogo clínico (exercendo esta profissão por mais de 30 anos) e até o seu desencarne exercia intensa atividade profissional, que influiu decisivamente para que se dedicasse a abordagem de temas relacionados ao comportamento humano, a sexualidade, a família, a personalidade humana e suas relações com os problemas afetivos e psíquicos.

 “Desenvolveu, ao longo da década de 90 do século passado, uma teoria a que denominou Espiritossomática, procurando estabelecer pontos de confluência e a construção de uma práxis terapêutica a partir das contribuições doutrinárias do Espiritismo e de outras áreas da Psicologia, em particular a psicanálise”.

“Era expositor e autor que fazia (e continuará fazendo) muito sucesso entre os jovens e espíritas livres-pensadores, desprovidos de preconceitos, tocados pelos argumentos e pela abordagem moderna, aberta, fundamentada e consistente com quem lidava com os mais diversos temas doutrinários e problemas humanos. Um autor que possuía um estilo peculiar, de reconhecida competência”.

 “Sua pena produzia há décadas ensaios e crônicas, publicadas em jornais e livros, de rara sensibilidade e ternura, que tocam as mais profundas fímbrias de nossos corações e mentes. Um texto sensível e criativo, sem que recorresse à mesmice que caracteriza a literatura espírita. Ao mesmo tempo, era capaz de produzir artigos, trabalhos, textos e livros de cunho doutrinários que se constituíram em verdadeiros clássicos da literatura espírita contemporânea, indispensáveis aos estudiosos da Doutrina Espírita. Desenvolveu uma linha de raciocínio e argumentação extremamente fundamentada e consistente, a partir dos postulados de Kardec – que conhecia como poucos.” (AACR)

 Algo que poucos sabem, neste seu jornal de Cubatão, Jaci, como era o seu caráter fez críticas a algumas “coisas estranhas” que ocorriam em Cubatão, durante o período de exceção, bem, Jaci Régis foi chamado e fichado no DOPS (Departamento de Ordem e Política Social).  Foi então advertido a escrever com mais cuidado por aquele órgão de repressão. Jaci sabidamente não era uma pessoa de esquerda, foco principal do DOPS. Mas fica aqui a lembrança de que em regimes totalitários, sem liberdade, qualquer cidadão, com qualquer ideologia, está sempre correndo riscos.

 Reconhecimentos:

Jaci Régis tanto em vida, como após a sua morte, recebeu várias homenagens e reconhecimentos, este jornal sob sua batuta, for premiado pela ABRAJE – Associação Brasileira de Jornalistas Espíritas como o melhor jornal espírita. Igualmente muita satisfação ele obteve ao receber o Prêmio Bem Eficiente pelo Lar Veneranda em sua primeira edição.

Stephen Kanitz, Administrador por Harvard, criou o Prêmio Bem Eficiente em 1994, com o objetivo de reconhecer o trabalho e dedicação de dirigentes e voluntários sociais deste país, que lutam com cada vez menos recursos, donativos e incentivos sociais para continuar ajudando os outros, a Comunidade Assistencial Espírita lar Veneranda recebeu este prêmio, para concorrer era necessário apresentar um relatório baseado no Plana Nacional de Qualidade.

2011 – XXI Congresso da CEPA em Santos

 Jaci Régis, assim como seu grande companheiro de trajetória José Rodrigues foram homenageados, ambos participaram do início da organização do Congresso, mas desencarnaram  e nos deixaram em 2010.

Dona Palmyra recebeu das mãos de Ademar Arthur a homenagem que o ICKS exibe e expõe no salão do ICKS.



2014 – II Encuentro Espírita Iberoamericano – Salau

 

Estivemos presentes e recebemos esta homenagem, Cláudia Régis Machado e eu. Neste evento pude apresentar à comunidade espírita ibero-americana o trabalho que vinha sendo desenvolvido por Jaci – a Ciência da Alma, nos seus últimos anos de vida. O livro que consolida os trabalhos apresentados no evento traz em sua dedicatória o reconhecimento a Josep Casanovas e Jaci Régis, que estiveram juntos em Barcelona em 2006, pelos serviços prestados ao espiritismo livre-pensador.

 

Complementando as merecidas homenangens, neste ano em que completam 10 anos sem a presença física de  Jaci Régis CEPABrasil e o ICKS com apoio do CPdoc e Cepa Internacional farão uma live no dia 12 de dezembro as 16 horas, onde muitos amigos e parentes darão depoimentos por video sobre – Jaci Régis – Pensamento e ação.


 


Buscamos com este pequeno recorte da vida de Jaci Régis, trazer a luz, um pouco de diversos aspectos daquele que foi um incansável trabalhador da Doutrina.


O artigo completo, composto pelas 5 partes,  poderá ser encontrado no blog do ICKS –  http://icksantos.blogspot.com


Fonte: Jaci Régis, biografia e vida – Ademar Arthur Chioro dos Reis

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

Gostou? Você pode encontrar muito mais no Jornal Abertura – digital, totalmente gratuito.

Acesse: CEPA Internacional


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A Fé Raciocinada - por Alexandre Cardia Machado

 

A Fé Raciocinada uma visão Livre-pensadora

 

“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.

Allan Kardec”




Nunca antes a expressão acima do mestre lionês se mostrou tão sábia, em tempos de corona-vírus o que mais nos ajuda a enfrentar o problema é a razão, representada pela ciência.

Contudo o mundo se depara frente a um dilema, parar tudo o que for possível para estancar a proliferação rápida do vírus pagando com isto a conta com uma recessão mundial, ou seguir a vida normalmente e sacrificar uma parcela mais vulnerável da população, sem a menor capacidade de antever até onde isto poderia chegar.

O mundo inteiro, apesar das diversas reclamações de vários setores, optou pela saída mais humanista, por salvar mais vidas e com isto vamos colocar o planeta em quarentena, esta é a opção mais sensata. Mesmo no Brasil onde nosso presidente insiste em falar contra o isolamento horizontal, ele tem ficado na retórica a prática do governo é sim pelo isolamento.

Claro, que não são todos os que estão, ou ficarão em quarentena, mas todos devem se proteger, a área de saúde, de segurança, toda a cadeia de alimentação, transporte e logística e geração de energias, não pode parar.

Para que parte da população possa ficar em casa, alguns serviços precisam funcionar. Há que prover energia para fábricas, hospitais e residências, combustível e alimentos a todos, bem como necessitamos de uma capacidade de produzir remédios, e aparelhos médicos, entre muitas outras coisas. Com isto o vírus continuará se propagando, mas a uma velocidade menor e compatível com a nossa capacidade de lidar com a doença.

O momento é de união pela vida, de exercermos a paciência e a resiliência. A crise será superada, como sempre se supera e o mundo voltará a crescer. Governos de todos os matizes ideológicos estão tomando ações para superar a crise de falta de dinheiro que pode implicar na incapacidade de comprar mantimentos da população. Porém, acreditar que a barbárie tomará conta do mundo é um salto muito grande, estamos seguros de que a generosidade se fará presente como sempre aconteceu na história da humanidade em situações como estas.

A medicina encontrará remédios, já existem alguns tratamentos que estão sendo testados todos os governos estão trabalhando para aumentar a capacidade de leitos hospitalares de UTI, se tivermos paciência e aguentarmos ficar em casa o máximo de tempo possível, vamos superar.

Temos que enfrentar os problemas um a um, primeiro o vírus e a seguir o problema de fome, se este problema de fato chegar a ocorrer, as medidas de apoio podem minimizar o impacto da fome, outras se seguirão de acordo com o desenrolar dos acontecimentos.

É hora, quem sabe de olharmos para dentro de nós e vermos o que podemos fazer pelo outro? Moro em um bairro com muitos edifícios altos, hoje fomos surpreendidos por um show de teatro para crianças feito na sacada do prédio ao lado, com autofalantes e transmissão pela internet, assim como este evento que relato, tantos outros ocorreram na Itália e em outras partes do mundo, alguns só para quebrar a rotina do “Dia da Marmota” (nome de um filme onde a cada manhã o protagonista voltava ao dia anterior – tudo era igual, só ele quem mudava) em que estamos vivendo em nossos momentos de confinamento forçado. Outros eventos online estão sendo feitos com o objetivo de arrecadar fundos para ajudar a resolver o problema.

Alguns podem simplesmente contribuir com dinheiro para as diversas organizações de acolhimento que existem, por que não?

- Bah! Mas alguns dirão, - não sei como fazer? Quem for de Santos, basta olhar no carnê do IPTU onde temos várias opções de organizações que fazem trabalho voluntário que podemos doar, são só sugestões, sabemos que todos já estão fazendo algo.

No momento em que escrevo, observo que a Fundação Porta Aberta, já apresentada anteriormente neste jornal, na coluna - Gente que Faz - dirigida por Mauro Spinola e nossa presidente da CEPA Internacional, Jacira Silva e outros amigos, está viabilizando a fabricação de máscaras de proteção, informações podem ser obtidas pelo WhatsApp – conforme quadro abaixo. Quem quiser pode ajudar através deles também. Trata-se de uma parceria com o Rotary Club de São Paulo.

Artigo publicado no jornal Abertura abril 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Espiritismo, antídoto contra o fundamentalismo - por Roberto Rufo

 

Espiritismo, antídoto contra o fundamentalismo

 

“Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo.”   (Umberto Eco).

 

"Se eu atirasse em alguém numa avenida nova-iorquina, nem por isso perderia um só voto" (Donald Trump)

 

"Eu não sou um ditador, mas às vezes a situação faz com que você se torne um" (Nicolás Maduro).

 

 


Em interessante artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo,Dom Odílio Scherer, Cardeal-Arcebispo de São Paulo aborda o tema "Cultura Bipolar" e a meu ver com razão afirma que vivemos tempos marcados pela exacerbação ideológica, em que se confundem facilmente valores com posições ideológicas e partidárias. O que interessa no discurso ideológico é desqualificar o oponente. Ou se trata de um esquerdista comunista e ateu ou se trata de um direitista ultra-conservador. Ou se é mortadela ou se é coxinha. Na verdade, trata-se de um debate paupérrimo de ideias. O articulista está sentado na razão quando assinala que a complexidade das coisas não cabe necessariamente em duas caixinhas tão apertadas. 

Caso contrário, serei obrigado a admitir como certo o pensamento de um grande amigo,ex-metroviário como eu, que tentava me convencer na época do escândalo do mensalão de que na verdade o que estava acontecendo é que a quadrilha azul queria apenas tirar a quadrilha vermelha do poder. E hoje esta gostaria de recuperar o lugar de onde foi apeada. O mundo não pode ser tão simplista assim. 

 

Claro que os extremistas raivosos e as manifestações de ódio envenenam o convívio social. Segundo D. Odílio Scherer a vida social alicerçada no respeito às pessoas e no senso de colaboração e justiça faz bem a todos. O Espiritismo em seu surgimento oficial em 18 de abril de 1857 com o lançamento do Livro dos Espíritos sempre expressou uma mensagem ponderada e isenta de preconceitos.

 

Numa entrevista que Herculano Pires concedeu ao primeiro Anuário Espírita, em 1964 o jornalista e filósofo foi questionado sobre diversos temas: parapsicologia, tradução das obras da Codificação, filosofia e fanatismo.

 

“Do ponto de vista espírita, um fanático espírita, é uma aberração, porque o Espiritismo, está sujeita ao exame crítico. Onde se fala de crítica, no sentido exato do termo, que é o do exame aprofundado e sereno das coisas, não há lugar para manifestações de fanatismo”, disse o escritor.

Os sistemas livres, diz H. Pires, correspondem ao espírito da filosofia; já os sistemas fechados, ao espírito das religiões. Como a filosofia nasceu da religião, e esta era, interpretada sempre de forma rigidamente sistemática, durante muito tempo os filósofos elaboraram grandes sistemas filósofos, que fizeram época. No tempo de Kardec, os sistemas filosóficos imperavam. O sistema de Hegel (1770-1831), por exemplo, e o de Tomás de Aquino (1225-1274). E nesse mesmo tempo surgiam dois novos sistemas: o positivismo e o marxismo. Eram o que podemos chamar “sistemas-sistemáticos”, construções dogmáticas do pensamento. Os Espíritos Superiores indicaram a Kardec a inconveniência dessas construções, que encarceravam o pensamento em determinados princípios. Daí a formulação por Kardec de um “sistema não-sistemático”, ou seja, livre “dos prejuízos do espírito de sistema”. Uma doutrina que, à maneira do Evangelho, se constituía de orientações gerais do pensamento. Este é um aspecto que nos revela a perfeita atualidade do Espiritismo, no plano filosófico.

                                               

O preocupante para mim no debate político exacerbado de hoje é que não existe um programa de governo de ambos os lados. A luta é pelo poder. Nas palavras do cientista político e professor da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna há uma realidade nova no país. Tem uma ralé diz ele (no sentido que a pensadora Hannah Arendt a utiliza), 

que pode se tornar uma base de apoio a grupos fundamentalistas de esquerda e de direita. Não é só pobre não diz o cientista político. É classe média também. É apenas ressentimento e falta de valores. A sociedade abdicou de valores, deixou-se perverter.   Cumpre esclarecer o sentido da palavra ralé apresentada pela pensadora Hannah Arendt (1906-1975) em sua obra magna "As origens do totalitarismo":  

 

"Ao buscar entender como o nazismo se apossou da Alemanha, Arendt formula a tese de que a ralé chegou ao poder. Como ela define o que seja esta ralé? Ela se funda em grupos residuais de todas as classes sociais, por esta razão lembra Hannah, é fácil confundi-la com o povo; é como se fosse um grande resto, uma porção das mais diferentes classes sociais que tem em comum negar a política e a contradição como instâncias da vida social, por isso sua aversão à política e às práticas de equalização ou equilíbrio social e às diferentes instâncias da vida democrática; a ralé tem o ódio como missão e a violência como seus motores".   

 

Portanto, fica muito claro que o Espiritismo, em sua teoria racional e equilibrada, quando parte para a prática, só pode apoiar projetos que façam autocritica permanente, pois dessa forma sempre podem corrigir desvios inerentes a qualquer processo de gestão. Como subsídio oferece as Leis Morais do Livro dos Espíritos como exemplificação do que julga ser o modelo correto de convivência política e social.

Artigo publicado no jornal ABERTURA abril 2020

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Gente que Faz - Maestro João Carlos Gandra da Silva Martins História de superação: por Alexandre Cardia Machado

 

Maestro João Carlos Gandra da Silva Martins História de superação:

João Carlos Gandra da Silva Martins é um pianista e maestro brasileiro. Seu trabalho como pianista é reconhecido mundialmente, especialmente suas gravações das obras de Bach. É irmão do jurista Ives Gandra Martins e do pianista José Eduardo Martins. Nasceu em 25 de junho de 1940, tendo no momento 79 anos.

Retiro dados de uma reportagem da revista IstoÉ: Desde 1998, uma doença e vários acidentes foram comprometendo as mãos do maestro João Carlos Martins, a ponto de fazerem com que ele parasse de tocar piano. A despedida, porém, não foi definitiva — graças a luvas especiais, os dedos do aclamado músico puderam reencontrar as teclas.

“Minha luta se tornou ainda maior quando percebi o reconhecimento do meu passado na imprensa internacional”, disse Martins à AFP durante entrevista no seu apartamento em São Paulo, antes de tocar algumas notas em seu piano Petrof.

A motivação foi recompensada. Prestes a completar 80 anos, Martins comemorará em outubro os 60 anos da sua primeira apresentação no Carnegie Hall, um concerto em Nova York.

 “Sou perfeccionista. João Gilberto e eu, a gente dava se muito bem, um pior que o outro”, brinca o maestro, em referência a conhecida meticulosidade do pai da Bossa Nova.

Em seu caminho há dores e glórias. Martins enfrentou as consequências de uma distonia focal, uma enfermidade neurológica que altera as funções musculares, diagnosticada quando tinha apenas 18 anos. Além disso, machucou o cotovelo em um acidente durante uma partida de futebol e foi golpeado na cabeça durante um assalto na Bulgária.

À medida que seus dedos foram enrijecendo, ele foi renunciando ao piano. Há duas décadas passou a tocar apenas com a mão esquerda, mas aos poucos o movimento se tornou limitado aos polegares. Com todas estas limitações passou a se dedicar à regência.

A mão biônica

Certo dia o designer de produtos Ubiratã Costa, após ver uma entrevista do maestro, apareceu em seu camarim com um par de luvas e a esperança de poder devolver algo de alegria ao lendário músico.

“As luvas não serviram, mas o convidei para almoçar”, disse o pianista, e a partir dali Costa começou a desenvolver novos protótipos.

As luvas, que combinam Neoprene e peças feitas em impressora 3D, passam por constantes adaptações.

“Já perdi a conta de quantas fiz”, relata o designer.

De forma carinhosa, Martins conta que “antes de aparecer esse maluco com essas luvas”, sua rotina consistia em acordar à 5h30, ler os jornais, comer dois ovos fritos e memorizar partituras, já que a sua condição não o permite passar as páginas durante a música. O maestro sabe de cor cerca de 15 mil partituras.

Agora, por causa dessa tecnologia e de um robô desenvolvido na Europa para conseguir passar as páginas das partituras, poderá voltar a fazer o que mais ama: tocar piano.

No programa do dia 29 de fevereiro de 2020 – Altas Horas da TV Globo, o maestro relatou que se surpreendeu, após conseguir tocar piano com os 10 dedos, depois de 20 anos, em janeiro de 2020. Esta notícia saiu em 158 órgãos de imprensa no mundo todo e porque não dizer, 159 contando o nosso ABERTURA. No mesmo programa o maestro tocou a música “A lista de Schindler” de John Williams que ele fez questão de tocar para marcar os 70 anos da libertação dos judeus do campo de concentração de Auschwitz onde o maior número de judeus foi morto em câmaras de gás.

Projetos sociais

O pianista gostaria de trazer para o Brasil uma versão do programa venezuelano “El Sistema”, do maestro José Antonio Abreu, que trouxe esperanças a milhares de crianças pobres e de classe média.  “Tudo foi gratificante na minha carreira como pianista e maestro, mas tem um buraco aqui: tentar deixar um legado, e tentar deixar um legado é o projeto ‘Orquestrando São Paulo, Orquestrando Brasil’, como intitulei ‘El Sistema’ no Brasil”, diz Martins, que resume sua trajetória como “uma vida baseada em ideais”.

O maestro não é espírita, mas é sem sombra de dúvidas um idealista, trabalhador incansável e um apaixonado pela música. Certamente uma mente plural e desprendida. Um grande Espírito.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Afinal somos livres? por Reinaldo di Lucia

 

Afinal, somos livres?

 

É com este tema que marco o reinício de minhas palestras no Centro Espírita Allan Kardec, de Santos, em 2020. Tema instigante, que é debate na Filosofia há séculos. Afinal, o livre-arbítrio existe ou somos determinados pelas condições que nos rodeiam?

Precisamos, antes de mais nada, definir liberdade. E, por incrível que pareça, isto não é tão fácil. Vejamos a definição clássica, do dicionário:

“Conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei”

Ou então, “Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa.”

Ou ainda, “Nível de independência absoluto e legal de um indivíduo, de uma cultura, povo ou nação, sendo nomeado como modelo (padrão ideal).”

Uma questão importante nestas definições é em relação aos limites da liberdade. Na segunda definição, por exemplo, “agir segundo o seu livre arbítrio, ou de acordo com sua própria vontade”, poderia ser entendido como não possuindo limites. Entretanto, complementa-se: desde que não prejudique outra pessoa. O que é um limitador por si só, originado de um princípio religioso (“não fazer aos outros o que não desejaria para si”) ou político (a existência de um pacto social que permite a convivência em sociedade). Tal como o limitador legal da primeira definição.

Já na terceira, a ideia de liberdade como um “nível de independência absoluto” implica num homem não limitado em sua possibilidade de ação. Como afirmava Richard Bach, em Ilusões – a história de um messias indeciso, cada um de nós é livre para fazer o que quiser. Independente de prejudicar ou não aos outros.

Ou seja, a resposta à questão do título depende essencialmente da definição que damos à palavra liberdade. Se limitarmos essa definição a fazermos somente o que não afeta negativamente os outros, então nossa liberdade é limitada, e nosso livre-arbítrio está condicionado a não ultrapassar este limite. Concluímos então que só é possível a liberdade plena se não houver uma divisa moral que nos impeça de ir além: a preocupação com aqueles que dividem conosco a existência (e isso, obviamente, não inclui somente os seres humanos).

Pessoalmente, gosto do conceito de liberdade de Spinoza: diretamente associada à ideia de liberdade está a noção de responsabilidade, uma vez que o ato de ser livre implica assumir o conjunto de nossos atos e saber responder por eles. Ou seja, posso sim prejudicar os outros se eu quiser, mas na vida em sociedade isto (normalmente) tem consequências, que devo assumir.

Kardec propõe que só conseguimos a liberdade absoluta pelo pensamento, pois assim estaríamos livres tanto das limitações sociais quanto do cerceamento imposto pela matéria. Mas deu a este tema tanta importância que o colocou como uma das leis morais, que regem o Espírito.

Precisamos encontrar o equilíbrio entre nosso livre arbítrio e a vida em sociedade. Para tanto, precisamos assumir nossa responsabilidade, eliminando os vícios que nos assolam: orgulho, egoísmo etc.

Simples, não?

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A tranquilidade espírita por Alexandre Cardia Machado

 

 A tranquilidade espírita

A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.

Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina Espírita.

Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19.  Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida:

1837 a 1901 – período chamado de Era Vitoriana - onde a rainha Vitória reinou – celebrizada pela frase” O Sol não se põe no Império Britânico” – esta pressão era muito grande para os eternos rivais franceses;

1848 – Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bonaparte assume a presidência da França, em 1852 ele dá um golpe militar e se transforma em rei da França num novo retorno a monarquia e fica no poder até 1870, portanto em todo o período de atuação do professor Hippolyte Leon Denizard como Allan Kardec a França voltava a ser uma monarquia;

1861 – 1865 – Guerra da Secessão nos Estados Unidos, os Confederados tinham apoio logístico e militar da França;

1865 -1867 – Segunda intervenção Francesa no México que terminou com a expulsão das tropas Francesas – isto no período de Napoleão III;

1862 – A França começa a apoderar-se da Indochina – que determinaria 100 anos depois nas guerras do Vietnam – primeiro francesa e depois norte-americana;

1870 – Napoleão III declara Guerra a Prússia, guerra que iria perder, perdendo dois estados Alsácia e Lorena à Prússia e que resultaria mais tarde em um dos componentes da I Guerra mundial entre 1914 a 1918;

Neste período a França apoia a unificação da Itália que se consolida em 1870, com a França anexando o condado de Nice ao seu território.

Peço aos historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.

Mostro este quadro para demonstrar, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.

Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).

No entanto estes problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.

Se olharmos o século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipin na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual. 

Já nos 19 anos de século 21, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.

Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, das mortes nas guerras.

Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita

O Século 19 se caracterizou pelo desenvolvimento de armas e munições mais destrutivas, a escalada prosseguiu no século 20 com a aviação e as bombas atômicas, mas chegamos a um ponto onde a opinião pública, a imprensa e mais recentemente as redes sociais detiveram a utilização de armas de destruição em massa. Ainda temos o risco, pois o arsenal existe, mas sua utilização está contida.

Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos Kardec assim  nos ensina “ Os bons Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”.

Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo.

artigo publicado no Jornal abertura - março 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 9 de novembro de 2020

DIALOGANDO COM JACI - por Egydio Regis

 

DIALOGANDO COM JACI

 

Preambulo

Nota do blog - nova coluna do Jornal Abertura á partir de 2020

 

Após encerrarmos o trabalho prazeroso durante dez anos estudando e divulgando os artigos elaborados pelo mestre na Revista Espírita, iniciaremos uma outra tarefa não menos prazerosa e de importância para a afirmação doutrinária Espírita em nossos tempos. Pessoas podem perguntar: por que Jaci Regis? O que ele representa para o Espiritismo? Seu nome é reverenciado nacionalmente? Por que não foi reconhecido e divulgadas suas ideias pelos canais do “poder” central do movimento espírita? Algumas destas perguntas responderemos baseados na vivência que tivemos dentro do movimento e com o próprio Jaci. Outras a obra literária dará as respostas que muitos procuram.

 

Qual o perfil de Jaci? Poucos da multidão de espíritas puderam realmente conhecer e admirar a personalidade marcante desse incansável trabalhador, quer dos assuntos doutrinários, quer da benemerência dedicada à infância e às mães sofridas carentes a procura de uma vida digna junto das suas crias. Jaci possuía uma energia de trabalho que chegava a irritar a quem o seguia. Sua mente criativa o projetava para novos projetos arrojados que faziam tremer as bases estabelecidas no pieguismo e nos valores envelhecidos pelo comodismo. Desde a adolescência ousou contrariar e enfrentar os velhos líderes do movimento espírita santista, cujos centros mais pareciam simulacros de igrejas e templos evangélicos do que casas de estudos e de divulgação da Doutrina Espírita. Aos quatorze anos chegou a Santos (catarinense de nascimento) , ingressou na então fundada Juventude Espírita de Santos (1947) onde logo manifestou seu espírito inquieto e quando a Mocidade rebelou-se contra os entraves da diretoria do Centro Espírita Manoel Gonçalves (sede primeira da Mocidade ) e transferiu-se para o Centro Beneficente Evangélico (em 1949, já então com o nome de Mocidade Espírita Estudantes da Verdade) Jaci, ainda na adolescência, quando o Mentor da mocidade o saudoso Alexandre Soares Barbosa teve, por força de sua atividade profissional, que deixar a condução doutrinária da entidade, chamou para si essa responsabilidade. O Centro Beneficente Evangélico, era um pequeno centro com poucos frequentadores e praticamente com as portas quase fechadas. A MEEV (Mocidade Espírita Estudantes da Verdade), sob a batuta de Jaci deu nova vida ao Centro. Mas, ele não se conformou com o fato de o nome não identificar uma casa espírita e sua primeira luta foi convencer a “velha guarda” a acrescentar o nome Espírita, passando então a denominar-se Centro Espírita Beneficente Evangélico. Com o apoio de alguns companheiros mais velhos, mas com mente aberta e, sobretudo, com os jovens da Mocidade, Jaci tornou-se o grande condutor do Centro. A primeira grande iniciativa foi propor a mudança do nome de Centro Espírita Beneficente Evangélico, para Centro Espírita “Allan Kardec”. Para se ter ideia da capacidade intelectual de Jaci, é preciso dizer que até mais de vinte anos de idade, ele tinha apenas completado o curso comercial, equivalente na época ao ginásio ou ao primeiro ciclo de hoje. Porque precisava trabalhar e não tinha tempo para estudar. Assim, somente lhe restava prestar exame de madureza que hoje seria o supletivo. A partir daí, tendo conseguido o certificado do segundo grau, não mais parou e laureou-se em três cursos superiores: Economia, Jornalismo e Psicologia, os dois primeiros em horário noturno por causa de sua atividade profissional como empregado da Petrobrás. Psicologia cursou quando já estava aposentado e foi sua última atividade profissional.

 

Paralelamente aos trabalhos no Centro e aos primeiros ensaios de questionamentos doutrinários, Jaci preocupava-se com a atividade de benemerência incorporando-se às campanhas desenvolvidas pelo Centro e, especialmente ao Lar Veneranda, creche não propriamente espírita, fundada e dirigida por um grupo de amigos ligados a atividade portuária. Essa entidade funcionava em uma casa e atendia um punhado de crianças possibilitando suas mães trabalharem, além de oferecer cursos de qualificação para essas mães. Sua situação não estava muito boa estando sob ameaça de despejo e outras dificuldades. Jaci e um grupo de jovens, depois de algumas gestões, assumiu a direção da entidade e num verdadeiro esforço heroico, suportando todo tipo críticas e má vontade de pessoas derrotistas, não só comandou a superação de dificuldades, como conseguiu a façanha de construir um prédio moderno e confortável para abrigar mais de cem crianças, estendendo a atuação de creche para o lar de crianças desamparadas. Incansável, dirigia o Lar, o Centro, fazia palestras, escrevia e trabalhava profissionalmente em jornada de oito horas. Era difícil acompanhar o seu ritmo de trabalho e isso muitas vezes o irritava.

 

Jaci não era uma pessoa melosa, tinha uma personalidade forte e não usava de eufemismos com ninguém. Era direto, duro, mas sensível e respeitoso com quem merecia. Era um palestrador na época em que surgiram os oradores que davam verdadeiros espetáculos declamando trechos decorados, elevando a voz para impressionar o público e derramando-se em trechos evangélicos longos. Jaci, não decorava nada, não fazia pose, não usava linguagem empolada. Não empolgava, fazia pensar, derramava doutrina clara e ousava tocar em assuntos que melindravam as plateias acostumadas a ouvir repetidamente lições evangélicas e pouco espíritas. Como resultado de sua coragem em criticar os centros que mais pareciam igrejas e assembleias evangélicas, Jaci passou a ser persona não grata nas casas espíritas. Os jornais que fundou e escreveu, como o Abertura, assim como suas obras, foram proibidos pelos dirigentes desses centros. Por incrível que possa parecer, sua palavra foi caçada e seus escritos censurados, sob a égide de uma doutrina que tem a liberdade de pensamento e de expressão como lema maior. Essa lamentável atitude espalhou-se por todo o Brasil e por isso suas ideias revolucionárias, seu descortino em analisar a obra de Kardec e desmistificar o emanuelismo e o mediunismo que pretendiam substituir e superar Kardec, não chegaram à massa espírita.

 

Além dos livros, que vamos basear nosso trabalho, Jaci foi o grande incentivador do espiritismo laico, hoje bem sedimentado no continente sul-americano. Idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que reúne espíritas de todo o Brasil e de outros países, é sempre lembrado e citado por muitos participantes.

 

Enfim, muito poderia escrever sobre Jaci, de quem tive a honra de ser irmão de sangue e mais do que isso, seu admirador e seguidor. Devia esta justa homenagem a um dos mais importantes espíritas de nosso tempo. Oxalá a partir deste modesto trabalho algumas pessoas se interessem e mergulhem nos ensinamentos de Jaci Regis.

 

Egydio Régis

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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