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ESPIRITISMO, PRAZER E FELICIDADE
“O prazer é a meta natural na vida. O sofrimento é
transitório, eventual. Temos que construir uma consciência feliz, que ame, que
busque o prazer de viver “Jaci Régis
Será
que o espiritismo combina com a ideia de prazer e felicidade? Não estaria o
espiritismo ligado apenas a ideia da morte, de fantasmas do outro mundo, de
resignação ante o sofrimento? Não busca o espírita apenas a libertação do
Espírito com vistas a uma entrada feliz no outro mundo?
Certamente
a felicidade absoluta é impossível neste mundo. Como poderíamos ser absolutamente
felizes em um planeta no qual existem tantos problemas. Aqui na Terra temos
insegurança alimentar, doenças, violência, desemprego, famílias sem teto,
crianças desamparadas, destruição ecológica, ditaduras políticas e tantos
outros problemas. Neste sentido, falarmos em felicidade absoluta seria um
verdadeiro egoísmo, pois estaríamos alimentando uma postura indiferente, alienada
dos graves problemas que vivemos na faixa da existência terrestre.
Mas podemos perguntar ainda. É possível pelo menos
uma felicidade relativa neste mundo? É possível uma felicidade pessoal geradora
de prazer interior, porém não alienada, não desconhecedora dos problemas
terrenos?
O
espiritismo nos traz uma ideia de felicidade e prazer possíveis de serem
alcançados na Terra. O espiritismo bem compreendido nos traz alguns princípios
filosóficos importantes para que compreendamos a vida física de forma positiva.
A
primeira ideia a ser destacada que nos oferece a filosofia espírita é que a
defende que a vida terrena é oportunidade de aprendizado, de crescimento,
amadurecimento, realização e conquista da sabedoria. O espiritismo nos convida
a olharmos nossas existências terrestres como oportunidades de construção de
nós mesmos e do mundo ao qual pertencemos. Portanto, nos ensina a valorizarmos
e amarmos a vida, a Terra, o mundo.
Em
relação ao sofrimento o espiritismo nos ensina a distinguir entre o bem e o mal
sofrer. O mal sofrer é o que causa a revolta, o desânimo, que nos faz desistir.
Já o bem sofrer é aquele que nos faz resistir corajosamente aos desafios e
dificuldades da vida com vistas a nos tornarmos mais firmes, mais sábios, mais
experientes perante nossas dores e sofrimentos, com vistas a superação.
Sem
dúvida que existirão as lutas que não venceremos e que a aceitação madura
perante o incontornável será necessária. Segundo Léon Denis: “É um dever lutar contra a adversidade.
Abandonar-nos, deixar-nos levar pela preguiça, sofrer sem reagir aos males da
vida seria uma covardia. Mas, quando os nossos esforços se tornam supérfluos,
quando tudo é inevitável, chega então o momento de apelarmos à resignação”.
Não
há dúvida, no entanto, que mesmo as batalhas perdidas podem trazer ensinamentos
ao Espírito imortal que somos e podem se traduzir em amadurecimento pessoal,
espiritual, se soubermos enfrentar com sabedoria esses momentos de perda.
É
necessário dizer também que o espiritismo não condena a alegria, os momentos de
festa. Não nos diz para sermos sisudos e aparentarmos uma seriedade que muitas
vezes não temos. O exemplo Jesus de Nazaré tem relevância para os espíritas
nesse sentido. Da mesma maneira que brindava o casamento de alguns amigos,
chorava por Lázaro e expulsava os vendilhões do templo. Jesus de Nazaré possuía uma conduta natural,
não artificial, não farisaica, fingindo hipocritamente ser melhor do que os
outros. Agia em conformidade com cada ocasião.
Provavelmente,
Jaci Regis foi o pensador espírita que melhor compreendeu a importância teórica
de se ressaltar o prazer de viver como tema relevante no âmbito filosofia
espírita e como práxis existencial espírita. Jaci compreendeu extraordinariamente
a importância de se construir uma vida produtiva e útil no bem e de nos
afastarmos do culto ao sofrimento tão presente na proposta cristã e espírita
cristã.
Não que Jaci negasse a existência do
sofrimento, apenas enfatizava a necessidade de nos dedicarmos a sua superação,
sem ficarmos perdendo tempo em cogitações hipotéticas, de caráter reencarnacionista,
frequentemente indemonstráveis empiricamente, sobre eventuais causas anteriores
do sofrimento. Não desconhecia, é claro, a lei natural das vidas sucessivas,
apenas criticava esse procedimento especulativo inútil banalizado em nosso
movimento espírita.
A
vida é para ser vivida agora com alegria e confiança. Não precisamos esperar o
além para sermos felizes. Aqui e agora realizaremos o céu e o inferno dentro de
nós. No momento presente, nesse instante, nessa fração de segundos entre o
passado e o futuro, é que se encontra a vida. Portanto, segundo o melhor
entendimento da filosofia espírita, é o agora que importa. O além obviamente
existe, mas nosso estado futuro será determinado pelo que somos agora.
Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo - Jaci Régis
Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro
da cultura cristã.
Formatou a doutrina dentro de 3 parâmetros,
compatíveis com o modelo cristão.
1. O
mundo é de provas e expiações,
2.
Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de
vidas sucessivas,
3. Deus se manifestou em três grandes momentos,
para a salvação moral humanidade, nos dez mandamentos de Moises, nas palavras
de Jesus Cisto e, finalmente, pela manifestação dos Espíritos.
São as três revelações da Lei de Deus. Dentro
desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o
Espiritismo completaria a verdade atual.
A trajetória de Kardec é sinuosa. Queria
que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que
fosse religião. Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.
Todavia, aceitou que o motivo central do
Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus,
utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da
humanidade ocidental, cristã.
Isso levou à afirmação do Espiritismo como
o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus
Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse
Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as
verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que,
brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da
Terra. Surgiria um reino de paz, de alegria, de fraternidade.
Era a implantação do Reino de Deus no
mundo. Que mundo? Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do
Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas
não têm lugar. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec
afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não
teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento
de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no
desenvolvimento moral das civilizações.
O céu comandando a Terra. Jesus Cristo, o
rei governando o mundo.
Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto
institucional, político e religioso estava no fim.
Desenvolver a ideia espírita dentro do
caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura
básica é a negação do cristianismo. Consequentemente tornou o Espiritismo
prisioneiro da promessa da vinda do reino de Deus. Kardec então elaborou seu pensamento tentando
encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos
profetas e messias.
Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a
essa análise simples. Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais
e projetar-se para o futuro, porque teve a
sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal
forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias e
mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se. O que seria, disse, o
suicídio da doutrina.
É
baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias
que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias
atuais.
A definição do Espiritismo
O século XXI desponta como uma incógnita
sob a liderança inconteste da ciências duras, coadjuvadas pelas ciências
humanas.
Como definir, compreender e projetar o
Espiritismo neste século vinte e um?
Neste século, o Espiritismo terá pelo menos
duas expressões.
1. O Espiritismo cristão
Com duas versões:
- Religião
Espírita
Atualmente, de modo geral e
majoritariamente o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento
remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século dezenove,
repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para o contexto em que foram ditas.
Os espíritas cristãos são basicamente
católicos mediúnicos.
-Espiritismo laico cristão.
Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência
Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é a moral cristã.
Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.
2 -
Espiritismo pós-cristão
A única saída para que o Espiritismo alcance
sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo
do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo pós-cristão.
Esse Espiritismo pós-cristão não apenas
abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente
como uma ciência humana. A Ciência da alma.
Como Ciência da Alma, o Espiritismo
abandona a ilusão de ser uma revelação
divina, para ombrear-se, de forma muito
especial, com o esforço das ciências humanas que surgiram para
entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites
das ciências duras, físicas. Isto é, uma ciência humana cujo objeto é explicar
o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.
Com isso pode desenvolver um espírito
crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural,
da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma
atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.
Como Ciência da Alma, o Espiritismo
abandona sua pretensão autárquica de se abranger todos os problemas da
humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humana que compõem o
leque das realidades e comportamentos das pessoas.
O objetivo maior será introduzir na cultura
o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo.
Terá que dispor de recursos e meios para
provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do
exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e
religiosa em que se situa atualmente.
Só a prova da imortalidade será a base de
renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da
reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a
evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de
espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio
pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade
em mudança que vivemos.
Muitos podem questionar se um Espiritismo
pós-cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a
crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec,
conforme temos provado. É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces
básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das
interpretações e extensões contextualizadas no início e do tempo decorrente.
O caráter da Ciência da Alma, como qualquer
ciência humana será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no
presente, apoiada somente no que for provado.
Assimilará as ideias reconhecidamente
justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser
jamais ultrapassada, constituindo isso
uma das principais garantias de credibilidade.
Jaci Régis, escritor espírita, psicólogo e
economista - desencarnado em 2010
O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias
Trabalho apresentado no XXIII Congresso Espírita Panamericano
Tivemos a oportunidade de fazer parte deste evento
mundial e poder apresentar uma reflexão mais positiva a respeito do gênero
humano. Procuramos demonstrar que não há nada na história recente da humanidade
que nos desanime e que não nos permita pensar que estamos evoluindo como
espíritos. Como em tudo na vida a evolução não se dá em linha reta, precisamos
entender os nossos ciclos.
Notamos,
mesmo entre os espíritas um comportamento muito próximo das pessoas não
espíritas, o fato de sabermos que somos imortais não parece arrefecer o impulso
a ações mais ríspidas, ou mesmo exageradas.
O
Espiritismo nos ensina o caminho do meio, a moderação o controle de nosso
impulsos a temperança.
Buscamos
trazer aqui trechos de artigos publicados por diversos autores nas páginas do
Jornal Abertura palavras que nos animem e que nos ajudem a manter a serenidade.
Nas
palavras de Jaci Régis:
“O
Novo modelo (Doutrina Kardecista) identifica o ser humano, prioritariamente,
como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a
extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o
nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da
vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”[1]
Finalmente concluiremos que uma das missões do espiritismo é demonstrar na prática que este comportamento sereno é possível, que se pode criticar e com isto aprender a melhorar, mas não podemos perder a tranquilidade porque a imortalidade dinâmica nos ensina que esta caminhada é longa e tem percalços, mas por isto mesmo é bonita.
O momento em que o Espiritismo surge – ambiente
A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos
percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre
Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.
Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que
residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido,
vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim.
Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina
Espírita.
Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na
Europa nos anos 50 e 60 do século 19.
Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais
a França esteve de alguma forma envolvida:
(ver o vídeo)
Peço aos historiadores que me perdoem por não
aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre
países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a
luta entre eles mesmos, mundo a fora.
Este quadro histórico demonstra, que mesmo neste
ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o
acometiam à construção do Espiritismo.
Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas
relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que
contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec
e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo
desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro
– capítulo VI do LE).
No entanto estes problemas não eram a sua prioridade,
ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se
reduzir. Isto claro não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as
mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão
acontecendo vagarosamente.
Se olharmos o século 19 tivemos as guerras
Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipé na China que juntas mataram
mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II
Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60
milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos
levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual.
Já nos 21 anos de século XXI, nos principais conflitos
que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do
Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria
(todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com
a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a
morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.
Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que
deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, de mortes
inúteis nas guerras.
Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do
que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita.
Evidências de que Kardec se manteve sereno
Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge
para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução
do Livro dos Espíritos[1]
Kardec assim nos ensina “ Os bons
Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos
ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é
para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na
música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é
preciso saber viver”.
Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo
temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos
atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem
fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como
indivíduo. (Alexandre
Cardia Machado – A tranquilidade Espírita -março 2020 -Jornal Abertura)
O momento em que
vivemos hoje – A Parábola da calçada (assista o vídeo no Youtube)
Esta foto da calçada da
Ponta da Praia em Santos, nos ajudará a ilustrar a mensagem que gostaríamos de
passar A calçada, assim como a nossa democracia é um caminho, para o bem estar.
Santos é uma cidade que possui seis quilômetros de praia, na área urbana, na
sua maior parte possui um grande jardim, mas quanto mais nos aproximamos da
Ponta da Praia, bairro mais próximo ao Guarujá, o jardim termina e ficamos
apenas com a calçada.
Andar por este caminho é
exercer a democracia na prática, pois o espaço é justo e é compartilhado por
pescadores, gente carregando canoas, foodtruck para dar um
novo nome aos traillers que vendem alimentos, alguns poucos
bares nos piers existentes, turistas, gente correndo, cães com ou sem
coleiras, carrinhos de bebê e muita gente. Todos andando desordenadamente, cada
qual exercendo seus direitos individuais do livre ir e vir.
O que isto tem a ver com
a democracia? Bem a democracia é uma ideia boa, pois permite que todos
expressem suas ideias, ideologias e disputem o mesmo pedaço de forma
organizada. No caso a disputa do governo de um país, estado ou municípios.
Neste espaço estreito da
calçada temos que negociar a passagem, a velocidade com que nos deslocamos a
fim de que todos possam usufruir dela. Isso é o que acontece com as
democracias. Tudo isto faz parte da Lei de Sociedade. Precisamos negociar os
limites de nossas ideias que em algum momento entram em choque. Quando tudo
parece bem, acontecem eventos não esperados. No caso aqui apresentado, as
ressacas, nas democracias, as crises, geralmente associadas a grandes perdas
balanço de pagamentos internacional, guerras, pandemias ou preços das comodites.
O que vemos é que 5 anos depois a calçada está mais larga e mais resistente,
assim como nós deveríamos ficar no convívio com o processo democrático.
Este fenômeno de
mudanças mais ou menos radicais no equilíbrio dos partidos se dá de forma
global, em muitos países, há costumeiramente uma mudança, sempre que um governo
lança um país em uma crise, ou não consegue sair dela. Nestas condições
acontecerá o que ocorreu na França, Itália, Grécia e Espanha com guinadas ora
para a esquerda, ora para a direita, só para citar alguns exemplos. Mas a
vontade popular é que a democracia sobreviva.
Allan Kardec, chamado
por seus contemporâneos de o bom senso encarnado, já atribuía o bom senso ao
avanço intelecto-moral. Assim como na calçada da Ponta da Praia, e na política
a busca pelo equilíbrio é proporcional ao bom senso nosso de cada dia (Machado, Alexandre - O difícil caminho da
democracia - editorial jornal Abertura de novembro de 2016).
Serenidade
Sobre como enfrentar a
realidade e o Estado de Bem Estar Social - O Pensador francês Luc Ferry muitas
vezes citado neste periódico, em seu livro “ A Revolução do Amor” de 2010 nos
apresenta um texto, contido no capítulo - Três fortes
objeções contra uma “política do amor” - que gostaria de
reproduzir aqui alguns trechos, como contribuição ao debate que nos assola nos
dias de hoje e convidar os leitores a revisar este livro.
“Alguns pensam que
com a crise “vamos retornar a um pouco mais de generosidade, a um pouco menos
de egoísmo” porque eles não compreenderam nada de economia nem da humanidade.
Retornar (retrotopia)? ... Vocês acreditam que a sociedade do século XIX era
mais generosa e menos egoísta que a nossa? Releiam Balzac e Zola!” – André
Comte-Sponville – O gosto de viver”.
Não se poderia dizer
melhor. Concordo que se deva apelar para o ideal para criticar o real. Mas,
nessas condições, a menor das exigências consiste em indicar de que real se
fala, e que ideal se exige. Ora, apesar de todos os defeitos que se queira
encontrar, o real dos Estados de bem-estar social europeus é simplesmente o
mais suave que já se conheceu na história humana.
Quanto ao ideal em nome
do qual ele é criticado, o mínimo é que ele exiba claramente os motivos que nos
permitam ter a menor esperança de que ele fará melhor, e não, como de costume,
infinitamente pior. Vocês me permitirão duvidar ainda e sempre, mais do que
nunca, de que o marxismo-leninismo enfeitado com um pouco de maoísmo e de trotskismo,
doutrinas que sempre produziram as piores catástrofes humanas por toda parte
onde foram impostas aos povos, esteja hoje pronto para fazer melhor do que esse
misto admirável de liberdade e bem-estar que, bem ou mal, conseguiram garantir
nossas repúblicas democráticas.”
Luc Ferry expressa
claramente o porquê da rejeição aos partidos socialistas que vem ocorrendo
repetitivamente mundo afora, eles não apresentam históricos convincentes de
sucesso. Onde atingiram algum sucesso, foi à custa de muitas vidas e pela
supressão da liberdade. A guinada ao centro que estamos presenciando é uma
aposta da sociedade na busca deste estado de bem-estar social. Que é
social-democrata, que é capitalista, mas com viés social, que não é estatizante
e que valoriza a produtividade.
A Tão Complexa Lei do
Progresso
Gostaríamos de discutir
um pouco esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem,
nos explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento
natural no orgulho e o egoísmo.
Da Questão 793 do Livro
dos Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “À medida que a
civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que
desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a pergunta e uma parte da
resposta abaixo:
“793. Por que indícios
se pode reconhecer uma civilização completa?
“Reconhecê-la-eis pelo
desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito
grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e
vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o
direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes
banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a
caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão
percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as
coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado
transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado
primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural,
necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida
que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males
que desaparecerão todos com o progresso moral...”
Enfim fica aqui o
convite à reflexão de nossos leitores.
[1] Kardec, Allan – O livro dos
Espíritos -Ed FEB - Introdução
Comunicado aos assinantes do Jornal ABERTURA
O nosso Abertura, colorido, online já é totalmente
grátis, claro que somente na versão digital e com acesso livre em qualquer
parte do mundo.
Você já
pode baixar o Jornal Abertura digital diretamente, basta clicar sobre a foto no
Blog do ICKS à direita, conforme mostra o círculo, na foto abaixo, logo ao
entrar na página. Você poderá acessar todos os Aberturas de 2021, coloridos. Vá
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preferir, basta clicar diretamente no link abaixo e acessar o site da CEPA – Associação
Espírita Internacional e ler o Abertura.
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ESPIRITISMO E PANDEMIA
TEXTO DE RICARDO NUNES APRESENTADO NA MESA REDONDA “ESPIRITISMO E PANDEMIA” NO XXIII CONGRESSO DA CEPA EM 08 DE OUTUBRO DE 2021
É
interessante observar que em uma época de individualismo exacerbado promovido
por concepções neoliberais de economia, política e sociedade, um vírus, um
simples e invisível vírus, denominado COVID 19, acentuou ainda mais a separação
entre as pessoas.
Na
verdade, muitos de nós já vivíamos sob a perspectiva do isolamento introjetando
os valores da sociabilidade capitalista, os quais apontam para o ter e não para
o ser, para o egoísmo e não para o altruísmo. Infelizmente, temos
frequentemente esquecido que o bem-estar e o equilíbrio do grupo social são
fundamentais para a existência e felicidade de cada indivíduo e que os laços
sociais são uma espécie de oxigênio da vida.
Durante
a pandemia do vírus não pudemos mais nos abraçar, não pudemos nos beijar, não
pudemos nos aproximar. Ficamos reclusos em nossas casas tentando organizar os
espaços de fora, e nos deparando muitas vezes com os vazios de dentro. O velho
ditado “tempo é dinheiro” perdeu o sentido. Aquela sensação de ocupação e
pressa nos abandonou por esses longos meses.
Tivemos
que exercitar a paciência, a espera, e os dias passaram devagar. Passamos a
trabalhar em casa misturando nossos materiais de trabalho com o ambiente
doméstico e com os brinquedos de nossos filhos, renunciamos aos lazeres e
passeios, nos afastamos de familiares e amigos. Muitos de nós perdemos entes
queridos. Familiares e amigos partiram para o mundo maior, para o mundo dos
Espíritos, enchendo-nos o coração de dor e saudade, sendo a filosofia espírita
o mais forte apoio aos nossos pensamentos e emoções nestes graves momentos.
O
vírus certamente trará grandes lições. Sairemos melhores desta crise?
Aprenderemos alguma coisa? É difícil dizer.
E o espiritismo, enquanto filosofia
espiritualista, o que tem a dizer em um momento tão difícil para a humanidade? A
filosofia espírita descortina a todos novos horizontes existenciais. Nos ensina
que tudo passa, se transforma e evolui.
Segundo o espiritismo, das sociedades agrárias
às sociedades pós-industriais, estamos submetidos a um complexo processo
evolutivo, não uniforme, sem dúvida sujeito a avanços e retrocessos no terreno
da história, porém rumo a patamares superiores de civilização, sendo que tal
processo evolutivo se dá pelas leis psicofísicas da reencarnação.
O
espiritismo ensina que a vida, em si mesma, é imperecível e transcendente. Que
acima de tudo somos e que continuaremos a ser mesmo após a morte. Ensina a
confiança na razão, na ciência, na capacidade do ser humano em resolver os seus
problemas. Lembra que a dor e o prazer, a vida e a morte,
a tristeza e a felicidade, são fatores inerentes às leis naturais do planeta em
que vivemos, sem desconsiderar, é claro, os excessos e equívocos humanos na
produção de sofrimentos.
Nos conscientiza que somos os protagonistas do
nosso destino, sem desprezar os determinismos de variada natureza que incidem
sobre nossas vidas. Esclarece a
importância do amor e da solidariedade na construção de um ser humano e de um
mundo melhor.
Que
possamos, a partir das lições deste difícil período, ter clareza da importância
de nossa existência terrestre em nosso desenvolvimento individual e coletivo.
Que aprendamos a cultivar uma nova sociabilidade não mais centrada apenas no “eu”,
mas que considere o “nós”. Que compreendamos a terra como nossa casa comum a ser
preservada e que nos conscientizemos da rede invisível que nos entrelaça a
todos, em uma trama de ações e reações sob a perspectiva dialética
indivíduo-sociedade.
Uma
das grandes lições do vírus é a de que ele não é democrático, pois atingiu preferencialmente
os pobres e despossuídos, os quais ficaram mais expostos e vulneráveis por
viverem em habitações precárias que não permitem os devidos cuidados de
afastamento social, e também por terem tido que sair às ruas, em meio à maior
crise de saúde pública de nosso século, na busca do pão de cada dia.
Apesar disso, constatamos, que o aristocrata,
o milionário, e o trabalhador são iguais em fragilidade física. Ficou claro
para aqueles que tem “olhos de ver” que o dilema economia X saúde é um falso
dilema. Sem trabalhadores saudáveis não há possibilidade de se construir uma
sociedade economicamente forte.
A prioridade em qualquer sociedade civilizada
deve ser a vida e não o capital, mesmo porque todos sabemos que o problema do
mundo não é falta de dinheiro, mas sim a concentração da riqueza nas mãos de
minorias privilegiadas.
Outra
lição fundamental deste período, foi a que nos ensinou que o risco de morte
repentina é uma realidade mais próxima do que imaginávamos, o que nos fez compreender
que o amanhã na Terra é apenas uma possibilidade. Compreendemos, efetivamente,
a importância do agora.
Esta
crise da pandemia também abriu algumas poucas janelas de oportunidade.
Parece-me que a maior delas se deu no campo das comunicações. Este congresso
virtual da CEPA, reunindo espíritas das Américas e da Europa, sem saírem de suas
casas, é um bom exemplo desse novo tempo que se inicia.
Finalmente,
gostaria de fazer alguns agradecimentos:
Em
primeiro lugar, aos profissionais de saúde, em especial aos médicos e enfermeiros
que ficaram na linha de frente no combate ao COVID 19.
Aos
cientistas que trabalharam intensamente com vistas a descobrir as vacinas
necessárias ao enfrentamento desta doença. Sonho com o dia em que as conquistas
da ciência beneficiarão toda a humanidade.
A
todos os trabalhadores dos supermercados, farmácias e comércios em geral que
mantiveram a economia básica funcionando, com vistas a evitar a escassez de alimentos
e produtos fundamentais.
A
todos os professores que mantiveram sua tarefa de ensinar mesmo à distância,
sem poder contar com a presença física e a alegria de seus alunos.
A
todos os governos que promoveram a valorização da ciência e compreenderam a
necessidade das estratégias de afastamento social e, por isso, cumpriram com seu
dever de cuidado perante seus cidadãos.
A
todos os Estados que possuem um sistema de saúde público, universal e gratuíto.
Ficou absolutamente claro que os países que tinham sistemas públicos de saúde
estavam mais aparelhados para enfrentar essa tremenda crise.
Em relação ao Brasil, meu país, deixo minha
especial homenagem ao SUS (Sistema Único de Saúde), sistema que luta para
sobreviver ante a carência de verbas de financiamento, mas que possui em seus
quadros verdadeiros heróis na luta contra a pandemia e contra as doenças em geral.
Os profissionais e militantes dos SUS têm nos ensinado que medicina e saúde não
devem ser compreendidas como mercadorias.
A
todos os cidadãos do mundo que não deixaram de acreditar na ciência em tempos
de negacionismo científico. Cabe-nos, agora, manter a esperança em dias
melhores. E, juntamente com Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor e
escritor brasileiro, repetir a frase da canção: “Amanhã vai ser outro dia”.
A
voz do coração
Se
perguntarmos para as pessoas o que é ouvir a voz do coração, suponho que a maioria
responderia que é ouvir os sentimentos, as emoções que estão no interior de
cada ser humano.
A
resposta estaria certa.
Mas
só temos a voz do coração? Seria incompleto, muito simplificado acreditar que
sim, pois somos um espírito complexo composto por emoções, sentimentos e razão,
que caminham juntos na dinâmica vivencial.
Antes
de discorrermos sobre o assunto devemos colocar que emoção é diferente de
sentimento, embora muitas vezes usemos no mesmo sentido. É uma simplificação.
Emoção
é uma reação corporal, motora que advém do nosso cérebro que faz parecer em resposta
a alguma situação. É inato. Reação emocional que compartilha toda a espécie humana.
Para
o neurologista português Antônio Damásio “o sentimento é a forma como a mente
vai interpretar essas reações corporais, os movimentos emocionais do corpo”.
Os
sentimentos têm forte componente cognitivo. Você pensa através dele, você
constrói uma percepção afetiva ou a desconstrói.
No
seu livro Uma Nova Visão do Homem e do Mundo Jaci Régis coloca que: “na
sua evolução o espírito assumindo as qualidades de discernimento e de escolha,
característica do nível racional, começa uma nova fase quando o elemento
afetivo quase todo impulso puro começa a submeter-se aos limites que a relação
com o outro impõe. Estes componentes vão sendo refinados e melhorados através
de milhares de anos, o que ocorre no processo reencarnátorio, onde aprende na
vivência, muitas vezes de maneira forçada, as condições que tornam a vida
possível tanto na sobrevivência animal quanto nas relações afetivas do homem”.
Não
é possível dividir o indivíduo, olhando-o somente por um aspecto quer seja
emocional ou racional. Podemos em
situações ter uma atuação mais racional e outra mais emocional. Mas no
inconsciente e no consciente há toda uma elaboração, mesmo que rapidamente, dos
dois modos de agir.
O
estudo sobre a estrutura do cérebro avançou muito e segundo, Damásio “é preciso que o cérebro seja capaz de representar aquilo
que se passa no corpo e fora dele de uma forma muito detalhada”. Coloca ainda
que: “as decisões mais impulsivas e emocionas são originadas na região
do cérebro chamada amigdala. Já aquelas decisões mais racionais vêm do
hipotálamo até chegar ao neocortéx. Este trajeto entre hipotálamo e o neocortex
é mais longo e segundo o estudioso, talvez por isso temos mais tempo para
pensar”.
Muitos
separam dizendo: - seu coração é duro, você não tem coração, és um insensível
ou você é só razão! Isto é uma observação incompleta, pois esses não são
processos excludentes. Nas diversas formas de nos expressar demonstramos esses
dois aspectos de forma misturada, mesclada e unitária.
Usar
a inteligência, a razão, identificar as emoções primárias e depois aprender a
nomear os sentimentos, reconhecê-los em si mesmos e vive-los de forma harmônica
é decorrência de muitos fatores, dois deles: a educação e os condicionamentos
socioculturais.
A
emoção pode moldar o raciocínio. O raciocínio
pode alterar nossas emoções. Conciliar bem a emotividade com a racionalidade demonstra
equilíbrio e maturidade espiritual. A medida em que as sociedades evoluem
caminhamos para uma maior harmonia entre o lado emocional e o lado racional. Ainda
nem sempre é visível essa harmonia, é um trabalho a se avançar.
O
estado de desequilíbrio muitas vezes ocorre e para uma melhora é importante
primeiramente autoanalisar-se, refletir e verificar com grande pormenor quais
as situações que nos trouxeram a este estado e encontrar soluções, sozinho ou
com ajuda, para aperfeiçoar a maneira de reagir a estas e ter uma mudança de
postura.
A
racionalidade e os aspectos afetivos que estão presentes no nosso dia a dia.
Quando pensamos em progresso do espírito pensamos sempre no equilíbrio, no meio
termo do uso destes elementos. Aprender a administrar, autogerenciar estes itens
e vivenciarmos estes aprendizados irão proporcionar um desempenho harmonioso,
criativo, produtivo e revelarão compreensão e o entendimento da vida.
Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos -é Vice-Presidente do ICKS.
Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura de setembro de 2021, quer ler o jornal todo?
Baixe aqui:
A liberdade é uma escolha.
"O livre-arbítrio é a capacidade de fazer com
alegria aquilo que eu devo fazer". (Carl Gustav Jung).
Sobrevivente de Auschwitz, a escritora húngara e
doutora em psicologia Edith Eva Eger, que em 29 de setembro/2021 fará 94 anos,
lançou o livro "A liberdade é uma escolha" , que trata sobre a
escolha do ser humano em ser livre.
Escutemos com atenção este breve relato da Sra. Edith
Eva Eger:
"Na minha primeira noite no campo de concentração
em Auschwitz, aos 16 anos de idade, fui forçada a dançar para Josef Mengele, o
oficial da SS conhecido como Anjo da Morte. Dance para mim , ele
ordenou. Relembrando o conselho dado por minha mãe - Ninguém pode tirar de
você o que você colocar na sua mente - , fechei os olhos e me transportei
para um mundo interior. Na minha imaginação , eu não era mais a prisioneira
morta de frio e de fome e arrasada pela perda. Meus pais foram assassinados na
câmara de gás no primeiro dia de prisão.
Passei então a me imaginar no palco da Ópera de
Budapeste interpretando a Julieta do balé de Tchaikovsky. Foi escondida nesse
refúgio interior que obriguei meus braços a se erguerem e minhas pernas a
girarem. Reuni forças para dançar pela minha vida.
Todo minuto que vivi no campo de concentração de
Auschwitz foi como um inferno na Terra. Mas foi também a minha melhor escola.
Submetida à perda, à tortura, à fome e sob constante ameaça de morte, descobri
as estratégias de sobrevivência e liberdade que uso até hoje, diariamente, em
meu consultório e em minha vida.
Quando escrevi A bailarina de Auschwitz, eu não
queria que as pessoas lessem minha história e pensassem - Meu
sofrimento não é nada em compensação com o dela - .Queria que as
pessoas conhecessem a minha vida e entendessem - Se ela pode fazer isso, eu
também posso".
Dentre os conceitos fundamentais que compõem
o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta
a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no
limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento. Como
mola propulsora desse livre arbítrio surge algo chamado de vontade. Paulo Cesar
Fernandes em seu trabalho Livre-arbítrio ou Determinismo apresentado no
VI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 1999 assinala que o livre
arbítrio é libertação. Todavia o espírito tem em si uma série de leis, escreve
Paulo Fernandes, que não pode sobrepujar por estar envolvido na matéria, preso
a um organismo,sujeito a leis biológicas e psíquicas, vinculado a um meio
social e modelado pela educação da família. Naqueles espíritos que ainda não
chegaram a um grau de consciência superior a vontade é quase instintiva,
baseando-se nas necessidades de sobrevivência. Continua Paulo Cesar Fernandes,
dizendo que à medida que tomamos consciência de nossa existência e sua
finalidade, nos convertemos em seres mais reflexivos, inteligentes e racionais,
conquistando passo a passo a nossa liberdade , através da vontade de superação,
eu acrescentaria. Esse também é o conselho da Sra. Edith Eva Eger em seu livro "A
liberdade é uma escolha" . Embora o sofrimento seja universal e
inevitável, diz a autora, podemos ajudar as pessoas a valorizar o poder da
escolha. A vontade como força motriz do livre-arbítrio.
Meus queridos e
com certeza poucos leitores, tentem responder a essa sequência de
perguntas propostas pela Sra. Edith Eger : Sou orientado por problemas ou
orientado por soluções? Vivo refém do passado ou estou vivendo no presente? E
por último aquela pergunta que ela acha que devemos nos perguntar diariamente :
estou evoluindo ou revolvendo o passado?
Voltemos ao
pensador Paulo Cesar Fernandes no seu trabalho do VI SBPE de 1999, Livre-arbítrio
ou Determinismo, que nos ensina que quanto maior for nosso grau de evolução
maior será a nossa liberdade com a consequente maior
responsabilidade pelos atos praticados. Eu acredito, e para isso me valho
do Espiritismo, que possuímos em todos nós uma capacidade de transcender até
mesmo o maior dos horrores e usar o sofrimento para o bem estar de todos como
fez a Dra. Edith Eva Eger .
Nota: Artigo
originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.
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Internacional
As
Paralimpíadas e a carta de Yve
Na segunda metade
de agosto, com duas semanas de diferença das Olimpíadas do Japão se realizaram
as Paralimpíadas. Enquanto nos Jogos Olímpicos, havia cobertura de uma dezena
de canais a cabo vemos uma cobertura importante, mas muito mais modesta das
Paralimpíadas.
Estes jogos fazem
parte de um processo internacional de quebra de barreiras, de redução de
preconceitos que se vê cada vez de forma mais relevante em todas as áreas
sociais.
O espiritismo nos
ensina que todos nós surgimos simples e ignorantes e que evoluímos pela soma de
nossas experiências, somos todos passageiros desta aventura do desenvolvimento
do Espírito através da imortalidade dinâmica.
O Brasil foi o 8°
colocado nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, buscávamos nestes jogos
igualar ou quem sabe superar a marca anterior, é assim que as coisas acontecem
nos esportes e por que não dizer, na própria vida onde em todas as atividades,
nós Espíritos Encarnados estamos em busca de superações. Finalmente
terminamos os jogos na 7ª posição, igualando este resultado ao dos jogos de
Londres em 2002, em matérias de medalhas, igualamos o número conseguido no Rio
de Janeiro com 72 medalhas, mas superamos nosso recorde de 2002 que era de 21
ouros e atingimos um total de 22 ouros.
Mas o resultado
não é o que realmente importa, nas palavras do criador dos Jogos Olímpicos da Era
Moderna Barão de Coubertin – “O importante não é vencer, mas competir. E com
dignidade” Pierre de Fredy (1863 -1937).
A carta de
YVE
Recentemente nosso
Ministro da Educação fez uma declaração infeliz, tendo se desculpado, logo em
seguida, tamanha a repercussão, extraio este trecho que vamos analisar: “há
crianças com deficiência de impossível convivência “. Esta é claramente uma
posição antiga, típica de meados do século XX, a experiência moderna tem
demonstrado que a convivência com pessoas de múltiplas capacidades, formações,
etnias e quaisquer outras diferenças contribuem para a formação de uma mentalidade
de maior tolerância ao mesmo tempo que promove um suporte social a aqueles que
foram por muito tempo afastados deste convívio. Isto não exclui a possibilidade
de termos escolas especializadas, mas onde elas não existam as escolas precisam
estar preparadas.
Foto de Yve e Romário
Yve é uma menina
de 16 anos com Síndrome de Down, filha do artilheiro Romário, hoje Senador.
Destaco dois trechos da carta que ela enviou ao Ministro Milton Ribeiro:
"Sabe, eu
tenho síndrome de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Eu
estudo para ter um futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém”
“A minha presença
e a de outras pessoas com deficiência não é ruim, muito pelo contrário, desde a
escola, meus coleguinhas aprendem uma lição que parece que o Sr. não teve a
oportunidade de aprender, que a diversidade faz parte da natureza humana e isso
é uma riqueza"
Creio que estes
dois trechos representam a importância de sua declaração. Os leitores se
quiserem ler o texto completo basta pesquisar no Google.
Existe uma
interpretação espírita que, nós os chamados Espíritas Livre Pensadores já
superamos, que é a de que nós reencarnamos para cumprir provas e expiações,
palavras que poderiam ter sentido no século XIX. Hoje vemos os fatos, todos os
que se nos cercam e que se nos apresentam como oportunidades de crescimento,
esta interpretação é muito melhor porque todos nascem com pontos positivos e
negativos se comparados com uma média. Embora seja evidente que num planeta de
7 bilhões de pessoa, não deva existir nenhuma pessoa que se encaixe,
perfeitamente, na média, todos somos desiguais. Como já dissemos em parágrafo
anterior, estamos aqui para superarmos os obstáculos que se apresentem.
Nas Paralimpíadas,
por exemplo, várias categorias de competição são formadas por amputados. Ou
seja, pessoas que nasceram com todos os órgãos normais, mas que por um
acidente, ou por motivo de alguma doença degenerativa, foram obrigados a passar
por uma amputação. Não acreditamos em destino ou predestinação ou mesmo em
encarnação programada. O que está escrito nos livros Nosso Lar e Evolução em
Dois Mundos, sobre a reencarnação é pura fantasia, ou na melhor das hipóteses
estória para “evangelizar”, pensada para acalmar as ansiedades dos
“desfavorecidos”. É preciso saber viver, o processo reprodutivo tem riscos,
acidentes acontecem o tempo todo, guerras, assaltos, pessoas que levam tiros,
tudo isto é impossível de ser programado, acontece por acaso. Ou muitas vezes
por desvios morais de uns, por descuidos de outros. A vida como ela é.
Então, as pessoas
amputadas passam por um processo de readaptação, reaprende a andar, e também a
se divertir, pois não estão punidos, estão sim experimentando uma nova
situação. Cada vez mais a medicina, a fisioterapia e a evolução tecnológica
trabalham para dar melhores condições de recuperação para que a vida siga. E
eu, particularmente, gosto de ver o esforço e a capacidade de superação destes
superatletas paralímpicos.
Concluindo, nunca
deveríamos abdicar do direito, e da vontade de aprender sempre, tudo muda o
tempo todo e temos que nos esforçar para acompanhar estas mudanças!
Artigo publicado no jornal Abertura - setembro 2021
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