segunda-feira, 16 de outubro de 2017

As mulheres continuam morrendo. Deixam filhos. Alguém está preocupado? por Roberto Rufo

As mulheres continuam morrendo. Deixam filhos. Alguém está preocupado?


Em Reportagem Especial do Jornal O Estado de São Paulo de nome "Os Órfãos do Feminicídio"  somos informados que em pelo menos dois terços dos casos de feminicídio, a mulher assassinada é mãe. Na maioria das vezes deixa dois filhos e em 34% dos casos , pelo menos três. Os dados são de um estudo da Universidade Federal do Ceará que acompanha um grupo de 10 mil famílias vítimas de violência em nove Estados do Nordeste. O trabalho está sendo ampliado para mais quatro Estados : Rio Grande do Sul , Goiás, Pará e São Paulo. O número de órfãos , vítimas do feminicídio, deve aumentar significativamente quando esses dados tiverem sido coletados. Pode-se afirmar isso com uma certeza quase absoluta, pois o número de mulheres mortas em São Paulo bateu recorde em Agosto/2017.

Alguém está preocupado? O Judiciário está preocupado? Os nossos legisladores, em sua maioria homens , estão preocupados ou no momento o importante é salvar suas cabeças?

O Espiritismo jamais aceitará qualquer tipo de teoria que coloque a mulher em situação de inferioridade em relação ao homem. Como dizem os espíritos, somente entre homens pouco avançados do ponto de vista moral a força faz o direito. A instituições tais como a FEESP, a FEB, a USE e a CEPA estão preocupadas com esse quadro assustador do feminicídio? Já se manifestaram oficialmente em defesa da mulher? Se não o fizeram correm o risco de serem confundidas com as religiões neopentecostais, representadas por um pastor que ouvi um dia desses na televisão dizendo que a mulher não foi feita do pé do homem para estar debaixo dos seus calcanhares, contudo não foi feita da cabeça do homem para terem posição de mando no matrimônio . Foram feitas da costela do homem, diz o pastor, para ficarem numa posição subalterna a do homem . Aí fica difícil lutarem contra o feminicídio , que ao mais da vezes são consequência de posições independentes assumidas por algumas mulheres corajosas. Muitas pagam caro por isso. 


                                                                                                                                           Roberto Rufo .

                                        

sábado, 7 de outubro de 2017

Ser Progressista - por Alexandre Cardia Machado

Ser progressista
A discussão em torno deste tema tem tomado conta do Grupo de Estudos do ICKS, em preparação para o nosso trabalho a ser apresentado no SBPE. Para tanto nos propusemos a analisar os jornais Espiritismo e Unificação e o nosso Abertura buscando temas que tem sido  caracterizados como frentes progressistas. Demonstraremos no SBPE que o Espiritismo é sim progressista e nossos veículos de comunicação o são em grau maior.


Esta questão se faz importante num momento em que a humanidade alcança avanços impressionantes em todos os campos de conhecimento, a ciência a cada dia nos tráz novidades, a medicina, a internet, os meios de comunicação. No campo das questões sociais nos parece que o avanço é mais lento, pois esbarra em alguns pontos que gostaríamos de discutir aqui.

O progresso social depende da cultura, das características do país, da política, mas principalmente da economia. Muitos dirão e com razão que tudo depende da política, pois é neste campo que se discute as relações entre os poderes e suas consequências no campo social e finalmente na vida de cada cidadão. Então para ser progressista no campo social há que se permear a política. Nosso jornal desde o seu nascimento teve uma proposta de abertura, ao pensamento espírita, a atuação e participação social, à questão cultural em nosso campo de ação na ruptura com a religião espírita.

Existem movimentos sociais progressistas, que lutam por direitos humanos, como por exemplo no passado pela maior participação feminina, pelo  direito ao divórcio, pela redução das jornadas de trabalho, nem todas ideias de esquerda, mas certamente nenhuma delas de direita, daí talvez a ideia ou vontade da apropriação do conceito progressista pelas esquerdas.

O ABERTURA sempre se posicionou contra os atos de desrespeito aos direitos humanos e aos atos de fé sem raciocínio, sejam eles atos de fé religiosa ou ideológica. Este jornal foi contra a invasão do Afeganistão pelos EUA onde se manifestou formalmente, colocando uma faixa negra escrita paz em branco, em frente ao ICKS, pois foi um ato sem apoio internacional. Mas também não fomos e não seremos  favoráveis a nenhum ataque terrorista, pois somos fundamentalmente a favor da paz.

No momento atual e sempre, nos sentimos à vontade de comentar qualquer ato de corrupção, ativa ou passiva, sem nos preocuparmos por qual partido está por tráz, a corrupção talvez seja o maior mal que devemos nos livrar na sociedade atual. Ele carrega consigo toda uma marginalidade, um desrespeito a todos os cidadões por aqueles que recebem o mandato em seu nome. O ABERTURA defende o voto consciente, sem fazer campanha partidária, que cada um analise e pense em qual candidato melhor representa o seu conjunto de valores.

O ABERTURA possui colunistas que assinam as suas matérias, não fazemos censura, desde que o tema seja espírita ou relevante à sociedade e abordado sob a ótica espírita, ele será publicado, os editoriais em sua grande maioria são publicados sem assinatura por representarem a opinião do Jornal ABERTURA, normalmente escritos pelo seu Editor-chefe, como fazem todos os veículos jornalísticos. 
O nome ABERTURA existe justamente por escrevermos sobre temas que outros jornais espíritas não abordam, revisamos textos de Allan Kardec que precisam ser atualizados, comparamos textos mediúnicos com textos de Allan Kardec para análise, algo que todo espírita deveria fazer, lançamos temas novos, questões sociais, promovemos debates, todo um conjunto de ações em nosso entender progressistas. Temos consciência de manter um canal aberto contra a mesmice e por isto lutamos constantemente para nos atualizarmos.

Recentemente modificamos nosso logotipo, invertendo o B como uma forma de demontrar claramente que devemos olhar para todos os lados, que somos desiguais – aliás vendo esta cadeia de lojas espanhola foi o que nos motivou a mudar o logotipo.

Mantemos o convite permanente aos nossos leitores que nos escrevam, que nos ofereçam a sua posição, através de nosso email ou de nosso blog, onde postamos algumas de nossas matérias e outras questões mais polêmicas, em um meio mais livre como deve ser o ambiente de internet. Temos um grande prazer em publicar as mensagens ou matérias enviadas, além disto promovemos a cada dois anos o Simpósio Brasileiro do Pensamento (livre) Espírita, aberto a qualquer trabalho espírita, sem censura.




O Egoismo - por Raymundo Rodrigues Espelho

                       O  EGOISMO 

 Raymundo Rodrigues Espelho
    espelho@myhands. com.br 
                Campinas

"O egoismo é veneno em nosso coração, sob a máscara de ciume, e fogo em nossa alma, sobe a capa de agressiva revolta". 
               
                    André Luiz / Chico Xavier

  Egoismo: excessivo amor ao bem próprio, sem atender ao dos outros. Pessoa que quer tudo para si mesma, custe o que custar, sem pensar no minimo bem estar do seu semelhante. Pessoa que, no espelho da vida, só enxerga a si mesma.
 Nuca poderia supor que o egoismo, esta chaga terrível da humanidade, fosse tão abrasivo como em nossos dias.
 De todos os males que nos assolam, sem dúvida, o germe do egoismo acarreta problemas tremendos.
 Força demoníaca do egoismo. Tudo vai bem entre os membros de uma família, mas quando surge uma herança, quando surge uma partilha de bens, os elementos daquela família viram bichos ferozes. Por isso mesmo, nosso Mestre Jesus, Psicólogo de alta penetração conseguiu prever, há dois mil anos, a dureza dos corações humanos. E com muita sabedoria, proclamou:   " é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico ingressar no reino dos céus...". Em geral, todo cidadão rico tem um traço acentuado de egoismo. Cristo ao fazer esta assertiva, sabia de antemão, que a parte mais estranhada na personagem do homem, sem dúvida, é o seu forte apego aos bens materiais. Pode se tocar em tudo o que for do homem, mas quando se toca a mão no bolso ou nos seus bens, este se transforma em uma fera de encomenda.
 Sim, meus amigos, tudo isso acontece, ainda, em nossos irmãos que não se deixam bafejar pela  brisa suave dos ensinamentos 
Cristãos. Evangelho, nos lares e nos corações, faz muita falta. Incorporado às ações do homem, torna a criatura  mais fraterna, mais desprendida, mais humana.
 Há, certamente, no coração do homem, um sentimento doce que o inclina ao amor de seus semelhantes, porém, diante dele ergue-se outro sentimento duro e cruel: o egoismo. É preciso que nos esforcemos, cada vez mais, para que o sentimento do Amor acabe vencendo as sombras do egoismo num mundo onde possa reinar a FRATERNIDADE CRISTÃ. A vida adorna mais luminosa e mais feliz. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

15° SBPE de 2 a 4 de novembro de 2017 - trabalhos apresentados

Trabalhos que foram apresentados no 15° SBPE
Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita

Este foi o último SBPE realizado.

Trabalho
Autor
Pensamento Sistêmico e o Espiritismo
Alcione Moreno
Somos Progressista? Pesquisa nos jornais Espiritismo e Unificação e Abertura
Grupo de Estudos do ICKS
O Papel dos Espíritas Frente as Questões Sociais e Políticas
Ricardo Nunes
Quem foi Padre Germano?
Marissol Castello Branco
Revisão Sistemática da Literatura e Outras Ferramentas Modernas Para Apoio à Pesquisa Espírita
Mauro Spinola
Jesus, Este Mito que me Atormenta
Marcos Videira
O Senso de Justiça e de Cidadania a Partir do Ethos Espírita.
Jacira Jacinto
Do Discurso à Ação e o Comportamento Espírita
Jaílson Mendonça
Reflexões Acerca do Homem e da Natureza
Ciro Pirondi
Da Crise Moral da Humanidade e a Transição do planeta
José Carlos de Souza
O Desenvolvimento Sustentável Versus o Desenvolvimento Consciente do Espirito
Gustavo Molfino
O Espiritismo que Queremos
Carol Régis di Lucia


O evento ocorreu de 2 a 4 de Novembro de 2017, em Santos -SP

domingo, 1 de outubro de 2017

O Valor de Uma Biblioteca Espírita - redação Jornal Abertura

Fazendo a Diferença: O Valor de Uma Biblioteca

Estamos em tempos novos, onde tudo ou quase tudo é digital, as pessoas não querem mais ter bibliotecas e descartam com facilidade os livros que leram. É compreensível, não que todos sejam iguais, mas aqueles que guardam seus livros muitas vezes são chamados de acumuladores.
Mas não foi sempre assim e bibliotecas, tem sim, um papel importante na história do conhecimento humano e em sua universalização.

Com toda a modernidade, computadores,  “smartphones” e “tablets”, a velocidade de aceso a conteúdo livre é enorme, não resta nenhuma dúvida que isto é incrível e que facilita em muito a nossa vida, no entanto, ainda há espaço para o conhecimento impresso. Podemos citar vários exemplos práticos, mesmo em instalações super modernas como plantas de geração de energia, ou centrais nucleares, é impressindível ter os documentos críticos impressos, para os casos de emergência, como falta de energia ou ataque cibernético. Num momento destes os desenhos impressos são os mais indicados.

Na história, principalmente nos séculos XIV e XV quando a civilização européia, pelo contato com os árabes que a estavam invadindo pela península hibérica ou pelos balcãs, puderam voltar a entrar em contato com obras originais gregas, que eram mantidas fora do alcance dos pensadores europeus pela centralização do conhecimento pela Igreja Católica. Ao serem traduzidas, causaram a segunda grande revolução do conhecimento humano, o renascimento. A primeira foi sem dúvida o desenvolvimento da escrita que nos tirou da pré-história. Este conhecimento de obras dadas como perdidas de grandes filósofos gregos, só foi possível pela existência da grande biblioteca de Alexandria, no Egito e por outras menores espalhadas por seus sudanatos.

A importância dada ao conhecimento no oriente contrastava com o que ocorria na Europa no mesmo período, pensar sobre isto hoje, nos demonstra que o livre-pensamento é importantíssimo e que a religião como forma de opressão do pensamento é também capaz de produzir uma inversão cultural entre ocidente o oriente, hoje na área dominada pelo Islã, em muitos países, livros são queimados, por serem considerados impúros, tremenda ironia.

Biblioteca da Cidade do Nova Iorque


É verdade que quase ninguém quer ter, nos dias de hoje enciclopédias, pois a velocidade do crescimento do conhecimento, torna uma obra destas obsoleta muito rapidamente. Para aqueles que cresceram ao lado delas e que gostavam de ler, ou pesquisar nas enciclopédias, sabem bem como era legal descobrir as coisas, ficar maravilhado. Isto, é verdade, não acabou, podemos fazer isto usando os navegadores da internet, apenas precisamos tomar o devido cuidado de verificar as fontes pois dizem que 50% do que está publicado na web é de conteúdo duvidoso.

O mesmo acontece com jornais e revistas que sofrem ao competir com o conteúdo “online”. Nosso jornal necessita buscar o tempo todo por novos leitores, para se manter viável, sites de grandes jornais limitam o acesso ao seu conteúdo online como forma de buscar mais assinantes, ou alguma forma de compensação. Agora qualidade tem preço, bons conteúdos, científicos, para serem acionados é preciso que as pessoas se inscrevam e paguem por isto. As bibliotecas virtuais, profissionais, custam muito dinheiro, pois precisam funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, com velocidade de busca, ocupando grandes espaços virtuais, que custam dinheiro.

A elaboração de trabalhos científicos, obriga a leitura e referência de artigos confiáveis, recentes, isto seria impossível, nos dias de hoje, se eles não fossem de acesso virtual, no entanto grandes cidades como Nova Iorque, Paris ou São Paulo, possuem grandes bibliotecas reais, com acervos e coleções importantes de livros originais, registros históricos importantíssimos e que não puderam ser digitalizados.

Institutos como o Instituto Cultural Kardecista de Santos, por exemplo, possuem acervo de trabalhos e obras produzidas por seus sócios, bem como uma pequena biblioteca espírita e de assuntos correlatos, para suas pesquisas, possuímos também o acervo completo dos jornais publicados pelos periódicos espíritas Espiritismo e Unificação e Abertura. Pequisadores podem acessar com hora marcada, bastando entrar em contato pelo email do ICKS. Mesmo entre nós, muitos se perguntam, mas por que guardar tudo isto?

A resposta é simples, para que não cometamos os mesmos erros do passado, para manter acesa a chama da busca permanente do conhecimento e do desenvolvimento do livre-pensar.

Artigos importantes de nosso jornal, são publicaos em nosso blog, assim em qualquer lugar do planeta, podem ser lidos, mas não temos recursos suficientes para digitalizar tudo, de uma forma que permita uma consulta por palavras como por exemplo podemos fazer no “google”, mas quem sabe, não possamos um dia vir a ter isto também. Quem sabe usando resumos dos textos que sim poderiam ser encontrados por navegadores e desta forma asceder a uma cópia digital mais simples do artigo.
Na pesquisa que estamos realizando para o trabalho do ICKS no 15° SBPE, coletamos muito material, digitalizamos e em algum momento poderemos disponibilizar. São artigos relativos a assuntos onde nosso grupo de pensadores tem demonstrado serem progressistas.

Jornais são também marcadores do tempo. Pensem nisso. Só não se esqueçam de um pequeno detalhe, para que tudo isso seja viável, há que ter gente que o faça.

Nota: Artigo publicado no Jornal Abertura - Agosto de 2017


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O Futuro do Movimento que Queremos Construir - por Alexandre Cardia Machado

Na edição de Junho de 2017, publicamos na página 8 do jornal um artigo chamado “ O Futuro do Espiritismo” que tratava do dilema que sempre ocorre, quando estamos envolvidos num trabalho intensamente e paramos para pensar, se o mesmo terá continuidade.

Repito abaixo o último parágrafo do artigo, lembrando ao leitor que já não possui mais o jornal do mês passado que poderá econtrar o texto completo no blog do ICKS.

“... Também temos receio do que acontecerá com nosso movimento livre-pensador, não vemos muitos jovens. Tememos que termine em 20, 30 anos. Mas a análise da história nos permite dizer que prosperará, encontraremos formas de chegar aos mais jovens, certamente aparecerão muitas coisas diferentes, novas mideas, novas formas de atingí-los.

Este é o grande desafio do momento, penetrar na mente e no coração dos mais jovens, trazê-los para as ações espíritas, em nosso grupo, em especial,  para o pensar espírita.”

Buscando algumas respostas a como fazer com que aparecem coisas diferentes e que motivem o ingresso de novos pensadores na nossa cadeia produtora de ideias, chegamos a alguns pontos que precisam ser explorados:

- Como penetrar na mente e nos corações dos jovens para trazê-los para dentro do movimento?

- Como seria um Centro Espírita moderno, reinventado? - Na década de 90 do século passado, mudamos muitas de nossas casa de Centros Espíritas para Centros de Cultura Espírita, este modêlo pode ser considerado um modêlo de sucesso?

- O ICKS durante 10 anos, por ter tido uma localização favorável, em uma avenida de grande movimento, na cidade de Santos, buscou disseminar a ideia Espírita laica, através de cursos voltados para simpatizantes espíritas, foram mais de 500 pessoas que passaram por nossas salas. Qual o resultado prático disto no fortalecimento de nosso grupo?

- Desde 1995, quando no IV SBPE um grupo gaúcho apresentou uma metodologia nova, chamada Estudo Problematizador” uma onda de reuniões de estudos centradas em grupos similares a este se espalhou por casas espíritas livre-pensadoras, passou-se a discutir tudo, questionar tudo, aprofundar tudo, mas não obtivemos uma maior participação jóvem neste modêlo, por que?

Mais recentemente o ICKS demonstrou que é possível desenvolver trabalhos de pesquisa, profundos, bem elaborados por grupos formados com pessoas acima de 70 anos, destacamos dois trabalhos importantes produzidos: Um caderno Cultural - Análise da evolução do conceito de Reencarnação ao longo das obras de Allan Kardec, apresentado inicialmente no XXI Congresso da CEPA em Santos e que viorou Caderno Cultural. A seguir produzimos “Pode o Espiritismo ser considerado Ciência da Alma? Uma análise epistemológica da  proposta do pensador espírita Jaci Régis “ apresentado no 13° SBPE. Se conseguimos fazer isto com um grupo de maior idade, o que nos limita, por que não temos a mesma produção dos jóvens de mocidades?

Vou arriscar um pouco de conceitos gerencias aqui, nosso movimento livre-pensador é eminentemente livre, desconectado, feito à partir de inicitivas isoladas e em muitos casos individuais, nos falta coordenação e planejamento estratégico.

Os Centros Espíritas são realmente células autônomas e pertanto não se engajam muito em atividades municipais ou estaduais, não tem um cronograma de ações conjuntas, entende-se isto pois saímos exatamente de entidades federativas, para termos mais liberdade, portanto este movimento um tanto caótico é uma característica deste tipo de grupo semi-autônomo.

Consequência imediata do modêlo atual é a falta de incentivos aos jóvens para que troquem experiências entre grupos, a exemplo das antigas confreternizações como a COMELESPs, no caso do leste do estado de São Paulo. Onde os jóvens iam apresentar temas e discutir as ideias então em moda. Foram anos de abertura mental no Brasil. Nosso momento atual não é menos provocador, mas nos faltam mecanismos de concentração e discussão para jóvens.

Nos anos 80 e 90 do século passado, nasceram os debates sobre aborto, homosexualismo, liberdade da mulher, ser ou não ser religião, divórcio, toda uma gama de assuntos de vanguarda hoje totalmente incorporados nas leis e nas práticas cotidianas, quais são as discussões atuais que motivarão os jóvens?

A CEPA, em sua gestão passada fez um grande exercício de Planejamento Estratégico que terminou por implantar apenas um capítulo – destinado a descentralização, o que permitiria uma maior velocidade de tomada de decisão, mas acreditamos que questões centrais como a que propomos aqui, de como seremos em 10, 20 ou 30 anos não tem um forum de discussão e por conseguinte, nenhuma ação coordenada é tomada. A CEPA hoje se concentra na realização de eventos, o que é importante para despertar as pessoas e fazê-las pensar mas não é sufuciente para disseminar ações novas e/ou para gerar novos pensadores.


O 15° Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita irá propor esta discussão, através de uma Mesa Redonda. Você leitor que comparecerá ao evento, traga as suas questões e propostas.

Artigo publicado no Jornal ABERTURA agosto de 2017

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Humildade a virtude dos sábios - por Roberto Rufo e Silva

Não se pode servir a dois senhores.

" Se Deus não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se Deus não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela " ( Salmo 127 ).

" Se Deus não existe, tudo é permitido ". ( Dostoiévski ) 

                                                                   
A casa caiu literalmente. Depois das delações das grandes empreiteiras não sobrou pedra sobre pedra. A casa, a qual podemos chamar de morada da política,  era construída sobre alicerces de areia. Porque se fosse construída sobre rochas teria resistido aos ventos e tempestades das denúncias. Negar a desonestidade se transformou num mero exercício de retórica. Usar as armas da competência administrativa ou falar das finalidades sociais para se justificar só os torna mais ridículos do que já são. 

Troquemos a palavra Deus por espiritualidade, que nada mais é do que a posse de valores positivos, visão de vida futura e exercício de amor ao próximo, e a frase de Dostoiévski mais o Salmo 127 ficam mais palatáveis ao espírita intelectualizado. 

De dois homens ricos, um nasceu na opulência e não conheceu jamais a necessidade, o outro deve a sua fortuna ao seu trabalho; todos os dois a empregam exclusivamente em sua satisfação pessoal; qual é o mais culpável? pergunta Kardec aos espíritos. Aquele que conheceu o sofrimento e sabe o que é sofrer. Ele conhece a dor que não alivia, mas muito frequentemente, dela não se lembra mais respondem os espíritos.

Uma das grandes virtudes humanas é o reconhecimento do erro e o esforço para mitigar suas consequências ruins. Todavia o show de soberba é avassalador, onde todos se justificam dizendo que as coisas funcionam assim mesmo e que caixa 2 é um instrumento válido para o exercício da política em época de eleições. Afinal sem eleições não há democracia! É risível esse silogismo. Mas obviamente trata-se de uma estratégia para que tudo caia no ralo comum do caixa 2 na esperança de que do STF surja o perdão de todos os pecados. Muito bem orientado pelo seu advogado, o governador Sérgio Cabral, um ladrão contumaz, diz agora que o dinheiro utilizado na compra de joias era resto de campanha oriundo do famigerado caixa 2. Esse mesmo argumento é utilizado para justificar aeroporto na fazenda da família, de sítio no interior e apartamento no litoral.  

Todos frequentam Igrejas, templos, batizam seus filhos e netos, comparecem a missas e procissões em épocas apropriadas, mas a espiritualidade já citada e o desejo de perfeição moral passam a léguas de distância de suas consciências. Infelizmente são incapazes de assumirem seus graves erros e com isso demonstrar aos seus simpatizantes que podem se recuperar moralmente. Afinal Jesus disse que sempre estão abertas as portas ao verdadeiro arrependimento. Mas não, continuam com seus discursos mentirosos e algo mais incrível,  levando consigo uma legião de tontos e militontos que teimam em vê-los como injustiçados. Enquanto isso a verdadeira injustiça social no Brasil só faz crescer.

Qual a mais meritória de todas as virtudes? pergunta mais uma vez Kardec aos espíritos. Ao responderem que todas as virtudes têm seu mérito, os espíritos realçam que o mais sublime na virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo sem oculta intenção. A mais meritória  é aquela que está fundada sobre a mais desinteressada  caridade. Não existe virtude em comprar joias da H. Stern para a mulher com dinheiro público. Perdão, dinheiro de sobras de campanha oriundo do caixa 2.


Roberto Rufo

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Desumanização do Espiritismo por Carol Régis di Lucia

Desumanização do Espiritismo?

Uma pessoa desencarna dentro das dependências da Federação Espírita do Estado de São Paulo e a família busca por informações com os dirigentes da casa. Segundo noticias, os responsáveis pela FEESP limitaram informações, dificultaram buscas e trataram friamente o caso, até encontrar, no banheiro, dois dias depois, o corpo do desaparecido, sendo obrigados a notificar os parentes para as devidas providências.  Alguns traços apontados como frieza no tratamento ao fato em si e à família, levaram a Jornalista Dora Incontri a escrever um pertinente relato sobre a “desumanização do espiritismo” (www.blogabpe.org).

Foi massacrada e ovacionada nas redes sociais, com recorde de leitura, reposts, compartilhamentos e comentários sobre o assunto, como não devia deixar de ser. Diante da repercussão, Dora  escreveu novo texto, tão brilhante quanto o primeiro, trazendo relatos semelhantes de falta de trato entre os Espiritas e, como não poderia deixar de ser, propostas de solução à questão.

Apontando as brigas por poder e a Institucionalização demasiada no movimento Espirita moderno – e não apenas na FEESP – como possíveis responsáveis pela postura observada em tantas casas, Dora expôs uma ferida velada, mas sentida por muitos. A mecanização no funcionamento das reuniões, as grades a cumprir, os trabalhos a entregar, os números a aumentar, as parcerias a fazer, os convidados obrigatórios a palestrar e tantas outras atividades “fordianas” que tomaram conta das rotinas nos centros, ocupou o lugar antes reservado à caridade, ao assistencialismo, ao abraço fraterno, ao conhecer os nomes e as famílias e as dores de cada freqüentador.

Discutir a “Desumanização do Espiritismo” deveria ser tão absurdamente redundante quanto ainda termos que falar em preconceito racial, em diferença entre sexos no mercado de trabalho, em aceitar ou não as opções sexuais – por nós há muito tempo defendido como assunto que já nem mereceria mais espaço, dada a obviedade humanística. É ultrajante saber que o Espiritismo está Desumano, uma vez que o objeto principal da doutrina Espírita é o Ser Humano, sua essência, encarnada ou desencarnada.

É percebida, em diferentes cidades e diferentes casas, uma necessidade geral da retomada de um Espiritismo próximo, pessoal, caridoso, que foi se distanciando há tempos, com a chegada de agendas lotadas de atualizações filosóficas – necessárias também – que, na verdade mesmo, resultaram em pouca mudança prática no Espiritismo. A era da atualização foi necessária, era preciso romper, foi preciso estabelecer novos horizontes. Mas pecamos em deixar em segundo plano o lado mais precioso da Doutrina: os Espíritas. Aqueles que sentam nos bancos em busca de algo: consolo, passe (chame como quiser), estudo, conversa, ouvir, ser ouvido, fazer parte, sentir-se integrante. E que estão a mercê de diretorias com metas a cumprir, prazos, planejamentos nem sempre alinhados aos interesses dos principais interessados: eles mesmos, os  próprios frequentadores.


Quantos de nós sabe os nomes dos novos freqüentadores, quantos filhos possuem, seus dramas pessoais, seus interesses a curto e médio prazo no centro? Quantos se preocuparam em ajudar, com pouco que seja, uma instituição assistencial necessitada – mas não aquela, que ajudamos sempre? Quanta ajuda, genuína, oferecemos àquele companheiro de casa que está desempregado, que perdeu um ente querido, que está doente? Estamos sabendo aproveitar o talento humano que passa pelos bancos espíritas, ou estamos apenas os direcionando para a reunião X, Y, Z de atendimento?  A desumanização ou humanização Espirita, não é lá, longe, na FEESP. É uma postura diária, no nosso centro, no nosso Eu. É o olhar o outro, mas, sobretudo, a si mesmo e perguntar onde foi parar aquele Espírita, de ideal, que fazia campanha assistencial, que era famoso por palestras cheias de compaixão e que abraçava, um a um, os companheiros de jornada.

Artigo originalmente publicado na edição de agosto de 2017 no jornal ABERTURA

domingo, 20 de agosto de 2017

A Lição Trump - por Alexandre Cardia Machado

A lição Trump
Até alguns meses atrás costumávamos pensar que países mais desenvolvidos tivessem instituições tradicionais, regras mais estáveis e, que grandes variações em suas políticas internas, ou externas, não ocorressem facilmente. Isto seria coisa de democracias mais recentes, como as do terceiro mundo.
Parece que o novo presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, quer mudar esta história, esta tradição. Trump, apoiado em uma proposta extremamente nacionalista que o levou ao poder, vai testar os limites das relações internacionais. Demonstra estar disposto a implantar, e rapidamente, sua plataforma de campanha.

Trump acredita que possa desfazer as engrenagens da globalização, sendo o mais curioso nisso tudo, que justamente os EUA eram, até o momento, seus maiores impulsionadores.

Será possível que ele obtenha o sucesso pretendido? Acreditamos que não, mas que essas ações gerarão conflitos comerciais, atritos em áreas que estavam estabilizadas e uma grande inquietação no mundo todo, não há dúvidas.

Até a que ponto isto irá afetar cada um de nós? Muito difícil prever, mas acende ainda mais o alarme de que o nosso voto é um bem importante e de maior valor em uma democracia. Trump foi eleito, não pela maioria dos eleitores, pois o processo americano não é baseado no voto direto, mas assim mesmo legitimado pela constituição americana e praticado há mais de 200 anos. Portanto, nunca pensem que seu voto não vale nada, pois vale sim. Se não votarmos no que nos parece o melhor, ou o que menos problemas poderá gerar, um pior ainda será eleito.

Desde a definição de sua vitória as reações já começaram a acontecer, passeatas, movimento à favor da mulher e outros, nos EUA, mas logo após a sua posse,  Trump demonstra que vai mesmo fazer o possível para que sua plataforma seja implementada e rapidamente. Acabando com a ilusão de alguns, de que muito de sua campanha era apenas retórica.

O certo é que os EUA serão uma pedra no sapato, para todos os países, nos próximos 4 anos. Nada que já não sejam hoje a China ou a Rússia. A diferença é que os EUA possui a maior máquina de guerra do planeta. Se olharmos para a história, veremos que este detalhe é um trunfo importante. O Presidente J.W. Bush desafiou o mundo todo, o Conselho de Segurança da ONU e invadiu o Iraque, sabemos bem que se os EUA decidirem agir, nada os pode impedir.

O Espiritismo propõe a existência de um mundo aberto, onde o direito à liberdade seja uma premissa central, consideramos como uma lei Natural. Claro que não há liberdade plena em lugar algum, outro que não seja em pensamento. Temos países, fronteiras, cercas, regras, religiões e sistemas políticos que nos impingem barreiras.

As Trincheiras de Trump:
·         Não à imigração clandestina ou indesejada:
o   Determinou o início da construção do muro entre os EUA e o México, quer que o México pague a conta;
·         Empregos para os americanos:
o   Pressiona a Ford a não construir uma nova fábrica de motores no México, ameaçando sobretaxar estes motores em 60% na importação aos EUA;
·         Alianças estratégicas em cheque:
o   Assinou uma “Executive Order -EO” ( Uma espécie de Medida Provisória) cancelando a Aliança de Livre-comérico do Pacífico;
·         Não será o Xerife do planeta de graça:
o   Trump espera que países aliados invistam mais em defesa, aliviando a conta paga hoje pelos EUA;
·         Não receber muçulmanos refugiados:
o   No dia 27 de Janeiro, Trump assinou uma “Executive Order”, proibindo a entrada de cidadãos provenientes de 7 países árabes ( Síria, Iêmen, Sudão, Somália, Iraque, irã e Líbia) por 90 dias. Vários juízes Federais emitiram efeito suspensivo em alguns aspectos do EO. Esta iniciativa levou várias lideranças políticas mundias a reagir, pois não existe uma justificativa diplomática para exclusão de pessoas, apenas por terem nascido em um determinado país.

Estas ações lembram países ditatoriais, não de uma páis que se auto denomina – líder do mundo livre.
Entramos em um novo capítulo de nossa história contemporânea, só o tempo dirá como sairemos da era Trump. Pelo menos em um país como os EUA, o juduciário é livre e as ações do presidente podem ser barradas no Congresso, que mesmo tendo maioria Republicana, partido do presidente, pode contestar alguns de seus atos, pois comprometem ideais democráticos e republicanos do país.

Artigo publicado no Jornal Abertura em Janeiro/Fevereiro de 2017.


terça-feira, 8 de agosto de 2017

Esboço de Uma Teoria Espírita da personalidade - por Jaci Régis

VI - SBPE - Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita - 1999

ESBOÇO DE UMA TEORIA
 ESPIRITA DA PERSONALIDADE

JACI REGIS

INTRODUÇÃO

No conjunto de sua obra, Allan Kardec desenvolveu, certamente, uma teoria sobre a personalidade humana, de forma genérica e filosófica, tendo o Espírito como centro, propondo que as estruturas psicológicas individuais, são fruto do processo evolutivo. Isto é, o homem tal como se apresenta atualmente é fruto de uma lenta evolução moral e intelectual realizada na encarnação e reencarnação sucessivas.

Logo, a diversidade dos caracteres humanos é consequência dos desniveis evolutivos, isto é, numa ampla e filosófica visão,  a criatura humana é produto de si mesma.

Naturalmente Kardec não pode e nem dispunha de meios para analisar a estrutura psicológica do homem. No seu tempo falava-se em temperamento bilioso-sanguineo-nervoso, um defeito orgânico atribuido, segundo parece,à bilis ( Ver Revista Espírita,julho de 1863, pagina  214, edição brasileira). E ele parece acreditar que eram criados no organismo órgãos especiais para exprimir as faculdades do Espírito.

É o que depreende das seguintes considerações feitas por ele à questão 370-a, de O Livro dos Espíritos: “ O Espírito, ao encarnar-se, traz certas disposições, e se admitirmos, para cada um delas, um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa.....Admití, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são consequente e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos pelo movimento, e nada tereis de irracional.”

A análise kardecista pressupõem, antes de mais nada, o componente moral, a estipular o caráter da criatura humana. Nesse sentido, analisando o mundo pelo prisma moral, o Espírito humano habita este planeta de provas e expiações, por três motivos principais: prova, expiação ou missão. Deus teria criado o corpo humano adequado para a encarnação desse Espírito pouco evoluido moralmente, para que ele se purificasse e demandasse, futuramente, a regiões espirituais ou planetas mais evoluidos.

Dessa forma, as características da personalidade seriam determinadas pelos fatores morais, ao longo do tempo, criando carateres reativos ou exprimindo estigmas produzidos pela violação das leis divinas.
Como sua análise da vida terrena está fundada  sob o aspecto da  relevância da  natureza espiritual, o organismo humano foi encarado como  um obstáculo, ainda que necessário, à expressão da totalidade da capacidade perceptiva, cognitiva  do Espírito, chamado alma pela sua união passageira com o corpo carnal.

Kardec, ao analisar a relação mente-corpo,  raciocinou de modo geral de acordo com o pensamento cartesiano, que contemplava uma absoluta divisão entre a alma e o organismo. Descartes define a separação entre a alma e o corpo, acreditando que por serem substâncias diferentes, havia a independência de uma em relação à outra. Embora sob outro enfoque, Kardec, além de introduzir a figura do perispírito, como intermediário,  não admitia que alma interagisse  diretamente com o corpo, mas guardaria em relação a ele uma distância sobretudo constitucional . Isto é, a comunicação entre a alma e o corpo, seria semelhante a de um piloto na cabine de um avião, sem uma interrelação positiva.

Propomo-nos a apresentar o esboço de uma  teoria espírita da personalidade. Essa tentativa nos parece justificada, porque na doutrina não existe um estudo realmente psicológico da personalidade, uma vez que a análise do homem se reduz ou se expressa, sobretudo, na visão larga e genérica do pensamento filosófico, não raro misturado com uma tendência religiosa, cuja natureza é, quase sempre, de condenação do homem.

Na análise da personalidade está em jogo muito mais do que enquandrar o homem   como réu da Justiça Divina.Isso  vicia o entendimento, por desconhecer que o ser espiritual é maior do que o  processo de culpa e castigo, pois ignora a complexidade das interações e situações psicológicas desenvolvidas pelo ser ao longo de sua trajetória.

A afirmação de Kardec:  “No momento  da concepção do corpo que se lhe destina, o Espírito é apanhado por uma corrente fluídica que, semelhante a uma rede, o toma e o aproxima da sua nova morada. Desde então, ele pertence ao corpo, como este lhe pertence até que morra”(Obras Póstumas, A Morte Espiritual, , pag. 199,  15a.ediçào, FEB), parece ser ,afinal, o que deve ser levado em conta.



BASES DA TEORIA

“Uma teoria é uma hipótese não consubstanciada ou uma especulação a respeito da realidade que não é ainda definitivamente conhecida”.

Essa definição explica a base de nosso trabalho. Ele é baseado no conjunto de informações e proposições filosóficas e descrições mais pormenorizadas das funções do Espírito, que estruturam genericamente o pensamento espírita que, não obstante trabalhar sobre temas não aceitos pela ciência e de modo geral pela cultura, têm seus fundamentos empíricos, tratados filosóficamente e objetivos moralizantes.

A Doutrina Kardecista  propõe uma análise do ser humano, num horizonte atemporal, dentro de sua teoria da evolução, na qual a reencarnação desempenha papel instrumental de processo desecadeante de estrutura e reestruturas cíclicas dos mecanismos mentais do Espírito.
Uma das mais significativas e inéditas  contribuições do pensamento espírita, refere-se à teoria da evolução do Espírito. Dentro desse enfoque, uma teoria espírita da personalidade compreenderá o estudo do ser, em dois momentos:

o período pré-humano, como tempo de estruturação básica da individualidade
o período de sua inserção no nível humano, onde estrutura uma pesonalidade mutante.
Nesse sentido, o estudo da personalidade será feito na relação sinérgica do Espírito e do corpo, considerando que, segundo a doutrina, no nivel atual de evolução do Espírito humano, a encarnação corresponde a uma situação praticamente natural de sua vivência.



ESTRUTURA DA INDIVIDUALIDADE

De acordo com a teoria espírita da evolução do Espírito, este é criado por Deus, como um princípio espiritual, “simples e ignorante”. Isto é, um ser potencial, estruturalmente vazio. A potencialidade está contida na possibilidade de expansão e aquisição de experiências, movida por uma forma de energia oriunda de sua natureza permanente, imortal.

Isso significa que no início do processo, o princípio espiritual carece de qualquer consciência de si mesmo e  não possue nenhuma estrutura básica de percepção ou seleção. Nesse sentido, pode-se dizer que a primeira fase do seu processo evolutivo, será a da aquisição de conteúdos de experiência.
 Como diz André Luiz no livro “No Mundo Maior”, ( página 57 ,20a.edição - FEB) “ O princípio espiritual desde o obscuro momento da criação, caminha sem detença para frente. Afastou-se do leito oceânico, atingiu a superfície das águas protetoras, moveu-se em direção à lama das margens, debateu-se no charco, chegou à terra firme, experimentou na floresta copioso material de formas representativas, ergueu-se do solo, contemplou os céus e, depois de longos milênios, durante os quais aprendeu a procriar, alimentar-se, escolher, lembrar e sentir, conquistou a inteligência....Viajou do simples impulso para a irritabilidade, da irritabilidade para a sensação, da sensação para o instinto, do instinto para a razão.






A FORMAÇÃO DO CORPO MENTAL


 Já vimos que o princípio espiritual não possui estrutura, pelo menos inicialmente. Todavia, interagindo com os  elementos orgânicos, ele vai desenvolvendo   uma estrutura psíquica , que chamo, por analogia,  de corpo mental. É nesse organismo psíquico que o princípio espiritual vai organizando um  sistema mental flexivel. Ai ele estrutura a memória e seleciona as experiências vividas.

Ao longo do tempo, construindo, reconstruindo e armazenando as esperiências, o princípio espiritual, começa a  adquirir consciência crescente de si mesmo. O corpo mental é, então, seu instrumento onde são inscritos, virtualmente, os resultados das experiências e vivências, suas impressões e aprendizado.

Referindo-se ao corpo mental, assim afirma André Luiz  “Para definirmos, de alguma sorte, o corpo espiritual, é preciso considerar, antes de tudo, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade é o corpo físico quem o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação”. E adiciona o seguinte comentário “O corpo mental ,assinalado experimentalmente por diversos estudiosos, é o envoltório sutil da mente...”(Evolução em Dois Mundos, Capitulo II - Corpo espiritual, página 25, 1a. edição 1959 - FEB).

Estudando os efeitos do monoideismo que leva à perda do perispírito, André Luiz diz o seguinte: “cabendo-nos notar que essa forma (ovóide), segundo a nossa maneira atual de percepção, expressa o corpo mental da individualidade, ao encerrar consigo, conforme os princípios ontogenéticos da Criação Divina, todos os órgãos virtuais de exteriorizaçào da alma, nos círculos terrestres e espirituais, assim como ovo, aparentemente simples, guarda hoje a ave poderosa de amanhã ou como a semente minúscula, que conserva nos tecidos embrionários a árvore vigorosa em que se transformará no porvir. (idem, página 91).

Temos, pois, uma descrição possivel do corpo mental, como um corpo sutil, de forma ovóide em torno do Espírito, guardando os órgãos de exterioração da alma. Nessa conjugação mento-espiritual reside a expressão da individualidade.

O  SURGIMENTO DA PERSONALIDADE



Segundo André Luiz,  o princípio espiritual  somente  é  promovido à condição de Espírito, quando adquire o que ele chamou de “pensamento contínuo”.

Quando, no seu crescimento evolutivo, o princípio espiritual desenvolve o circuito mental completo, isto é, seu pensamento é contínuo, ele alcança o nivel da razão e inicia a consciência de si mesmo. Com o pensamento contínuo, existe energia suficiente para manter o corpo psicossomático, que é a expressão do corpo mental.

Eis o que ele diz : “Pela compreensão progressiva entre as criaturas, por intermédio da palavra que assegura o pronto intercâmbio, fundamenta-se no cérebro o pensamento contínuo e, por semelhante maravilha da alma, as idéias-relâmpagos ou as idéias-fragmentos da crisálida de consciência, no reino animal, se transformam em conceitos, inquirições, traduzindo desejos e idéias alentadas, substância íntima (Evolução Em Dois Mundos, pagina 76, 1a. edição, 1959, FEB)
Não é aí, porém, que surge a personalidade.

Será necessário, ainda, a completa percepção de si mesmo, após a morte.  “ Em relação ao homem, os mamíferos que se ligam a nós outros por extremos laços de parentesco, em se desencarnando, agregam-se aos ninhos em que se desenvolvem os companheiros e, qual ocorre entre os animais inferiores, nas múltiplas faixas evolutivas em que se escalonam, não possuem pensamento contínuo para obtenção de meios destinados à manutençào de nova forma.... Pouco acima dessas mesmas bases  vamos encontrar o homem infra-primitivo, na rusticidade da furna em que se esconde, surpreendido no fenômeno da morte, ante a glória da vida, como criança tenra e deslumbrada à frente de paisagem maravilhosa, cuja grandeza, nem de leve, pode ainda compreender.

O pensamento constante ofereceu-lhe a precisa estabilidade para a metamorfose completa... Entretanto, o homem selvagem, que se reconhece dominador  na hierarquia animal, cruel habitante da floresta, que  apura a inteligência, através da força e da astúcia, na escravidão dos seres inferiores que se lhe avizinham da caverna, desperta  fora do corpo denso, qual menino aterrado, que, em se sentindo incapaz da separação para arrostar o desconhecido, permanece, tímido, ao pé dos seus,em cuja companhia passa a viver, noutras condições vibratórias, em processos multifários de simbiose, ansioso por retomar à  vida física que lhe sugere à imaginação como sendo a única abordável à própria mente...

Ressurgir na própria taba e renascer na carne, cujas exalações lhe magnetizam a alma, constituem aspiração incessante do selvagem desencarnado.... Pela oclusão de estímulos outros, os órgãos do corpo espiritual se retraem ou se atrofiam, por ausência de função, e se voltam, instintivamente, para a sede do governo mental, onde se localizam, ocultos e definhados, no fulcro de pensamentos em circuito fechado sobre si mesmos, quais implementos potenciais do germe vivo entre as paredes do ovo.  Nesse período, afirmamos habitualmente que o desencarnado perdeu o seu corpo espiritual, transubstanciado-se num corpo ovóide... (Idem, paginas, 88 a 91).

Segundo o autor, “De liberação a liberação, na ocorrência da morte, a criatura começa a familiarizar-se com a esfera extra-fisica...Encentando, pois, a sua iniciação no plano espiritual ,de consciência desperta e responsável, o homem começa a penetrar a essência da lei de causa e efeito, encontrando em si mesmo os resultados enobrecedores ou deprimentes das próprias ações (idem, páginas 91 e 92).

Então, segundo nos parece, surge o ego que é a formação básica para as estrutura da personalidade. É a partir desse momento que começa a elaboração das características pessoais, as formas que paulatinamente definirão a consciência de si mesmo.




FORMAÇÃO DA AUTO CONSCIÊNCIA

Encontramos no O Livro dos Espíritos, a seguinte informação:

190 - Qual o estado da alma em sua primeira encarnação?
-O estado da infância na existência copórea. Sua inteligência apenas desabrocha; ela se ensaia para a vida.
191 - As almas de nossos selvagens são almas em estado de infância?
-Infância relativa; mas são almas que progrediram, pois têm paixões
-As paixões são, pois, um sinal de desenvolvimento”
-De desenvolvimento sim, mas não de perfeição; as paixões são um sinal de atividade e da consciência do eu, enquanto que na alma primitiva, a inteligência e a vida estão em estado de germe.

Quando adquire o pensamento contínuo, que a habilita ao uso da razão e o desenvolvimento da palavra, a alma como que espia para fora e defronta-se com o vazio do conhecimento ou com a vastidão do desconhecido e com as pressões afetivas, antes não existentes.
Se no período pré-humano,  o vazio inicial foi preenchido pela organização inicial do corpo mental, agora, dispondo da razão, ela terá que desenvolver processos mentais que a habilitem a percepção e elaboração de conhecimentos e emoções.

A paixão, no nivel hominal, é a transformação ou a redireção da força interior , a energia natural que forma o núcleo  agressivo do Espírito. No estágio pré-humano essa força interior, foi sendo elaborada como impulso determinante da vida, e se consubstanciou na própria sobrevivência do ser .

No reino hominal, a força interior  se transforma em energia psíquica, enriquecida com as inquietações afetivas, que o faz progredir, desenvolver-se, não resignar-se e procurar, sempre, embora todos os baixos e altos da existência, um patamar superior ao que se encontra.
Ao alcançar a qualidade de Espírito, a estrutura básica do corpo mental é dominada pela força interior em forma de pulsões instintivas. O Livro dos Espíritos afirma: 1) o instinto é uma inteligência não racional; 2) não existe limites entre a inteligência e o instinto, isto é, eles se confundem; 3) o instinto existe sempre.

Todavia, no curso de sua existência, o Espírito desenvolve  defesas contra as agressões e os medos. Esses mecanismos de defesa, que são naturais, devido à fragilidade do próprios ser, quando patologizados, tornam-se formas restritivas da força interior , determinando os estados de consciência, conforme o Espírito vai enfrentando os desafios do dinamismo da vida.

Quando se transformam em processos neuróticos e psicóticos,  isto é, condições passionais, os mecanismos de defesa, introduzem importantes condicionamentos no dinamismo da vida,  que se exprimem no comportamento e na estrutura da personalidade.

De um modo genérico,  podemos dizer que a aplicação mais ou menos acentuada da força interior define a estrutura provisória da personalidade, uma vez que a lei do progresso ou processo evolutivo, estabelece constante mutação na direção do emprego desse energia básica.

Tangido pelo medo natural, lentamente, impulsionado pela paixão, inicia o trabalho de reestruturação do corpo mental,  criando instâncias psíquicas para comandar o processo cognitivo que se inicia e manipular, tanto quanto possível, as pulsões afetivas. Começará, enfim, a perceber sua vida interior, seu pensamento íntimo, sua visão específica e suas reações particulares aos estímulos, aos conflitos a que se exporá inevitavelmente.

A individualidade ao penetrar no hominal, desenvolve   o ego, de modo a contigenciar  de seu potencial instintivo, sua força interior, para alcançar seus objetivos de aperfeiçoamento e felicidade.
Não sabemos como se estruturam os mecanismos mentais, nem conhecemos como as emoções, os conhecimentos são inscritos no corpo mental .O certo é que alí vão sendo criadas estruturas que, ao longo da vida inteligente, estabelecem as condições para o manejo das relações afetivas e a acumulação do conhecimento.

As técnicas modernas de transformação de sons e imagens em ondas, pode nos dar uma idéia, embora pálida, de como os eventos, emoções e situações de repercussão no cosmo mental, são gravados na superestrura consciencional. Os fatos relevantes, com sua carga afetiva, seriam captados em forma de “ondas de memória”, em supermicro traços mnêmicos ou traços de lembrança e como tal impressionariam as regiões específicas dos centros de percepção do corpo mental.

Podemos figurar, numa analogia certamente pobre,  que esse mecanismo funcionaria como a câmara de televisão que  faz a “varredura” das imagens, transformando-as em ondas que o receptor decompõe, transformando-as outra vez em imagens.

Nasce então, embrionariamente, a auto-consciência uma superestrutura do corpo mental, resultado da somátoria algébrica das  experiências resultantes de várias encarnações e da vida extrafísica, compreendendo os fatores afetivos,lembranças e a bagagem de conhecimento da alma.
Nessa ampla   superestrutura da auto-consciência, existiriam estruturas específicas, divididas em zonas que abrangeriam determinados setores da atividade total da pessoa.

Teriamos a zona da sabedoria que seria o repositório das conquistas amadurecidas, pelo Espírito e que constituiria o nivel superior da individualidade, com a síntese dos conhecimentos adquiridos e sentimentos mais ou menos estabilizados e que de forma objetiva representaria aquilo que ele é ou resultado de sua evolução real.

Outra seria a zona problemática, constituindo o acervo das questões afetivas não resolvidas, desvios de conduta e impulsos não canalizados,  com os materiais recalcados, censurados, resultantes de ações e conflitos decorrentes do sinamismo da vida.

No campo da personalidade reencarnada, da zona problemática  sairiam  os componentes do inconsciente, exprimindo o conflito latente entre a zona da sabedoria e a zona problemática.

A zona da memória, constituida de ondas de memória propriamente ditas, guardaria as  lembranças de fatos e acontecimentos marcantes e que  podem ser recuperadas, nos traumas e nos momentos de extrema emoção, tanto enquanto encarnado, quando desencarnado. Funcionaria, mutatis mutante, como o receptor de televisão, o que garante, nesse modo de ver, a perpetuidade da lembrança dos fatos marcantes na vida do Espírito.

No centro dessa diversidade estrutural estaria o Espírito, o ser em si mesmo, pois ele é uno e não dividido. Ele exerce sua capacitação  para coordenar ações e reações, e manipular os estímulos e necessidades internas e externas.

O Espírito vive sempre o momento atual, isto é, sua realidade consciente. Todavia, pela teoria espírita, esse presente é o ponto culminante de um processo dinâmico, que sintetiza o passado e projeta o futuro.

Além disso, o Espiritismo considera, sob o ponto de vista da humanidade terrena, que, de modo geral, o Espírito humano é relativamente imaturo, tendo, como espécie, alcançado o nivel hominal a pouco tempo.

Jung estudando a formação da personalidade, entendeu que o homem atual seria o herdeiro genético das experiências ancestrais da humanidade. Ele chamou esse fator da personalidade de Inconsciente Coletivo. A lei da  reencarnação e a teoria evolutiva do Espiritismo sancionam, em princípio, a  idéia de Jung . Mas de forma individual, como experiência vivida e não como como fator hereditário.



TIPOS DE PERSONALIDADE

Então o que é a pesonalidade? Como definí-la diante da perspectiva espírita?

Nosso entendimento da personalidade, enquanto uma forma de expressão da pessoa humana, será baseado na realidade objetiva da encarnação. Por isso, definiremos a personalidade como a expressão possível e temporária do Espírito na sua relação social.

Considerando a criatura humana, do ponto de vista de sua objetiva realidade no munco corpóreo, sua pesonalidade é, em síntese,  o complexo de interações Espírito-organismo-meio ambiente.

Essa interação, pois, compreende três instâncias, associadas entre si.

a) essencialidade - isto é, o acervo intelecto-afetivo do individuo permanente,incluindo resíduos de personalidades anteriores ou seja sua auto-consciência;
b)impacto hereditário/genético - representando o conjunto genético transmitido pelos pais, pela raça, fator determinante para um organismo sadio ou doente e certas potencialidades para a integral ou parcial integração da mente ao organismo;
c)impacto ambiental- ou seja, o conjunto de pressões afetivas, sócio econômicos, e familiares que influenciam de maneira profunda a estrutura de relação da personalidade.
Vimos que cada Espírito forma sua   auto consciência que é seu acervo permanente. A formação dessa superestrutura consciencional é a própria história do Espírito humano, em constante progressão.

Desde o início, ele precisa aprender a balancear sua agressividade, sua força interior. Na estrutura mental do Espírito humano que inicia a formação de seu carater, a explosão do conteúdo instintivo precipita sua interação com o meio ambiente.

Além do desenvolvimento cognitivo, isto é, do conhecimento das coisas, inventando e  criando condições de sobrevivência, terá que enfrentar a relação eu-tu, um problema inexistente no nível animal.  Inicia-se o período de reconhecimento do outro, provocando as paixões, isto é,  as reações de amor, ódio, posse,poder,  fuga, agressão e acomodação.

 Ele vai encontrar na vivência grupal, os primeiros estímulos para a construção de valores éticos, ao nivel evolutivo compatível, que se transformam em parâmetros de comportamento que, de modo geral, garante-lhe uma relativa segurança. 

 Ou seja, a estrutura social estipulará leis, costumes e ordenações para o relacionamento sexual, dos bens coletivos, da adoração aos deuses. Daí fluirão os conceitos do bem e do mal, a recompensa e o castigo, os tabus, os totens, enfirm todas as formas  de canalizar ou reprimir os impulsos agressivos e sexuais.

Atendendo às necessidades básicas da afetividade, surgirá a família, iniciando o amadurecimento afetivo e prenunciando uma forma ainda bruta de relacionamento e ternura entre as pessoas.

O egoismo e a sede de poder, determinarão  a divisão da terra, estabelecendo os princípios da propriedade que terá como consequência, de um lado,o isolamento da vida coletiva ancestral e de outro, o individualismo, consoante o egoismo natural, uma espécie de valorização do ego, posteriormente pervertido no egoismo social.

O caráter do Espírito iniciante, ao longo de sua vivência, terá fundamento nos padrões geralmente aceitos pela sociedade e que de uma forma ou de outra sujeitam-lhe a um tipo de comportamento. Ir contra esses padrões, conforme a natureza do padrão, pode resultar em culpa moral ou condenação civil. Todavia, ele será, não obstante, um ser único e isolado do meio, embora dele participante.

Aí temos uma das mais intrigantes constatações da sabedoria divina, ao criar condições elasticidade de percepção, para que o Espírito, embora influenciado pelo meio, estabeleça, um sentido de perpetuidade, de   identidade e de consciência de si mesmo. Trata-se, em tese, do livre arbítrio, instrumento que a Lei Natural outorga ao ser para que ele crie seu destino.

Cada segmento encarnatório exige  ajustamentos do sistema mental do indivíduo à  dinâmica da vida de relação. Isto é, ele cria um tipo de personalidade específica temporária., ajustada às condições do ambiente onde se localiza.

 Não se trata, todavia, de uma personalidade totalmente nova. A personalidade que surge é uma  reconstituição, uma remodelagem da personalidade existente no monento da reencarnação mas a construção de uma personalidade calcada sua auto-consciência, que o identifique dentro das novas condições em que se encontra.

Embora seja uma pessoa diferente em cada encarnação, pela sinergia entre os fatores componentes da personalidade,  o Espírito guarda uma identidade essencial, uma expressão de sua auto consciência. Pois o processo evolutivo a que se submete representa a estruturação   uma personalidade que o identifique e que será, no grande futuro, estabilizada.

 Ou seja, conforme evolui,  sua  personalidade será cada vez mais igual nas sucessivas encarnações.


Essa conclusão nos permite afirmar que a maioria das pessoas não possue uma identidade consciente de si mesma, o que justifica a instabilidade que caracteriza o comportamento da humanidade. Convivem na estrutura da personsalidade humana fatores conflitantes, angústias e pressões internas, que podem variar em proporções extremas.






 EFEITOS MUTANTES DO PROCESSO REENCARNATÓRIO





A tendência do indivíduo é a acomodação. Por isso, a personalidade que num determinado momento caracteriza a individualidade, seja no plano físico ou no extrafísico, . teria a  tendência a manter-se estática, dentro da lei da inércia. Existem pelo menos, duas formas básicas para proporcionar alterações substanciais das estrutura mentais. Uma é o trauma e a outra é o insight.

O trauma se caracteriza por estabelecer uma situação de conflito, de rutpura abrupta de um determinado estadio mental ou físico. O  insight representa uma ruptura de uma condição mental, pela abertura de uma nova perspectiva ou entedimento da razão ou causa da condição.

A reencarnação é, por natureza, um trauma, destinado a promover uma ruptura das condições ambientais provocando um conflito existencial que pode ou não resultar numa modificação estrutural da personalidade existente.

Em síntese, se considerarmos os efeitos que o processo reencarnatório provoca na estrutura da personalidade  construida antes do nascimento, teremos um quadro bastante elucidativo. Dividamos o processo em três etapas, a partir do momento da concepção até a consolidação da encarnação, provavelmente aos 7 anos de idade física.







1a.etapa - período de desestruturação


Este período se caracteriza pela desestruturação da personalidade existente, isto é, aquela que o reencarnante construiu na encarnação anterior, com possíveis modificações no plano extrafísico .
Ao se iniciar o processo da reencarnação, ele é um ser adulto, com idéias, sexo e conceitos mais ou menos definidos. Dentro de 9 meses, todo esse acervo se concentrará, perdendo os delineamentos de memória para ser sintetizado num ser indefeso e impotente para realizar os mínimos exercicios de raciocínio e percepção consciente de si mesmo.
O chamado período de perturbação pré-natal, caracterizado pela perda da própria consciência,  é uma etapa de desestrutura essencial, mas não completa, da personalidade existente. Segundo O Livro dos Espíritos : À medida qie o momento do nascimento se aproxima, suas idéias se apagam, assim como as lembranças do passado do qual não tem mais consciência. ( questão 351)
Assim, desde o início da gestação até alguns meses após o nascimento, o Espírito está totalmente voltado para si mesmo, caracterizando o estágio narcisista, proposto por Freud.

2a.etapa - período de incorporação



O nascimento representa o mergulho do Espírito numa autêntica “caixa preta” saturada de emoção e latência, pois todo o acervo anterior é submetido a um processo de compactação.
 O choque do nascimento é    o ponto de ruptura do antes e do agora.
O agora, é uma situação de  angústia  pois, se existe uma obscura sensação de ser, isso de modo algum pode ser objetivado. A  infância, desde a criança recém-nata e por alguns anos, é o aprendizado do recomeço. Para dar um exemplo grosseiro,  é como alguém que tivesse um acidente vascular e perdesse a voz e o caminhar e tivesse que reaprender a fazê-lo. A integração da mente ao corpo se inicia de forma a possibilitar, no desdobramento do crescimento, condições de  percepção, seleção e coordenação progressiva de seu estar no mundo.



3a. etapa - período de reestruturação

Imediatamente após o nascimento, tem início o período de reestruturação, no qual o Espírito reencarnante começa seu efetivo relacionamento com o meio ambiente. Sua reestrutura mental vai depender dos cuidados externos, da psicoesfera familiar, além, evidentemente, das condições de higidez do organismo.

Nesse período, que pode ser estimado com duração até os sete anos da idade física, o reencarnante inicia o processo de estruturação da  personalidade adequada às novas condições que a encarnação lhe oferece.

A integração do Espírito ao seu corpo promove o conflito, não raro caótico, dos fluxos das experiências pregressas, estampadas na sua essência espiritual, com as exigências do presente, a partir da matriz materna e das pressões anbientais.


Buscará uma nova identidade e abandonará , ou  reprimirá, canalizando para o nivel de memória do corpo mental, as lembranças da antiga personalidade que, todavia, ressurgirão posteriormente, na adolescência, matizada pela reestrutura a que se submeteu neste período. Completada a reestruturação será instalado o ego corporal, isto é, a consciência de estar no mundo, como um ser novo.



CARACTERÍSTICAS  DAS PERSONALIDADES

Cada pessoa apresenta uma personalidade que  combinará, entrelaçará e exprimirá uma série de fatores principais e secundários, o que impossibilita a fixação absoluta de um tipo puro. Essa personalidade é resultado da forma como  estabeleceu seu modo de viver, isto é, como percebe, armazena, processa, elabora as pressões afetivas da família e do meio ambiente.

Na vida de relação, o indivíduo desenvolve em si mesmo, processos relativamente equilibrados ou condições mentais auto-destrutivas, em função da forma de como, progressivamente, recebeu e reagiu aos estímulos, desafios, decepções, fracassos e vitórias.

Nesse jogo de pressões, ele pode encontrar uma forma ativa, positiva ou encaminhar-se para situações negativas, seja resistindo aos apelos da própria evolução, seja produzindo um núcleo depressivo, maldoso, onde o sentimento, a sexualidade, a agressão natural se transmudam em comportamentos prejudiciais, violentos e pervertidos.

Embora cada pessoa tenha um caráter único, os diversos tipos de estrutura de caráter, podem ser  classificados em categorias ou tipos de personalidades, a partir de alguns sinais característicos  semelhantes.

Trata-se  de uma aproximação pois não seria possível encontrar  em todas as pessoas as mesmas características. Além disso,  ninguém é um tipo puro, mas como  vimos, cada um apresenta combinações, em variados graus, de formas de comportazmento.

Para caracterizar um tipo ou característica de personalidade, escolhem-se alguns fatores principais, que tipificam cada categoria e nela se incluem as personalidade que os possuem em grau principal.

Agressividade, inibições, sexualidade, exibicionismos entram no cômputo como características, entre tantos outras,  que compõem uma classificação.

Para estabelecer um quadro típico de personsalidades comuns, partimos do princípio de que cada um exprime suas características de agressividade, pela aplicação potencial  de sua força interior.

Nesse sentido, o grau de maturidade será medido conforme a aplicação dessa força interior é mais equilibrada, isto é, tem uma distribuição abrangente ou setorizada, de acordo com uma escala de variada intensidade, conforme as decisões do Espírito.

Para efeito de estudo e de reflexão, as características genéricas das personaldiades serão agrupadas em tipos, de acordo com o grau de maturidade alcançado.

De maneira nenhuma essas categorias sintetizam o grande mapa de caracteres humanos. Nelas, contudo, introduzi tipos de personalidades: as que têm relativa independência e as que estão, de uma ou de outra forma, dependentes das energias alheias. Como é compreensivel, é apenas um esboço, bastante imperfeito, mas que serve para a reflexão adequada ao presente trabalho.




PERSONALIDADES AFIRMATIVAS


Catalogamos como personalidades afirmativas, aquelas que, de maneira geral, possuem um grau de afirmação energética, que as faz agir de forma ativa e provocativa. Essas personalidades, entretanto, não possuem uma ação positiva, necessariamente. Podem ter  carisma, em variados níveis, e possuir faculdade de seduzir, inclusive  uma atmosfera magnética que atrai, aglutina e estabelece um laço de subordinação positiva ou negativa.
O fato de possuir uma personalidade afirmativa,  significa apenas que a pessoa exerce uma ação de saliência sem que, necessariamente,  tenha alcançado um grau de maturidade adequada, nem construído o “si mesmo”.
Em virtude disso, divideremos esse tipo, em dois subtipos: a personalidade afirmativa madura, e a personalidade afirmativa imatura .

PERSONALIDADE AFIRMATIVA MADURA -A personalidade afirmativa madura,  possui um eixo psicológico relativamente construido. Na estrutura mental, tem uma zona da sabedoria  expressiva, pois combina equilíbrio com ação Se possuír uma cota de equilíbrio razoável, exercerá uma ação positiva e mostrará acentuada tendência à liderança. A sexualidade é forte, mas canalizada produtivamente, em busca da ternura.

Essas pessoas têm  grande poder prático, combinando certa ansiedade e tensão que as impulsiona para resolução de problemas.. Muitas delas, combinam tudo isso com uma especial intuição ou percepção. Não significa que não possuam  sua zona problemática.  Mas esta é canalizada pelo seu empenho, trabalho e dedicação às causas que abraçam, tornando seu desempenho menos dificil.

Exercem o poder que lhes é conferido com  relativa parcimônia e serenidade. Se possuirem também empatia,  a capacidade de sintonizar ou  criar um elo espontâneo com  os interlocutores, poderão influir decididamente na vida dos outros.

Quando missionários usam esse carisma  para conduzir pessoas a caminhos de elevação. Se políticos transformam-se em estadistas ou lutadores pelo bem geral, da mesma forma quando se tornam líderes de classes. Eles  transmitem essa sensação de certeza e confiança.
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.PERSONALIDADE AFIRMATIVA IMATURA - A personalidade afirmativa negativa, possue, da mesma forma, grande poder prático, combinando certa ansiedade e tensão que as impulsiona para resolução de problemas. Tem, igualmente, acentuada tendência à liderança  e um certo poder sedutor e se vale dele conscientemente. Como a zona da sabedoria é pouco expressiva, não alcançou a serenidade e a ansiedade é impulso para grangear  o poder, sob variadas formas.

 A zona problemática é bastante acentuada,   promovendo condutas individualistas, egoistas, quase sempre camufladas, contudo.  Em virtude desse conflito, podem cair no crime ou na corrupção de si mesmos. A sexualidade é usada como instrumento sensual, mais para seduzir do que para a busca do orgasmo ou da ternura.

Geralmente são pessoas  de boa energia, decididas e persistentes. Mas de  um baixo nível ético, que  podem facilmente manipular pessoas e coletividades, tudo sacrificando para alcançar seus objetivos pessoais.

 Podem possuir  carisma  e empatia., o que os tornam ídolos, de variada importância. São dessa categoria os fanáticos religiosos, líderes carismáticos e missionários ilegítimos, políticos inescrupolosos, líderes de várias classes. Dependendo de seus critérios, valores e evolução, podem descer a labirintos afetivos, conflitivos, de grande impacto sobre sentimentos de pessoas inseguras, que circundam em torno delas e que aspiram serem seduzidas por pessoas que se elegem ou são eleitas, para tarefas públicas, religiosas, sublimes ou crueis, de superação ou redenção.



PERSONALIDADES DEPENDENTES

Sob a designação de personalidades dependentes, reunimos os que, de uma ou de outra forma, não realizaram um amadurecimento próprio, permanecendo indecisos. inibidos ou sem desenhar um projeto pessoal. Devido a não existência de um “si mesmo” , de  eixo psicológico na personalidade que garanta a própria identidade, sua energia psíquica, a força interior, é aplicada de forma inadequada, setorizada, diluida. Não se concentram prioritáriamente em uma forma abrangente.

 Incluem-se nessa categoria, as personalidades cuja zona da sabedoria é pobre , sem conteúdos sedimentados. Por isso,  a zona problemática está repleta de condições indecisas, mistura de vaidades, vacuidade e sexualidade pouco resolvida.

Devido a essas deficiências, as personalidades dependentes, têm dificuldade de estabelecer uma identidade própria. Ou permanecem numa espécie de limbo existencial ou tendem a absorver personalidades alheias  tentando não apenas imitá-la,  mas vivenciá-las, incorporá-las alienadamente, com a renúncia da própria identidade, numa espécie de simbiose fantasiosa a distância, em que a pessoa passa a nutri-se psiquicamente da imagem do ídolo.

Vamos dividí-las em dois grupos. A personalidade susceptível e a personalidade “mariposa”.

PERSONALIDADE SUSCEPTÍVEL - Essa personalidade, é tipificada por converter a sensibilidade  em susceptibilidade, transformando-se em  personalidade doentia, disposta a aderir às formas de comportamento improdutivo. Essas pessoas, exigem, geralmente, grande atenção dos outros, exibindo problemas e ansiedades, Podem, também, quando possuem algum carisma ou empatia, tornarem-se simpáticas, pretendendo “entender “o problema do outro, sem ter, todavia, conteúdos sensiveis equilibrados. A sexualidade é, geralmente, pervertida, uma vez que a energia erótica é usada para mascarar a sensibilidade doentia.

Também são pessoas de grande insegurança, mas que exprimem, perante os outros, um caráter de bondade e aceitação, sem coragem para negar ou decidir ao contrário aos interesses alheios, na espectativa de serem amadas e aceitas. Por isso se envolvem  em processos afetivos, em que se desgastam e adoecem.

Possuindo um caráter susceptível, quando guindadas a posições de destaque nas artes, no esporte ou na vida comum, pelo talento, pelas  circunstâncias ou pelo próprio desejo de destaque pessoal, podem absorver como verdadeira, a idolatria dos outros, das massas ou que seja, superestimando sua realidade espiritual, psicológica, humana.

Usufruindo do poder ou da glória por tempo limitado, sofrem horrivelmente e caem em depressão, se drogam e chegam a suicidar-se, quando perdem os cargos, são deixadas de lado, já não atraem admiradores, contratos, envelhecem e deixam de receber considerações.

PERSONALIDADE “MARIPOSA”. Esse tipo se caracteriza por possuir uma baixa definição da  própria identidade. Isso significa que vive mais ou menos como apêndice de outras personalidades que, para elas, representam um ponto de irresistível atração. A sexualidade é difusa e não raro pervertida.

Possuem o  “complexo de mariposa”. Não tendo encontrado, ainda, seu próprio caminho, temerosas talvez de exercitar a própria independência, voejam, como as mariposas, em torno dos que brilham. São atraídas pelo sucesso dos outros, tentando compensar a inveja e projetar fantasias sobre quem estiver no momento no topo da fama ou do prestígio.

Na vida profissional , política, social e econômica se tornam os conhecidos puxa-sacos, os subservientes, que odeiam os superiores, mas que os servem como condição de falsa auto-estima. Na vida comum, são os que criam fãs-clubes, colecionam fotos e relíquias de artistas famosos, identificam-se com eles,  tomando-os como membros de sua família e se considerando como tal em relação a eles, o que lhes garante gratificação íntima, disfarçando o tédio e o vazio existencial.


 De modo geral são personalidades doentias, insatisfeitas, minadas pela inveja, pelo medo e pelo ódio, uma vez que escoam sua energia interior sem contrapartida satisfatória.