quinta-feira, 30 de setembro de 2021

A liberdade é uma escolha por Roberto Rufo e Silva

 

                                                                A liberdade é uma escolha.

 

"O livre-arbítrio é a capacidade de fazer com alegria aquilo que eu devo fazer". (Carl Gustav Jung).

 

 

Sobrevivente de Auschwitz, a escritora húngara e doutora em psicologia Edith Eva Eger, que em 29 de setembro/2021 fará 94 anos, lançou o livro "A liberdade é uma escolha" , que trata sobre a escolha do ser humano em ser livre. 

Escutemos com atenção este breve relato da Sra. Edith Eva Eger: 

"Na minha primeira noite no campo de concentração em Auschwitz, aos 16 anos de idade, fui forçada a dançar para Josef Mengele, o oficial da SS conhecido como Anjo da Morte. Dance para mim , ele ordenou. Relembrando o conselho dado por minha mãe - Ninguém pode tirar de você o que você colocar na sua mente - , fechei os olhos e me transportei para um mundo interior. Na minha imaginação , eu não era mais a prisioneira morta de frio e de fome e arrasada pela perda. Meus pais foram assassinados na câmara de gás no primeiro dia de prisão. 

Passei então a me imaginar no palco da Ópera de Budapeste interpretando a Julieta do balé de Tchaikovsky. Foi escondida nesse refúgio interior que obriguei meus braços a se erguerem e minhas pernas a girarem. Reuni forças para dançar pela minha vida.

Todo minuto que vivi no campo de concentração de Auschwitz foi como um inferno na Terra. Mas foi também a minha melhor escola. Submetida à perda, à tortura, à fome e sob constante ameaça de morte, descobri as estratégias de sobrevivência e liberdade que uso até hoje, diariamente, em meu consultório e em minha vida.

Quando escrevi A bailarina de Auschwitz, eu não queria que as pessoas lessem minha história e pensassem - Meu sofrimento não é nada em compensação com o dela  - .Queria que as pessoas conhecessem a minha vida e entendessem - Se ela pode fazer isso, eu também posso". 

 Dentre os conceitos fundamentais que compõem o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento. Como mola propulsora desse livre arbítrio surge algo chamado de vontade. Paulo Cesar Fernandes em seu trabalho Livre-arbítrio ou Determinismo apresentado no VI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 1999 assinala que o livre arbítrio é libertação. Todavia o espírito tem em si uma série de leis, escreve Paulo Fernandes, que não pode sobrepujar por estar envolvido na matéria, preso a um organismo,sujeito a leis biológicas e psíquicas, vinculado a um meio social e modelado pela educação da família. Naqueles espíritos que ainda não chegaram a um grau de consciência superior a vontade é quase instintiva, baseando-se nas necessidades de sobrevivência. Continua Paulo Cesar Fernandes, dizendo que à medida que tomamos consciência de nossa existência e sua finalidade, nos convertemos em seres mais reflexivos, inteligentes e racionais, conquistando passo a passo a nossa liberdade , através da vontade de superação, eu acrescentaria. Esse também é o conselho da Sra. Edith Eva Eger em seu livro "A liberdade é uma escolha" . Embora o sofrimento seja universal e inevitável, diz a autora, podemos ajudar as pessoas a valorizar o poder da escolha. A vontade como força motriz do livre-arbítrio.

Meus queridos e com certeza poucos leitores, tentem responder a essa sequência de perguntas propostas pela Sra. Edith Eger : Sou orientado  por problemas ou orientado por soluções? Vivo refém do passado ou estou vivendo no presente? E por último aquela pergunta que ela acha que devemos nos perguntar diariamente : estou evoluindo ou revolvendo o passado?

Voltemos ao pensador Paulo Cesar Fernandes no seu trabalho do VI SBPE de 1999, Livre-arbítrio ou Determinismo, que nos ensina que quanto maior for nosso grau de evolução maior será a nossa liberdade com a consequente maior responsabilidade pelos atos praticados. Eu acredito, e para isso me valho do Espiritismo, que possuímos em todos nós uma capacidade de transcender até mesmo o maior dos horrores e usar o sofrimento para o bem estar de todos como fez a Dra. Edith Eva Eger . 

 Roberto Rufo 

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 28 de setembro de 2021

As Paralimpíadas e a carta de Yve - por Alexandre Cardia Machado

 

As Paralimpíadas e a carta de Yve

Na segunda metade de agosto, com duas semanas de diferença das Olimpíadas do Japão se realizaram as Paralimpíadas. Enquanto nos Jogos Olímpicos, havia cobertura de uma dezena de canais a cabo vemos uma cobertura importante, mas muito mais modesta das Paralimpíadas.



Estes jogos fazem parte de um processo internacional de quebra de barreiras, de redução de preconceitos que se vê cada vez de forma mais relevante em todas as áreas sociais.

O espiritismo nos ensina que todos nós surgimos simples e ignorantes e que evoluímos pela soma de nossas experiências, somos todos passageiros desta aventura do desenvolvimento do Espírito através da imortalidade dinâmica.

O Brasil foi o 8° colocado nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, buscávamos nestes jogos igualar ou quem sabe superar a marca anterior, é assim que as coisas acontecem nos esportes e por que não dizer, na própria vida onde em todas as atividades, nós Espíritos Encarnados estamos em busca de superações. Finalmente terminamos os jogos na 7ª posição, igualando este resultado ao dos jogos de Londres em 2002, em matérias de medalhas, igualamos o número conseguido no Rio de Janeiro com 72 medalhas, mas superamos nosso recorde de 2002 que era de 21 ouros e atingimos um total de 22 ouros.

Mas o resultado não é o que realmente importa, nas palavras do criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna Barão de Coubertin – “O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade” Pierre de Fredy (1863 -1937).

A carta de YVE

Recentemente nosso Ministro da Educação fez uma declaração infeliz, tendo se desculpado, logo em seguida, tamanha a repercussão, extraio este trecho que vamos analisar: “há crianças com deficiência de impossível convivência “. Esta é claramente uma posição antiga, típica de meados do século XX, a experiência moderna tem demonstrado que a convivência com pessoas de múltiplas capacidades, formações, etnias e quaisquer outras diferenças contribuem para a formação de uma mentalidade de maior tolerância ao mesmo tempo que promove um suporte social a aqueles que foram por muito tempo afastados deste convívio. Isto não exclui a possibilidade de termos escolas especializadas, mas onde elas não existam as escolas precisam estar preparadas.


 

Foto de Yve e Romário

 

Yve é uma menina de 16 anos com Síndrome de Down, filha do artilheiro Romário, hoje Senador. Destaco dois trechos da carta que ela enviou ao Ministro Milton Ribeiro:

"Sabe, eu tenho síndrome de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Eu estudo para ter um futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém”

“A minha presença e a de outras pessoas com deficiência não é ruim, muito pelo contrário, desde a escola, meus coleguinhas aprendem uma lição que parece que o Sr. não teve a oportunidade de aprender, que a diversidade faz parte da natureza humana e isso é uma riqueza"

Creio que estes dois trechos representam a importância de sua declaração. Os leitores se quiserem ler o texto completo basta pesquisar no Google.

Existe uma interpretação espírita que, nós os chamados Espíritas Livre Pensadores já superamos, que é a de que nós reencarnamos para cumprir provas e expiações, palavras que poderiam ter sentido no século XIX. Hoje vemos os fatos, todos os que se nos cercam e que se nos apresentam como oportunidades de crescimento, esta interpretação é muito melhor porque todos nascem com pontos positivos e negativos se comparados com uma média. Embora seja evidente que num planeta de 7 bilhões de pessoa, não deva existir nenhuma pessoa que se encaixe, perfeitamente, na média, todos somos desiguais. Como já dissemos em parágrafo anterior, estamos aqui para superarmos os obstáculos que se apresentem.

Nas Paralimpíadas, por exemplo, várias categorias de competição são formadas por amputados. Ou seja, pessoas que nasceram com todos os órgãos normais, mas que por um acidente, ou por motivo de alguma doença degenerativa, foram obrigados a passar por uma amputação. Não acreditamos em destino ou predestinação ou mesmo em encarnação programada. O que está escrito nos livros Nosso Lar e Evolução em Dois Mundos, sobre a reencarnação é pura fantasia, ou na melhor das hipóteses estória para “evangelizar”, pensada para acalmar as ansiedades dos “desfavorecidos”. É preciso saber viver, o processo reprodutivo tem riscos, acidentes acontecem o tempo todo, guerras, assaltos, pessoas que levam tiros, tudo isto é impossível de ser programado, acontece por acaso. Ou muitas vezes por desvios morais de uns, por descuidos de outros. A vida como ela é.

Então, as pessoas amputadas passam por um processo de readaptação, reaprende a andar, e também a se divertir, pois não estão punidos, estão sim experimentando uma nova situação. Cada vez mais a medicina, a fisioterapia e a evolução tecnológica trabalham para dar melhores condições de recuperação para que a vida siga. E eu, particularmente, gosto de ver o esforço e a capacidade de superação destes superatletas paralímpicos.

Concluindo, nunca deveríamos abdicar do direito, e da vontade de aprender sempre, tudo muda o tempo todo e temos que nos esforçar para acompanhar estas mudanças!

Artigo publicado no jornal Abertura - setembro 2021

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Abrindo a mente - Como trabalhar com a terceira idade, para desenvolver trabalhos com metodologia científica? por Alexandre Cardia Machado

 


Como trabalhar com a terceira idade, para desenvolver trabalhos com metodologia científica?

 

No ICKS durante 8 anos incentivamos nossos membros a desenvolver trabalhos com metodologia científica, foram quatro estudos que desenvolvemos, conforme pode ser visto abaixo:

 

ü  2011 - XIII – Penetração de nossas ideias.

ü  2012 - XXI Congresso CEPA - Análise da evolução do conceito de Reencarnação ao longo das obras de Allan Kardec.

ü  2013 - XIII SBPE - Pode o Espiritismo ser considerado Ciência da Alma? Uma análise epistemológica da proposta do pensador espírita Jaci Régis;

ü  2015 - XV SBPE - Somos Progressistas?

 

O primeiro obstáculo, já que a média etária, durante estes anos variou de 65 e 72 anos, onde muitos de nossos sócios não tinham experiência anterior no desenvolvimento de trabalhos com estas característica, com segurança foi vencer o medo. Fazê-los acreditar que com métodos e coordenação isto seria possível.

 


O primeiro trabalho foi muito especial para todo o grupo, pois foi desenvolvido para o primeiro SBPE sem a presença de Jaci Régis, tamanha responsabilidade exigiu muito de nosso grupo, fizemos diversas exposições, relatos, cronologia e vídeo – sobre a penetração das ideias apresentadas nos 10 SBPEs anteriores e uma exposição sobre o papel deste jornal neste objetivo de ampliar os temas espíritas.

 


O segundo experimento foi preparar um trabalho para o XXI Congresso da CEPA, não houve tempo de ensinar metodologia científica, então contamos com os mais novos para coordenar e fazer a redação do trabalho, de todo modo foi um trabalho de pesquisa bibliográfica, de comparação de textos e de traduções, bastante complexo.

Resultou no V Caderno Cultural do ICKS, lançado em 2013, o fato de já ter sido publicado acreditamos, deva ter sido uma das razões de não ser incluído no livro “Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação”.

 


Para o XIII SBPE buscamos apoio para aumentar o conhecimento do grupo sobre epistemologia decidimos convidar a professora Doutora em Filosofia Conceição Neves Gmeiner da Universidade Católica de Santos, para nos dar um curso sobre Teoria do Conhecimento e Ontologia. Com isto nos foi possível enfrentar a proposta de análise epistemológica.

 

Já para a empreitada de 2015, onde decidimos como objeto de pesquisas, rever todas as edições anteriores dos jornais Espiritismo e Unificação e Abertura, resolvemos começar com um treinamento em metodologia científica, apresentado em duas reuniões por mim.

 

Os resultados falam por nós mesmos, estão nos anais dos simpósios, no Caderno Cultural, mas principalmente os maiores vencedores foram nós mesmos que nos divertimos e trabalhamos juntos como uma grande equipe.





 

Para abrir mais a sua mente: V Caderno Cultural – ICKS, pedidos pela cópia eletrônica pelo e-mail – ickardecista1@terra.com.br.

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Homenagem a Jaci Régis – Pensamento e ação - youtube

 

Homenagem a Jaci Régis – Pensamento e ação

No dia 12 de dezembro do ano passado,  às 16 horas ocorreu esta homenagem da CEPA Brasil e ICKS, com o apoio do CPdoc e da CEPA Internacional – via zoom.

Jaci Régis


A abertura do evento coube ao Presidente da Cepa Brasil Jaílson Mendonça seguido de vídeos de familiares de Jaci, dona Palmyra Régis, viúva, e suas filhas Valéria e Rosana além de seu irmão mais velho Ivon Regis. A seguir alguns espíritas importantes fizeram declarações: o Ex-Presidente da CEPA Internacional Jon Aizpúrua, seguido de Ciro Pirondi e Ricardo Nunes. Finalizando esta primeira parte, Alexandre Machado, presidente do ICKS  apresentou slides sobre a obra de Jaci Régis.

Após estas apresentações programadas, Jaílson chamou alguns dos presentes a adicionar algumas considerações sobre Jaci Régis, foram eles , Salomão Benchaya,  Jacira Jacinto da Rocha, Wilson Garcia, Ademar Arthur Chioro dos Reis, Milton Medran e Mauro Spínola.

Terminada esta fase coordenada, foi aberto o microfone a quem quisesse falar, quando Dona Palmyra agradeceu a homenagem e mandou um grande beijo a todos, se seguiram: Marcelo Henrique, Marcelo Régis e Geraldo Pires.

Através do chat: Saulo Albach de Curitiba, Beatriz Régis de Campinas, Bruna Régis, David Santamaria de Barcelona, Gerson Yamin, Fernando Régis, Maria Calvo da Espanha, Julio Regis de Cincinati, Cavour Chrispim, Mariângela Machado de Porto Alegre, Sandra Regis, Camila Regis, Amely, Luiz Fernando Mokwa, Maria Cristina Zaina de Curitiba, João Conde Régis de Santa Catarina e Magda Zago de São Paulo deixaram o seu recado.

Durante esta última parte em fundo de tela ficou rolando centenas de fotos de eventos relacionados com o homenageado.

Vejam o evento pelo youtube : https://www.youtube.com/watch?v=hvaWAIhPhzY


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segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Papel da imprensa espírita no mundo digital - por Alexandre Cardia Machado

 

Papel da imprensa espírita no mundo digital

 

O que a gente lê e vê molda o nosso pensamento e o nosso modo de viver – vide O dilema das redes socias e o espiritismo – editorial de outubro de 2020 disponível no blog do ICKS – 

link: https://www.blogger.com/blog/post/edit/8190435979242028935/2737864431208555629

Esta afirmativa já era válida antes da existência dos grandes algoritmos que se baseiam em nossas informações divulgadas como ou sem o nosso consentimento nas redes sociais.

O documentário “O dilema das redes” disponível na NETFLIX nos mostra que só dois tipos de atividades chamam seus clientes de usuários – o de informática e o de drogas ilícitas é uma frase de efeito, mas cada vez mais passamos mais tempo na frente das telinhas: TV a Cabo, Netflix, Celular, tablet, computador, notebook. Nos elevadores de prédios comerciais, nas salas de espera, nas padarias da moda, sempre tem alguém expondo um produto, uma ideia, uma notícia nas telinhas.

Estar informado, tudo bem, temos mesmo diversos interesses, o problema e daí o nome dilema é que os algoritmos sabem o que nos interessa e o que não nos interessa, o documentário é excelente em mostrar como isto é feito, e então acontece a mágica, ou melhor o ilusionismo, você gostaria de comprar um carro, pesquisa nos sites de classificados e de repente, começa a receber ofertas nas suas telas.

Prestar um serviço de qualidade aos nossos leitores deve ser a meta de qualquer órgão de imprensa, em nosso caso, nosso público-alvo eram os nossos assinantes, mas agora, com o Abertura digital isto ganha uma nova amplitude, estamos teoricamente sendo acessados por qualquer pessoa com um smartfone em qualquer parte do mundo que fale português.

Nosso coirmão o jornal Opinião do CCEPA, que já a algum tempo disponibilizava uma cópia eletrônica de seu jornal pela internet, tomou a decisão de ser 100% digital, também a partir de 2022.

Se fizermos sempre a mesma coisa, do mesmo jeito, no máximo obteremos o mesmo resultado, não melhoraremos, ainda que muitos prefiram o jornal impresso, já demonstramos que ecologicamente é vantajoso tê-lo digital, de qualquer forma aqueles que o desejarem, sempre poderão imprimir a sua cópia, faça um teste.  Siga a orientação disponível no jornal, baixe o jornal digital – colorido e imprima.

Aqui o grande passo que estamos dando de melhora é a maior penetração de nossas ideias. Nosso jornal sempre distribuiu cerca de 300 exemplares aos nossos maravilhosos assinantes. Disponibilizamos o acesso digital há dois meses, no momento via site da CEPA e já dobramos o número de leitores. Sem quase nenhuma ação de marketing.


Página da CEPA - Associação Espírita Internacional -onde é possível baixar o Abertura


As edições digitais, já nascem com esta facilidade de acesso, podemos armazenar e disponibilizar aos nossos leitores e ainda mais podemos saber quantas pessoas estão, por ação própria acessando o site e abrindo o jornal.

Voltando ao nosso papel como imprensa espírita:

O jornal em papel ou digital tem o papel importante de ser um marcador de tempo, um registro histórico, em nosso caso de uma visão espírita de algum fato de um acontecimento ou de uma movimentação social. Se alguém quiser saber como os espíritas se posicionaram com respeito a fatos como: Tsunami e tragédia nuclear de Fukushima, no Japão; sobre a invasão do Iraque no governo de Bush Filho; Crise econômica de 2008 e mais próxima a pandemia do Covid-19 como exemplos. O jornal sempre se posicionou.

Busco aqui um exemplo, entre os diversos que poderíamos escolher como um marcador de tempo: A crise econômica de 2008: ela começa à partir do estouro da bolha imobiliária nos EUA e afeta todo o mundo globalizado, nas palavras de Jaci Régis:

 “... O fato é que o capitalismo, o livre mercado, a auto regulação caíram e urgem novas medidas para garantir o equilíbrio necessário ao comércio internacional. Não apenas a competência, mas a moralidade continua sendo básica no trato das questões humanas e, inclusive, financeiras. A competência parece resolvida pelo menos em parte. A moralidade, contudo, sucumbe diante da ambição desmedida. ... Allan Kardec referindo-se à crise econômica de 1857, que assolou a França, reclamou da necessidade de emprego para que a dignidade humana fosse garantida pelo trabalho ...” Abertura janeiro /fevereiro 2009 – Coluna Problemas Sociais e Políticos.

Uma abordagem clara, referenciada em exemplos espíritas, sem emoção excessiva, faz parte do DNA deste jornal.

Fazer a observações das diversas tensões sociais porque o mundo e o Brasil passam sob a ótica espírita livre-pensadora como demonstrado acima é nosso papel como imprensa espírita.

Todos sabendo que um artigo sempre será um recorte, uma visão individual, no entanto confiamos que a pluralidade de visões que nossos articulistas possuem é o que nos permite ter a necessária abrangência, apresentando visões muitas vezes distintas para estes fatos.

Entre nós, os articulistas, existe uma grande amizade, consideração e respeito, somos amigos, mesmo que em muitos momentos tenhamos visões diferentes de um mesmo fato. Este é o grande mérito do Abertura. Podemos chamar isto de pluralidade visionária.

Não devemos usar o Abertura para doutrinar as pessoas a pensarem apenas de uma forma, nunca foi esta a proposta do Jornal.

Um jornal espírita tem ainda o papel de informar e divulgar eventos importantes, marcando e impulsionando a sua execução. É claro que agora outras mídias são mais efetivas, tais como Face book, LinkedIn, WhatsApp, mas o velho e conhecido cartaz e a divulgação nos meios tradicionais também tem o seu valor.

Nota: Artigo originalmente publicado na edição de agosto de 2021 do Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Abrindo a mente - Maurice Herbert Jones por Alexandre Cardia Machado

 

Abrindo a mente - Maurice Herbert Jones

 

Tive o privilégio de conhecer e principalmente conviver por 2 anos no CCEPA com esta referência no Espiritismo Livre-Pensador. Foram anos ricos de participação duas vezes por semana, nos dias de reunião de estudos e nas reuniões abertas.

Seu Jones como carinhosamente nos referíamos a ele, é aquela pessoa que mesmo discordando da gente, sabia fazer sempre de forma agradável, educada, acolhedor um verdadeiro cavalheiro. Tivemos a oportunidade de viver em Porto Alegre com toda a minha família em 2002 e 2003. Eu nasci naquela cidade de onde saí para morar em Santos em 1984. Voltar a Porto Alegre era uma incógnita, tínhamos a minha família lá que claro nos recebeu de braços abertos, pelo lado profissional também não houve nenhum problema, agora para a Cláudia minha esposa, que deixaria para trás suas atividades profissionais como psicóloga e minhas filhas pré-adolescentes a mudança de estado era um baque.

O calor de nossa família e a enorme e excelente recepção que tivemos no CCEPA, onde já conhecíamos pessoalmente vários de seus componentes foi fundamental para que nos sentíssemos em casa.

Cláudia reativou a mocidade no CCEPA e a coordenou por dois anos com a participação de nossas filhas.

Creio que Cláudia e eu atuamos bastante tanto das reuniões de estudo como nas reuniões abertas onde, claro, ocorriam os maiores debates. Seu Jones capitaneava esta reunião, com toda a sua inteligência e modo de ser que a todos encorajava a explorar mais e aprofundar os estudos e reflexões mais e mais a cada dia.

Maurice Herbert Jones

Jones era casado com a Elba, nosso amigo Jones cuidou dela quase sozinho, não que não pudesse dispor de ajuda, mas por amor e carinho. Elba era uma pessoa encantadora, delicada, em comum comigo, ela também trabalhou na General Electric, ela gostava de contar seus tempos na GE. Ainda sobre a Elba que era um pouco mais nova que minha mãe, coincidentemente tinha uma residência de veraneio na praia do Ipanema em Porto alegre bem perto de minha mãe, na mesma rua. Acho que dona Elba tinha mediunidade, pois me relatou ter visto meu avo Mário algumas vezes sentado na cadeira de balanço no alpendre da casa, que minha avó vendeu após o seu desencarne, coincidências de nossas vidas entrelaçadas.

Em 2019, estivemos Jailson Mendonça – Presidente da CEPA Brasil, Ana sua esposa, Cláudia e eu no CCEPA e esta foi a última vez que estive com o Jones.

O sr. Maurice nos deixa em 20 de junho de 2021, ele assim como Jaci Régis teveram um papel importantíssimo no desenvolvimento deste segmento laico e livre-pensador que hoje fazemos parte. Fica aqui o convite a leitura de sua biografia publicada no site do CPDoc que referencio abaixo.

 Para abrir mais a sua mente: https://www.cpdocespirita.com.br/portal/destaques/personalidades-em-destaque/160-maurice-herbert-jones

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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sexta-feira, 23 de julho de 2021

60 anos de Espiritismo: - Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

 

60 anos de Espiritismo:

Jaci Régis ao completar 60 anos dedicados ao Espiritismo

Este texto foi extraído da edição de novembro de 2007, Jaci Régis viria a desencarnar em dezembro de 2010, podemos perceber a tranquilidade e consciência que Jaci Régis tinha de seu papel e vida. Republicamos o texto, pois para muitos leitores, alguns detalhes da vida deste grande pensador podem ter passado despercebidos. O texto é escrito de próprio punho por Jaci Régis, vale a pena recordar.

Jaci Régis e Palmyra Coimbra Régis em Paris no túmulo de Allan Kardec – Cemitério Père-Lachaise.

“Neste mês de novembro completo 60 anos de atividades ininterruptas, diárias, no movimento espírita. Foi neste mês, em 1947, que comecei a participar da então Juventude Espírita de Santos, transformada em Mocidade Espírita Estudantes da Verdade. Sessenta anos é um tempo bastante expressivo na vida de cada um. Nesse longo período a existência se corporificou no casamento, nos 6 filhos, 11 netos e, agora, na primeira bisneta. O mundo em que reencarnei, era totalmente diferente do atual. Acompanhar a febril transformação política, social e tecnológica, foi tarefa de inteligência e flexibilidade. Penso que consegui. De um simples aparelho de rádio às poderosas transmissões via satélite, estabelecendo novas formas de comunicação. Do automóvel desprovido e raro, aos carrões que circulam e se tornaram o sonho de consumo da maioria, da máquina de escrever ao computador. Do telefone precário de então ao celular e, finalmente, à internet, deixamos a aldeia circunscrita de meus primeiros dias neste mundo, à aldeias globais, na qual, a despeito de nosso desejo, estamos imersos até as orelhas. Li a República de Platão, aos treze anos, na Biblioteca Pública de Florianópolis, onde reencarnei. Desde sempre estive com livros embora só tardiamente frequentasse a Universidade, obtendo três títulos, a partir dos 39 anos de idade. Dentro do movimento espírita as coisas também mudaram. Na mesma década de trinta do século passado em que reencarnei, começou a missão de Francisco Cândido Xavier, mudando o perfil do Espiritismo que, todavia, fortaleceu-se como uma religião menor. Primeiramente a iniciação num Espiritismo crítico, mas, sem dúvida, religioso, cristão.

Embora a influência do líder naqueles primeiros dias, sempre segui um caminho próprio e nunca fiquei atrelado a um ídolo ou ícone. Essa independência me rendeu, no tempo, muitos dissabores, se assim posso referir-me aos entraves, incompreensões e agressões que recebi. Todavia, jamais me tiraram o ânimo. Tinha algo a fazer e fiz. Sem missão ou coisa parecida. Os desafios marcaram os passos. O ideal, a inovação, a criatividade estabeleceram novos caminhos. Mas o que mais me satisfaz, em termos de doutrina espírita, foi a liberdade de pensar fora do esquema religioso. Só quem libertou-se dos estritos caminhos do pensar religioso pode avaliar o que significa essa liberdade. Não é ser antirreligioso, maldizer as crenças. Nada disso. É ser livre para analisar os fatos sem preconceitos, aceitar ou rejeitar, duvidar e prosseguir. Um jogo fascinante na busca de um centro de referência e reflexão. O fato de ser kardecista, de ter em Kardec a base do pensar, nunca me tolheu, nem me cerceou. A crença é um direito e deve ser respeitada. Só que, na minha visão, não cabe no Espiritismo, se ele quiser ser livre pensador, aberto, progressista.

Na verdade, minha existência terrena se pautou pelo trabalho no movimento espírita. Por ele, aderi ao Lar Veneranda, onde permaneço há 47 anos e que, posso dizer sem vaidade, solidifiquei sua estrutura, seu trabalho assistencial, sua destinação. Uma obra de minha vida. Formatei, também, o pensamento da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade e, consequentemente, do Centro Espírita Allan Kardec em cuja direção trabalhei muitos anos, estabelecendo seu rumo doutrinário. Há também o desenvolvimento do gosto de escrever. Dirigi o jornal Espiritismo e Unificação, da União Municipal Espírita, por mais de 20 anos. Depois, devido a ruptura, fundei o ABERTURA, em 1987 e continua. Embora, tenha publicado folhetos e pequeno livreto, foi a partir de 1975, que me tornei um escritor, publicando oito livros que tiveram, a princípio, muita boa saída, contabilizando mais de 100 mil livros vendidos.

Desde 1986, o movimento espírita bloqueou-me. Fiquei na lista dos indesejáveis, as vendas tiveram uma queda muito grande e milhares de livros estão estocados. No meio das confusões da ruptura com o movimento religioso, fundei a LICESPE, - Livraria Cultural Espírita Editora, dentro do Lar Veneranda, em substituição à Dicesp que criei e presidi no esquema unificador.

E, enfim o ICKS - Instituto Cultural Kardecista de Santos, uma iniciativa que se encaminha vitoriosa, abrigando o SBPE, Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, iniciado em 1989, como ousada reação ao fechamento imposto pelo sistema unificado do movimento. Um balanço bastante positivo pelo que vejo.

Na vida econômica ganho o suficiente para ter uma vida tranquila. Não dependo de ninguém, casa vazia, só eu e a esposa, enquanto filhos e netos seguem suas vidas dentro de padrões moralmente muito bons e economicamente satisfatórios. Não sei quanto tempo ainda estarei por aqui, mas reconheço um grande ganho para minha alma ao longo de setenta e cinco anos vividos com cardiopatia crônica, duas cirurgias para colocar pontes de safena, edema pulmonar, angioplastias, cateterismo, alguns pólipos na bexiga, gastrite crônica, mas assim mesmo relativamente sadio, pois permaneço ativo.

Essa pequena síntese que faço ao sabor da memória me remete a todo um caminho no qual perfilei com pessoas de variadas expressões emotivas e intelectuais, com as quais aprendi a conviver, a superar impulsos e perdoar atritos. A maioria foi. Eu fiquei. Ao completar sessenta anos de trabalho doutrinário me sinto feliz. Meu olhar prossegue atento e mantenho alto meu estandarte de trabalho. Tenho objetivos. É o que vale”.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 6 de julho de 2021

Curiosidade: jornal digital é ecológico - por Alexandre Cardia Machado

 

Curiosidade: jornal digital é ecológico.

Você sabia que para produzir uma tonelada de papel é necessário derrubar de 2 a 4 toneladas de madeira?

Veja a conta abaixo – a soma do peso de todos os jornais Abertura produzidos desde a primeira edição em 1989 chega a aproximadamente 2,5 toneladas.


 

g

kg

ton

1 jornal

16

0,016

 

1 edição

6528

6,528

 

374 edições

2441472

2441,472

2,44



Ou seja -foi necessário derrubar 10 toneladas de madeira para produzir estes jornais. Antes era a única forma de produzir um jornal, mas agora podemos tê-lo em forma digital! Isto equivale a dizer que cerca de 30 pinheiros foram derrubados, processados, branqueados, para virar celulose e finalmente papel, só para produzir o nosso Abertura, pois bem, a partir de 2022 nem mais uma árvore será derrubada para este propósito!

E o melhor de tudo - o nosso Abertura, colorido, será totalmente grátis a partir de 2022, claro que somente na versão digital e com acesso livre em qualquer parte do mundo.

 

Você já pode baixar o Jornal Abertura digital diretamente, basta clicar sobre a foto no Blog do ICKS à direita nesta ágina do blog do ICKS.

Você poderá acessar todos os Aberturas de 2021, coloridos no site da CEPA -Confederação Espírita Internacional.



Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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sexta-feira, 25 de junho de 2021

16 IDEIAS FUNDAMENTAIS PARA UM PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA CONTEMPORÂNEO - por Ricardo de Morais Nunes

 

16 IDEIAS FUNDAMENTAIS PARA UM PENSAMENTO SOCIAL ESPÍRITA CONTEMPORÂNEO

“Os homens se entenderão quando praticarem a lei da justiça” –Livro dos Espíritos 812a


Ricardo de Morais Nunes


Ante as controvérsias políticas e sociais dos últimos tempos, no Brasil e no mundo, um amigo questionou nas redes sociais se haveria um conjunto de princípios básicos ou ideias, de índole política, que constituam um pensamento social espírita contemporâneo com vistas a nortear a práxis dos espíritas no mundo. Trata-se, a meu ver, de um questionamento muito pertinente para os espíritas da atualidade. Nas linhas abaixo, descrevo aquelas ideias que, segundo penso, são fundamentais, imprescindíveis, para a formação um pensamento social espírita neste início do século XXI. Um pensamento social espírita compatível com as generosas propostas humanistas contidas na filosofia espírita. O pressuposto da presente reflexão é a crença na possibilidade de construção de uma nova arquitetura social, a partir das lições da história, das ciências sociais e da política, sem desprezar a contribuição do espiritualismo espírita a esta tarefa:

1-       Defesa da democracia. Entenda-se democracia não apenas em um sentido formal, de igualdade de todos perante a lei, mas em sentido material, como possibilidade de todos os cidadãos acessarem aos bens materiais, educacionais, culturais e serviços sociais fundamentais à vida. E também na forma da mais ampla participação popular possível nas decisões da coletividade. Nesse sentido, a expressão “aristocracia intelecto –moral” contida em “Obras póstumas” de Allan Kardec deve ser superada. Tal expressão, apesar de indicar corretamente a necessidade dos governantes serem dotados de aptidão intelectual e ética para lidar com os assuntos de Estado e governo, na contemporaneidade, época em que se valoriza a participação popular, apresenta-se com um caráter elitista incompatível com os nossos tempos que aspiram à mais ampla democracia.

2-       Desenvolvimento de um pensamento crítico em relação ao capitalismo.  O capitalismo, enquanto sistema econômico, se por um lado teve aspectos revolucionários em relação ao mundo feudal no sentido do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico, por outro, tem falhado em diminuir os abismos econômicos entre pessoas e classes sociais, favorecendo, dessa forma, uma enorme concentração de riqueza nas mãos de uns poucos eleitos do grupo social em detrimento da grande maioria da população. Essa crítica deve ser realizada sem meias palavras pelos espíritas, uma vez que essa desigualdade econômica e social profunda coloca em risco o exercício da política e a própria ideia de democracia. Neste tema é necessário não ignorar o que muitos teóricos das ciências sociais, de Marx a Piketty, entre tantos outros, do passado e do presente, já reconheceram na análise do referido sistema econômico.

3-       Compreensão que o mundo não é algo dado definitivamente, pronto e acabado. O mundo, indivíduo e sociedade, está em transformação permanente. Nesse sentido, é imprescindível não abandonarmos a utopia da possibilidade da transformação do mundo para melhor. Sempre acreditando que o futuro poderá ser melhor que o passado e que a construção desse futuro está em nossas mãos a cada dia do presente. Em nossa história, já passamos pelo escravismo na antiguidade e também na modernidade, pelo feudalismo na Idade Média, pelo capitalismo na modernidade e contemporaneidade e por tentativas socialistas no século XX e nada indica que chegamos ao “fim da história”. Aliás, a filosofia espírita nos ensina que a humanidade está submetida a uma lei de progresso. Como será nomeada essa nova etapa da humanidade? Quais as formas econômicas e institucionais que constituirão essa nova fase da humanidade? Nesse momento histórico não sabemos, o que importa agora é a esperança e a possibilidade de um novo tempo.

4-      Defesa da liberdade de crença, opinião e manifestação. Repudio a qualquer forma de silenciamento. Nesse sentido, faz se necessário defender a ampliação ao máximo dos meios de comunicação para que as diversas classes sociais possam se manifestar, com especial atenção, no entanto, para as classes menos favorecidas no grupo social, pois são as que mais sofrem as agruras de uma sociedade injusta e precisam ter sua voz assegurada.

5-      Defesa da bandeira ecológica reconhecendo que as ações individuais de preservação do meio ambiente são necessárias, porém insuficientes caso não se mude o modelo de exploração atual da natureza de feitio predatório. Tendo claro que a questão ecológica é uma das questões mais urgentes no mundo contemporâneo, pois corremos o risco real de desequilibramos o ecossistema do planeta, prejudicando, portanto, a vida em sua globalidade.

6-      Defesa dos valores da espiritualidade no sentido de valorização da vida terrena, sem perder de vista a perspectiva imortalista e reencarnacionista ensinada pela filosofia espírita, que ensina que o ser humano transcende a morte biológica em um processo infinito de aperfeiçoamento intelecto-moral que inclui o retorno ao planeta terra várias vezes, ocasião em que encontrará em seu retorno tudo aquilo que plantou em existências anteriores tanto no aspecto positivo quanto negativo.

7-       Defesa do princípio da fraternidade como orientador supremo da vida social, compreendendo que os princípios da liberdade e da igualdade só se realizarão efetivamente dentro de uma ideia maior de fraternidade entre os homens. A defesa do princípio da fraternidade não significa ignorar ou fechar os olhos para a dinâmica sociológica da luta de classes e para a violência estrutural do sistema econômico capitalista em relação as classes sociais não detentoras dos meios de produção, violência que se reflete em vários níveis de exploração social. Essa defesa do princípio da fraternidade significa uma aposta na possibilidade do diálogo entre as classes sociais. Não se desconhecendo, de forma ingênua, porém, as enormes barreiras ideológicas e de interesses que impedem frequentemente esse necessário diálogo.

8-      Enaltecimento por parte dos espiritas dos ideais de liberdade e igualdade. Enquanto por um lado os ideais de liberdade favorecem à construção de sociedades mais livres, que não menosprezem a importância dos deveres sociais de cada um. Por outro lado, os ideais da igualdade devem favorecer a compreensão que igualdade não é nivelação, massificação, de todos os seres humanos desconhecendo as diferenças individuais. Porém, sempre dentro do princípio que as diferenças individuais nunca deverão chegar ao nível que haja seres humanos que não tenham o fundamental para a existência material, educacional e cultural.

 

9 - Reconhecimento da dialética indivíduo-sociedade a partir da compreensão que o indivíduo influencia a sociedade, mas a sociedade e suas instituições também influenciam o indivíduo. Nesse sentido, é necessário rompermos com concepções individualistas, idealistas, verdadeiramente metafísicas, que imaginam o indivíduo distante de influências ideológicas heterônomas, como se os homens e mulheres no mundo estivessem em uma bolha de proteção em pleno exercício de autonomia, sem a influência consciente ou inconsciente de fatores externos na formação de sua subjetividade. Portanto, devemos superar a falsa ideia de que ideologia se escolhe. Na verdade, desde o nascimento bebemos os valores ideológicos predominantes em uma determinada sociedade e é necessário muito pensamento crítico para escapar dessa influência. Nesse sentido, os espíritas devem refletir sobre as possibilidades da autonomia sem desprezar o problema da ideologia. E sem ignorar que, a ideologia predominante formadora das mentalidades no mundo contemporâneo, a que possui uma infinidade de aparelhos ideológicos a disseminar por todos os meios seus valores, é a ideologia capitalista, que aponta para a valorização do ter em detrimento do ser, para a concorrência individualista ao invés da solidariedade. Na atualidade, mesmo a ideologia religiosa tem sido cada vez mais colocada a serviço dos valores do capitalismo. O paraíso no céu tem sido cada vez mais substituído pela busca do paraíso na terra. Deus passou a intervir no sucesso material das pessoas.

10 - Defesa de uma educação emancipadora, humanista, que vise ao bem geral da humanidade, não apenas instrumentalizada para servir aos interesses do mercado de trabalho. Nós, adeptos da filosofia espírita, somos discípulos de um educador humanista. A educação é um dos caminhos para a construção de um novo ser humano e de um novo mundo. Neste tema mais importante do que o ensino religioso nas escolas, é a reflexão sobre os valores universais da espiritualidade que apontam para o respeito à vida, às diferenças, para compaixão, altruísmo, desprendimento dos bens materiais, respeito a natureza, etc. E que favorecem a ideia de que o ser humano é um ser cósmico dotado de dignidade intrínseca.

11 - Abandono da ideia de neutralidade em questões políticas e sociais. Se por um lado não devemos descer ao nível da criação de um “partido espírita” ou da indicação de candidatos ou partidos dentro dos centros espíritas, por outro, não devemos esquecer jamais que somos seres sociais e que a política, em seu melhor sentido, quer queiramos ou não, se entrelaça em nossa vida individual e, portanto, nos interessa e constitui. Sempre levando em conta que o espiritismo, enquanto filosofia, se desdobra na possibilidade de um pensamento sociológico, uma sociologia, como queria o pensador espírita argentino Manuel Porteiro.

12 - Compreender que se o espiritismo possui uma dimensão política, humanista, sociológica, no entanto, também é, em específico, uma filosofia espiritualista que aponta para a dimensão metafisica do ser humano, sendo seu principal objetivo, conforme seu fundador, o combate ao materialismo. Nesse sentido, política e metafisica são duas dimensões do espiritismo. O espiritismo não é um espiritualismo alienante como os do passado que prometiam o céu a partir da renúncia da terra, no entanto, os espíritas não devem ser absorvidos apenas pelas questões políticas, sendo necessário alcançar um equilíbrio neste tema.

13- No que diz respeito a atuação política, à práxis do espírita no mundo, é necessário lembrar que o compromisso do espiritismo com a ética universal de Jesus aponta para os princípios da não violência. Esta postura de não violência deve ser encarada sem ilusões. Os exemplos de Gandhi, Martin Luther King, Dom Hélder e tantos outros, conhecidos e não conhecidos, nos mostram que, mesmo os não violentos, quando tratam de assuntos políticos, acabam por se expor à possibilidade de algum tipo de violência física ou moral.

14 - Defesa do Estado laico. Os espíritas, desde o auto de fé de Barcelona, compreendem que Estado e Religião não devem se misturar. Nesse sentido, as guerras e perseguições religiosas que fizeram tantas vítimas na história serão sempre lembradas pelos espíritas, sendo o Estado laico, portanto, uma conquista civilizatória da modernidade que deve ser defendido.

 

15 - Defesa das atividades e conquistas da ciência. O espiritismo, filho tardio do iluminismo, valoriza a ciência que é uma das expressões da razão. Defender a ciência em tempos de “terra plana” e de negacionismos de variada natureza é um verdadeiro ato político que deve ser realizado com coragem pelos espíritas. Obviamente que esta postura de defesa das atividades científicas não significa ignorar os grandes problemas éticos que o desenvolvimento desta atividade enfrenta na contemporaneidade.

16 - Criação, nas instituições espíritas, de cursos de política e cidadania. Obviamente que uma sociedade espírita tem compromisso principal com os cursos introdutórios e avançados de espiritismo e com os cursos de teoria e prática mediúnica, sendo o estudo e divulgação do espiritismo a tarefa fundamental dos centros espíritas. Se uma sociedade espírita apenas tiver esses cursos já estará cumprindo seus objetivos, pois essa tarefa só pode ser realizada pelos espíritas. Porém, nos centros espíritas existem atividades complementares que também podem ser realizadas, como as de assistência e solidariedade social ou atividades de caráter cultural. No campo das atividades de caráter cultural, podem ter lugar cursos de política e cidadania. Justifica-se esse tipo de curso porque, nós, espíritas, devemos estar conscientes dos problemas políticos e sociais. Desnecessário repetir que tais cursos devem ser realizados de forma não partidária, com vistas a conhecer, do ponto de vista da história, da sociologia, da filosofia e do espiritismo o que é a sociedade, suas dinâmicas e conflitos dialéticos, visando, por fim, refletir sobre as possibilidades de melhoria da mesma. Esta medida favorecerá a formação de espíritas conscientes dos problemas do mundo, preparando-os para uma atuação humanista e critica na vida social. Esta ideia não é nova, Manuel Porteiro já havia imaginado nas instituições espíritas o que ele chamou de “cátedras de sociologia”. Normalmente, os adversários desta ideia referem-se à interdição de Kardec no artigo primeiro do regulamento da sociedade parisiense. Porém, é inegável que os temas políticos e sociais, de um ponto de vista filosófico e humanista, são tratados ao longo de toda a obra de Allan Kardec, o que enseja o desenvolvimento de um verdadeiro pensamento social espírita. Geralmente o espírita apressa-se a fazer juízos morais sobre a política e a história. É necessário, porém, conhecer e reconhecer a complexidade dos problemas sociais e políticos antes de julgar de maneira simplista ou maniqueísta. Há muito o que aprender com a história das ideias políticas. De Platão a Noam Chomsky há uma reflexão política e social profunda, a qual os espíritas kardecistas não podem e não devem ignorar, sob pena de não participarem do debate do mundo contemporâneo, o que os colocaria à margem dos processos de evolução social.

 Ricardo de Morais Nunes - artigo publicado nos Jornais Abertura de maio e junho de 2021

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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