segunda-feira, 11 de julho de 2022

AS GUERRAS E A UTOPIA ESPÍRITA DA PAZ UNIVERSAL por Ricardo de Morais Nunes

 

AS GUERRAS E A UTOPIA ESPÍRITA DA PAZ UNIVERSAL

Desde a antiguidade até a contemporaneidade as guerras têm sido muito comuns em nossa história. Guerras de conquista de territórios, de escravização de povos, de pilhagem de riquezas. Na antiguidade os hebreus, os egípcios, os persas, os gregos, romanos e outros povos participaram de inúmeras guerras.

Na Idade Média e nos primórdios da era moderna tivemos as guerras religiosas. As cruzadas católicas, os conflitos entre protestantes e católicos. A aniquilação dos cátaros e a terrível noite de São Bartolomeu marcaram tristemente a história do ocidente.

Ricardo Nunes - XII SBPE


No século XX tivemos guerras de caráter ideológico-político. A batalha de Stalingrado que envolveu nazistas alemães contra comunistas russos na segunda guerra mundial é um exemplo paradigmático de conflito ideológico.

Podemos mencionar, ainda, as guerras de independência dos povos contra seus colonizadores. As lutas de independência do Vietnã, por exemplo, são impressionantes, para ficar apenas em um exemplo.

As jihads ou guerras santas da atualidade. Quem de nossa geração não lembra do atentado às torres gêmeas?

O eterno conflito Israel x Palestina. Sem solução até nossos dias.

As invasões soviéticas à Hungria, Tchecoslováquia e Afeganistão.

Os ataques norte-americanos ao Iraque, Afeganistão e Síria.

 O mais recente conflito Russia x Ucrânia/OTAN.

Um conflito histórico para nós, brasileiros, é a chamada “guerra do Paraguai” ocorrida no século XIX, na qual brasileiros, argentinos, uruguaios e paraguaios se envolveram em um conflito sangrento, provavelmente, o maior conflito entre as nações da América do Sul.

 Podemos falar ainda nos eventos revolucionários. Para citar apenas alguns exemplos a revolução francesa, russa, cubana, chinesa, iraniana.

A guerra também pode ser feita sem tiros e bombas, através de sanções econômicas que asfixiam a economia de um país. Exemplo notável em nossos dias é o bloqueio/embargo econômico dos Estados Unidos a Cuba.

Essa medida, que já dura mais de 60 anos e remonta ao tempo da guerra fria, prejudica toda a população daquele país, pois sanciona as relações comerciais normais entre Cuba e os Estados Unidos e interfere nas relações comerciais de Cuba com outros países. Os países membros da ONU, em maioria, têm se manifestado várias vezes contra o bloqueio e nada acontece.

As lutas de classe entre os detentores do poder econômico e os trabalhadores muitas vezes se transformam em violência aberta e deflagrada. A célebre comuna de Paris no século XIX é um exemplo paradigmático de como o poder econômico reage aos movimentos de emancipação dos trabalhadores ao longo da história.

Estes são apenas alguns poucos exemplos que cito de memória de algumas guerras, conflitos e lutas ao longo de nossa história. Podemos verificar que, infelizmente, as guerras são comuns em nosso mundo e que a paz é algo muito difícil de ser conquistada e preservada.

É certo também dizer que evoluímos conceitualmente no sentido de repudiar moralmente a guerra. As normas internacionais e os fóruns internacionais são tentativas de se fazer valer a diplomacia ao invés da violência.

A questão 742 do Livro dos Espíritos nos ensina que a guerra ocorre em razão da “predominância da natureza animal sobre a espiritual e para satisfação das paixões”. A questão 743 do mesmo livro diz que um dia “a guerra desaparecerá da face da terra quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus”. E na questão 744 temos que a guerra ainda é” necessária para levar a liberdade e o progresso”.

Talvez seja estranho para muitos a compreensão de que a liberdade e o progresso podem ter sua origem na guerra. Mas isso em nosso mundo, no qual a força física e material ainda predomina, não é um absurdo. Basta lembrar de alguns fatos históricos que apontam nessa direção.

 A revolução francesa, acontecimento histórico no qual houve violência, superou a aristocracia feudal com seus privilégios e criou um regime republicano cuja pretensão era a igualdade de todos perante a lei. Mesmo com os avanços e retrocessos da ideia republicana na França e no mundo, hoje em dia poucos pensam em voltar a uma concepção aristocrática e feudal de vida política e social.

A guerra civil norte-americana entre os nortistas e sulistas propiciou a abolição da escravidão naquele país. O que foi um avanço, mesmo se considerarmos que a segregação racial nos Estados Unidos tenha tido vigência até a década de 60 do século XX, o que deu origem aos movimentos de luta pelos direitos civis dos negros nos quais se destacou Martin Luther King Jr.

Alguns filósofos defendem que a violência é a “parteira da história”, considerando que as guerras e revoluções, que se repetem na história, frequentemente operam grandes transformações do mundo.

Gandhi inovou porque liderou o movimento de independência da Índia ensinando a doutrina da não violência. Confesso, porém, que tenho dúvidas se tal método de Gandhi pode ser universalizado com vistas a outros êxitos em nosso mundo ainda tão inferior moralmente.

Mas não deixo de admirar a abertura política e mental que esse grande político e religioso indiano nos proporcionou. Uma verdadeira revolução nas possibilidades do fazer político, muito em conformidade com os ideais espiritualistas.

 Nós, espíritas, podemos dizer que somos defensores da paz, pois rejeitamos, por princípio, a violência e a guerra. Obviamente que não excluímos de nossos direitos a legítima defesa individual e coletiva, uma vez que não é lógico que um indivíduo ou grupo social se entreguem a uma agressão injusta e ao extermínio se puderem resistir.

  Nossa luta, porém, se faz através da conscientização do valor da vida e do exercício da fraternidade. Queremos o bem de todos os seres humanos. Desejamos vida e felicidade a todas as pessoas. Desejamos um mundo de liberdade, justiça social e paz para a humanidade como um todo.

Nós, espíritas, temos a nossa utopia. Que é transformação deste planeta Terra, da condição de mundo de provas e expiações em mundo de regeneração, ou seja, em um mundo no qual o bem seja mais forte que o mal.

A nossa utopia espírita combina espiritualidade com ação social. A nossa espiritualidade não é passiva ou alienante. Lutamos com as armas da palavra e da ação. Lutamos sem violência para que, um dia, esse mundo seja transformado.

Mas tudo isso sem ilusão, sem ingenuidade, pois sabemos que, infelizmente, a violência ainda é estrutural no mundo em que vivemos, e que a opressão, em suas várias facetas, ainda é vigente entre nós.  

 Lutamos, porém, para que um dia isso se transforme e para que possamos viver em um mundo que renunciou a violência em favor da razão e da fraternidade. O conhecimento de nossa essência espiritual, pode, quem sabe, nos ajudar a chegar nesse novo mundo.

Talvez quando ampliarmos nossa noção do que é a vida conseguiremos ser menos egoístas e apegados às coisas deste mundo. O que nos levará a renunciar a disputas inúteis em favor do que realmente importa em termos dos verdadeiros bens e valores da vida.

Quem sabe, nesse dia, consigamos construir um mundo de paz universal.

Texto originalmente publicado no ABERTURA de maio de 2022:

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=174:jornal-abertura-maio-de-2022


 

 

 

sexta-feira, 17 de junho de 2022

O paradigma Ignorado - por Alexandre Cardia Machado em referência a Maurice Herbert Jones

 

O paradigma Ignorado

Recentemente ao ler o último exemplar recém-lançado da Coleção Livre-Pensar, o Livro Espiritismo, Ética e Moral, escrito por Milton Rubens Medran Moreira e Jacira Jacinto da Rocha me deparei com uma citação de um texto de Maurice Herbert Jones – O paradigma ignorado, publicado em agosto de 2002, texto que guardamos até hoje. Milton Medran faz referência ao que Jones chama de espiritocentrista, à visão de Kardec.

Talvez, por ter sido produzido em 2002, não haja cópias deste importante texto disponível online, então, resolvemos trazê-lo de volta nesta coluna levando-se em consideração a sua importância, relevância e profundidade das análises nele contidas.

Com vocês a clareza e a sensibilidade Maurice Herbert Jones.

Maurice Herbert Jones XVIII Congresso da CEPA


“O paradigma Ignorado”

“Os antigos deuses envelheceram ou morreram e outros ainda não nasceram.” Emile Durkheim

O processo civilizatório a que estamos submetidos transcorre como se nosso planeta fosse um gigantesco e dinâmico palco com cenários em permanente mutação e atores em rodízio constante.

Este imenso espetáculo é dirigido por “matrizes ideológicas” ou paradigmas que, num dado momento e cultura, tornam-se hegemônicos e, portanto, eleitos para administrar o processo até que, esgotada sua virilidade, senilizados, são substituídos por novos paradigmas.

Convém reconhecer, todavia, que o envelhecimento ou até mesmo a morte dos velhos deuses não é facilmente reconhecida. Sando muito penosa a orfandade, é preferível um deus mumificado a deus nenhum, prolongando, assim, a crise de referências ao mesmo tempo em que os candidatos à sucessão são submetidos aos testes necessários.

A crise existencial de nosso tempo tem como uma das principais causas o esgotamento dos modelos conceptuais ainda vigentes, crescentemente incapazes de oferecer segurança e identidade.

O psicanalista Hélio Pelegrini afirmou em um artigo que a angústia metafísica que nos aflige clama por uma filosofia pública sobre o significado e objetivo da vida, capaz de orientar toda a atividade humana, isto é, uma visão de homem e de mundo que possa ser racionalmente universalizada.

Os relatos bíblicos, síntese conceptual daqueles tempos e cultura, nos falam, essencialmente, de um contrato estabelecido entre o criador e as criaturas, a partir do momento em que estas conquistam a racionalidade, isto é, a liberdade de desobedecer, que inaugura a história humana. Este contrato é reformável na medida em que precisa ajustar-se aos novos níveis de consciência e liberdade conquistados pelo homem, A iniciativa, porém, como a história nos ensina, cabe ao homem.

Quando os valores tradicionais começam a perder significado e eficácia, um novo contrato, um novo conjunto de valores deve ser concebido.”

Neste momento, Jones chega ao ponto principal de sua reflexão.

“Atendendo a esta determinação histórica, Kardec, com extraordinária lucidez, identifica sinais de esgotamento do paradigma vigente e lidera uma revolução conceptual de base racional e humanista que, superando o organocentrismo iluminista propõe uma visão espiritocentrista, isto é, que considera a dimensão extrafísica ou espiritual como fundamental, afetando, drasticamente, a forma pela qual o homem, o mundo e a história são percebidos.

A natureza sintética do modelo conceptual Kardequiano é evidente. Como uma flor tardia da primavera iluminista o Espiritismo surge como uma esperança de renovação capaz de oferecer ao homem a segurança e a identidade perdidas, equiparando-o, assim, para avançar, confiante, mais uma etapa no processo evolutivo.

Quase um século e meio depois de seu surgimento (texto de 2002, hoje seria 165 anos após), o Espiritismo, naquilo que o faz singular, dinâmico, revolucionário e universal é desconhecido pela maioria esmagadora dos próprios espíritas que, incapazes de compreender o alcance e a profundidade da monumental proposta de Kardec, insistem, ingenuamente, em interpretá-la a luz dos paradigmas agonizantes ou mumificados que teimam em nos influenciar, reduzindo-a, assim, a uma mera seita religiosa.

Significativamente, foi exatamente esta a interpretação do Abade François Chesnel em artigos publicados no jornal L’Univers de Paris em abril de 1859 e tão veementemente contestada pelo fundador do Espiritismo conforme ficou registrado na “Revue Spirite” de maio e julho daquele mesmo ano.

Como se vê, o padre Chesnel fez escola.”

Maurice Herbert Jones – Ex-Presidente da FERGS – Federação Espírita do Rio Grande do Sul, diversas vezes membro da diretoria do CCEPA, desencarnada em 2021. Texto publicado no Jornal Opinião de agosto de 2002.

Sobre Maurice Herbert Jones deixamos o convite à leitura de sua biografia publicada no site do CPdoc:

www.cpdocespirita.com.br/portal/destaques/personalidades-em-destaque/160-maurice-herbert-jones

Sobre Maurice Herbert Jones

O Abertura em sua edição de julho de 2021 noticiou com pesar a desencarnação deste grande lumiar espírita, caso queiram reler o Abertura pode ser acessado na no link:

CEPA Internacional : basta entrar no site: digitando em seu buscador: CEPA Associação Espírita Internacional, irão aparecer várias opções, clique no site e depois na barra azul escolha: Publicações: desça o cursor no Jornal Abertura, ano de 2021, mês de julho.

Se preferir ir diretamente ao Jornal Abertura de julho de 2021 baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/20-jornal-abertura-2021?download=112:jornal-abertura-julho-de-2021


sexta-feira, 10 de junho de 2022

Imortalidade em nossas vidas - por Cláudia Régis Machado

 

Imortalidade em nossas vidas

Cláudia Régis Machado

Às vezes pensar sobre a imortalidade nos parece algo distante que só pensamos quando estamos perto da morte. Mas como inseri-la em nosso dia a dia? Que comportamentos nos fazem expressá-la?



Primeiro o principal, ter o conceito que a imortalidade é dinâmica, não é um lugar, ou um estado do plano extrafísico. A Doutrina Espírita nos dá oportunidade junto do seu arcabouço estrutural de analisá-la de uma forma distinta da explicada pelo espiritualismo cristão, pois dentro da visão evolucionista que o Espiritismo nos propõe, de um continuum existencial, a vida se expressa e acontece em uma dimensão interexistencial no plano físico e extra físico Isto nos leva a perceber que a imortalidade não é estável. “A descoberta do plano extrafisico deu sentido à imortalidade e integrou as dimensões em que se manifesta o ser humano”. (Jaci Régis).

O conceito de imortalidade é de grande importância, o início, muitas vezes, para a compreensão da idéia espírita. Este é um do motivo que escrevi o livro – Kadu e o Espírito Imortal – livro infanto- juvenil que foi elaborado como um jogo, de idas e vindas para encontrar respostas e entender o fenômeno da morte, compreendendo assim a imortalidade de forma tranqüila, com leveza e de forma lúdica. O livro também é para adultos, iniciantes da Doutrina Espírita, que gostam de adentrar no assunto de um jeito ameno e pedagógico, que com certeza apreciariam, há no livro fatos da história do Espiritismo, sobre a mediunidade e outros pontos.

Mas voltando, o que a imortalidade propicia em nosso dia a dia?

Perceber-se imortal é um estado que é construído pouco a pouco na estrutura mental do espírito e, colocar em prática este estado é aprender a sua importância em nosso circulo de vivencia. Com isto seremos favorecidos, através de sua compreensão, um olhar, um sentir, um enxergar as coisas, os acontecimentos em nossas vidas e as pessoas do nosso redor com uma lente diferente.

Além do mais, e de suma relevância, levar a transformar nossa relação com os outros e também a visão de nós mesmos, porque a imortalidade dinâmica amplia a consciência de quem somos e o nosso papel e atuação no mundo e isto sem dúvida se reflete em nosso comportamento.

Esta é uma escolha que deve ser feita por nós todos os dias para que se torne um estado cotidiano e esteja presente em nossas reflexões e atitudes.

 Concretamente sabendo da existência do plano extrafísico, está demonstrado que somos imortais e sendo a vida um continum, o intercâmbio do plano físico e extrafisico torna-se presente onde as vibrações energéticas interligam e interagem. Como na manifestação da mediunidade de todas as ordens onde a comunicação com os amigos espirituais é uma realidade e nos fenômenos que sugerem reencarnação através da lembrança de sua vida pregressa.

Assim percebemos que ser imortal é real. “A imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser inteligente. Ela o define como um ente que permanece”.

A imortalidade se expressa também quando traz esperança para lidar com os conflitos da vida e quando amplia nosso ponto de vista para o futuro para a evolução espiritual.

Como coloca o Espiritismo- Ciência da Alma- o conceito de espiritualidade, de sermos espíritos imortais, atemporais em nossa estrutura de vida nos traz benefícios e responsabilidades.

O objetivo da Ciência da Alma é desenvolver a espiritualidade na estrutura da pessoa. Lutar para que a espiritualidade seja inserida como natural no comportamento humano, sendo assim, a “Imoralidade ganha um novo sentido e um novo horizonte, como a seqüência natural da pessoa além do fenômeno da morte”.

Lutar porque sabemos a significância desse conceito- sabemos aonde queremos chegar, mas há um caminho a percorrer , é preciso encontrar ferramentas, estudo, persistência, coragem para alcança- lo. É uma jornada para se viver melhor.

Artigo foi publicado no Jornal Abertura de maio de 2022.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=174:jornal-abertura-maio-de-2022


 

segunda-feira, 30 de maio de 2022

O que é a vida - por Cláudia Régis Machado

 

O que é a vida?

 

Na filosofia espírita a vida corporal é a oportunidade para o espírito exercitar suas qualidades, desenvolver potencialidades, retratar suas condições vivenciais e acima de tudo um período de aprendizagem.

Para nós espíritas esse é objetivo de nossas vidas.

Para o Espiritismo realidade existencial inclui corpo físico, perispírito e espírito.

A vida tem uma dinâmica própria e podemos “construir o sentido da vida no viver quando fazemos ela ter significado ou valor.” Rodrigo Tavares Mendonça (psicólogo).

Parafraseando alguns versos da música de Gonzaguinha “O que é. O que é” destaco alguns que compõe nosso pensamento e inquietações sobre o que é a vida:



 

“A vida é viver. /

Somos nós que fazemos a vida, como der, ou puder ou quiser. /

Ela é maravilha ou é sofrimento. /

Ela é alegria ou lamento. /

Ela é luto ou prazer”.

 

Creio que a letra nos leva a pensar que os “ou” sejam uma escolha ou outra mas, na realidade nos movimentamos entre várias situações e sentimentos em momentos distintos, assim que um não exclui o outro.

Extraindo ainda da mesma música, o que completa aquilo que temos como pensamento

 

Viver e não ter a vergonha de ser feliz/

A beleza de ser um eterno aprendiz/

Que a vida devia ser bem melhor. E será/

Mas isso não impede que eu repita é bonita, é bonita é bonita/

É a vida.

 

Dando sequência podemos nos perguntar durante a trajetória da vida:

Como vivemos?

Quais os valores que comandam a nossa existência?

Qual o nosso olhar para o mundo e do nosso estar no mundo?

Quais atitudes que priorizamos em nossa vida? 

Questões estas que nos ajudam a dar uma condução, um sentido à vida.

 

“A vida sem reflexão não merece ser vivida” Sócrates.

 

 

Cada ser humano tem uma concepção própria acerca da vida, do mundo, do universo.

E essa concepção se manifesta nas atitudes, nos comportamentos, nos sentimentos. Na forma que levamos e direcionamos a nossa vida. Na maneira como enfrentamos acontecimentos como doenças, relacionamentos, mortes, perdas e trabalho. O dia a dia.

 

De acordo com Jaci Régis “A lei natural estabelece uma sequência fundamental para o desenvolvimento dos seres: sobrevivência convivência e produtividade.

O impulso agressivo estrutural do ser se transforma em vontade que garante a sobrevivência, em desejo que permite a convivência e a busca da felicidade o que cria uma produtividade capaz de propiciar o prazer.” Essa estrutura se manifesta como base na formulação da vida, da existência.

Tendo como fim a felicidade, ou seja, o homem busca vida boa e feliz.

“O prazer é a meta, na vida.

O sofrimento é transitório, eventual”. (Jaci Régis).


Este artigo foi ariginalmente publicado no Jornal Abertura de abril de 2022. Quer ver o jornal completo?

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=147:jornal-abertura-abril-de-2022


 

 

terça-feira, 17 de maio de 2022

Dialogando com Jaci - por Egydio Régis e homenagem a Egydio Régis

 Disponibilizaremos neste blog os artigos escritos por Egudio Régis e publicados no Jornal Abertura entre os meses de janeiro /fevereiro de 2020 a junho de 2022.

Iniciaremos pelo preâmbulo.

DIALOGANDO COM JACI

 

Preambulo

 

Após encerrarmos o trabalho prazeroso durante dez anos estudando e divulgando os artigos elaborados pelo mestre na Revista Espírita, iniciaremos uma outra tarefa não menos prazerosa e de importância para a afirmação doutrinária Espírita em nossos tempos. Pessoas podem perguntar: por que Jaci Regis? O que ele representa para o Espiritismo? Seu nome é reverenciado nacionalmente? Por que não foi reconhecido e divulgadas suas ideias pelos canais do “poder” central do movimento espírita? Algumas destas perguntas responderemos baseados na vivência que tivemos dentro do movimento e com o próprio Jaci. Outras a obra literária dará as respostas que muitos procuram.

 

Qual o perfil de Jaci? Poucos da multidão de espíritas puderam realmente conhecer e admirar a personalidade marcante desse incansável trabalhador, quer dos assuntos doutrinários, quer da benemerência dedicada à infância e às mães sofridas carentes a procura de uma vida digna junto das suas crias. Jaci possuía uma energia de trabalho que chegava a irritar a quem o seguia. Sua mente criativa o projetava para novos projetos arrojados que faziam tremer as bases estabelecidas no pieguismo e nos valores envelhecidos pelo comodismo. Desde a adolescência ousou contrariar e enfrentar os velhos líderes do movimento espírita santista, cujos centros mais pareciam simulacros de igrejas e templos evangélicos do que casas de estudos e de divulgação da Doutrina Espírita. Aos quatorze anos chegou a Santos (catarinense de nascimento) , ingressou na então fundada Juventude Espírita de Santos (1947) onde logo manifestou seu espírito inquieto e quando a Mocidade rebelou-se contra os entraves da diretoria do Centro Espírita Manoel Gonçalves (sede primeira da Mocidade ) e transferiu-se para o Centro Beneficente Evangélico (em 1949, já então com o nome de Mocidade Espírita Estudantes da Verdade) Jaci, ainda na adolescência, quando o Mentor da mocidade o saudoso Alexandre Soares Barbosa teve, por força de sua atividade profissional, que deixar a condução doutrinária da entidade, chamou para si essa responsabilidade. O Centro Beneficente Evangélico, era um pequeno centro com poucos frequentadores e praticamente com as portas quase fechadas. A MEEV (Mocidade Espírita Estudantes da Verdade), sob a batuta de Jaci deu nova vida ao Centro. Mas, ele não se conformou com o fato de o nome não identificar uma casa espírita e sua primeira luta foi convencer a “velha guarda” a acrescentar o nome Espírita, passando então a denominar-se Centro Espírita Beneficente Evangélico. Com o apoio de alguns companheiros mais velhos, mas com mente aberta e, sobretudo, com os jovens da Mocidade, Jaci tornou-se o grande condutor do Centro. A primeira grande iniciativa foi propor a mudança do nome de Centro Espírita Beneficente Evangélico, para Centro Espírita “Allan Kardec”. Para se ter ideia da capacidade intelectual de Jaci, é preciso dizer que até mais de vinte anos de idade, ele tinha apenas completado o curso comercial, equivalente na época ao ginásio ou ao primeiro ciclo de hoje. Porque precisava trabalhar e não tinha tempo para estudar. Assim, somente lhe restava prestar exame de madureza que hoje seria o supletivo. A partir daí, tendo conseguido o certificado do segundo grau, não mais parou e laureou-se em três cursos superiores: Economia, Jornalismo e Psicologia, os dois primeiros em horário noturno por causa de sua atividade profissional como empregado da Petrobrás. Psicologia cursou quando já estava aposentado e foi sua última atividade profissional.

 

Paralelamente aos trabalhos no Centro e aos primeiros ensaios de questionamentos doutrinários, Jaci preocupava-se com a atividade de benemerência incorporando-se às campanhas desenvolvidas pelo Centro e, especialmente ao Lar Veneranda, creche não propriamente espírita, fundada e dirigida por um grupo de amigos ligados a atividade portuária. Essa entidade funcionava em uma casa e atendia um punhado de crianças possibilitando suas mães trabalharem, além de oferecer cursos de qualificação para essas mães. Sua situação não estava muito boa estando sob ameaça de despejo e outras dificuldades. Jaci e um grupo de jovens, depois de algumas gestões, assumiu a direção da entidade e num verdadeiro esforço heroico, suportando todo tipo críticas e má vontade de pessoas derrotistas, não só comandou a superação de dificuldades, como conseguiu a façanha de construir um prédio moderno e confortável para abrigar mais de cem crianças, estendendo a atuação de creche para o lar de crianças desamparadas. Incansável, dirigia o Lar, o Centro, fazia palestras, escrevia e trabalhava profissionalmente em jornada de oito horas. Era difícil acompanhar o seu ritmo de trabalho e isso muitas vezes o irritava.

 

Jaci não era uma pessoa melosa, tinha uma personalidade forte e não usava de eufemismos com ninguém. Era direto, duro, mas sensível e respeitoso com quem merecia. Era um palestrador na época em que surgiram os oradores que davam verdadeiros espetáculos declamando trechos decorados, elevando a voz para impressionar o público e derramando-se em trechos evangélicos longos. Jaci, não decorava nada, não fazia pose, não usava linguagem empolada. Não empolgava, fazia pensar, derramava doutrina clara e ousava tocar em assuntos que melindravam as plateias acostumadas a ouvir repetidamente lições evangélicas e pouco espíritas. Como resultado de sua coragem em criticar os centros que mais pareciam igrejas e assembleias evangélicas, Jaci passou a ser persona não grata nas casas espíritas. Os jornais que fundou e escreveu, como o Abertura, assim como suas obras, foram proibidos pelos dirigentes desses centros. Por incrível que possa parecer, sua palavra foi caçada e seus escritos censurados, sob a égide de uma doutrina que tem a liberdade de pensamento e de expressão como lema maior. Essa lamentável atitude espalhou-se por todo o Brasil e por isso suas ideias revolucionárias, seu descortino em analisar a obra de Kardec e desmistificar o emanuelismo e o mediunismo que pretendiam substituir e superar Kardec, não chegaram à massa espírita.

 

Além dos livros, que vamos basear nosso trabalho, Jaci foi o grande incentivador do espiritismo laico, hoje bem sedimentado no continente sul-americano. Idealizador do Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita, que reúne espíritas de todo o Brasil e de outros países, é sempre lembrado e citado por muitos participantes.

 

Enfim, muito poderia escrever sobre Jaci, de quem tive a honra de ser irmão de sangue e mais do que isso, seu admirador e seguidor. Devia esta justa homenagem a um dos mais importantes espíritas de nosso tempo. Oxalá a partir deste modesto trabalho algumas pessoas se interessem e mergulhem nos ensinamentos de Jaci Regis.

 

Na Edição de junho de 2022 do Jornal Abertura fizemos esta homenagem a Egydio Régis.

Nossa homenagem a Egydio Régis

 

Dialogando com Jaci

Jaci Régis, Irene Régis, Palmyra Régis, Ivon Régis e Egydio Régis – 70 anos de Jaci.

Egydio Régis é irmão mais novo de Jaci, e o sucedeu na presidência do CEAK – Centro Espírita Allan Kardec de Santos onde foi presidente por 15 anos.

Os irmãos tinham muitas coisas em comum, formaram famílias extensas e de espíritas atuantes, ambos trabalharam na Petrobrás e como já nos referimos foram presidentes do CEAK e apaixonados pelo Espiritismo.

Egydio  dedicou os últimos dois anos e meio a dialogar com Jaci, utilizando como base para tal alguns dos livros publicados pelo irmão, o fez ao todo através de seis obras:

A mulher na Dimensão Espírita; Comportamento Espírita; Amor Casamento e Família; Caminhos da Liberdade; Introdução à Doutrina Kardecista e Uma Nova Visão do Homem e do Mundo. Nesta edição do jornal Abertura de junho de 2022 apresentaremos a última coluna produzida por Egydio Régis.


 



A Neca e eu - por Alexandre Cardia Machado

 

A Neca e eu

 

As vidas de todas as pessoas têm coisas diferentes e particulares, algumas positivas, outras engraçadas, eu e minha irmã somos assim. Eu nasci 10 meses e 25 dias depois dela, de tal forma que todos os anos brincávamos que por 35 dias ao ano éramos gêmeos.

A última vez que isto aconteceu, foi no ano passado quando completei 63 anos no dia 1° de maio e terminou no dia 5 de junho, quando a Mariângela fez 64 anos, este é o nome da Neca, apelido que ele mesma escolheu para si mesma.



Bem esta nossa brincadeira aconteceu novamente, pela última vez este ano, minha querida irmã mais velha desencarnou vitimada de um câncer extremamente agressivo que entre o primeiro sintoma e a passagem dela para o Mundo dos Espíritos foram apenas 60 dias.

Toda a morte traumatiza, nos deixa perplexos diante de nossa incapacidade de mudar o curso dos acontecimentos, minha irmã mais velha era espiritualizada, participava do CCEPA – Centro de Cultura Espírita de Porto Alegre, de nosso bairro o Menino Deus. Pelo fato de ter entendimento de que vida e a transitoriedade no mundo dos espírito são dois lados da mesma moeda, lutou o quanto pode, mas, em um determinado momento me disse “Xande se o pior ocorrer estou preparada, não temo a morte”.

A Neca tem três filhos maravilhosos, Marcela, Gabriel e Guilherme, um genro e duas noras e três netinhos. Ficaram todos e nós também, minha mãe Regina e eu, afastados temporariamente dela.

A Mana viveu e aproveitou o mundo o quanto pode, foi professora do município de Porto Alegre, diretora de escola, Pedagoga e Bacharel em Direito, ela estava sempre estudando e buscando por novos conhecimentos.

Quando pequenos, ela era a maior de nosso grupo de primos e mandava em todos, na minha casa, em nossa família coube a ela, mulher abrir os caminhos que sempre ficavam mais fáceis para mim que vinha em seguida.

Vamos sentir muitas saudades, do afeto, do sorriso e das broncas também, porque ninguém ela não era de ferro.

Tive a incumbência de dizer, em nome da família as últimas palavras, num salão muito cheio de parentes, amigos dela, de minha mãe e de seus filhos, e disse que como espíritas sabíamos que a imortalidade dinâmica existe e que não deveríamos ficar tristes, que podíamos chorar, mas que ela estaria bem, no seu novo local de crescimento espiritual.

Até logo Mana.

Neca ou Mary ou Mariângela Cardia Machado (5/6/1957 - 24/3/2022)

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Imortalidade em nossas vidas - por Cláudia Régis Machado

 

Imortalidade em nossas vidas

Cláudia Régis Machado

Às vezes pensar sobre a imortalidade nos parece algo distante que só pensamos quando estamos perto da morte. Mas como inseri-la em nosso dia a dia? Que comportamentos nos fazem expressá-la?



Primeiro o principal, ter o conceito que a imortalidade é dinâmica, não é um lugar, ou um estado do plano extrafísico. A Doutrina Espírita nos dá oportunidade junto do seu arcabouço estrutural de analisá-la de uma forma distinta da explicada pelo espiritualismo cristão, pois dentro da visão evolucionista que o Espiritismo nos propõe, de um continuum existencial, a vida se expressa e acontece em uma dimensão interexistencial no plano físico e extra físico Isto nos leva a perceber que a imortalidade não é estável. “A descoberta do plano extrafisico deu sentido à imortalidade e integrou as dimensões em que se manifesta o ser humano”. (Jaci Régis).

O conceito de imortalidade é de grande importância, o início, muitas vezes, para a compreensão da idéia espírita. Este é um do motivo que escrevi o livro – Kadu e o Espírito Imortal – livro infanto- juvenil que foi elaborado como um jogo, de idas e vindas para encontrar respostas e entender o fenômeno da morte, compreendendo assim a imortalidade de forma tranqüila, com leveza e de forma lúdica. O livro também é para adultos, iniciantes da Doutrina Espírita, que gostam de adentrar no assunto de um jeito ameno e pedagógico, que com certeza apreciariam, há no livro fatos da história do Espiritismo, sobre a mediunidade e outros pontos.

Mas voltando, o que a imortalidade propicia em nosso dia a dia?

Perceber-se imortal é um estado que é construído pouco a pouco na estrutura mental do espírito e, colocar em prática este estado é aprender a sua importância em nosso circulo de vivencia. Com isto seremos favorecidos, através de sua compreensão, um olhar, um sentir, um enxergar as coisas, os acontecimentos em nossas vidas e as pessoas do nosso redor com uma lente diferente.

Além do mais, e de suma relevância, levar a transformar nossa relação com os outros e também a visão de nós mesmos, porque a imortalidade dinâmica amplia a consciência de quem somos e o nosso papel e atuação no mundo e isto sem dúvida se reflete em nosso comportamento.

Esta é uma escolha que deve ser feita por nós todos os dias para que se torne um estado cotidiano e esteja presente em nossas reflexões e atitudes.

 Concretamente sabendo da existência do plano extrafísico, está demonstrado que somos imortais e sendo a vida um continum, o intercâmbio do plano físico e extrafisico torna-se presente onde as vibrações energéticas interligam e interagem. Como na manifestação da mediunidade de todas as ordens onde a comunicação com os amigos espirituais é uma realidade e nos fenômenos que sugerem reencarnação através da lembrança de sua vida pregressa.

Assim percebemos que ser imortal é real. “A imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser inteligente. Ela o define como um ente que permanece”.

A imortalidade se expressa também quando traz esperança para lidar com os conflitos da vida e quando amplia nosso ponto de vista para o futuro para a evolução espiritual.

Como coloca o Espiritismo- Ciência da Alma- o conceito de espiritualidade, de sermos espíritos imortais, atemporais em nossa estrutura de vida nos traz benefícios e responsabilidades.

O objetivo da Ciência da Alma é desenvolver a espiritualidade na estrutura da pessoa. Lutar para que a espiritualidade seja inserida como natural no comportamento humano, sendo assim, a “Imoralidade ganha um novo sentido e um novo horizonte, como a seqüência natural da pessoa além do fenômeno da morte”.

Lutar porque sabemos a significância desse conceito- sabemos aonde queremos chegar, mas há um caminho a percorrer , é preciso encontrar ferramentas, estudo, persistência, coragem para alcança- lo. É uma jornada para se viver melhor.

Artigo foi publicado no Jornal Abertura de maio de 2022.

Baixe aqui:

https://cepainternacional.org/site/pt/cepa-downloads/category/22-jornal-abertura-2022?download=174:jornal-abertura-maio-de-2022


 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Realizado o 16° Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista

 16o Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista.


Nos dias 18 e 20/04/2022, no horário das 19h45 às 21h30, virtualmente, foi realizado o 16o

Fórum Espírita do Livre-Pensar da Baixada Santista. Este fórum ocorre anualmente,

sempre no mês de abril, em referência a data da publicação de O Livro dos Espíritos.

Este ano a organização ficou a cargo das seguintes instituições: Centro Espírita Allan Kardec

– CEAK, Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado - CEBAP, Grupo Espírita Leon Denis -

GELD, Grupo Espírita Trabalho e Amor – GETA e o Instituto Cultural Kardecista de Santos –

ICKS. Com o apoio da CEPA – Associação Espírita Internacional e da CEPABrasil –

Associação dos Delegados e Amigos da CEPA no Brasil.


O tema central foi O CENTRO ESPÍRITA E A PANDEMIA, que foi desenvolvido em dois dias,

no primeiro abordando o “Como Foi” e no segundo “Como Será?”.


Nos dois dias a apresentação dos temas foram desenvolvidos em forma de painel com

representantes de cada instituição organizadora do evento. Cada um teve 10 minutos para

fazer sua apresentação, especificando a realidade e perspectiva do seu grupo. Ao final das

apresentações foi aberta a conversação com publico através de perguntas e proposições.


No primeiro dia, 18/04, sob a moderação de Jailson Lima de Mendonça, a atividade foi

iniciada com a apresentação de um vídeo contendo uma reflexão sobre a pandemia e uma

música e em seguida a abertura e boas vindas pela presidente da CEPA, Jacira Jacinto da

Silva.


Participaram do painel “Como Foi?” representando o CEAK – Sandra Régis, CEBAP – Míriam

Barros Moreira, GELD – Katia Cilene Guimarães da Costa Ferreira, GETA – Valter Pinto e

ICKS – Alexandre Cardia Machado.


Neste dia, os painelistas abordaram como foi o período de pandemia, as dificuldades no uso

de novas tecnologias, o distanciamento, expectativas, apresentando conteúdos, abordagens

e reflexões particulares, mas que ao final observou-se muitos pontos em comum a todas

instituições.


Link para acesso do dia 18/04/2022: https://www.youtube.com/watch?v=NIYRAO5mZdI

No segundo dia, 20/04, sob a moderação de Sandra Régis, a atividade foi iniciada com o

vídeo de um Coro/Música/Poesia que foi apresentado no XXIII Congresso da CEPA (outubro

de 2021) - Clamor da Terra (música de Rica Silva) e em seguida a abertura e boas vindas

pelo presidente da CEPABrasil, Ricardo de Morais Nunes.


Participaram do painel “Como Será?” representando o CEAK – Márcia Rahabani Elias,

CEBAP – Jailson Lima de Mendonça, GELD – Katia Cilene Guimarâes da Costa Ferreira,

GETA – José Marcos de Messias e ICKS – Alexandre Cardia Machado.

Os painelistas abordaram como será o pós pandemia, como estão se preparando para o

retorno, as dificuldades e suas perspectivas.


Link para acesso do dia 20/04/2022: https://www.youtube.com/watch?v=EbjRG66JYF8

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O ser humano é bom ou ruim por natureza ? por Marco Videira

 

O ser humano é bom ou ruim por natureza ?

Na parede do salão abobadado da ONU há uma tapeçaria com dois versos escritos pelo poeta persa Saadi – século XIII:

·         Os seres humanos são partes de um todo

·         Na criação de uma só alma e essência.

Plagiando o historiador Leandro Karnal digo: querida leitora e estimado leitor, caso esteja iniciando a leitura deste texto na intenção de encontrar uma resposta para a pergunta do enunciado, não perca o seu tempo, pois só tenho elocubrações....

Pensadores ao longo dos tempos se debruçaram sobre esta questão a respeito do comportamento dual do homem: bom x ruim (no Brasil de hoje, a discussão é se o homem é fascista ou comunista).

·         A seguir, algumas posições de pessoas que alegam que o homem possui, por natureza, um comportamento ruim:

Segundo o psicólogo francês Gustave leBom (1841-1931), durante uma época de crises, o homem desce vários degraus da escada da civilização; porém isso não foi confirmado por ocasião do bombardeio em Londres, provocado pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial. A população apesar do todo sofrimento continuou a vida normalmente. Numa das lojas destruídas pelos bombardeios havia um cartaz: estamos mais abertos do que o normal e num bar havia outro: nossas janelas foram destruídas, mas nossas bebidas continuam ótimas.

As ideias do biólogo holandês Frans de Waal (1948) vão ao encontro do que pensava le Bon, pois ele diz: a civilização não passa de uma fina camada de verniz que pode descascar ante qualquer provocação.

Desde a origem, o cristianismo também foi permeado por uma visão negativa acerca da natureza humana. Agostinho (354 – 430), o Pai da Igreja, ajudou a popularizar a ideia de que os humanos nasceram em pecado: “ninguém está livre do pecado e nem mesmo uma criança, cujo ciclo de vida na Terra é de um único dia”. Bastou nascer para você estar...danado.

Não foi só Agostinho que difundiu o lado mal da humanidade. João Calvino (1509-1564), que rompeu com o Catolicismo, disse: “nossa natureza não só é destituída e vazia de bem, mas também tão fértil e frutífera para todo o mal”.

O filósofo Thomas Hobbes (1558 – 1679) defendia que os seres humanos são motivados pelo medo, o que geraria uma situação de anarquia (guerra de todos contra todos), mas tal situação poderia ser aplacada se nos entregarmos, de corpo e alma, às mãos de um único soberano (cubanos e venezuelanos podem nos falar se isso é verdade...).

Temos que considerar que a visão de Hobbes a respeito da humanidade estava “contaminada” pelos fatos que ele vivenciou (peste em 1628 e a guerra civil de 1640).

 

·         A seguir, algumas posições de pessoas que defendem uma visão positiva a respeito do comportamento humano:

Para o filósofoJean-Jacques Rousseau (1712 – 1778)o homem é naturalmente bom e que só com o advento da civilização que teve início a nossa ruína. Ele considera que, a partir do momento em que o homem cercou um pedaço de terra e declarou, “isto é meu”, tudo se desmoronou.

Em 2007 a psicóloga KileyHamlin desenvolveu uma pesquisa com bebês de 6 a 10 meses no Centro de Cognição Infantil (Baby Lab) do Canadá, utilizando um espetáculo com duas marionetes. Um boneco apresentava comportamento de forma prestativa e o outro comportamentos maus. Após o espetáculo, os pesquisadores ofereciam aos bebês os dois bonecos e aquele que era bom, praticamente todos os bebês tentavam pegar.

Segundo o sociólogo e educador francês Pierre Bourdieu (1930 – 2002) o indivíduo é moldado desde o seu nascimento, passando por todas as etapas de escolarização, convivência familiar e comunitária. Cada pessoa forma inconscientemente o seu próprio capital cultural, aprendendo e incorporando o que viu, traduzindo tudo isso para a sua vida na forma de ações práticas. Ninguém pode dar aquilo que não tem.

·         O que o espiritismo no diz a respeito da natureza do homem ?

Para nós, espíritas, além de toda essa formação na vida presente, temos que considerar a “carga energética” trazida de vidas passadas. Em suma, o ser humano é algo extremamente complexo e às vezes, fazer o “simples” (agir em prol do próximo) se torna difícil.

Vejamos abaixo três passagens do Livro dos Espíritos que tangenciam o tema em pauta:

Questão 365 diz: “O espírito progride em insensível marcha ascendente, mas o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período da sua existência ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade”.

Na questão 768 (adendo) Kardec diz: “Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso, é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não insulados”.

A questão 779 vai ao encontro da questão 768, pois diz: “dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social”.

Dentro da linha sustentada pelo Espiritismo, o egoísmo, juntamente com o orgulho, são os grandes males da humanidade e, somente quando nos despojarmos do egoísmo, viveremos como irmãos, nos auxiliando reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que a vida moral for predominando sobre a vida matéria.

 

 

·         Considerações gerais

O lado positivo da pandemia Covid, se assim podemos falar em algo positivo, foram as inúmeras campanhas para arrecadação de alimentos e o engajamento de milhares de pessoas, incluindo aí os empresários, pois são membros da sociedade civil e não podem ser generalizados como exploradores dos pobres, como costuma ser o discurso da esquerda.

Aqui em Santos, durante o inverno do ano passado, participei como voluntário num programa social conduzido pela prefeitura local, que distribuía roupas para os moradores em situação de rua (não são moradores de rua, pois não nasceram na rua) e pude ver a quantidade de doações de roupas feitas pelos santistas, que carregam no brasão da cidade o lema: À Pátria ensinei a caridade e a liberdade.

Quando somos crianças estamos despojados de todos os preconceitos formados pela nossa convivência. Percebemos isso com clareza na resposta de uma criança para sua mãe, quando esta lhe pergunta se na sua classe havia alguém diferente, já sabendo que havia uma criança com síndrome de Down: “tem sim mamãepois se todas fossem iguais, os pais não saberiam achar os seus filhos na hora de buscá-los”.

Após a 2ª Guerra Mundial, a Marinha dos Estados Unidos para conquistar a boa vontade dos moradores do minúsculo atol chamado Ifallik no Oceano Pacífico, exibiu alguns filmes de Hollywood e tais filmes continham cenas de violência, o que provocou um estresse na população local, levando alguns nativos a ficar vários dias doentes. Anos depois, quando uma antropóloga chegou a Ifalik para um trabalho de campo, os nativos perguntaram se era verdade que nos USA havia pessoas que matavam outras pessoas...

A empresa de pesquisas World ValueSurvey realiza anualmente um levantamentoa respeito do nível de confiança das pessoas e faz aos cidadãos a seguinte pergunta: “em média, você acredita que as pessoas são confiáveis”? Na última pesquisa, o Brasil teve o percentual de 5%, contra 70% na Noruega, ou seja, considerando esse baixo percentual é possível entender o descrédito, principalmente, em relação à classe política. Nem tudo está perdido, pois a pandemia mostrou que as pessoas aderiram à campanha de vacinação e ao uso de máscaras, apesar de que alguns ignorantes (aquele que ignora) acharem que era uma gripezinha...

Mudar sua visão sobre a natureza humana, olhar para os humanos de uma forma radicalmente nova, implicará consequências para sua própria vida.

No início do texto disse que não tinha respostas para o enunciado, mas ao encerrar o mesmo, cheguei à mesma conclusão da Anne Frank, uma adolescente judia,  que escreveu um diário, enquanto conseguiu sobreviver escondida dos alemães na Holanda:

“É espantoso que eu não tenha abandonado todos os meus ideais, que parecem tão absurdos e impraticáveis. Mas eu me apego a eles porque ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas são realmente boas de coração” - Anne Frank (1929-1945).

Obs.: o texto acima foi calcado no livro Humanidade – uma história otimista do homem – Rutger Bregman, e, em alguns momentos, cópias literais foram utilizadas. No livro, o autor relata uma série de experimentos que queriam provar a “natureza má” do homem; porém ao longo da história, o autor vai em busca de vários desses experimentos e ao revisitá-los encontra muitas falhas. Infelizmente, até hoje prevalece os dados iniciais dos experimentos, que continuam a alimentar uma visão negativa a respeito do homem. O autor relata as dificuldades encontradas para publicar a sua obra e “demonstrar” a natureza boa do homem.

 

Marco Videira é administrador, Presidente do Conselho da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda e reside em Santos

Artigo publicado no Jornal Abertura de abril de 2022 - quer acessar o jornal completo:

https://cepainternacional.org/site/pt/component/phocadownload/category/22-jornal-abertura-2022?download=147:jornal-abertura-abril-de-2022


A Tragégia da Boate Kiss por Milton Medran Moreira

 

Opinião em Tópicos

 

                A TRAGÉDIA DA BOATE KISS

                Nove anos após o acontecido, os responsáveis pela tragédia da Boate Kiss, de Santa Maria/RS, começam a ser julgados pelo Tribunal do Júri.

                No incêndio de janeiro de 2013, morreram 242 pessoas, a maioria delas jovens de 20 a 30 anos, restando com sequelas mais de 600 outras.

                Como sempre acontece, quando de tragédias coletivas, intérpretes de plantão da lei de causa e efeito, dando a ela uma exegese linear, vingativa e cruel, não hesitaram em atribuir às vítimas a condição de verdugos do passado. Todas elas, atraídas pela draconiana “justiça divina”, que com fogo fere quem com fogo feriu, teriam purgado, naquela noite, as culpas que lhe incendiavam a alma, agora vendo incendiados seus próprios corpos jovens, em plena flor de uma nova encarnação.

                A “JUSTIÇA DIVINA RETRIBUTIVA”

                Ora, se assim fosse, os empresários e músicos que agora sentam no banco dos réus, ao darem causa à terrível tragédia, já estariam, de igual forma, plasmando uma futura encarnação na qual, eles próprios, terão de resgatar, com idênticos sofrimentos, o que infligiram às suas vítimas. Que “justiça divina” é essa que pereniza, encarnação após encarnação, mecanismos de pena retributiva, num infindo círculo vicioso?

                Pior que isso: aquele incêndio não teria punido apenas suas vítimas diretas. Perder um filho em circunstâncias assim implica em sofrimento de tal intensidade aos pais que, presume-se, supera, inclusive, a dor de quem parte. No caso, uma cidade inteira sofreu intensamente. Santa Maria é um grande centro universitário para o qual acorrem jovens das mais diferentes regiões. Nosso Estado, particularmente, e o mundo inteiro, viram as cenas dantescas do incêndio e não houve quem não se comovesse com a tragédia. Todos os que sofremos com isso estaríamos, diante do raciocínio linear da “justiça divina retributiva”, pagando débitos do passado?

                DORES QUE NÃO SE PODE MEDIR

                O tempo decorrido já deve ter amenizado um pouco a dor dos familiares das vítimas. Estes formaram uma associação de apoio e assistência mútua. Correto! A dor sofrida solidariamente é mais facilmente administrável. Mesmo assim, à luz do pensamento espírita, um aspecto me preocupa: o papel, aparentemente central, assumido pelos familiares, qual seja o de agravar o mais possível a pena a ser aplicada aos acusados.

                Impressionou-me uma entrevista dada por um dos réus que, inclusive, já esteve temporariamente preso. Ele diz que, decorridos nove anos, a tragédia está permanentemente em seu pensamento. Dorme e acorda com as cenas daquela madrugada. Nunca mais conseguiu sequer trabalhar. Não há divertimento, lazer ou consolo capazes de afastar a dor que lhe ficou na alma. Poderá haver pena maior?

                JUSTIÇA E VINGANÇA

                Embora a mim pareça tratar-se de um crime de natureza culposa (quando o agente dá causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia), a definição jurídica finalmente dada ao delito foi a de dolo eventual (quando o agente, mesmo não querendo o resultado, assume o risco de produzi-lo).

                Aceita a tese dolosa, os réus deverão ser condenados a longos anos de prisão. E aí a pergunta que me faço: que benefício esse encarceramento poderá trazer à sociedade, aos acusados, aos familiares das vítimas, a elas próprias (se estas, em outra dimensão, ainda se preocupem com isso)?

                Tantos anos envolvido com questões de direito conjugado com a reflexão espírita, penso que o cometimento de um erro, sejam quais forem suas consequências – e aqui elas foram particularmente trágicas -, gera proporcional sofrimento ao transgressor.

                Chego a esta fase amadurecida de minha encarnação com um convencimento acerca do complexo problema crime/castigo: a prisão, via de regra, é medida inócua. O encarceramento de alguém só se justifica como defesa social e não como instrumento de retribuição do mal com o mal. A vida tem mecanismos naturais de sofrimento, aprendizado e recuperação só alcançáveis pelo exercício do amor e do perdão.

 Justiça sempre. Vingança jamais!

Artigo publicado no Jornal Abertura -dezembro de 2021

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Em janeiro de 2017 este blog publicou um artigo de Roberto Rufo - Tragédia de Santa Maria e os nossos filhos. Você pode revisar aqui neste link:

https://www.blogger.com/blog/post/edit/8190435979242028935/7961016368892947702