terça-feira, 2 de março de 2021

O CANCELAMENTO E O MOVIMENTO ESPÍRITA – por Saulo de Meira Albach

 

O CANCELAMENTO E O MOVIMENTO ESPÍRITA – por Saulo de Meira Albach

 

Na sociedade contemporânea, marcada pelo uso das redes sociais, uma prática tem sido destacada diante da polarização e da radicalização do debate, especialmente na esfera da política: o cancelamento.

 “Funciona assim: um usuário de mídias sociais, como Twitter e Facebook, presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou foto e posta em sua conta, com o cuidado de marcar a empresa empregadora do denunciado e autoridades públicas ou outros influenciadores digitais que possam amplificar o alcance da mensagem. É comum que, em questão de horas, o post tenha sido replicado milhares de vezes.” (1)

 Como toda prática política o cancelamento, mal utilizado, pode gerar injustiças e excessos. Afinal de contas, uma tendência decorrente da polarização extrema na qual vivemos hoje é por fim ao debate, ao diálogo.

 O psicanalista e professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Christian Dunker pontua que há um uso um tanto quanto exagerado do cancelamento, mas isso não significa que ele deva ser invalidado. “Há que se distinguir o cancelamento, ato político e estrategicamente bem-posto, do cancelamento autocrático, que produz a sensação de moralismo. Toda vez que cancelo simplesmente porque ‘eu não faria assim’, pressupondo que o outro deva agir exatamente como eu ajo, eu estou indo contra a inclusão, a universalização do diálogo. E, ainda mais grave, ao me retirar do debate, o cancelado pode se beneficiar e criar um ambiente ainda mais tóxico, machista, violento e, portanto, aumentar a coerência identitária do seu grupo, o que seria péssimo.” (2)

 Interessante observar que tal procedimento assemelha-se a uma prática que ocorre no movimento espírita brasileiro há muito tempo. Uma espécie de cancelamento.

 Alguns adeptos - por assumirem alguma postura ou linha de pensamento contrária àquela do grupo dominante - tem sua memória apagada pela história oficial das instituições espíritas.

 Um caso antigo é o do Professor Angeli Torteroli, ativista espírita de destaque no Rio de Janeiro que fez oposição à linha denominada mística na disputa de poder que marcou o movimento espírita do final do século XIX e início do XX, reduzida historicamente a “místicos x científicos”.

  

O historiador Mauro Quintella e o escritor Eugênio Lara resgataram a memória do professor Torteroli. (3)

 O “apagamento” neste caso chegou ao ponto de suprimir qualquer referência ao trabalho do “encrenqueiro” e, quando não havia como deixar de citá-lo o faziam de forma cifrada: o professor T.

 Outro “cancelado” é o jornalista, psicólogo e escritor espírita Jaci Régis (1932 – 2010). Catarinense, radicado em Santos (SP), escreveu inúmeras obras espíritas, dirigiu e editou o jornal Espiritismo e Unificação por 23 anos, criou e dirigiu o jornal “Abertura” que circula até hoje, foi diretor da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda por 32 anos e fundador do ICKS – Instituto de Cultura Kardecista de Santos, um dos fundadores da União Municipal Espírita de Santos (UMES), em 1951, dentro outras atividades no meio espírita. 

 Ao assumir a linha do espiritismo laico e disputar eleição para a presidência da USE, Jaci que trabalhou por décadas no movimento dito “de unificação”, foi retirado da história oficial.

 Exemplo recente deste apagamento está na edição de 179 – setembro/outubro do jornal DIRIGENTE ESPÍRITA, órgão de divulgação da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo. Em artigo sobre a imprensa espírita, a articulista cita espíritas que se destacaram na divulgação do Espiritismo através da imprensa: Olímpio Teles, Cairbar Schutel, Bezerra de Menezes, Pedro Camargo (Vinícius), Batuíra, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Jorge Rizzini, Anália Franco, Eduardo Carvalho Monteiro, Edgard Armond e tantos outros.

 Estaria meu saudoso amigo Jaci incluído nos “tantos outros”?

 Enfim, há muitos outros episódios envolvendo Jaci Régis e há muitos outros casos espalhados pelo nosso país (Krishnamurti de Carvalho Dias, Waldo Vieira, Gasparetto, etc.). Isso revela a dificuldade do movimento espírita em aceitar o debate, a crítica, o questionamento, especialmente quando se trata da questão religiosa.

 A carência de preservação da história dentro do movimento espírita pode ser vista como uma das causas desses apagamentos. Mas, também se identifica uma estratégia – e aqui o fato é mais lamentável - visando impedir que se conheça o pensamento daqueles que em algum momento ousaram romper com o pensamento hegemônico ou dominante, ainda que tenham feito parte da instituição.

 A professora Maria Letícia Mazucchi Ferreira leciona em artigo publicado na Revista Aurora (Revista de Arte, Mídia e Política), n. 10 (2011):

Johannn Michel em seu texto “Podemos falar de uma política do esquecimento”(2010) estabelece uma tipologia do esquecimento indo daquele abordado como omissão, que decorre de descartes funcionais tanto no indivíduo quanto na sociedade; a negação, que ao contrário do descarte involuntário é uma patologia da memória ligada à traumas que não foram superados mas que não podem ficar na esfera do consciente; a manipulação do esquecimento, fortemente marcada pela ação de atores públicos encarregados de transmitir a memória oficial. Ainda que compreendidos em separado, esses são como tipos ideais e podem atuar concomitantemente, pois estão condicionados aos contextos nos quais são gerados.(4)

A manipulação do esquecimento é prática incompatível com a filosofia espírita posto que falseia a verdade.  Seria melhor citar o agente que fez história e criticá-lo ou declinar os motivos pelos quais se contesta o seu pensamento do que excluí-lo, apagá-lo, cancelá-lo. Mas quase como regra geral, em matéria de atuação interna o movimento espírita tem preferido o caminho autoritário ao alteritário; o excludente ao includente.

Assim se fomenta a divisão e não vejo no horizonte estreito da minha visão, possibilidade de reversão deste quadro a curto ou médio prazo. 

 

Desculpe-nos, Kardec!

 

1-In BBC News: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53537542, acesso em 05.09.2020.

2- In Carta Capital: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/cancelamento-nas-redes-sociais-vai-da-represalia-ao-linchamento/ acesso em 05.09.2020.

3- In Biografia de Afonso Angeli Torteroli, acessada no site www.autoresespiritasclassicos.com e História Ilustrada do Espiritismo no Brasil, acesso em www.cpdocespirita.com.br .

4- Políticas da Memória e Políticas do Esquecimento. In: D:/Meus%20Arquivos/Downloads/4500-11653-1-PB.pdf

 

Saulo de Meira Albach - publicado no Jornal Abertura Janeiro -Fevereiro 2021

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Metodologia para provar as curas espirituais Dr. Abrahão Rotberg, 1986 – 7° congresso Espírita estadual – USE

 

Metodologia para provar as curas espirituais

Dr. Abrahão Rotberg, 1986 – 7° congresso Espírita estadual – USE

Durante a realização do 7° Congresso Espírita Estadual, o dr. Abrahão Rotberg, professor de Dermatologia e 2° vice-presidente da associação Médica Espírita de São Paulo, apresentou trabalho sobre “Metodologia da Avaliação das Curas por entidades Espirituais”. Os conceitos do dr. Rotberg causaram repercussões negativas em muitos congressistas, que diante do rigor da metodologia apresentada, chegaram até a perguntar, se ele era realmente espírita. Isso é explicado pela falta absoluta de qualquer rigor científico na análise dos fenômenos mediúnicos ocorridos nos Centros Espíritas e a facilidade com que a maioria se entrega, deslumbrada, a médiuns curadores que, vez por outra, surgem como portadores de cura de todas as doenças, fazendo operações, inclusive com instrumentos cirúrgicos.

O Jornal Espiritismo e Unificação, antecessor de nosso ABERTURA em outubro de 1986 publicou um resumo que disponibilizaremos no blog do ICKS para revisão de nossos leitores.

O trabalho do dr. Rotberg é sério, calcado em princípios rígidos, que na verdade são os que, efetivamente podem levar a uma avaliação correta e segura se a cura é realmente proveniente de entidades espirituais. Neste artigo faz-se um resumo da tese do dr. Rotberg.

Introdução

Segundo o dr. Abrahão, a cura de doenças orgânicas e funcionais por ação de entidades espirituais é francamente admitida pelo Espiritismo kardequiano. Por isso, afirma que “o médico espírita admite, portanto, a possibilidade da intervenção do mundo espiritual nos mecanismos, ainda que apenas por coerência com a doutrina que abraçou”.

Entretanto, adverte que “transformar essa possibilidade em probabilidade ou certeza, é problema completamente diferente. “Será necessário, como em todas as outras ciências, instituir uma metodologia de trabalho que possa produzir provas satisfatórias desse tipo de atividade espiritual”.

Metodologia

O dr. Rotberg formulou uma série de exigências criando uma tentativa de metodologia, que guiaria os pesquisadores especializados na investigação médico-espírita.

O que ele propunha em 1986

Exigência n°1 - O diagnóstico correto e preciso da doença a tratar é fundamental  para o estudo da mediunidade curadora, incluindo além da observação clínica, exames laboratoriais e instrumentais adequados. “Diagnósticos falhos ou incompletos não permitem apreciar a evolução do processo.”

Exigência n°2 - Exclusão de doenças espontaneamente involutivas, ou seja, doenças involutivas por mecanismos imunológicos, salvas algumas exceções por ele informadas. Tais como: “ o herpes zóster (observação nossa – hoje já existe vacina para isto desde 2017, mas não havia em 1986) espontaneamente involutivas por mecanismos imunológicos, não é aceitável para a observação. Porém a neurite zoster crônica, que sobrevive às manifestações cutâneas e que se tenha manifestado rebelde a todos os tratamentos médicos tentados, poderá ser admitida no estudo”

Exigência n° 3 - Exclusão de doenças psicossomáticas e/ou influenciáveis por psicoterapia

A fama do médium, a fé do paciente e o ambiente em que se realizam os trabalhos são formas muito ativas de psicoterapia que inutilizam a comprovação da atividade mediúnica.

Exigência n° 4 – ausência de terapêutica paralela.  Se o paciente receber terapêutica ortodoxa considerada útil para seu caso, paralelamente à ação mediúnica, a comprovação do valor desta última estará obviamente prejudicada. Esta é uma das maiores dificuldades práticas no estudo da mediunidade curadora.

Exigência n° 5 – Exclusão da possível atividade curadora direta do próprio médium, ou seja, o médium pode ser capaz de animicamente ajudar pelo passe a cura do doente.

Exigência n° 6 – exigência de acompanhamento da evolução por médico especialista – A avaliação dos resultados do tratamento deverá ser feita a curto e longo prazos e se valerá de todos os dados clínicos, laboratórios e instrumentais adequados para o caso em estudo. A análise da evolução deve ser feita por um médico especialista.

Exigência n° 7 – exigência de ambiente reservado e calmo

Exigência n° 8 – exigência de documentação científica e comunicação ética

Conclusão

Estas exigências podem ser excessivas e rigorosas, mas, haja visto o que é feito pela ANVISA no caso das vacinas de COVID-19, nada do que se pede aqui está em desacordo com a ciência, se quiséssemos determinar a validade de um tratamento espiritual de cura, todo este processo deveria ser seguido.

Resumido por Alexandre Cardia Machado

Ler também: 

https://www.blogger.com/blog/statspost/all_time/8190435979242028935/8282481180970786547

Aplicação de passe em plantas - estudo estatístico

 Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O Dilema das Redes Sociais e o Espiritismo por Alexandre Cardia Machado

 

O dilema das redes sociais e o espiritismo

Não existe jantar de graça! – Ulisses Guimarães



Na página 8 desta edição Roberto Rufo nos chama a atenção a este problema no artigo - O controle da opinião pública e o livre-arbítrio - e cita alguns livros que nos ajudam a entender o problema em que estamos metidos.

Gosto muito de citar o refrão de Roberto Carlos “se o bem e o mal existem, você pode escolher”, mas talvez isto já não aconteça mais assim. Vamos tentar mostrar porque.

O documentário da Netflix - O Dilema das Redes – vai direto ao cerne do problema, talvez não tenhamos mais a capacidade de exercer plenamente o nosso livre arbítrio. O interessante é que fiquei sabendo do mesmo através de minha filha Beatriz que comentou justamente no WhatsApp da família.

O problema que quero discutir aqui não é novo, já em 2016, Rafael Régis dos Reis então presidente da MEEV – Mocidade Espírita Estudantes da Verdade, apresentou um trabalho no XXII Congresso Espírita Pan-americano da CEPA que foi realizado em Rosário, Argentina. Neste trabalho denominado:  A Internet contra o livre pensar – ele trata profundamente este tema. Posteriormente convidamos Rafael a reapresentar e discutir no ICKS o seu trabalho. Aquela época Rafael já discorria sobre os algoritmos usados pelos sites de pesquisa e outras mídias sociais que nos acompanham, a cada clique que damos, cada like é acompanhado pela rede, pela matriz. De um lado a rede nos oferece amigos, vídeos, reportagens que nos mantem conectados. De outro lado também nos oferecem coisas que não estamos necessariamente buscando, portanto de muito tempo sabemos que os serviços gratuitos ou não da Internet não são jantares de graça.

O documentário O Dilema das Redes vai mais além, traz as pessoas que trabalharam em postos chave nas grandes empresas digitais, como Google, Facebook, LinkedIn, Instagram fazendo confissões de como atuavam e usando dos recurso cinematográficos, traçam um narrativa contundente do que está por trás de todas estas facilidades.

Quando ligamos de Santos para Porto Alegre, por exemplo, usando a vídeo conferência pelo WhatsApp, Skype ou Zoom, de graça, significa que, alguém está pagando por isso. Ora, no mundo capitalista, onde estas empresas estão inseridas, sendo elas as maiores na bolsa de valores da americana – NASDAQ, elas não ofereceriam serviços tão baratos à toa, elas ganham dos anunciantes ou de qualquer um que queira impulsionar uma ideia, produto, ideologia ou religião. Não importa, tudo está à venda.

Não resta dúvida que estes serviços nos conectaram, nos facilitaram o acesso à informação, aos amigos de infância o que é muito bom. No entanto é preciso saber que enormes bancos de dados que guardam estas informações, também guardam, todo o tempo os sites que entramos, todos os produtos que procuramos, todos as páginas da internet que acessamos a cada movimento nosso na internet. Nós somos acompanhados pelos algoritmos todo o tempo. E precisamos saber que usam esta informação para impulsionar os anunciantes e monetizar os nossos cliques.

Do documentário extraí esta frase “ só dois tipos de atividades chamam seus clientes de usuários – o de informática e o de drogas ilícitas “ é uma frase de efeito, mas cada vez mais passamos mais tempo na frente das telinhas: TV a Cabo, Netflix, Celular, tablet, computador, notebook. Nos elevadores de prédios comerciais, nas salas de espera, nas padarias da moda, sempre tem alguém expondo um produto, uma ideia, uma notícia nas telinhas.

Se você checa o seu celular antes de dar bom dia, se você leva o celular para o quarto na hora de dormir, se não aguenta escutar qualquer notificação sem consultar, cuidado.

Estar informado,  tudo bem, temos interesse, o problema e daí o nome dilema é que os algoritmos sabem o que nos interessa e o que não nos interessa, o documentário é excelente em mostrar como isto é feito, e então acontece a mágica, ou melhor o ilusionismo, você gostaria de comprar um carro, pesquisa nos sites de classificados e de repente, começa a receber ofertas nas suas telas. Faça um teste – abra um site como o Terra, ao mesmo tempo no seu celular e no de sua esposa ou filhos, o que conteúdo que aparecerá lá não é igual, cada um recebe, ou acessa o que mais busca, personalizado.

Parece ótimo e tem suas vantagens, mas em assuntos polêmicos como por exemplo na política ou em todos os assuntos que envolvem o seu perfil político, aí a coisa pega, pois as redes socias, não são ferramentas, são caça níqueis e querem que nós fiquemos clicando o máximo de tempo possível, portanto reforçam o nosso interesse.

Assim quem é mais à direita acessa sem pedir o conteúdo favorável às suas ideias, pois aí enquanto a pessoa fica lendo ou vendo vídeos, aparecem as oportunidades de vender mais, o mesmo ocorre para quem é mais à esquerda. Como consequência direta disso estamos cada vez mais divididos e radicais.

Fica aqui o convite para que assistam o documentário, como espíritas e livres-pensadores não há nada mais importante do que o livre-arbítrio e ele está correndo perigo.

Portanto quando você der um “google” tome alguns cuidados:

·         Provavelmente as duas primeiras páginas são conteúdos pagos ou impulsionados, vá mais fundo;

·         Depois da primeira pesquisa, refine mais a busca, acrescente algumas palavras-chave a mais;

·         Leia, mais de um, pelo menos três artigos e use o seu bom senso.

Regulação:

Em suma, alguma regulação precisa ser imposta às redes sociais, elas têm um produto a venda e este produto é o “seu perfil, o meu perfil, os nossos perfis”.

No Brasil, passou a entrar em vigor a LGPD à partir de 15 de agosto de 2020, trata-se da Lei de Proteção de Dados – Lei n° 13.709/18 que regulamenta a política de proteção de dados pessoais e privacidade, modifica alguns dos artigos do Marco Civil da Internet  e impacta outras normas, transformando drasticamente a maneira como empresas e órgãos públicos tratam a privacidade e a segurança das informações de usuários e clientes.

Na Europa, a General Data Protection Regulation – inspiração para a lei brasileira – vigora desde 25 de maio de 2018, fazendo com que entidades e empresas na União Europeia tivessem de se adaptar antes de sua vigência. Isto está ocorrendo no Brasil, todos estão recebendo e-mails de mudanças de políticas dos sites,

Esta lei define o que milhares de empresas brasileiras que trabalham de forma direta ou indireta com dados pessoais de clientes vão fazer com estes dados. Em algumas dezenas de milhares, esses dados são vitais para o funcionamento do próprio negócio, como bancos, seguradoras, e-commerces. Não é exagero dizer que a segurança das informações dos consumidores é essencial para todas as transações realizadas por essas companhias.

A legislação é categórica: todos os dados tratados por pessoas jurídicas de direito público e privado, cujos titulares estejam no território nacional; ou a sua coleta se deu no país; ou ainda que tenha por finalidade a oferta de produtos ou serviços no Brasil, devem estar preparadas.

Assim, não se trata de uma opção, mas de uma obrigação das empresas em se adequarem às normas brasileiras de proteção de dados pessoais.

Do mesmo modo, caso se trate de uma simples pessoa ela terá sua privacidade e liberdade protegidas contra eventual violação de segurança que importe em risco de exposição ou vazamento de dados, por exemplo; ou o direito de ter seus dados apagados de determinado banco de informações, dentre outras possibilidades.

Não foi à toa que o TSE – Tribunal Superior Eleitoral reuniu-se com as gigantes já mencionadas anteriormente e estabeleceu um protocolo de uso de dados e combate a fake news durante a campanha eleitoral agora para as próximas eleições.

Não deixe que sua capacidade de pensar e tomar decisões seja terceirizada, como muito bem nos explicam os Espíritos no Livro dos Espíritos, na questão 843 “– Visto que ele (o ser humano) tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem Livre-arbítrio o homem seria uma máquina.” Portanto segue um bom conselho, sempre que possível, cheque suas ideias com o contraditório, pode ser que o melhor caminho seja o do meio.

 

Curiosidade - O que significa a palavra google? Bom, ela surgiu como um trocadilho em cima da palavra "googol", um termo matemático para o número representado pelo dígito 1 seguido de cem dígitos 0. Larry Page e Sergey Brin, os criadores do Google, usaram esse termo para mostrar que a quantidade de informações no buscador é aparentemente infinita. E o Google foi chamado assim pela primeira vez em 1997, quando ainda era um mecanismo de busca que funcionava somente internamente na Universidade de Stanford.

 Alexandre Cardia Machado

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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Jornais de 2020

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/26-jornal-abertura-2020

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Eleições na sociedade do espetáculo - por Alexandre Cardia Machado

 Eleições na sociedade do espetáculo

EUA fim da era Trump

Tudo indica, quando escrevemos este editorial, que o candidato Americano à presidência Joe Biden será declarado vencedor nas eleições, nos livraremos deste personagem totalmente heterodoxo que preside os EUA por quatro anos. Trump não respeitava protocolos, é politicamente incorreto e aumentou as tensões mundiais.

Nada nos garante que Joe Biden seja melhor, mas ao menos a alternância no poder, característica importantíssima de uma democracia, pode ser exercida.

Fatores em jogo

Republicanos e democratas defendem ideias distintas quanto a pontos importantes, citamos abaixo alguns. Sabemos que o ideário político é uma direção, mas governar requer apoio do Congresso, tanto lá nos EUA como aqui no Brasil há sempre um jogo político a ser bem jogado.

Republicanos x democratas as principais diferenças:

América em primeiro lugar x abertura econômica;

Tolerância aos preconceitos sociais x busca de uma sociedade mais equilibrada;

Menos intervencionismo internacional x EUA ocupando mais espaço mundial;

Desalinhamento de organizações ligadas a ONU x integração na aldeia global;

Economia liberal x visão mais social da economia;

Falta de preocupação ambiental x forte visão ecológica;

Maior geração de empregos x maior aporte social do estado;

Saúde individual x sistema mais amplo de cobertura à saúde;

E daí? Por que isto é importante ao Brasil, ou ao resto do mundo? E em especial aos espíritas?

Considerando que os EUA detêm 25% da riqueza mundial (PIB), uma pessoa que consiga ver o planeta Terra em seu governo, comparada a uma outra pessoa que é totalmente voltada apenas para os interesses próximos dos Estados Unidos já pode ser considerado benéfico.

Nosso medo é que os presidentes Democratas, recentemente fizeram, ou deram continuidade a mais conflitos bélicos que os Republicanos, Barack Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz e em seguida aumentou as forças no Iraque e no Afeganistão. Apesar do discurso jamais fechou a base americana de Guantánamo, em Cuba, onde sabidamente direitos humanos básicos não são respeitados. Quando se trata de segurança nacional, todos os presidentes de lá são parecidos.

Biden em seus discursos, nestes dias de apuração se propõe ser o presidente de todos os americanos, pretende construir pontes, ao invés de muros. Isto sim, se bem executado, será um exemplo a ser seguido, aqui nas terras Tupiniquins.

A Doutrina Espírita por defender o progresso das leis, da sociedade e claro dos espíritos encarnados e considerando também que para que haja progresso individual é necessário o progresso social, só podemos torcer para a distensão entre os países, pela busca de uma tranquilidade maior, por um ambiente mais aberto ao diálogo à redução da violência, de todas as formas de violência.

Neste sentido, ficaremos mais tranquilos com o novo presidente Biden.

Cobertura demais esgota a audiência

Hoje os jornais televisivos passaram mais a ser um show, o que Vargas Llosa considera que “tem mudado de investigativo para espetaculoso”. Quem acompanhou a apuração - voto a voto – da eleição americana, percebeu claramente a torcida por um dos candidatos, na CNN o âncora chegou a declarar “a mudança na tendência na Pensilvânia é bom pra nós”! No Brasil, as emissoras de TV ainda não chegaram a este ponto de declararem-se a favor, deste ou de outro candidato ou partido político.

Volto a recorrer num editorial a Wilson Garcia que em 2003 no VIII SBPE – Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita apresentou um trabalho Espiritismo na Sociedade do Espetáculo.  Destaco mais uma vez um parágrafo: “ O espetáculo, contudo, predomina sobre a informação ou até mesmo por conta da informação, e está presente nas imagens e acima de tudo como ideologia consumada por um consenso de prática, como a dizer que só é possível ser eficiente na conquista de mentes e corações se a produção e a veiculação de mensagens obedecer aos critérios que o sentido do espetáculo impõe”.

Não podemos cair na tentação, o papel do jornalismo é informar, checar a informação, trazer fatos ao debate, até abrindo espaço para os opostos em debates, ou pelo menos deveria ser assim.

No entanto, os analistas políticos e econômicos, tendem a ser anarquistas “se hay gobierno , soy contra “ – se existe um governo, sou contra. Isto porque, fazer previsões que não se concretam, causa desgaste, então é melhor criticar tudo, já que eles, os analistas, não são responsáveis pela implementação dos planos ou ideias que apresentam.

Desta forma em eleições onde não existem debates, ou os que existem, são muito cheio de regras, o que as empresas de comunicação fazem é só mostrar o pior de todos.

No Brasil, no próximo final de semana, haverá eleições para prefeituras e câmaras municipais, salvo um ou outro local, não empolgam, somente nos últimos dias que vemos bandeiras e cabos eleitorais circulando pelas cidades.

Rosana Regis e Oliveira, em 2014, escreveu neste jornal, um artigo denominado: “Voto Consciente -visão espírita” 14° artigo mais lido em nosso blog – por isto que gostaríamos de reproduzir aqui seu ponto principal.       

               “O artigo da escritora Lya Luft, publicado na revista Veja do dia 26 de fevereiro de 2014, resume tudo o que penso sobre o poder do voto consciente. Diz a escritora: ..."Podemos ser mais dignos? Podemos melhorar de vida?......Podemos uma porção de coisas melhores em nossa tumultuada vida? Podemos ser mais dignos e altivos? Não sabemos para que lado nos virar, onde procurar, a quem recorrer.Talvez a esperança seja não a destruição de ônibus, a quebradeira de lojas, a insensatez desatada. A esperança pode estar no gesto mais simples, breve, pequeno, porém transformador, desde que a gente saiba o que está fazendo, o que deve fazer: 

O Voto. Para que o voto seja esta esperança transformadora é preciso se informar, debater e descobrir algum nome a quem confiar esse voto ou acabará significando nada. Precisamos melhorar logo, para que o país não lembre uma nau sem rumo."

É isto, que as brumas de serenidade nos atinjam e que nossas ações bem pensadas nos protejam. Nosso voto é a nossa força, o exerçam com sabedoria.

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O controle da opinião pública e o livre-arbítrio - por Roberto Rufo e Silva

 

O controle da opinião pública e o livre-arbítrio.

 

"A justiça só pode ser obtida por meio de confrontos violentos". (Benito Mussolini).

 

"O conceito de marxismo pertence à história da religião organizada. É um tipo de adoração de um indivíduo que não faz sentido". (Noam Chomsky - Roda Viva 1996).

 

 

Há dois livros interessantes na praça que merecem ser lidos pois na verdade nos alertam contra alguns perigos dos dias atuais, pois almejam o controle da opinião pública. Um deles do escritor italiano Giuliano da Empoli de nome "Os Engenheiros do Caos" que alerta como as fake News, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. O outro livro de nome "Fascismo - Um Alerta" da ex-Secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright. No livro ela nos avisa do perigo do retorno ao confronto entre democracia e fascismo, uma luta que criou incertezas sobre a sobrevivência da liberdade e que levou à morte milhões de pessoas.

 

E agora como denunciou muito bem o documentário O Dilema das Redes temos a busca incessante por lucros dos gigantes da tecnologia e que acabou transformando ferramentas capazes de aproximar pessoas em uma ameaça em várias frentes, da sanidade mental dos jovens à democracia.

 

Por trás de tudo isso está um sonho antigo de religiões e ideologias de massa, que é controlar a opinião pública através da hegemonia cultural.

 

O homem tem o livre-arbítrio dos seus atos interroga Kardec aos espíritos na questão 843 do Livro dos Espíritos. "Visto que ele tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem livre-arbítrio o homem seria uma máquina" respondem os espíritos. Premissa: liberdade de pensar. Esse é o dilema atual, quando a minha liberdade de pensar está ameaçada pelos algoritmos ou por alucinados produzindo fake news nas redes sociais.

 

Na eleição de 2016 entre Donald Trump e Hillary Clinton, correligionários do bufão Trump colocaram nas redes sociais que a candidata Hillary era pedófila e arregimentava crianças numa pizzaria de Washington. Até ela solicitar à justiça a retirada da infâmia das redes sociais milhões já tinham lido a fake news, sendo que um senhor indignado, munido de um fuzil, desferiu vários tiros contra a pizzaria. 

 

Na pergunta 837 Kardec pergunta qual o resultado dos entraves postos à liberdade de consciência. "Constranger os homens a agirem de modo contrário ao que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso".

 

Premissas: civilização e progresso.

 

Leandro Karnal escreve que o mundo do século XXI é o das redes sociais e que controlar a opinião pública já era importante na Roma Republicana. Hoje é central em qualquer projeto político. A luta insana entre esquerda e direita sob os mais variados motivos é uma luta pelo controle político e mental das pessoas. A democracia liberal pouco vale para ambos os lados. O que interessa é a obtenção da hegemonia cultural. Para o Espiritismo a democracia liberal é condição imprescindível para o desenvolvimento do livre arbítrio. Confiemos que segundo a doutrina espírita não há arrastamento irresistível.

                                                                                                                                                         

Roberto Rufo é bacharel em Filosofia e reside em Santos, artigo publicado no Jornal Abertura de outubro de 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Enfim as vacinas - por Alexandre Cardia Machado

 

Enfim as vacinas

Não há como negar a esperança que todos temos na chegada rápida das vacinas ante Covid-19, existem diversas vacinas em fases avançadas, sendo testadas no mundo todo.

Passamos neste momento por aquilo que Allan Kardec denominou de flagelo, está nas questões 737 a 741 do Livro dos Espíritos, as apresento aqui adaptadas para melhor encadeamento com o tema proposto.

Os espíritos e as notas de Kardec nos orientam no seguinte sentido:

·         Os transtornos que estes flagelos nos causam frequentemente são necessários para nos fazer alcançar uma ordem melhor de coisas - causa ou consequência, de fato é o que ocorre, vacinas, antibióticos são e foram desenvolvidos para combater alguns destes males.

·         Os espíritos são anteriores e serão posteriores e sobreviverão a isto tudo – claro que isso não reduz a dor pelas perdas, mas ao menos temos a consciência de que somos espíritos imortais.

·         Kardec nos recorda que “se pudéssemos nos elevar, pelo pensamento, de maneira a dominar a humanidade e  abrange-la inteiramente, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais que tempestades passageiras no destino do mundo – estamos no meio do furação e não conseguimos e nem nos conformamos em pensar assim, mas a humanidade superará mais esta pandemia.

·         “os flagelos são provas que fornecem ao homem ocasião de exercitar suas inteligências ...” – esta talvez a contribuição mais importante, não queremos aqui discutir se a palavra “prova” seria ainda adequada para o mundo do século XXI, mas certamente sairemos com novas estratégias de combate a pandemias virais – serão investidos mais recursos em pesquisas, hábitos mudarão pois, vivemos num mundo de alta contaminação.

·         Kardec comenta que: “Mas o homem não encontrou na ciência, ..., no estudo das condições de higiênicas, os meios de neutralizar, ou pelo menos atenuar, os desastres?” – é o que estamos presenciando, milhares de pesquisadores buscando uma vacina, testando antivirais capazes de mitigar o problema.

O que de fato se está fazendo para vacinar o planeta contra o COVID-19?

Mesmo com um vírus como este, o financiamento é limitado, em parte porque os humanos têm a memória fraca e reagimos apenas a estímulos urgentes, segundo o Dr. Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina do Hospital Monte Sinai, em Nova York.   A última pandemia H1N1 surgiu em 2009 e acabou sendo muito menos patogênica do que se esperava. Assim boa parte dos jovens cientistas que investigaram aquele vírus não tinha nem nascido quando aconteceu a pandemia anterior, em 1968. E só houve duas outras grandes pandemias de gripe no século XX: a de 1957, que matou um milhão de pessoas, e a gripe Espanhola que matou 50 milhões em 1918, logo após a primeira grande guerra.

Ou seja, um dos pontos que Allan Kardec nos chamou a atenção acaba por esbarrar na dificuldade de recursos, não à toa que os governos estão investindo, na correria, muito dinheiro para que instalações de pesquisa possam desenvolver estas vacinas.

Até agora sabíamos da existência de cinco tipos de corona vírus humanos. Se você se infectar, desenvolve anticorpos neutralizantes. A imunidade não dura a vida toda, mas, se você se infectar de novo, os sintomas serão muito mais leves ou inclusive não os terá. Em 2003 apareceu um novo corona vírus muito mais letal que os anteriores, o da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, na sigla em inglês). Dele sabemos que os infectados desenvolveram anticorpos e que estes duraram bastante tempo, até 13 anos.  

Novamente em 2013, no Oriente Médio, um novo surto, associado ao morcego e aos camelos, causou uma epidemia, que matou cerca de 2000 pessoas na Arábia Saudita, foi parcialmente contido até reaparecer na Coreia do Sul em 2005, onde o governo local implantou uma forte quarentena e conseguiu contê-lo novamente.

O Covid-19 é bem parecido, o que nos permite pensar que algumas pessoas que não estão pegando o vírus, possam ter tido contato com algum dos cinco vírus anteriormente citados e, portanto, sendo capazes de combatê-los através dos linfócitos T.

Mas o risco levantado pela comunidade médica em 2005 não resultou no desenvolvimento de vacinas. No artigo que encontrei em casa, publicado na revista mexicana Muy Interesante, de 2015, reportava uma vacina que estaria sendo projetada na Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, na Alemanha, fui atrás e encontrei o seguinte:

O candidato vacinal MVA-SARS-S

Em 2014, junto com DZIF, a universidade começou desenvolver uma vacina contra o corona vírus de SARS à vista das manifestações maiores do vírus. A vacina é baseada em um vírus atenuado (MVA: vírus alterado Ancara da varíola bovina), que tinha sido usado previamente em uma campanha da vacinação da erradicação da varíola e tem sido alterado agora para conter componentes de proteína do Corona vírus de SARS. Esta vacina vector-baseada de recombinação, assim chamada, denominada cientificamente MVA-SARS-S para breve, deve impulsionar a imunidade contra corona vírus de SARS.

Já o prof. Gerd Sutter da Universidade de Ludwig-Maximilians de Munique desenvolveu esta vacina em colaboração com a universidade de Philipps de Marburg e do centro médico Rotterdam do Erasmus. O vector de MVA serve agora como base para desenvolver uma vacina contra SARS-CoV-2 (COVID-19), o novo corona vírus.

Como o impacto deste novo corona vírus foi muito maior que os anteriores, agora, finalmente sairá do laboratório.

Como podemos ver a restrição de recursos, muitas vezes nos impede de desenvolver soluções mais rápidas, guerras, ou pandemias permitem alavancar este avanço. Não sem um imenso custo em vidas humanas, infelizmente. “Os transtornos que estes flagelos nos causam frequentemente são necessários para nos fazer alcançar uma ordem melhor de coisas” – que ao menos isto consigamos fazer desta vez.

Temos no Brasil, vacinas chinesas, inglesas e americanas em teste, os russos comunicam que já em outubro poderão começar a vacinar a sua população. Vamos sair desta situação ruim em que nos encontramos, contamos que os órgãos de saúde internacional fiquem mais alertas daqui para a frente e que os recursos não venham a faltar.

Testar estas vacinas não é motivo de orgulho e sim a constatação de que Brasil, México e Estados Unidos, que são os países que estão sendo alvos dos testes simplesmente pelo fato de que o vírus estar amplamente disseminado entre nós.

Alexandre Cardia Machado, editorial Abertura agosto 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A doença do racismo persiste, mas não é incurável! - por Roberto Rufo e Silva

 

                                      A doença do racismo persiste, mas não é incurável!

“Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.”  (Nelson Mandela)

Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um Advogado(reconhecido pela OAB em 2015), orador, jornalista, escritor brasileiro e considerado o Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. Em 21 de Junho de 2020 fez 190 anos do seu nascimento em Salvador na Bahia. Faleceu em 1882 na cidade de São Paulo aos 52 anos de idade.Recomendo uma leitura atenta da biografia desse admirável brasileiro e de sua luta pelos direitos dos negros no nosso país.

Num de seus poemas Luiz Gama escreve "em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade".

Esse poema é um manifesto que revela a inquietude e a sua luta contra o racismo. Luiz Gama sem dúvida é um dos maiores abolicionistas da história brasileira. Lembrei-me de sua história e circunstâncias ao assistir ao em pleno século XXI a cena deplorável do senhor George Floyd sendo barbaramente assassinado por um policial branco nos EUA.

 Num artigo muito interessante escrito na revista Carta Capital o psicólogo, educador e um dos idealizadores do movimento de espíritas pelos direitos humanos Franklin Félix reafirma algo que deveríamos saber e praticar cotidianamente. Diz ele que "nós espíritas temos a obrigação moral de lutar contra todas as formas de opressão, em especial aquelas oriundas de raça e cor". O nome que ele dá ao seu artigo é na verdade uma convocação a todos aqueles que têm voz no movimento espírita, e que de alguma forma poderiam se fazer representar nos meios de comunicação. 

Nome do artigo : " O Espiritismo precisa se afirmar antirracista".

No Livro dos Espíritos em sua questão 803 Kardec indaga se todos os seres humanos são iguais perante Deus? Respondem os espíritos: "sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos. Dizeis frequentemente que o sol brilha para todos e com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais". Dessa frase deveria advir para todos nós uma postura antirracista, condenando veementemente qualquer tipo de preconceito, a começar reprimindo aquelas brincadeirinhas ou piadas idiotas envolvendo o povo negro. O Brasil foi o país que mais demorou para abolir a escravidão. Foram 350 anos de infâmia. O mínimo que nós brancos devemos ao povo negro é um pedido de desculpas.

Voltemo ao Livro dos Espíritos agora na pergunta 636 - São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal? "A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau de responsabilidade. 

Em resumo, nunca houve época na história da humanidade que a escravidão pudesse ser considerada "normal", ou  "aceita" socialmente. Nem tampouco admitirmos que conceitos pseudo-científicos sejam incorporados ao corpo teórico espírita ou utilizados como ferramentas de análise da vida em sociedade.

O articulista Franklin Félix relembra o triste episódio do racismo localizado de Allan Kardec que deve nos prevenir contra quaisquer ideias que não trazem a inclusão das pessoas com todas as suas peculiaridades. Ele se refere a um artigo publicado na Revista Espírita em 1862 "Frenologia Espírita e a perfectibilidade da raça negra" e outro texto constante em Obras Póstumas denominado "Teoria da beleza". Em ambos Kardec pisou na bola.

São equívocos que a meu ver não transformam Kardec num ser humano racista, mesmo porque a questão da igualdade na teoria espírita foi plenamente abordada por Kardec e de uma forma bem avançada para a época. O Espiritismo é uma doutrina isenta de preconceitos em seus conceitos principais. Mas todo cuidado é pouco. Por isso,repito,  a postura antirracista deve ser uma norma de conduta. Segundo Franklin Félix, numa frase muito interessante de se refletir, Kardec não era racista, mas Kardec foi racista!

Vejo no mundo de hoje com muita felicidade a participação de um grande número de jovens envolvidos e comprometidos em várias causas sociais, seja em defesa do meio ambiente ou pleiteando acertadamente uma revisão de muitos contextos históricos que possuem uma dimensão nitidamente antissocial. Inclusive com a derrubada de estátuas homenageando títeres da história. Fiquei particularmente feliz com a queda da estátua do pusilânime Rei Leopoldo II da Bélgica, se espatifando no chão. Esse genocida participou da colonização do Congo Belga, e foi diretamente responsável por milhares de assassinatos. E ainda diziam que ele estava levando a civilização à África.

Jaci Regis sempre dizia que o espiritismo tinha como guia moral Jesus de Nazaré e não o Jesus Cristo que foi sequestrado pelos templos, igrejas e muitos centros espíritas. Jesus de Nazaré concebido de uma relação sexual normal, nascido de parto natural, um espírito evoluído que ensinou sempre o amor ao próximo e a igualdade de direitos entre os seres humanos como razão para se viver em sociedade e evoluir.

Publicado no Jornal Abertura - junho de 2020

Nota: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Santos.

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