terça-feira, 23 de novembro de 2021

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

ESPIRITISMO, PRAZER E FELICIDADE por Ricardo Nunes

 

ESPIRITISMO, PRAZER E FELICIDADE


Ricardo de Moraes Nunes 

“O prazer é a meta natural na vida. O sofrimento é transitório, eventual. Temos que construir uma consciência feliz, que ame, que busque o prazer de viver “Jaci Régis

Será que o espiritismo combina com a ideia de prazer e felicidade? Não estaria o espiritismo ligado apenas a ideia da morte, de fantasmas do outro mundo, de resignação ante o sofrimento? Não busca o espírita apenas a libertação do Espírito com vistas a uma entrada feliz no outro mundo?

Certamente a felicidade absoluta é impossível neste mundo. Como poderíamos ser absolutamente felizes em um planeta no qual existem tantos problemas. Aqui na Terra temos insegurança alimentar, doenças, violência, desemprego, famílias sem teto, crianças desamparadas, destruição ecológica, ditaduras políticas e tantos outros problemas. Neste sentido, falarmos em felicidade absoluta seria um verdadeiro egoísmo, pois estaríamos alimentando uma postura indiferente, alienada dos graves problemas que vivemos na faixa da existência terrestre.

 Mas podemos perguntar ainda. É possível pelo menos uma felicidade relativa neste mundo? É possível uma felicidade pessoal geradora de prazer interior, porém não alienada, não desconhecedora dos problemas terrenos?

O espiritismo nos traz uma ideia de felicidade e prazer possíveis de serem alcançados na Terra. O espiritismo bem compreendido nos traz alguns princípios filosóficos importantes para que compreendamos a vida física de forma positiva.

A primeira ideia a ser destacada que nos oferece a filosofia espírita é que a defende que a vida terrena é oportunidade de aprendizado, de crescimento, amadurecimento, realização e conquista da sabedoria. O espiritismo nos convida a olharmos nossas existências terrestres como oportunidades de construção de nós mesmos e do mundo ao qual pertencemos. Portanto, nos ensina a valorizarmos e amarmos a vida, a Terra, o mundo.

Em relação ao sofrimento o espiritismo nos ensina a distinguir entre o bem e o mal sofrer. O mal sofrer é o que causa a revolta, o desânimo, que nos faz desistir. Já o bem sofrer é aquele que nos faz resistir corajosamente aos desafios e dificuldades da vida com vistas a nos tornarmos mais firmes, mais sábios, mais experientes perante nossas dores e sofrimentos, com vistas a superação.

Sem dúvida que existirão as lutas que não venceremos e que a aceitação madura perante o incontornável será necessária. Segundo Léon Denis: “É um dever lutar contra a adversidade. Abandonar-nos, deixar-nos levar pela preguiça, sofrer sem reagir aos males da vida seria uma covardia. Mas, quando os nossos esforços se tornam supérfluos, quando tudo é inevitável, chega então o momento de apelarmos à resignação”.

Não há dúvida, no entanto, que mesmo as batalhas perdidas podem trazer ensinamentos ao Espírito imortal que somos e podem se traduzir em amadurecimento pessoal, espiritual, se soubermos enfrentar com sabedoria esses momentos de perda.

É necessário dizer também que o espiritismo não condena a alegria, os momentos de festa. Não nos diz para sermos sisudos e aparentarmos uma seriedade que muitas vezes não temos. O exemplo Jesus de Nazaré tem relevância para os espíritas nesse sentido. Da mesma maneira que brindava o casamento de alguns amigos, chorava por Lázaro e expulsava os vendilhões do templo.  Jesus de Nazaré possuía uma conduta natural, não artificial, não farisaica, fingindo hipocritamente ser melhor do que os outros. Agia em conformidade com cada ocasião.

Provavelmente, Jaci Regis foi o pensador espírita que melhor compreendeu a importância teórica de se ressaltar o prazer de viver como tema relevante no âmbito filosofia espírita e como práxis existencial espírita. Jaci compreendeu extraordinariamente a importância de se construir uma vida produtiva e útil no bem e de nos afastarmos do culto ao sofrimento tão presente na proposta cristã e espírita cristã.

 Não que Jaci negasse a existência do sofrimento, apenas enfatizava a necessidade de nos dedicarmos a sua superação, sem ficarmos perdendo tempo em cogitações hipotéticas, de caráter reencarnacionista, frequentemente indemonstráveis empiricamente, sobre eventuais causas anteriores do sofrimento. Não desconhecia, é claro, a lei natural das vidas sucessivas, apenas criticava esse procedimento especulativo inútil banalizado em nosso movimento espírita.

A vida é para ser vivida agora com alegria e confiança. Não precisamos esperar o além para sermos felizes. Aqui e agora realizaremos o céu e o inferno dentro de nós. No momento presente, nesse instante, nessa fração de segundos entre o passado e o futuro, é que se encontra a vida. Portanto, segundo o melhor entendimento da filosofia espírita, é o agora que importa. O além obviamente existe, mas nosso estado futuro será determinado pelo que somos agora.

 

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo por Jaci Régis

 

Reflexão sobre Allan Kardec e o futuro do espiritismo - Jaci Régis

  

Allan Kardec elaborou o Espiritismo dentro da cultura cristã.

Formatou a doutrina dentro de 3 parâmetros, compatíveis com o modelo cristão.

 

Jaci Régis aos 40 anos

 1. O mundo é de provas e expiações,

 2. Os habitantes são espíritos imperfeitos que expiam suas faltas no processo de vidas sucessivas,

3. Deus se manifestou em três grandes momentos, para a salvação moral humanidade, nos dez mandamentos de Moises, nas palavras de Jesus Cisto e, finalmente, pela manifestação dos Espíritos.

 

São as três revelações da Lei de Deus. Dentro desses parâmetros, aceitou que Jesus Cristo trouxe a verdade possível e que o Espiritismo completaria a verdade atual.

 

A trajetória de Kardec é sinuosa. Queria que o Espiritismo fosse uma ciência. Mas criou uma religião, sem querer que fosse religião. Na verdade, agiu como equilibrista da razão e da fé.

Todavia, aceitou que o motivo central do Espiritismo era restaurar o cristianismo e implantar no mundo o Reino de Deus, utopia evangélica que está na base das aspirações místicas e irreais da humanidade ocidental, cristã.

 

Isso levou à afirmação do Espiritismo como o Consolador Prometido, representava também tacitamente a certeza de que Jesus Cristo era a verdade e toda a verdade teria vertido pela sua boca. Esse Consolador simbolizaria a vinda do Senhor ao mundo, completaria todas as verdades e ficaria conosco para sempre. Era a expressão da ilusão de que, brevemente, por obra divina, haveria modificações espetaculares na face da Terra. Surgiria um reino de paz, de alegria, de fraternidade.

 

Era a implantação do Reino de Deus no mundo. Que mundo? Sem qualquer demérito para as lições inigualáveis do Nazareno, estamos num tempo em que as exclusividades e as verdades absolutas não têm lugar. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec afirmou que o Espiritismo não vinha destruir a lei cristã, como o Cristo não teria destruído a lei mosaica. Essa sequência teológica provinha do sentimento de uma intervenção direta de Deus ou Jesus no encaminhamento das soluções e no desenvolvimento moral das civilizações.

 

O céu comandando a Terra. Jesus Cristo, o rei governando o mundo.

Mas o tempo da era cristã, no seu aspecto institucional, político e religioso estava no fim.

Desenvolver a ideia espírita dentro do caldo de cultura cristã foi um paradoxo. Pois o Espiritismo na sua estrutura básica é a negação do cristianismo. Consequentemente tornou o Espiritismo prisioneiro da promessa da vinda do reino de Deus.  Kardec então elaborou seu pensamento tentando encontrar justificativas e argumentos para as afirmações teológicas dos profetas e messias.

 

Seria diminuir seu gênio reduzir sua obra a essa análise simples. Pois sua obra é capaz de superar os entraves contextuais e projetar-se para o futuro, porque teve a  sabedoria de abrir o caminho para o progresso, para a renovação. De tal forma que o Espiritismo seria capaz de reciclar-se, aceitando as novas ideias e mudar o que fosse necessário para não imobilizar-se. O que seria, disse, o suicídio da doutrina.

 É baseado nessa extraordinária abertura para a evolução e progresso das ideias que creio ser válido propor uma definição dinâmica para o Espiritismo nos dias atuais.

 

A definição do Espiritismo

 

O século XXI desponta como uma incógnita sob a liderança inconteste da ciências duras, coadjuvadas pelas ciências humanas.

Como definir, compreender e projetar o Espiritismo neste século vinte e um?

Neste século, o Espiritismo terá pelo menos duas expressões.

         1. O Espiritismo cristão

Com duas versões:

 - Religião Espírita

Atualmente, de modo geral e majoritariamente o Espiritismo é uma religião cristã, cujos programas e o entendimento remetem-se aos textos evangélicos e aos enunciados do século dezenove, repetindo as palavras de Allan Kardec, sem atentar para  o contexto em que foram ditas.

Os espíritas cristãos são basicamente católicos mediúnicos.

 -Espiritismo laico cristão.

Substituiu-se o tríplice aspecto de Ciência Filosofia e Religião, por Ciência, Filosofia e Moral, isto é a moral cristã. Ambos os movimentos não fazem ciência e não filosofam.

2 - Espiritismo pós-cristão

A única saída para que o Espiritismo alcance sua originalidade e ofereça uma contribuição genuína para a sociedade é escoimá-lo do enfoque teológico da Igreja. Isto é, ser um Espiritismo pós-cristão.

Esse Espiritismo pós-cristão não apenas abandonará a retórica e a teologia católica, como se organizará sugestivamente como uma ciência humana. A Ciência da alma.

 

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona a ilusão de ser uma   revelação divina,  para ombrear-se, de forma muito especial,  com o esforço  das ciências humanas que surgiram para entender o ser humano, suas limitações, problemas e futuro, fora dos limites das ciências duras, físicas. Isto é, uma ciência humana cujo objeto é explicar o ser humano como uma alma, sua estrutura, sua atuação e sua evolução.

 

Com isso pode desenvolver um espírito crítico e explorar a realidade essencial do ser humano dentro da lei natural, da naturalidade dos processos evolutivos, através da reencarnação, como uma alma atemporal, imortal e em crescimento, seja no campo íntimo seja no campo social.

Como Ciência da Alma, o Espiritismo abandona sua pretensão autárquica de se abranger todos os problemas da humanidade, mas apoia-se nos esforços das demais ciências humana que compõem o leque das realidades e comportamentos das pessoas.

O objetivo maior será introduzir na cultura o sentido sério, basicamente defensável aos postulados puros do Espiritismo.

Terá que dispor de recursos e meios para provar, insofismavelmente, a imortalidade. O que implicará na renovação do exercício e objetivos da mediunidade, superando a fase meramente moralista e religiosa em que se situa atualmente.

 

Só a prova da imortalidade será a base de renovação social, humana e do pensamento humano e sustentará as teses da reencarnação e da evolução do Espírito. Numa estrutura compatível com a evolução do conhecimento humano. Como Ciência da Alma, introduzirá a noção de espiritualidade como uma busca natural, imprescindível para o equilíbrio pessoal e social, propondo positivamente o desenvolvimento ético na sociedade em mudança que vivemos.

 

Muitos podem questionar se um Espiritismo pós-cristão, a estruturação da Ciência da Alma, pode ser kardecista, dada a crítica e a reelaboração que se faz necessária do trabalho de Allan Kardec, conforme temos provado. É kardecista na medida em que se apoiará nos alicerces básicos, puros, do pensamento doutrinário, desprezando os acessórios das interpretações e extensões contextualizadas no início e do tempo decorrente.

 

O caráter da Ciência da Alma, como qualquer ciência humana será essencialmente progressivo, jamais se imobilizando no presente, apoiada somente no que for provado.

Assimilará as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam físicas ou metafísicas. Pois não quer ser jamais   ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias de credibilidade.

 

Jaci Régis, escritor espírita, psicólogo e economista - desencarnado em 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias - por Alexandre Cardia Machado

O desafio de manter a serenidade em tempos de mudanças socias

Trabalho apresentado no XXIII Congresso Espírita Panamericano



Apresentação congresso - clique aqui

Vá diretamente no link de YouTube a assista ao evento, são 30' incluida a apresentação e perguntas e respostas. 

Um pequeno resumo da apresentação ou dos aspectos que me levaram a concluir pela serenidade:

Tivemos a oportunidade de fazer parte deste evento mundial e poder apresentar uma reflexão mais positiva a respeito do gênero humano. Procuramos demonstrar que não há nada na história recente da humanidade que nos desanime e que não nos permita pensar que estamos evoluindo como espíritos. Como em tudo na vida a evolução não se dá em linha reta, precisamos entender os nossos ciclos.

Nosso trabalho demonstra que no momento em que surge o Espiritismo o ambiente era bastante conturbado na Europa e principalmente na França, no entanto para alguém que se ponha a estudar as obras básicas não encontrará nenhuma palavra de desespero.

Notamos, mesmo entre os espíritas um comportamento muito próximo das pessoas não espíritas, o fato de sabermos que somos imortais não parece arrefecer o impulso a ações mais ríspidas, ou mesmo exageradas.

O Espiritismo nos ensina o caminho do meio, a moderação o controle de nosso impulsos a temperança.

Buscamos trazer aqui trechos de artigos publicados por diversos autores nas páginas do Jornal Abertura palavras que nos animem e que nos ajudem a manter a serenidade.

Nas palavras de Jaci Régis:

“O Novo modelo (Doutrina Kardecista) identifica o ser humano, prioritariamente, como um Espírito imortal, evoluindo através de sucessivas encarnações. Embora a extraordinária e fundamental importância da vida corpórea para o Espírito, o nascimento, a existência e a morte no campo corpóreo é apenas um segmento da vida, na sua expressão imorredoura, progressiva e dinâmica.”[1]

 Finalmente concluiremos que uma das missões do espiritismo é demonstrar na prática que este comportamento sereno é possível, que se pode criticar e com isto aprender a melhorar, mas não podemos perder a tranquilidade porque a imortalidade dinâmica nos ensina que esta caminhada é longa e tem percalços, mas por isto mesmo é bonita.

O momento em que o Espiritismo surge – ambiente

A primeira vez que uma pessoa lê o Livro dos Espíritos percebe imediatamente que se trata de um diálogo tranquilo entre o mestre Kardec e os Espíritos que colaboraram na sua elaboração.

Muitos podem imediatamente pensar que Kardec que residia em Paris, na França onde todos sabemos que o trabalho foi desenvolvido, vivia momentos tranquilos, mas a realidade pessoal e social não era bem assim. Mas isto não o impediu de ser sereno na condução da elaboração da Doutrina Espírita.

Tentarei montar o quadro da situação geopolítica na Europa nos anos 50 e 60 do século 19.  Buscando concentrar nos principais conflitos no mundo de então nos quais a França esteve de alguma forma envolvida: 

(ver o vídeo)

Peço aos historiadores que me perdoem por não aprofundar em demasia e não incluir todos os conflitos que havia na época entre países europeus em suas colônias, que só eram mantidas a força. Assim como a luta entre eles mesmos, mundo a fora.

Este quadro histórico demonstra, que mesmo neste ambiente conturbado, Kardec não transcendia estas aflições que certamente o acometiam à construção do Espiritismo.

Allan Kardec o bom senso encarnado se focava nas relações humanas e espirituais, nos aspectos individuais, ou seja, aqueles que contribuíam para o crescimento do ser espiritual. Isto não significa que Kardec e os espíritos superiores consideravam a guerra ou os abusos de crueldade algo desprezível. Para tal nos deixaram a chamada Lei da Destruição (Livro Terceiro – capítulo VI do LE).

No entanto estes problemas não eram a sua prioridade, ele os julgava temporários, com a evolução humana os conflitos tenderiam a se reduzir. Isto claro não aconteceu imediatamente, para Kardec parecia que as mudanças seriam muito mais rápidas, mas estas mudanças de fato estão acontecendo vagarosamente.

Se olharmos o século 19 tivemos as guerras Napoleônicas, a guerra do Congo e a Revolta Taipé na China que juntas mataram mais de 27 milhões de pessoas, no século 20 com a primeira Guerra Mundial, a II Guerra Mundial e a revolução Russa que juntas levaram a morte a mais de 60 milhões de pessoas segundo a revista Superinteressante, outros conflitos levaram muito mais pessoas para o Plano Espiritual. 

Já nos 21 anos de século XXI, nos principais conflitos que de alguma maneira ainda persistem até os dias de hoje, como: a guerra do Iêmen; a guerra de Boro Karan; do Afeganistão; do Iraque; do Sudão e da Síria (todas tem como vínculo causal as disputas internas do islamismo combinada com a proximidade de grandes jazidas petrolíferas). Estes enfrentamentos levaram a morte cerca de 1 milhão de pessoas e milhões de refugiados.

Fica claro que os mecanismos internacionais, ainda que deficientes estão sendo capazes de reduzir os efeitos terríveis, de mortes inúteis nas guerras.

Não há dúvida de que vivemos num mundo muito melhor do que aquele onde Kardec desenvolveu a Doutrina Espírita.


Evidências de que Kardec se manteve sereno

Reforçamos então a mensagem de que o Espiritismo surge para nos dar tranquilidade diante das intempéries da sociedade. Na introdução do Livro dos Espíritos[1] Kardec assim  nos ensina “ Os bons Espíritos nos solicitam para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos solicitam ao mal: é para eles uma alegria nos ver sucumbir e nos assemelharmos a eles.” Como na música de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher, é preciso saber viver”.

Para saber viver é preciso ter clareza sobre quais problemas do mundo temos capacidade de influenciar e quais estão fora de nosso alcance, procuremos atuar naqueles que podemos fazer algo e acreditar que há boas pessoas que podem fazer o mesmo nos problemas em que a solução está fora de nosso alcance como indivíduo. (Alexandre Cardia Machado – A tranquilidade Espírita -março 2020 -Jornal Abertura)

 

O momento em que vivemos hoje – A Parábola da calçada (assista o vídeo no Youtube)

Esta foto da calçada da Ponta da Praia em Santos, nos ajudará a ilustrar a mensagem que gostaríamos de passar A calçada, assim como a nossa democracia é um caminho, para o bem estar. Santos é uma cidade que possui seis quilômetros de praia, na área urbana, na sua maior parte possui um grande jardim, mas quanto mais nos aproximamos da Ponta da Praia, bairro mais próximo ao Guarujá, o jardim termina e ficamos apenas com a calçada.

 

Andar por este caminho é exercer a democracia na prática, pois o espaço é justo e é compartilhado por pescadores, gente carregando canoas, foodtruck para dar um novo nome aos traillers que vendem alimentos, alguns poucos bares nos piers existentes, turistas, gente correndo, cães com ou sem coleiras, carrinhos de bebê e muita gente. Todos andando desordenadamente, cada qual exercendo seus direitos individuais do livre ir e vir.

 

O que isto tem a ver com a democracia? Bem a democracia é uma ideia boa, pois permite que todos expressem suas ideias, ideologias e disputem o mesmo pedaço de forma organizada. No caso a disputa do governo de um país, estado ou municípios.

 

Neste espaço estreito da calçada temos que negociar a passagem, a velocidade com que nos deslocamos a fim de que todos possam usufruir dela. Isso é o que acontece com as democracias. Tudo isto faz parte da Lei de Sociedade. Precisamos negociar os limites de nossas ideias que em algum momento entram em choque. Quando tudo parece bem, acontecem eventos não esperados. No caso aqui apresentado, as ressacas, nas democracias, as crises, geralmente associadas a grandes perdas balanço de pagamentos internacional, guerras, pandemias ou preços das comodites. O que vemos é que 5 anos depois a calçada está mais larga e mais resistente, assim como nós deveríamos ficar no convívio com o processo democrático.

 

 

Este fenômeno de mudanças mais ou menos radicais no equilíbrio dos partidos se dá de forma global, em muitos países, há costumeiramente uma mudança, sempre que um governo lança um país em uma crise, ou não consegue sair dela. Nestas condições acontecerá o que ocorreu na França, Itália, Grécia e Espanha com guinadas ora para a esquerda, ora para a direita, só para citar alguns exemplos. Mas a vontade popular é que a democracia sobreviva.

 

Allan Kardec, chamado por seus contemporâneos de o bom senso encarnado, já atribuía o bom senso ao avanço intelecto-moral. Assim como na calçada da Ponta da Praia, e na política a busca pelo equilíbrio é proporcional ao bom senso nosso de cada dia (Machado, Alexandre - O difícil caminho da democracia - editorial jornal Abertura de novembro de 2016).

 

 

Serenidade

Sobre como enfrentar a realidade e o Estado de Bem Estar Social - O Pensador francês Luc Ferry muitas vezes citado neste periódico, em seu livro “ A Revolução do Amor” de 2010 nos apresenta um texto, contido no capítulo  - Três fortes objeções contra uma “política do amor” -  que gostaria de reproduzir aqui alguns trechos, como contribuição ao debate que nos assola nos dias de hoje e convidar os leitores a revisar este livro.

 

Alguns pensam que com a crise “vamos retornar a um pouco mais de generosidade, a um pouco menos de egoísmo” porque eles não compreenderam nada de economia nem da humanidade. Retornar (retrotopia)? ... Vocês acreditam que a sociedade do século XIX era mais generosa e menos egoísta que a nossa? Releiam Balzac e Zola!” – André Comte-Sponville – O gosto de viver”.

 

Não se poderia dizer melhor. Concordo que se deva apelar para o ideal para criticar o real. Mas, nessas condições, a menor das exigências consiste em indicar de que real se fala, e que ideal se exige. Ora, apesar de todos os defeitos que se queira encontrar, o real dos Estados de bem-estar social europeus é simplesmente o mais suave que já se conheceu na história humana.

 

Quanto ao ideal em nome do qual ele é criticado, o mínimo é que ele exiba claramente os motivos que nos permitam ter a menor esperança de que ele fará melhor, e não, como de costume, infinitamente pior. Vocês me permitirão duvidar ainda e sempre, mais do que nunca, de que o marxismo-leninismo enfeitado com um pouco de maoísmo e de trotskismo, doutrinas que sempre produziram as piores catástrofes humanas por toda parte onde foram impostas aos povos, esteja hoje pronto para fazer melhor do que esse misto admirável de liberdade e bem-estar que, bem ou mal, conseguiram garantir nossas repúblicas democráticas.”

 

Luc Ferry expressa claramente o porquê da rejeição aos partidos socialistas que vem ocorrendo repetitivamente mundo afora, eles não apresentam históricos convincentes de sucesso. Onde atingiram algum sucesso, foi à custa de muitas vidas e pela supressão da liberdade. A guinada ao centro que estamos presenciando é uma aposta da sociedade na busca deste estado de bem-estar social. Que é social-democrata, que é capitalista, mas com viés social, que não é estatizante e que valoriza a produtividade.

 

A Tão Complexa Lei do Progresso

 

Gostaríamos de discutir um pouco esta importante Lei Natural que é a lei do progresso onde muito bem, nos explicam os Espíritos tem como maiores obstáculos ao seu desenvolvimento natural no orgulho e o egoísmo.

 

Da Questão 793 do Livro dos Espíritos quero extrair uma frase importantíssima “À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral.” Vejam a pergunta e uma parte da resposta abaixo:

 

“793. Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa?

“Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. Credes que estais muito adiantados, porque tendes feito grandes descobertas e obtido maravilhosas invenções; porque vos alojais e vestis melhor do que os selvagens. Todavia, não tereis verdadeiramente o direito de dizer-vos civilizados, senão quando de vossa sociedade houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” A civilização, como todas as coisas, apresenta gradações diversas. Uma civilização incompleta é um estado transitório, que gera males especiais, desconhecidos do homem no estado primitivo. Nem por isso, entretanto, constitui menos um progresso natural, necessário, que traz consigo o remédio para o mal que causa. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males que gerou, males que desaparecerão todos com o progresso moral...”

 

Enfim fica aqui o convite à reflexão de nossos leitores.






[1] Kardec, Allan – O livro dos Espíritos -Ed FEB - Introdução



[1] Modelo Conceitual – Doutrina Kardecista – Jaci Régis – editora ICKS



Alexandre Cardia Machado é o Presidente do ICKS e redator do Jornal Abertura.

 

 


sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Quer ler o jornal Abertura online?

 

Comunicado aos assinantes do Jornal ABERTURA

O nosso Abertura, colorido, online já é totalmente grátis, claro que somente na versão digital e com acesso livre em qualquer parte do mundo.

Você já pode baixar o Jornal Abertura digital diretamente, basta clicar sobre a foto no Blog do ICKS à direita, conforme mostra o círculo, na foto abaixo, logo ao entrar na página. Você poderá acessar todos os Aberturas de 2021, coloridos. Vá ao nosso Blog: https://icksantos.blogspot.com/

 Se alguém quiser antecipar o recebimento do jornal via e-mail ou whats app no formato pdf no ano de 2021 é fácil, é só entrar em contato pelo e-mail -ickardecista1@terra.com.br. E nós faremos isto por você ou se preferir faça você mesmo acessando no site, conforme as instruções apresentadas acima.

Ou se preferir, basta clicar diretamente no link abaixo e acessar o site da CEPA – Associação Espírita Internacional e ler o Abertura.

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/20-jornal-abertura-2021 

Qualquer pessoa pode baixar o Abertura.

 

 

 

ESPIRITISMO E PANDEMIA - por Ricardo de Morais Nunes

 

ESPIRITISMO E PANDEMIA

TEXTO DE RICARDO NUNES APRESENTADO NA MESA REDONDA “ESPIRITISMO E PANDEMIA” NO XXIII CONGRESSO DA CEPA EM 08 DE OUTUBRO DE 2021

É interessante observar que em uma época de individualismo exacerbado promovido por concepções neoliberais de economia, política e sociedade, um vírus, um simples e invisível vírus, denominado COVID 19, acentuou ainda mais a separação entre as pessoas.

  Na verdade, muitos de nós já vivíamos sob a perspectiva do isolamento introjetando os valores da sociabilidade capitalista, os quais apontam para o ter e não para o ser, para o egoísmo e não para o altruísmo. Infelizmente, temos frequentemente esquecido que o bem-estar e o equilíbrio do grupo social são fundamentais para a existência e felicidade de cada indivíduo e que os laços sociais são uma espécie de oxigênio da vida.

Durante a pandemia do vírus não pudemos mais nos abraçar, não pudemos nos beijar, não pudemos nos aproximar. Ficamos reclusos em nossas casas tentando organizar os espaços de fora, e nos deparando muitas vezes com os vazios de dentro. O velho ditado “tempo é dinheiro” perdeu o sentido. Aquela sensação de ocupação e pressa nos abandonou por esses longos meses.

Tivemos que exercitar a paciência, a espera, e os dias passaram devagar. Passamos a trabalhar em casa misturando nossos materiais de trabalho com o ambiente doméstico e com os brinquedos de nossos filhos, renunciamos aos lazeres e passeios, nos afastamos de familiares e amigos. Muitos de nós perdemos entes queridos. Familiares e amigos partiram para o mundo maior, para o mundo dos Espíritos, enchendo-nos o coração de dor e saudade, sendo a filosofia espírita o mais forte apoio aos nossos pensamentos e emoções nestes graves momentos.

O vírus certamente trará grandes lições. Sairemos melhores desta crise? Aprenderemos alguma coisa? É difícil dizer.

 E o espiritismo, enquanto filosofia espiritualista, o que tem a dizer em um momento tão difícil para a humanidade? A filosofia espírita descortina a todos novos horizontes existenciais. Nos ensina que tudo passa, se transforma e evolui.

 Segundo o espiritismo, das sociedades agrárias às sociedades pós-industriais, estamos submetidos a um complexo processo evolutivo, não uniforme, sem dúvida sujeito a avanços e retrocessos no terreno da história, porém rumo a patamares superiores de civilização, sendo que tal processo evolutivo se dá pelas leis psicofísicas da reencarnação.

O espiritismo ensina que a vida, em si mesma, é imperecível e transcendente. Que acima de tudo somos e que continuaremos a ser mesmo após a morte.   Ensina a confiança na razão, na ciência, na capacidade do ser humano em resolver os seus problemas.   Lembra que a dor e o prazer, a vida e a morte, a tristeza e a felicidade, são fatores inerentes às leis naturais do planeta em que vivemos, sem desconsiderar, é claro, os excessos e equívocos humanos na produção de sofrimentos.

 Nos conscientiza que somos os protagonistas do nosso destino, sem desprezar os determinismos de variada natureza que incidem sobre nossas vidas.  Esclarece a importância do amor e da solidariedade na construção de um ser humano e de um mundo melhor.

Que possamos, a partir das lições deste difícil período, ter clareza da importância de nossa existência terrestre em nosso desenvolvimento individual e coletivo. Que aprendamos a cultivar uma nova sociabilidade não mais centrada apenas no “eu”, mas que considere o “nós”. Que compreendamos a terra como nossa casa comum a ser preservada e que nos conscientizemos da rede invisível que nos entrelaça a todos, em uma trama de ações e reações sob a perspectiva dialética indivíduo-sociedade.

Uma das grandes lições do vírus é a de que ele não é democrático, pois atingiu preferencialmente os pobres e despossuídos, os quais ficaram mais expostos e vulneráveis por viverem em habitações precárias que não permitem os devidos cuidados de afastamento social, e também por terem tido que sair às ruas, em meio à maior crise de saúde pública de nosso século, na busca do pão de cada dia.

 Apesar disso, constatamos, que o aristocrata, o milionário, e o trabalhador são iguais em fragilidade física. Ficou claro para aqueles que tem “olhos de ver” que o dilema economia X saúde é um falso dilema. Sem trabalhadores saudáveis não há possibilidade de se construir uma sociedade economicamente forte.

 A prioridade em qualquer sociedade civilizada deve ser a vida e não o capital, mesmo porque todos sabemos que o problema do mundo não é falta de dinheiro, mas sim a concentração da riqueza nas mãos de minorias privilegiadas.

Outra lição fundamental deste período, foi a que nos ensinou que o risco de morte repentina é uma realidade mais próxima do que imaginávamos, o que nos fez compreender que o amanhã na Terra é apenas uma possibilidade. Compreendemos, efetivamente, a importância do agora.

Esta crise da pandemia também abriu algumas poucas janelas de oportunidade. Parece-me que a maior delas se deu no campo das comunicações. Este congresso virtual da CEPA, reunindo espíritas das Américas e da Europa, sem saírem de suas casas, é um bom exemplo desse novo tempo que se inicia.

Finalmente, gostaria de fazer alguns agradecimentos:

Em primeiro lugar, aos profissionais de saúde, em especial aos médicos e enfermeiros que ficaram na linha de frente no combate ao COVID 19.

Aos cientistas que trabalharam intensamente com vistas a descobrir as vacinas necessárias ao enfrentamento desta doença. Sonho com o dia em que as conquistas da ciência beneficiarão toda a humanidade.

A todos os trabalhadores dos supermercados, farmácias e comércios em geral que mantiveram a economia básica funcionando, com vistas a evitar a escassez de alimentos e produtos fundamentais.

A todos os professores que mantiveram sua tarefa de ensinar mesmo à distância, sem poder contar com a presença física e a alegria de seus alunos.

A todos os governos que promoveram a valorização da ciência e compreenderam a necessidade das estratégias de afastamento social e, por isso, cumpriram com seu dever de cuidado perante seus cidadãos.

A todos os Estados que possuem um sistema de saúde público, universal e gratuíto. Ficou absolutamente claro que os países que tinham sistemas públicos de saúde estavam mais aparelhados para enfrentar essa tremenda crise.

 Em relação ao Brasil, meu país, deixo minha especial homenagem ao SUS (Sistema Único de Saúde), sistema que luta para sobreviver ante a carência de verbas de financiamento, mas que possui em seus quadros verdadeiros heróis na luta contra a pandemia e contra as doenças em geral. Os profissionais e militantes dos SUS têm nos ensinado que medicina e saúde não devem ser compreendidas como mercadorias.

A todos os cidadãos do mundo que não deixaram de acreditar na ciência em tempos de negacionismo científico. Cabe-nos, agora, manter a esperança em dias melhores. E, juntamente com Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor e escritor brasileiro, repetir a frase da canção: “Amanhã vai ser outro dia”.

 


domingo, 3 de outubro de 2021

A voz do coração - por Cláudia Régis Machado

 

A voz do coração

Se perguntarmos para as pessoas o que é ouvir a voz do coração, suponho que a maioria responderia que é ouvir os sentimentos, as emoções que estão no interior de cada ser humano.



A resposta estaria certa.

Mas só temos a voz do coração? Seria incompleto, muito simplificado acreditar que sim, pois somos um espírito complexo composto por emoções, sentimentos e razão, que caminham juntos na dinâmica vivencial.

Antes de discorrermos sobre o assunto devemos colocar que emoção é diferente de sentimento, embora muitas vezes usemos no mesmo sentido. É uma simplificação.

Emoção é uma reação corporal, motora que advém do nosso cérebro que faz parecer em resposta a alguma situação. É inato. Reação emocional que compartilha toda a espécie humana.

Para o neurologista português Antônio Damásio “o sentimento é a forma como a mente vai interpretar essas reações corporais, os movimentos emocionais do corpo”.

Os sentimentos têm forte componente cognitivo. Você pensa através dele, você constrói uma percepção afetiva ou a desconstrói.

No seu livro Uma Nova Visão do Homem e do Mundo Jaci Régis coloca que: “na sua evolução o espírito assumindo as qualidades de discernimento e de escolha, característica do nível racional, começa uma nova fase quando o elemento afetivo quase todo impulso puro começa a submeter-se aos limites que a relação com o outro impõe. Estes componentes vão sendo refinados e melhorados através de milhares de anos, o que ocorre no processo reencarnátorio, onde aprende na vivência, muitas vezes de maneira forçada, as condições que tornam a vida possível tanto na sobrevivência animal quanto nas relações afetivas do homem”.

Não é possível dividir o indivíduo, olhando-o somente por um aspecto quer seja emocional ou racional.  Podemos em situações ter uma atuação mais racional e outra mais emocional. Mas no inconsciente e no consciente há toda uma elaboração, mesmo que rapidamente, dos dois modos de agir.

O estudo sobre a estrutura do cérebro avançou muito e segundo, Damásio “é preciso que o cérebro seja capaz de representar aquilo que se passa no corpo e fora dele de uma forma muito detalhada”. Coloca ainda que: “as decisões mais impulsivas e emocionas são originadas na região do cérebro chamada amigdala. Já aquelas decisões mais racionais vêm do hipotálamo até chegar ao neocortéx. Este trajeto entre hipotálamo e o neocortex é mais longo e segundo o estudioso, talvez por isso temos mais tempo para pensar”.

Muitos separam dizendo: - seu coração é duro, você não tem coração, és um insensível ou você é só razão! Isto é uma observação incompleta, pois esses não são processos excludentes. Nas diversas formas de nos expressar demonstramos esses dois aspectos de forma misturada, mesclada e unitária.

Usar a inteligência, a razão, identificar as emoções primárias e depois aprender a nomear os sentimentos, reconhecê-los em si mesmos e vive-los de forma harmônica é decorrência de muitos fatores, dois deles: a educação e os condicionamentos socioculturais.

A emoção pode moldar o raciocínio.  O raciocínio pode alterar nossas emoções. Conciliar bem a emotividade com a racionalidade demonstra equilíbrio e maturidade espiritual. A medida em que as sociedades evoluem caminhamos para uma maior harmonia entre o lado emocional e o lado racional. Ainda nem sempre é visível essa harmonia, é um trabalho a se avançar.

O estado de desequilíbrio muitas vezes ocorre e para uma melhora é importante primeiramente autoanalisar-se, refletir e verificar com grande pormenor quais as situações que nos trouxeram a este estado e encontrar soluções, sozinho ou com ajuda, para aperfeiçoar a maneira de reagir a estas e ter uma mudança de postura.

A racionalidade e os aspectos afetivos que estão presentes no nosso dia a dia. Quando pensamos em progresso do espírito pensamos sempre no equilíbrio, no meio termo do uso destes elementos. Aprender a administrar, autogerenciar estes itens e vivenciarmos estes aprendizados irão proporcionar um desempenho harmonioso, criativo, produtivo e revelarão compreensão e o entendimento da vida.

Cláudia Régis Machado é psicóloga e reside em Santos -é Vice-Presidente do ICKS.

Este artigo foi publicado originalmente no Jornal Abertura de setembro de 2021, quer ler o jornal todo?

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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

A liberdade é uma escolha por Roberto Rufo e Silva

 

                                                                A liberdade é uma escolha.

 

"O livre-arbítrio é a capacidade de fazer com alegria aquilo que eu devo fazer". (Carl Gustav Jung).

 

 

Sobrevivente de Auschwitz, a escritora húngara e doutora em psicologia Edith Eva Eger, que em 29 de setembro/2021 fará 94 anos, lançou o livro "A liberdade é uma escolha" , que trata sobre a escolha do ser humano em ser livre. 

Escutemos com atenção este breve relato da Sra. Edith Eva Eger: 

"Na minha primeira noite no campo de concentração em Auschwitz, aos 16 anos de idade, fui forçada a dançar para Josef Mengele, o oficial da SS conhecido como Anjo da Morte. Dance para mim , ele ordenou. Relembrando o conselho dado por minha mãe - Ninguém pode tirar de você o que você colocar na sua mente - , fechei os olhos e me transportei para um mundo interior. Na minha imaginação , eu não era mais a prisioneira morta de frio e de fome e arrasada pela perda. Meus pais foram assassinados na câmara de gás no primeiro dia de prisão. 

Passei então a me imaginar no palco da Ópera de Budapeste interpretando a Julieta do balé de Tchaikovsky. Foi escondida nesse refúgio interior que obriguei meus braços a se erguerem e minhas pernas a girarem. Reuni forças para dançar pela minha vida.

Todo minuto que vivi no campo de concentração de Auschwitz foi como um inferno na Terra. Mas foi também a minha melhor escola. Submetida à perda, à tortura, à fome e sob constante ameaça de morte, descobri as estratégias de sobrevivência e liberdade que uso até hoje, diariamente, em meu consultório e em minha vida.

Quando escrevi A bailarina de Auschwitz, eu não queria que as pessoas lessem minha história e pensassem - Meu sofrimento não é nada em compensação com o dela  - .Queria que as pessoas conhecessem a minha vida e entendessem - Se ela pode fazer isso, eu também posso". 

 Dentre os conceitos fundamentais que compõem o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento. Como mola propulsora desse livre arbítrio surge algo chamado de vontade. Paulo Cesar Fernandes em seu trabalho Livre-arbítrio ou Determinismo apresentado no VI Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita de 1999 assinala que o livre arbítrio é libertação. Todavia o espírito tem em si uma série de leis, escreve Paulo Fernandes, que não pode sobrepujar por estar envolvido na matéria, preso a um organismo,sujeito a leis biológicas e psíquicas, vinculado a um meio social e modelado pela educação da família. Naqueles espíritos que ainda não chegaram a um grau de consciência superior a vontade é quase instintiva, baseando-se nas necessidades de sobrevivência. Continua Paulo Cesar Fernandes, dizendo que à medida que tomamos consciência de nossa existência e sua finalidade, nos convertemos em seres mais reflexivos, inteligentes e racionais, conquistando passo a passo a nossa liberdade , através da vontade de superação, eu acrescentaria. Esse também é o conselho da Sra. Edith Eva Eger em seu livro "A liberdade é uma escolha" . Embora o sofrimento seja universal e inevitável, diz a autora, podemos ajudar as pessoas a valorizar o poder da escolha. A vontade como força motriz do livre-arbítrio.

Meus queridos e com certeza poucos leitores, tentem responder a essa sequência de perguntas propostas pela Sra. Edith Eger : Sou orientado  por problemas ou orientado por soluções? Vivo refém do passado ou estou vivendo no presente? E por último aquela pergunta que ela acha que devemos nos perguntar diariamente : estou evoluindo ou revolvendo o passado?

Voltemos ao pensador Paulo Cesar Fernandes no seu trabalho do VI SBPE de 1999, Livre-arbítrio ou Determinismo, que nos ensina que quanto maior for nosso grau de evolução maior será a nossa liberdade com a consequente maior responsabilidade pelos atos praticados. Eu acredito, e para isso me valho do Espiritismo, que possuímos em todos nós uma capacidade de transcender até mesmo o maior dos horrores e usar o sofrimento para o bem estar de todos como fez a Dra. Edith Eva Eger . 

 Roberto Rufo 

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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terça-feira, 28 de setembro de 2021

As Paralimpíadas e a carta de Yve - por Alexandre Cardia Machado

 

As Paralimpíadas e a carta de Yve

Na segunda metade de agosto, com duas semanas de diferença das Olimpíadas do Japão se realizaram as Paralimpíadas. Enquanto nos Jogos Olímpicos, havia cobertura de uma dezena de canais a cabo vemos uma cobertura importante, mas muito mais modesta das Paralimpíadas.



Estes jogos fazem parte de um processo internacional de quebra de barreiras, de redução de preconceitos que se vê cada vez de forma mais relevante em todas as áreas sociais.

O espiritismo nos ensina que todos nós surgimos simples e ignorantes e que evoluímos pela soma de nossas experiências, somos todos passageiros desta aventura do desenvolvimento do Espírito através da imortalidade dinâmica.

O Brasil foi o 8° colocado nas Paralimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, buscávamos nestes jogos igualar ou quem sabe superar a marca anterior, é assim que as coisas acontecem nos esportes e por que não dizer, na própria vida onde em todas as atividades, nós Espíritos Encarnados estamos em busca de superações. Finalmente terminamos os jogos na 7ª posição, igualando este resultado ao dos jogos de Londres em 2002, em matérias de medalhas, igualamos o número conseguido no Rio de Janeiro com 72 medalhas, mas superamos nosso recorde de 2002 que era de 21 ouros e atingimos um total de 22 ouros.

Mas o resultado não é o que realmente importa, nas palavras do criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna Barão de Coubertin – “O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade” Pierre de Fredy (1863 -1937).

A carta de YVE

Recentemente nosso Ministro da Educação fez uma declaração infeliz, tendo se desculpado, logo em seguida, tamanha a repercussão, extraio este trecho que vamos analisar: “há crianças com deficiência de impossível convivência “. Esta é claramente uma posição antiga, típica de meados do século XX, a experiência moderna tem demonstrado que a convivência com pessoas de múltiplas capacidades, formações, etnias e quaisquer outras diferenças contribuem para a formação de uma mentalidade de maior tolerância ao mesmo tempo que promove um suporte social a aqueles que foram por muito tempo afastados deste convívio. Isto não exclui a possibilidade de termos escolas especializadas, mas onde elas não existam as escolas precisam estar preparadas.


 

Foto de Yve e Romário

 

Yve é uma menina de 16 anos com Síndrome de Down, filha do artilheiro Romário, hoje Senador. Destaco dois trechos da carta que ela enviou ao Ministro Milton Ribeiro:

"Sabe, eu tenho síndrome de Down, sou uma pessoa com deficiência, e sou estudante. Eu estudo para ter um futuro e ajudar o meu país. Eu não atrapalho ninguém”

“A minha presença e a de outras pessoas com deficiência não é ruim, muito pelo contrário, desde a escola, meus coleguinhas aprendem uma lição que parece que o Sr. não teve a oportunidade de aprender, que a diversidade faz parte da natureza humana e isso é uma riqueza"

Creio que estes dois trechos representam a importância de sua declaração. Os leitores se quiserem ler o texto completo basta pesquisar no Google.

Existe uma interpretação espírita que, nós os chamados Espíritas Livre Pensadores já superamos, que é a de que nós reencarnamos para cumprir provas e expiações, palavras que poderiam ter sentido no século XIX. Hoje vemos os fatos, todos os que se nos cercam e que se nos apresentam como oportunidades de crescimento, esta interpretação é muito melhor porque todos nascem com pontos positivos e negativos se comparados com uma média. Embora seja evidente que num planeta de 7 bilhões de pessoa, não deva existir nenhuma pessoa que se encaixe, perfeitamente, na média, todos somos desiguais. Como já dissemos em parágrafo anterior, estamos aqui para superarmos os obstáculos que se apresentem.

Nas Paralimpíadas, por exemplo, várias categorias de competição são formadas por amputados. Ou seja, pessoas que nasceram com todos os órgãos normais, mas que por um acidente, ou por motivo de alguma doença degenerativa, foram obrigados a passar por uma amputação. Não acreditamos em destino ou predestinação ou mesmo em encarnação programada. O que está escrito nos livros Nosso Lar e Evolução em Dois Mundos, sobre a reencarnação é pura fantasia, ou na melhor das hipóteses estória para “evangelizar”, pensada para acalmar as ansiedades dos “desfavorecidos”. É preciso saber viver, o processo reprodutivo tem riscos, acidentes acontecem o tempo todo, guerras, assaltos, pessoas que levam tiros, tudo isto é impossível de ser programado, acontece por acaso. Ou muitas vezes por desvios morais de uns, por descuidos de outros. A vida como ela é.

Então, as pessoas amputadas passam por um processo de readaptação, reaprende a andar, e também a se divertir, pois não estão punidos, estão sim experimentando uma nova situação. Cada vez mais a medicina, a fisioterapia e a evolução tecnológica trabalham para dar melhores condições de recuperação para que a vida siga. E eu, particularmente, gosto de ver o esforço e a capacidade de superação destes superatletas paralímpicos.

Concluindo, nunca deveríamos abdicar do direito, e da vontade de aprender sempre, tudo muda o tempo todo e temos que nos esforçar para acompanhar estas mudanças!

Artigo publicado no jornal Abertura - setembro 2021

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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