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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

As mulheres continuam morrendo. Deixam filhos. Alguém está preocupado? por Roberto Rufo

As mulheres continuam morrendo. Deixam filhos. Alguém está preocupado?


Em Reportagem Especial do Jornal O Estado de São Paulo de nome "Os Órfãos do Feminicídio"  somos informados que em pelo menos dois terços dos casos de feminicídio, a mulher assassinada é mãe. Na maioria das vezes deixa dois filhos e em 34% dos casos , pelo menos três. Os dados são de um estudo da Universidade Federal do Ceará que acompanha um grupo de 10 mil famílias vítimas de violência em nove Estados do Nordeste. O trabalho está sendo ampliado para mais quatro Estados : Rio Grande do Sul , Goiás, Pará e São Paulo. O número de órfãos , vítimas do feminicídio, deve aumentar significativamente quando esses dados tiverem sido coletados. Pode-se afirmar isso com uma certeza quase absoluta, pois o número de mulheres mortas em São Paulo bateu recorde em Agosto/2017.

Alguém está preocupado? O Judiciário está preocupado? Os nossos legisladores, em sua maioria homens , estão preocupados ou no momento o importante é salvar suas cabeças?

O Espiritismo jamais aceitará qualquer tipo de teoria que coloque a mulher em situação de inferioridade em relação ao homem. Como dizem os espíritos, somente entre homens pouco avançados do ponto de vista moral a força faz o direito. A instituições tais como a FEESP, a FEB, a USE e a CEPA estão preocupadas com esse quadro assustador do feminicídio? Já se manifestaram oficialmente em defesa da mulher? Se não o fizeram correm o risco de serem confundidas com as religiões neopentecostais, representadas por um pastor que ouvi um dia desses na televisão dizendo que a mulher não foi feita do pé do homem para estar debaixo dos seus calcanhares, contudo não foi feita da cabeça do homem para terem posição de mando no matrimônio . Foram feitas da costela do homem, diz o pastor, para ficarem numa posição subalterna a do homem . Aí fica difícil lutarem contra o feminicídio , que ao mais da vezes são consequência de posições independentes assumidas por algumas mulheres corajosas. Muitas pagam caro por isso. 


                                                                                                                                           Roberto Rufo .

                                        

sábado, 29 de abril de 2017

Os três anos que mudaram o Brasil - por Alexandre Cardia Machado

Os três anos que mudaram o Brasil

Não há como parar de pensar em como a operação da Polícia Federal denominada Lava-Jato mudou o país, e refletir no porquê chegamos a este ponto e no que mudará após o seu término?

Começaríamos listando uma série de acontecimentos relacionados à operação Lava-Jato:
Escândalo envolvendo altos escalões do governo, mostrando um descontrole proposital ou não na gerência das empresas do governo. Não foi a causa básica mas contribuiu para o impedimento  da Presidente da República.

Os ex-presidentes do Senado e da Câmara foram removidos do cargo, sendo que o ex-presidente da Câmara dos Deputados já foi condenado em primeira instância.
Dois ex-governadores do mesmo estado, presos no mesmo dia.
Muitos empresários de sucesso e as diretorias de grandes construtoras foram presos e condenados.
Dezenas de políticos acusados, em delações premiadas.
Foro previlegiado de parlamentares em discussão.
Vários parlamentares que já perderam o mandato.
Incontáveis Ministros de Estado precisaram deixar o cargo por serem acusados ou por tramarem contra a operação Lava-Jato são alguns exemplos disto.

Mas o que isto afeta o cidadão comum. Como nós leitores do ABERTURA reagimos a tudo isto, e o país de uma forma geral?

É evidente que nem todos reagem da mesma forma, uns acham que a legislação existente hoje é ainda muito frouxa, permitindo brechas para os que buscam vantagem ilegal, outros entretanto, pensam que foi dado poder demais para a Polícia. Tudo isto porque a avalanche de corrupção nos deixa atordoados, culpar a polícia seria equivalente a culpar o guarda por nos multar, quando estamos com excesso de velocidade. A origem da multa está no egoísmo e não no controle exercido pelas autoridades.

Estamos todos mais atentos e isto nos fortalece como sociedade. Todas as grandes coorporações se já não dispunham de um sistema de “compliance” ou integridade passaram a adotá-los. Esta é uma mudança importante.

Poderá acontecer uma mini reforma do legislativo, alterando as regras de formação de chapas de candidatos  ao parlamento e a forma de  financiar campanhas, mas nada disso funcionará se não passarmos a acreditar que realmente temos vóz, que somos ouvidos e respeitados.

Acreditamos que pouco a pouco é maior a percepção de que o crime, pode não compensar. 

Especialmente esta classe de crime de colarinho branco que quase nunca se dava mal. Isto mudou.
Como tudo terminará, quantos anos mais teremos de conviver com estas notícias é uma resposta que não saberíamos dar, mas fica a convicção de que ao passarmos por isto geraremos uma Nação.

Tomando as palavras de Allan Kardec, nossas esperanças estão depositadas nas novas gerações que estão encarnando na Terra,  sejam elas “ compostas de Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que tragam disposições melhores, há sempre uma renovação ... “. Que nossos jovens absorvam tudo o que está acontecendo e tirem disto uma lição,  conseguindo a partir desta vivência seguir um caminho mais positivo. Tornando  sua vida mais proveitosa e mais focada no bem comum, menos imediatista e egoísta.


As novas gerações trazem este potencial renovador, com mais disposição, pois a velha guarda de hoje, fracassou, esqueceu os seus sonhos de juventude na amargura da busca do luxo, sem ética.

NR - texto originalmente publicado no Editorial do Jornal Abertura de Março de 2017

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O MITO DO PROGRESSO por Roberto Rufo e Silva

O MITO DO PROGRESSO

“O progresso roda constantemente sobre duas engrenagens. Faz andar uma coisa esmagando sempre alguém”. (Vitor Hugo).

“O progresso, sendo uma condição da natureza humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opor”(Allan Kardec).
 Andrew Jackson foi um advogado e político americano. Foi o sétimo presidente dos Estados Unidos, de 1829 a 1837.  Jackson foi uma figura polarizadora, que dominou a política americana dos anos 1820 aos anos 1830. Sua ambição política, combinada com a ampliação da participação política por mais pessoas moldaram o moderno Partido Democrata. Famoso pela sua dureza, ele era apelidado de”Old Hickory”(Velha Nogueira).Talvez o aspecto mais controverso da presidência de Jackson tenha sido a sua política em relação aos índios americanos. Jackson foi um líder defensor de uma política conhecida como Indian Removal (Remoção Indígena). Enfim, Jackson imprimiu um grande progresso material aos EUA, todavia a um custo elevado de vidas indígenas, cujas terras possuíam riquezas minerais que precisavam ser exploradas.

Há palavras que adquiriram com o tempo um significado totalmente positivo, colocando suas palavras antônimas em situação de desprestígio. Progresso é uma delas. Quando se diz que um sujeito é progressista, logo definimos que”lá vai um cara bom ajudando o mundo”. Quanto ao seu contrário, o sujeito dito conservador, logo afirmamos que “lá vai um cara que não deseja um mundo melhor”. Isso acontece também na relação otimista/pessimista. Dizia um professor que o pessimista só é otimista quanto ao futuro do pessimismo.

Mas será mesmo que todo”progresso”( científico, social ou material ) é realmente um passo a mais na evolução espiritual, ou temos comido muito gato por lebre? 

 A Doutrina Espírita na sua Lei do Progresso nos oferece um balizador interessante quando os espíritos em resposta à pergunta 779 nos falam que o progresso tem que se fazer pelo contato social e que todo progresso intelectual tem que estar embasado num progresso moral, que infelizmente nem sempre o segue imediatamente. É isso que nos interessa conceituar quanto à Lei do Progresso. Outras afirmações, tais como, de que existem povos rebeldes que se colocam contra o progresso (os índios americanos por exemplo) e que por isso serão naturalmente aniquilados de alguma forma são datadas e ultrapassadas. Além disso os espíritos complementam seu pensamento dizendo que nós mesmos, os civilizados, um dia fomos rebeldes. Hoje já não se aceita mais essa relação”civilizados/selvagens”.

Atualmente o ser humano consegue destruir um”campo rebelde”em Alepo na Síria com foguetes teleguiados por satélites com uma margem de erro de aproximadamente três metros do alvo a ser atingido. Será isso um progresso? Mesmo assim às vezes os foguetes erram o alvo e acabam atingindo escolas ou hospitais com consequências dramáticas. Mas não percamos a esperança , novos ”progressos”virão e não erraremos mais o alvo. 

Em seu livro”O Mito do Progresso”, Gilberto Dupas não sem razão nos alerta que esse discurso dominante de que todo progresso é bom, traz também consigo a justificação indevida à exclusão, à concentração de renda e aos graves danos ambientais. A Doutrina Espírita nesse ponto é esclarecedora ao colocar o orgulho e o egoísmo como o maior obstáculo ao progresso. Faço aos leitores a indagação do Professor Gilberto Dupas :”O que significa, afinal, a palavra progresso no imaginário da sociedade global que vive o início do século XXI”?

Para o autor o que definitivamente consolidou a ideia contemporânea de progresso foi a revolução provocada por Darwin com sua Origem das Espécies, publicada em 1859.  A partir daí, nos ensina Dupas, o mundo produziu uma vasta literatura em ciência social em que progresso era sempre suposto como axioma. Ou seja, diz ele, a ideia de progresso permeou a quase totalidade da obra de Hegel, estruturada sobre a dialética, que seria uma fonte propulsora infinita do progresso.
Um dia ainda escreverei um artigo intitulado”O Mito da Dialética”. O Espiritismo dito progressista, a meu ver,abraçou em demasia esse mito como sendo algo intrínseco e inerente ao discurso espírita.  Marx também acreditou profundamente no progresso histórico e inexorável da humanidade.

Faz-se necessário um pouco de descrença nesse mito do progresso como algo essencialmente bom. Vamos voltar a ler Schopenhauer, Kierkegaard, pois um pouquinho de”pessimismo”é salutar. Duvidemos do que nos parece óbvio. Após a queda do socialismo real, passou-se acreditar que só existe um tipo de progresso. Alguém preconizou até que seria o fim da história.  
                                              
Faço uma pergunta a vocês : quem pode se dizer otimista e acreditar piamente de que qualquer sociedade complexa só se viabiliza pela auto-regulação da economia de mercado? Uma fábrica nos EUA pagava 20 dólares a hora aos seus empregados. Seguindo as leis do mercado transferiu-se  para o México, onde pagava 5 dólares a hora. Aperfeiçoando-se ainda mais pelas regras do mercado, agora impostas pela China, mudou-se para lá onde paga agora  2 dólares a hora. Podemos falar em progresso? Se sim, como fica o tal avanço moral? Causou desemprego nos EUA, aumentou o”círculo da ferrugem”em seu país (pesquisem), alimentou o trabalho aviltante na China e por tabela ajudou a eleger o Donald Trump, que soube explorar habilmente essa situação. 

Finalizo passando a vocês uma tarefa. Leiam por favor com atenção a resposta dos espíritos e os comentários de Kardec à pergunta 793. (Por quais sinais se pode reconhecer uma civilização completa?). É ótimo.


                                                                                                                                                   Roberto Rufo.


domingo, 12 de fevereiro de 2017

Pau que nasce torto as vezes se endireita - por Alexandre Cardia Machado

Pau  que nasce torto as vezes se endireita

Gostaríamos de falar de uma iniciatva que já conta com 10 anos, trata-se do Prêmio Trip Transformadores – realizado pela Revista Trip, neste ano padrocinada pelo Grupo Boticário junto com outros onze co-patrocinadores. A ideia do prêmio veio de Paulo Lima, Editor – Presidente da revista.

Este Prêmio tem por objetivo identificar, brasileiros capazes de recriar a noção de desenvolvimento humano, transformando a realidade. Isto tem tudo a ver com o Jornal Abertura, onde sempre que possível buscamos chamar a atenção para aqueles que fazem algo de bom pela sociedade, aqules que demonstram o Caráter do Homem (ou Mulher) de Bem.

A revista, em edição especial, impressa em papel reciclado, em seu editorial escreve o que buscamos destacar aqui: “Você acredita no Brasil? Deveria. Por alguns minutos desapegue-se das imagens mal construídas do país que você vive. Esqueça a corrupção de colarinho branco que parece minimizar a honestidade de um povo. Acredite que há mesmo quem tira dinheiro do bolso para ajudar os outros. Conteste com veemência a máxima de que pau que nasce torto nunca se endireita. Quem contou isso para você mentiu.”

Li a revista, num voô entre Porto Alegre e São Paulo, leitura fácil, as pessoas que lá foram reconhecidas são muito diferentes umas das outras, o que elas tem em comum é o fazer acontecer as mudanças, no campo social, na cultura ou na transformação para melhor do mundo ao seu redor.
Escolhi um caso que bem representa o que no Espiritismo chamamos do progresso que o Espírito experimenta em sua encarnação, nunca é tarde para mudar. Ainda que mais raro, é possível sim mudar alguém que está em um presídio, ou que caminhou no mau, por muito tempo, não há uma solução única, mas se oferecermos alternativas, alguns conseguirão melhorar. Jacira Jacinto da Silva, Presidente da CEPA, em seu livro Criminalidade: Educar ou Punir, assim se refere à situações semelhantes a que busco mostrar aqui: “ As lições do espiritismo nos ensinam a enxergar que todas as pessoas, incluíndo as que nasceram e cresceram sem oportunidade, e até mesmo as que cometeram infrações graves à ordem social, têm perspectiva de sucesso, pois fomos criados para aprender e crescer indefinidamente”.

Escreveremos sobre Luiz Alberto Mendes, escritor e colunista da revista Trip, autor de 6 livros, esteve preso por 31 anos no presídio do Carandirú, na cidade de São Paulo, tendo o peso sobre si de pelo menos dois assassinatos. Saiu de casa aos 12 anos, para fugir de um pai alcólatra que batia na esposa e nos filhos, vivendo nas ruas até os 19 anos quando foi preso. Não se importava com nada, não via perspectiva na vida. Assim passou um bom tempo na cadeia, até que veio a epidemia de AIDS, nos anos 80 do século passado, que infestou os presídios.

Luiz relata que não havia profissionais de saúde em número suficiente no Carandirú e por um impulso ele resolveu se importar com aquilo e fazer algo no presídio, foi ajudar no cuidado aos pacientes. Foi quando uma conheceu uma enfermeira travesti que gostava muito de ler. Ali surgiu uma amizade.Ela foi a primeira a lhe mostrar a importância da leitura. 

A transformação foi imediata, do não fazer nada o dia inteiro, passou a ser um leitor voraz, passou a ler 10 horas por dia. Em meio a dor e a agonia do presídio conheceu a obra de Jean Paul Sarte, a quem admira, mas a quem se propõe  discordar, Sarte disse “ O inferno são os outros” ele contesta “ O inferno é a ausência dos outros”. Esta reflexão demonstra que ele foi capaz de perceber que a importância da relação com o outro, perceber a importância da outra pessoa nos humaniza.

O conhecimento melhora a vida, desde que não seja ornamental, ou seja apenas para distração. A leitura tem o potencial de ser um transformador de estrutura mental e por consequência fazer com que passemos da ideia à ação.

Pesquisando um pouco mais encontramos uma entrevista de Luiz Mendes, onde ele explica um pouco melhor como iniciou o interesse pela leitura e a explicação para a frase colocada acima.

O contato começa com uma mulher que trocava conversa comigo por cartas. Essa história tem início bem antes, pois quando fui preso eu não sabia escrever carta direito e um amigo me ensinou a escrevê-la, com rascunho e eu passava a limpo para enviar à minha mãe. Então chegou um momento em que comecei a modificar a carta, porque eram relatos íntimos com minha mãe, até que num ponto comecei a escrever sozinho. Fui escrevendo para outras pessoas também até chegar nessa professora, que morava no Rio de Janeiro, estava se formando em Letras, gostava de literatura e me mandava os livros importantes para eu ler. Os primeiros livros que eu me apaixonei foram os de Érico Veríssimo.”
Este relato, lembra um pouco o que descrevem os romances espíritas, onde as palavras de amor, e de esclarecimento, abrem um espaço na mente do espírito, por onde o amor penetra. Não foi bem assim com Luiz, demorou um bom tempo, em suas próprias palavras, já bem mais maduro afirma, “não foram os livros que me salvaram, mas as pessoas que me enviram os livros”. Esta frase denota toda uma perspectiva filosófica e não mítica de Luiz. 

Em algum momento a ação transformadora da leitura, transformou Luiz em um ser moral que se preocupa com o bem estar e os direitos dos outros.

Luiz Mendes hoje dá palestras, ajuda com seus livros outras pessoas a sair da marginalidade, ele não é espírita, o texto não tem nenhuma referência a religião, pela proximidade com Sarte, tudo leva a crer que seja materialista. Mas seja como for o Espírito tem em si mesmo o impulso do progresso e mais uma vez parafrasiando Sarte “ Liberdade é o que você faz com aquilo que aconteceu com você”.

 A lei do progresso é de ação permanente pois sempre queremos, ou almejamos algo a mais para nós mesmos ou para a nossa sociedade.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A poética das vidas intinerantes - Por Ciro Pirondi

A Poética das Vidas Itinerantes


Ciro Pirondi*


O olhar estético sobre a existência comumente é associado à dimensão do desnecessário, do supérfluo. Nosso comprometimento com a lógica, com a razão, ensinou-nos a ver na estética, no belo, seus contrários. “Não precisa ser belo, deve funcionar...”, frase comum de ouvirmos no cotidiano das pessoas.

Ciro Pirondi


A “eficiência” toma conta do mundo, do Homem Máquina, razão, capaz de entender tudo, construir máquinas cada vez mais perfeitas, em uma sociedade comprometida com a produção em série, com o desespero pelo consumo priorizando o crescimento econômico. Tratamos cada vez mais a educação como se seu objetivo principal fosse ensinar os alunos a serem economicamente produtivos, ao invés de ensiná-los a raciocinar criticamente e a se tornarem cidadãos instruídos e compreensivos. A perda dessas capacidades básicas põe em risco a saúde das democracias e a esperança de um mundo decente. Somos uma máquina de ansiedade, ligada no automático, em uma sociedade desorientada.
O homem máquina é consequência de um sistema de valores baseado no lucro e no sucesso individual. O trabalho, via de regra, é punitivo e a insegurança consome nossas energias.
Nesse contexto da máquina como espelho, não podemos admitir o erro com um olhar acolhedor, e entender que falhar nos ajuda a crescer e construir um caminho com múltiplas possibilidades. Difícil pensar assim em uma sociedade na qual a palavra de ordem é eficiência. Somos uma engrenagem constituída para produzir sem reflexão, sem questionar. Esquecemos do velho provérbio indiano sobre a transformação: “A nuvem bebe água salgada e chove água doce”.

Livreto distribuído pelo autor no XIV SBPE


Estamos com o botão da reflexão crítica desligado.

Esse estado de cegueira está nos levando a desconfiar do futuro; no entanto, o mundo só melhorou. A média de longevidade ampliou-se muito; as tecnologias diminuíram o trabalho braçal; os meios de comunicação encurtaram a distância entre os homens; pensamos com muita seriedade na possibilidade de construirmos cidades e civilizações em outros planetas.

Habitar o universo.

Contraditoriamente, no entanto, não diminuímos a distância entre ricos e pobres; marginalizamos as mulheres; praticamos chacinas como as de Osasco; discriminamos as minorias; o poder está nas mãos de incapazes...

A aflição de nossa solidão, como descreve o sublime Garcia Márquez, nos faz continuar buscando nossa Macondo ou com Homero, a eterna travessia de Odisseu (o Ulisses romano), em sua jornada pelos mares revoltos. Vezes em lugares mágicos. Vezes em situações terríveis, a nos mostrar ser mais importante na travessia da vida, não onde vamos chegar ao final, mas a maneira como seguimos por ela.

Se optarmos por seguir como máquinas, talvez “a máquina do Mundo”, como no belo poema de Drummond, nos destrua. Mas se amplificarmos as fronteiras do que ainda temos para
descobrir, inventar novas alternativas, com serenidade e sabedoria e entendermos que todo excesso nega o fim proposto, desenhando os caminhos do meio de Buda, não permitindo que o crescimento econômico sirva apenas para destruir a natureza; criar profundas desigualdades, descontentamento e violência entre os desfavorecidos e marginalizados.

O que importa saber é: quais são os ideais políticos, éticos deste homem máquina? Se ele pretende ou ajuda construir uma sociedade justa, humana e compassível?

Penso ser a possibilidade de vidas itinerantes uma alternativa possível.

Fundamento este raciocínio na dimensão de tempo que esta alternativa possibilita. Tempo onde todo o universo flui e se insere; incluso a vida, as fragilidades e sua rapidez.

Como é possível apenas 80 ou 90 anos para aprendermos os conhecimentos já descobertos? Como podemos educar nossos ouvidos e vistas às belezas da música e das artes em apenas 80 anos?

O Espiritismo, como é natural para o período no qual ele surgiu; apostou todas suas reflexões na lei de causa e efeito de maneira cartesiana, ou seja, a toda ação corresponde uma relação direta e imutável, muito ainda influenciada pelo conceito de punição e pecado. E, em um segundo preceito, o da supremacia da razão. Razão pura, Kantiana, crítica e único caminho possível para evoluirmos e encontrarmos a plenitude da vida.

O século XX e XXI nos inundou de outras possibilidades.

Pierre Lévy em seu texto “Inteligência coletiva” afirma: ‘Hoje, o Homo sapiens enfrenta a rápida modificação de seu meio, da qual ele é o agente coletivo, involuntário’. Sugere a via da inteligência coletiva. Tenho a intuição ser este o caminho capaz de produzir novos sistemas de signos, nova forma de organização social, e regulação que nos permitiriam pensar em conjunto.

Nossas forças intelectuais e espirituais multiplicaram nossas imaginações e experiências.

Aprenderíamos, aos poucos, diz o filósofo, a “nos orientar num cosmo em mutação”.

A razão, por si, como pensávamos no século XIX, não basta. A vida é mais bela e complexa. Não cabe em uma lei que pretendia ser totalitária e completa.

Arthur Conan Doyle, por exemplo, um escritor de inteligência iluminada e com uma imaginação invejável, com seu principal personagem - Sherlock Holmes -, chega a afirmar em seu livro “A História do Espiritismo”, que se a reencarnação não fosse uma verdade, precisaria ser inventada para satisfazer a razão. Mesmo um homem de brilho raro como ele, joga tudo na razão.

As reflexões apresentadas aqui no Simpósio Brasileiro do Pensamento Espirita visam compartilhar e apontar a possibilidade de acrescermos a dimensão poética da existência, conjuntamente à razão, à lógica tão valorizada nos meios acadêmicos e espíritas.

Compreendermos e valorizarmos, de verdade, as descobertas artísticas; educarmos nossos ouvidos para percebermos nas sonatas de Mozart tanto valor para o desenvolvimento humano, quanto nas descobertas de Newton ou Einstein; ele mesmo um exímio violinista que afirmava serem elas, as sonatas de Mozart, a expressão mais próxima de sua concepção de desenho do universo.

Se em alguns milênios o Homo habilis tornou-se sapiens, rompeu uma barreira, lançou-se no desconhecido, inventou a Terra, os deuses e o mundo infinito de significação, o que proponho aqui é inventarmos, uma inteligência coletiva, capaz de associar Razão e poética à dimensão das vidas itinerantes. Criarmos uma nova linguagem para o Espiritismo. Este é o nosso principal desafio para este século, cujo resultado não veremos, pois as mudanças de linguagens são obras de gerações.
Mas devemos intuir algo novo. Podemos e desejamos, por pura alegria, contar aos “outros” o quanto é bom e leve sabermos sermos seres projetados no tempo, termos o Universo como nossa casa, e não apenas este pedaço de Terra.

Entendermos de maneira dialética, sabedores desde futuro, ser o presente, tudo o que temos, o mais importante a ser vivido, experimentado. A felicidade não está fora de nós e eu um outro tempo. Com a dimensão poética das vidas itinerantes nos educaremos, onde, com quem e com o que temos hoje.
Em “Emílio ou da Educação”, Rousseau escreve: ‘Cada um perceberá que a própria felicidade realmente não está em si, mas depende de tudo aquilo que o circunda’. Mais tarde, a propósito da felicidade, Marx irá mais longe: ‘A experiência define como felicíssimo o homem que tornou feliz o maior número de outros homens... Se escolhemos na vida uma posição em que possamos melhor operar pela humanidade, nenhum peso nos pode envergar, porque os sacrifícios são para o benefício da humanidade; então, não provaremos uma alegria mesquinha, limitada, egoísta, mas a nossa felicidade pertencerá a milhões de pessoas, as nossas ações viverão silenciosamente, mas para sempre’. (DE MASI, 2014).

Em uma passagem de Fedro, na qual Platão descreve Sócrates que, já ancião e cansado, durante uma abafada tarde de verão se protege num lugar sombreado e aprecia toda a simples fruição que o local oferece: “Ah! Por Hera, que lugar magnífico para se fazer uma pausa! O plátano oferecendo uma sombra maravilhosa! Em plena floração, como está, o lugar não poderia ser mais perfumado. E o fascínio ímpar desta fonte que corre sob o plátano, a frescura da sua água: basta pôr o pé para me assegurar... E diga-me, por gentileza, se o ar puro por aqui se respira não é desejável e extraordinariamente agradável! Clara melodia do versão que faz eco ao coro das cigarras. Mas a mais saborosa dentre essas belezas é este prado, com a natural doçura da sua inclinação, a qual permite, quando nele se deita, que a cabeça fique numa posição perfeitamente confortável” (DE MASI, 2003).
Não concluo, pois é impossível concluir, apenas intuo ser urgente pensarmos associar à tese das vidas itinerantes, além da necessária exploração científica da razão e dos relacionamentos com novas descobertas da neurociência, das pesquisas sobre o cosmo, a educação com os aspectos da poética na construção do Homem espiritual e eterno.

BIBLIOGRAFIA

 DE MASI, Domenico. O futuro chegou – Modelos de vida para uma sociedade desorientada. [tradução Marcelo Costa Sievers]. 1ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.
 DE MASI, Domenico. Criatividade e grupos criativos. [tradução Léa Manzi e Yadyr Figueiredo]. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.


* Ciro Pirondi é Arquiteto e Urbanista. Graduado em Arquitetura e Urbanismo (1980), possui doutorado (1980/1982), pela Escola Técnica Superior de Arquitetura – Universidade Politécnica de Catalunya – Barcelona – Espanha. Diretor da Escola da Cidade – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (SP), desde 2002 até o momento. Conselheiro da Fundação Oscar Niemeyer, Casa de Lúcio Costa, Instituto de Arquitetos do Brasil e do IBAC (Instituto Brasileiro de Arte e Cultura). Escritório próprio desde 1983 (Ciro Pirondi Arquitetos Associados).

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Por Que Somos Simplesmente Humanos! por Jacira Jacinto da Silva

Por Que Somos Simplesmente Humanos!

Jacira Jacinto da Silva




“Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes?
– Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre” (O Livro dos Espíritos, q. 931).

Uma rápida pesquisa sobre a biografia das maiores celebridades da história, de qualquer área: ciência, arte, esporte, religião, política, ou outra, revelará que o(a) investigado(a) não pode ser considerado unanimidade, não estava “acima do bem e do mal”, tinha, ou tem, seus defeitos, e não raro apresentava, ou apresenta, alguma característica um tanto estranha aos padrões usuais.

As pessoas trabalham, lutam, buscam o aperfeiçoamento pelo estudo, pela reflexão e a conscientização, mas o estágio da humanidade terrena não induz perfeição, donde se inferem naturais as atitudes muitas vezes mal sucedidas, que denominamos erros. Somos humanos, sendo natural que não acertemos sempre e não podemos esperar perfeição dos outros. Mauro Spinola  diz que cada um dá o que tem.

Todos os dias e em todos os momentos fazemos escolhas; viver é decidir se já é hora de comprar um carro, ou trocar o que temos; se devemos investir em algum negócio, se deveríamos mudar de emprego, se caberia diminuir a carga de trabalho, fazer ou não uma viagem, e até se deveríamos visitar uma pessoa, ou comer algo diferente. Evidentemente, dessas escolhas decorrem consequências, às vezes boas, às vezes razoáveis e pode ocorrer de serem péssimas; muito desastrosas.

Também é certo que todas as nossas ações têm reflexos, não só influenciando os outros, como os atingindo diretamente. E como temos reagido ao sermos atingidos pelas consequências ruins das escolhas das outras pessoas? Certamente, muito mal. Lógico, inadmissível que alguém seja tão irresponsável a ponto de não se preocupar com as consequências dos seus atos; todos deveriam cursar “MBA (Mestre em Administração de Negócios) para aprender a gerenciar riscos” e ninguém, absolutamente, ninguém, portanto nós também, tem o direito de causar mal a outrem.

Nós achamos que estamos sempre corretos, mas deveríamos meditar sobre a seguinte frase atribuída a René Descartes:Não há nada no mundo que esteja melhor repartido do que a razão: toda a gente está convencida de que a tem de sobra” e não esquecer um só dia desta outra proposição do mesmo pensador: Humanamente não existe um ser feliz sem que o outro também seja.

Muito provavelmente esteja nessa última frase a melhor de todas as explicações para o texto epigrafado, extraído de O Livro dos Espíritos. Realmente, nenhuma pessoa, de nenhuma classe social, é perfeitamente feliz, estando o sofrimento por toda parte. A desigualdade social impõe aos que vivem à margem dos bens materiais toda sorte de privação, implicando naturalmente em dores morais como o preconceito e a discriminação. As classes privilegiadas também amargam suas dores; debatem-se no antro da inveja, do ciúme, do egoísmo, da doença física e mental, do crime, dos vícios etc.
Os espíritos encarnados na terra revelam uma variação muito grande de evolução, talvez em infinitos graus, disso resultando o convívio entre pessoas que se doam a causas altruístas, como Irmã Dulce, e que destroem a paz social, como Marcola, no mesmo país, sob as mesmas leis, formados em culturas muito similares. Mas são extremos, por que a maioria dos humanos não está na posição de Irmã Dulce, tampouco na de Marcola, navegando no mesmo barco daqueles que venceram determinados vícios, mas não se desapegam de outros; que lutam contra a própria natureza diariamente, buscando vencer a ignorância, a maldade, a inveja, a gula, a hostilidade, a avareza, a vaidade exagerada, a tentação de enganar, de se prevalecer, a arrogância etc. etc. etc.

Então, por que será que mesmo estando nós nessa condição de relativa igualdade, é tão notória a nossa intolerância com a dificuldade do outro, como se superar limitações fosse tarefa exclusiva dos outros?

A pergunta tem muito a ver com a resposta à questão de Kardec, que termina assim: Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre. Talvez no mencionado tempo a sugestão de Descartes faça sentido; por enquanto, essas dificuldades ocorrem por que somos simplesmente humanos!

Jacira Jacinto da Silva, juíza de Direito  reside em São Paulo e Presidente da CEPA

NR: Texto publicado no Jornal Abertura de Setembro de 2015



quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A evolução do espírito e da matéria - por Jaci Régis

A evolução do espírito e da matéria


Na revelação cristã é filosoficamente fundamental, básico, o conceito de uma queda original do homem no começo da sua história, e também o conceito de um Messias, um reparador, um redentor. Conceitos indispensáveis para explicar o problema do mal, racionalmente premente e racionalmente insolúvel. A solução integral do problema do mal viria unicamente do mistério da redenção pela cruz - necessário complemento do mistério do pecado original.

Jaci Régis



As palavras acima, retiradas de um site católico, mostram claramente a diferença entre o cristianismo e o Espiritismo.

Como a Doutrina Kardecista pode analisar esse fato?

Se considerarmos a Teoria Evolutiva do Espiritismo, que contempla a criação do ser espiritual “simples e ignorante”, compreenderemos que o planejamento da evolução do ser espiritual, possui a mesma coerência que pode ser constatada na análise do processo evolutivo geral.  Ou seja, existe uma total coerência nos processos de evolução dos elementos materiais e espirituais.

É o que nos ensina O Livro dos Espíritos, sobre a Lei Natural ou divina.  “a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida”.

A Teoria Evolutiva do Espiritismo, torna o ser espiritual parte do mesmo processo que dinamiza e constitui o universo material. Esse dualismo conceitual parece ser inevitável no encaminhamento intrínseco entre todos os fatores da vida universal, entrosando matéria e espírito, embora cada um determinando um caráter e um perfil que conjugado possibilita a vida.

No processo de evolução do universo, encontramos a inevitável seqüência de nascer, viver, morrer e renascer, aplicada tanto ao ser espiritual quanto aos elementos materiais. Em ambos os casos, temos uma “imortalidade”, isto é, como disse Lavoisier, nada se perde, nada se cria, considerando a reciclagem dinâmica dos fatores.

Dada a natureza diferenciada do elemento espiritual, a imortalidade do espírito, contudo, conteria um elemento singular, consistente, que determina uma individualidade permanente, isto é, embora intrinsecamente ligado ao elemento material não se perde na dissolução eventual dos elementos, nem na dissipação da energia produzida por eles. Na verdade como elemento da natureza o princípio espiritual guarda a qualidade de ser, de constituir uma individualidade que deteria a essência do movimento vivo, agregador, e dissipador dos elementos.

Conforme se auto desenvolve esse elemento individual e espiritual, ganha a capacidade de pensar, criar e recriar, submetendo elementos esparsos ao vetor diretor de sua vontade.

Nesse sentido, assim como os elementos materiais são conjugados, reciclados ao sabor da inteligência motriz, natural, o Espírito também precisa de tempo e espaço para alongar-se, desenvolver-se.

No ciclo vida, morte, renascimento, o elemento espiritual possui o ritmo acelerador da reencarnação, uma vez que está mais que evidente que, nessa simbiose espírito-matéria que é a base do universo, a inteligência ou essência motriz do ser espiritual organiza organismos para manifestar-se. É o princípio da encarnação, entendida como elemento de aglutinação, ajuste e processual do desenvolvimento das potencialidades do Espírito.

Na verdade podemos afirmar que a lei natural não é moral.

Se acompanharmos a evolução do princípio espiritual, por exemplo, no nível animal, verificaremos que ai o elemento moral inexiste. Ou seja, um pedrador ao atacar sua vitima não expede um julgamento moral, uma incerteza do certo ou do errado. Ao destruir sua presa satisfazendo sua necessidade ele não sente culpa.

Essa culpa será desenvolvida no nível hominal. Na transição de elemento espiritual para Espírito, o ser agora dispõe de capacidade de analisar, comparar e decidir. Mas, sobretudo, descobre o outro. É nessa descoberta que se inicia propriamente o senso moral.

É nessa relação conflitiva e ao mesmo tempo essencial que ele desenvolve o senso moral, o certo e o errado, o bem e o mal, dentro de parâmetro que a organização social estabelece.

Ao iniciar a organização social houve a necessidade de nomear os que, por eleição divina passaram a estabelecer as regras de comportamento, o bem e o mal.de modo a permitir vida comum.

Por isso no estágio de desenvolvimento das civilizações primordiais que povoaram a Terra o princípio da causalidade, ou seja, a análise dos fatores a partir da realidade sensorial, a busca da razão e do porquê das coisas e dos eventos, teria que centrar-se não apenas num criador poderosos, mas num criador capaz de punir, reagir, zangar-se. Ou seja, um criador humanizado, como Jeová dos judeus e os deuses de todos os povos e dos gregos, porque há, não obstante, uma certa similitude entre todas as concepções sobre Deus nas civilizações que se sucederam.

Afirmamos isso porque partindo do aqui e do agora, o comportamento das pessoas teria que ser comparado a parâmetros definidos como sendo a lei de Deus e, por isso, sujeitos a julgamento, condenação, punição e absolvição.

A visão científico-materialista sobre o homem decorre da análise sensorial e das experiências genético-cerebrais, todavia inconclusivas.

Falta-lhe o sentido espiritual como o Espiritismo propõe, isto é, sem conteúdo moral.

O conteúdo moral, como vimos foi estabelecido diante dos fatos concretos do nascimento, da morte. Ele, portanto, é uma criação social, uma forma de conter ou explicar o mal.

Mas o mal, segundo o Espiritismo, não é fundamento do ser, mas conseqüência do conflito existencial, ao longo do processo.

Então, todo o quadro moral, punitivo e todo o julgamento divino que as organizações sociais controladoras do comportamento e agenciadoras do consolo perante e a morte criaram não pertence à lei natural.

Não é crível que a lei naturall ou divina estabeleça qualquer forma de punição que é um estágio temporário e localizado na vida da pessoa, nas suas relações e no convívio social.

Jaci Régis - 2006

NR: Texto publicado no Jornal ABERTURA de agosto de 2015



segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Obstáculos ao Progresso - uma reflexão por Alexandre Cardia Machado

Obstáculos ao progresso – uma reflexão

Confesso que me surpriendi pela semelhança de conteúdo, entre o texto que iremos reproduzir aqui abaixo, com o editorial escrito por mim na mês passado, hoje revendo jornais antigos me deparei com esta pérola editorial de Jaci Régis. Por acaso ou não, coincide com um momento de grandes quedas de políticos. O texto “ Obstáculos ao Progresso” é de setembro de 2009, publicado neste jornal.
“ Allan Kardec Perguntou:

781 – Tem o homem o poder de paralisar a marcha do progresso?
- Não, mas tem, às vezes, o de embaraçá-la.
O tema sugere pensar no progresso como necessidade ampla da sociedade e da pessoa.
Não apenas o progresso científico, econômico, mas o moral, do pensamento, da cultura.
No campo da moral, pública e particular, além do respeito às leis, sobretudo no respeito recíproco é a base real para que a pessoa cresça como ser e que se crie um ambiente social minimamente saudável.
As recentes e atuais controvérsias sobre o comportamento dos senadores da República, que têm motivado a repulsa e o escárnio da maioria da população.

Vemos homens públicos submetidos a constante investigação de sua propriedade, da sua moral.
Senadores de vários partidos, da situação e da oposição, foram flagrados em ilícitos fiscais e nepotismo, banalizando a serenidade do mandato de representantes de seus Estados.
Homens que envelhecem como protótipos de imoralidade, de uso indevido e criminoso dos bens públicos. Traçando um caminho tortuoso e irônico sobre a moralidade, sobre a capacidade do ser humano em se manter honesto.

A política é um exercício de cidadânia imprescindível para o beméstar social;
Esses homens, com comportamentos iníquos são pedras colocadas no caminho do progresso da sociedade, motivando os que tendem à fraude a buscar um lugar nesse sol sem calor que é a corrupção. E desanimando os que crêem na serenidade, no equilíbrio e na honestidade.
O inquietante é que são homens de fé. Vemo-los em missas e espetáculos religiosos empunhando o terço, ou seja, ajoelhando numa expressão externa de fé, que todavia não são paradigmas do comportamento diário. Alguns são sacerdotes de suas crenças.

Esse comportamento é um obstáculo ao progresso moral, à saúde social.
Claro que a sociedade tem meios de alijá-los do poder. Basta não votar neles. Expulsa-los pelo voto consciente.

Esse é o instrumento básico de democracia e deve ser usado positivamente pelo cidadão.
Em seu ensaio “ As Aristocracias”, allan Kardec projeta a utopia pe uma elite “intecto-moral”.
Porque, na visão dele “ A inteligência nem sempre constutui penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades”.  O que aplica integralmente à maioria dos senadores e, por consequência, a certos políticos, cuja inteligência é notória, mas moralmente deficitária”.


Desde 2009 para cá algumas coisas mudaram e vários políticos foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal e, pleno gozo de seu mandato. Demonstrando que o voto além do voto a pressão do cidadão de alguma forma fez com que  a Justiça atuasse como deveria ser, protegendo a Constituição e o conjunto de normas legais que orientam a atuação de todos os cidadãos.

NR: Texto publicado no jornal Abertura de Maio de 2016.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A Liberdade Sexual da Mulher - por Jaci Régis

A liberdade sexual da mulher

 A oradora explicava o significado da introdução das pílulas anticoncepcionais na vida das mulheres. Segundo ela, graças à pílula, as mulheres casadas puderam limitar o número de filhos e com isso ganhar espaço para a sua realização pessoal.

Aberto o debate, afirmei que o importante era a liberdade sexual da mulher e que a pílula tinha permitido que ela pudesse transar com menor risco de gravidez, isso sem relação direta e necessária com o casamento. Tanto a oradora, quanto a plateia pareceram pouco à vontade.

Todos falaram da necessidade e da liberdade. Sem ela, não se vislumbra a possibilidade de crescimento real do homem, do espírito. Mas, quão difícil é exercer a liberdade! Quase sempre é imediatamente limitada pela responsabilidade que é o elemento qualificador, o que qualifica o sentido real da liberdade.

Sobre a liberdade sexual há terríveis enganos, porque geralmente age-se por comparação, contradição ou transgressão. Há inevitável transição no percurso para a liberdade real. Essa transição poderia ser suavizada se houvesse uma reciclagem maior nas mentes. Trabalha-se com modelos repressores e teme-se que se transforme em libertinagem, de desregramento puro e simples.

Se, genericamente, a questão da liberdade sexual está confusa e difusa, fica muito mais aguda e inconciliável quando se refere, especificamente, à sexualidade da mulher. Esse parece ser o ponto crucial de toda a questão, por1que a tradição moral e moralista pressionou negativamente a mulher, de modo a fazê-la sentir-se envergonhada e pecadora porque tinha desejo e desejava o prazer.

A oradora a que nos referimos, por exemplo, explicitou essa posição preconceituosa de dizer “isso é outra questão. Não estou me referindo à possibilidade de a mulher se relacionar ou transar com qualquer um...”. O que me fez retorquir: “com qualquer um não, com quem quiser ou desejar...”.
Porque a moral estabeleceu que a mulher devesse ter apenas um parceiro sexual, ser “propriedade” daquele que a tomasse como esposa. Nessas condições seria ele, realmente um parceiro ou alguém que fazia sexo com ela, às vezes sem considera-la?

Alguém me alertava que escritores e psicólogos que comandaram campanhas pela libertação sexual, estão agora, preocupados com os rumos dessa abertura, pelo número alarmante de abortos praticados por meninas de 13 a 15 anos, levadas pela ignorância da realidade afetiva e que seriam vítimas dessa pregação pelo prazer.

Esse fato merece reflexão. A primeira é que, as mentes dos adultos estão apenas pseudo abertas. Mães e pais atuais falam de liberdade sexual, mas geralmente continuam presos a medos e limitações e transmitem noções teóricas, sem coragem para examinar suas realidades afetivas. Pode-se dizer que não possuem condições de orientar positivamente os filhos. A maioria guarda a esperança de que suas filhas se casem virgens.

O discurso religioso prossegue ainda hoje sobre a tônica cristã da repressão e negação do prazer, especialmente para mulher. Há desconsideração para a sua qualidade de Espírito, acima das especificações sexuais típicas.

Pede-se sacrifício, renúncia aos sentimentos, mantendo a imagem de serva do lar, dentro de padrões conservadores, seja em nome da felicidade futura ou erros do passado.
Na luta pela conquista da liberdade e participação da mulher, envolvem-se, não apenas ela mesma, como um ser, uma pessoa, mas todo o sistema moral, social, todo o conjunto de fatores que recebem o impacto direto dessas mutações.

Creio que há um excesso de apelo racional aos critérios de justiça e igualdade, que certamente imperarão inevitavelmente, pois o caminho iniciado e já percorrido não terá volta, Mas, será possível proceder a essas mutações fundamentais sem abalos emocionais, sem atingir o afeto?
É fácil condenar racionalmente o tabu da virgindade, apoiar o aborto em nome do direto de usar o próprio corpo, abominar o casamento, e desestruturar a família, baseados em posições psicológicas e socialmente defensáveis.

Todavia, não se pode esquecer o vazio emocional que se segue. E não se veja nessas palavras qualquer apelo à moratória no trajeto da libertação feminina. Mas uma reflexão sobre as condições da realidade pessoal, de4 estruturas mentais, individuais e coletivas, que não podem ser negadas.
O sexo existe e é um sentimento básico, determinante do equilíbrio interno. Reprimi-lo é atirar-se em prisão degeneradora da mente. Consumi-lo à saciedade é cair em abismo de desestruturação da alma.
A transição deve ser considerada. Mas as correntes religiosas, tanto o ativismo feminista, colocam-se em polos opostos, sem encontrar recursos para auxiliar a internalização dessas mudanças. Há toda uma tendência a preservar a sociedade machista, erguida sobre infindáveis equívocos acerca da natureza da estrutura espiritual do ser humano. De outro, uma negação insensata de qualquer espiritualidade, cingindo-se a moral proposta a estreitos limites sensoriais.


Jaci Régis

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura da Março 2016.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO por Roberto Rufo

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO

“E educação e a cultura são mais importantes que a saúde “(Roberto Rufo).

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele “. (Kant).


Para o Espiritismo a educação tem enorme importância para a evolução espiritual desde a mais tenra idade, ou seja, no período em que o espírito encarnado passa pela fase da infância.  Diz a teoria espírita que nesta fase, o espírito encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período às impressões que recebe, para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados de sua educação. Daí a importância da família e dos educadores.

Quando se fala em distribuição de renda no Brasil, o pensamento comum é de que bastam programas de transferência de renda pecuniária. Sem uma edução formal de qualidade a distância injusta entre ricos e pobres só tende a se perpetuar. Vamos a alguns dados da “Pátria Educadora “(os governantes são muito bons em criar nomes bonitos): entre Janeiro/2012 a Outubro de 2015, no governo Dilma Roussef tivemos 06 ministros da educação. Logo se vê que a coisa não é séria. Mas abordemos alguns dados estatísticos para se ter a dimensão do drama que a educação vive no nosso país:
O Plano Nacional da Educação (PNE) foi aprovado em 2014 com 20 metas a serem alcançadas no país até 2024. Passados dois anos constata-se que nenhuma das ações com prazos previstos para 2016 foi cumprida.

No Livro terceiro do Livro dos Espíritos, das Leis Morais, em seu capítulo XII - Perfeição Moral pergunta 914, os espíritos colocam uma importância fundamental na educação no combate ao egoísmo pelo esclarecimento que se adquire sobre as coisas espirituais, onde podem ser incluídas a ética e o respeito ao próximo. Com o deslocamento das classes média alta e rica para o ensino particular, perdeu-se um contato muito importante entre todas as classes, o que ajudaria no combate ao egoísmo. Entristece-me muito  ver dois jovens dançando numa festa de casamento com dinheiro obtido irregularmente através da Lei Rouanet, dinheiro este que teria seu deslocamento previsto para projetos de arte com crianças carentes.

Aqueles jovens egoístas pertencem a uma geração que estudou nos melhores colégios que o dinheiro pode pagar, se educaram nos mais modernos métodos de educação e pedagogia, a dita geração do diálogo, que nunca apanhou dos pais, nunca pegou um ônibus lotado, fez vários intercâmbios no exterior. Aplicação espiritual em cidadania é nota zero no caso dos jovens citados acima.

Ainda segundo o PNE, deveria ter sido alcançada, até 2016 a universalização da educação infantil na pré-escola para crianças entre quatro e cinco anos. Há porém 600 mil crianças nessa idade fora da rede escolar  o que representa 11% do total. Ao se falar então da qualidade final do ensino nas escolas públicas constata-se que é muito ruim, com alunos saindo do ensino fundamental como analfabetos funcionais. Tudo isso resulta numa sociedade muito injusta, onde o fosso de oportunidades que só a educação pode mitigar, aumenta velozmente. E muitas dessas crianças e jovens da classe popular se tornam uma presa fácil ao mundo do crime, onde principalmente os mais jovens “enxergam “uma oportunidade de ascensão social.

O menino de 11 anos que foi assassinado pela PM de São Paulo, estava num carro com dois menores de 13 e 14 anos que havia roubado um carro para “ostentar” nas palavras de um deles. Falta dinheiro? Duvido. A roubalheira colossal que esse país enfrenta passa da casa dos bilhões. Como disse a atriz Fernanda Torres, o Brasil é hoje uma terra arrasada. A classe política, indistintamente, é uma vergonha. 

No entanto vale recordar que segundo os espíritos a desigualdade social não é obra da Inteligência Primeira e sim obra dos homens, cabendo portanto a nós a solução da grande desigualdade brasileira. 
Sem educação de ponta não há saída.

Roberto Rufo

NR: Artigo publicado no Jornal ABERTURA em Agosto de 2016 - quer ser nosso assinante? Entre em contato conosco pelo email: ickardecista1@terra.com.br valor anual R$ 55,00



                                      



quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Progresso – lei inabalável - por Alexandre Cardia Machado

Progresso – lei inabalável
Marcha do Progresso
779. A força para progredir, haure-a o homem em si mismo, ou o progresso é apenas fruto de um ensinamento?
“ O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente  e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meiodo contato social.”
Creio que esta resposta é muito boa, no Livro dos Espíritos ao longo do capítulo se pode entender com mais detalhes a questão da evolução pessoal e moral versus a evolução intelectual e social. Mas a marcha é inevitável.
A seguir dou alguns exemplos do que está acontecendo no mundo que comprova este avanço:
Udo Gollub em Messe Berlin- (Conferência da Universidade da Singularidade)

Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendeu 85% de todo o papel fotográfico vendido no  mundo. No curso de poucos anos, o modelo de negócios dela desapareceu e eles abriram falência. O que aconteceu com a Kodak vai acontecer com um monte de indústrias nos próximos 10 anos – e a maioria das pessoas não enxerga isso chegando. Você poderia imaginar em 1998 que 3 anos mais tarde você nunca mais iria registrar fotos em filme de papel?

No entanto, as câmeras digitais foram inventadas em 1975. As primeiras só tinham 10.000 pixels, mas seguiram a Lei de Moore. Assim como acontece com todas as tecnologias exponenciais, elas foram decepcionantes durante um longo tempo, até se tornarem imensamente superiores e dominantes em uns poucos anos. O mesmo acontecerá agora com a inteligência artificial, saúde, veículos autônomos e elétricos, com a educação, impressão em 3D,  agricultura e quem sabe, nossos empregos atuais.

Bem-vindo à quarta Revolução Industrial!

O software irá destroçar a maioria das atividades tradicionais nos próximos 10 a 15 anos.

O UBER é apenas uma ferramenta de software, eles não são proprietários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo.

Inteligência Artificial: Computadores estão se tornando exponencialmente melhores no entendimento do mundo. Com o WATSON, da IBM, qualquer americano pode conseguir aconselhamento legal (por enquanto em assuntos mais ou menos básicos) dentro de segundos, com 90% de exatidão se comparado com os 70% de exatidão quando feito por humanos.

O WATSON já está ajudando enfermeiras a diagnosticar câncer, quatro vezes mais exatamente do que enfermeiras humanas.  O FACEBOOK incorpora agora um software de reconhecimento de padrões que pode reconhecer faces melhor que os humanos. 

Veículos autônomos: em 2018 os primeiros veículos dirigidos automaticamente aparecerão ao público. Ao redor de 2020, a indústria automobilística completa poderá iniciar um processo de reposicionamento.  As pessoas  não desejarão mais possuir um automóvel

Os negócios imobiliários mudarão. Pelo fato de poderem trabalhar enquanto se deslocam, as pessoas vão se mudar para mais longe para viver em uma vizinhança mais bonita.

Carros elétricos se tornarão dominantes até 2020. As cidades serão menos ruidosas porque todos os carros rodarão eletricamente. A eletricidade se tornará incrivelmente barata e limpa: a energia solar tem estado em uma curva exponencial por 30 anos.

No ano passado, foram montadas mais instalações de geração de energia elétrica solares que fósseis. O preço da energia solar vai cair de tal forma que todas as mineradoras de carvão cessarão atividades ao redor de 2025.

Com eletricidade barata teremos água abundante e barata. A dessalinização agora consome apenas 2 quilowatts/hora por metro cúbico. Não temos escassez de água na maioria dos locais, temos apenas escassez de água potável. Imagine o que será possível se cada um tiver tanta água limpa quanto desejar, quase sem custo.


Estes são apenas alguns exemplos – tipo Desenho animado dos Jetsons, só que reais, coisas que estão acontecendo e mundando o mundo.  Nem tudo são flores, há toda uma adaptação humana e claro, tudo dependerá de quão democrática estas mudanças acontecerão, nos poderão ajudar ou não a diminuir as diferenças sociais. Isto dependerá de nossa real vontade de melhorar o conjunto da sociedade, pois o progresso tecnológico virá de qualquer forma.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A Política, uma arte em decadência por Roberto Rufo

A Política, uma arte em decadência

" A política é nossa última garantia de sanidade mental " ( Hannah Arendt )

" O marxismo é totalmente religião, no sentido mais impuro da palavra.Antes de tudo, compartilha com todas as formas inferiores da vida religiosa o fato de ter sido continuamente usado, segundo a observação tão precisa de Marx, como um ópio para o povo ". ( Simone Weil )


 Em seu excelente livro " Reflexões sobre um século esquecido 1901-2000 ", o escritor inglês Tony Judt, falecido em Agosto de 2010, faz uma série de perguntas muito intrigantes no capítulo XXII ( O silêncio dos inocentes: sobre a estranha morte da América Liberal ). Eis duas delas: por que os liberais norte-americanos aceitaram a incompetente política externa do ex-presidente Bush, especialmente em relação à catastrófica invasão do Iraque em 2003, resultando na morte de milhares de civis? Por que a seguida ofensiva contra as liberdades civis e a lei internacional, ainda no governo Bush, causaram tão pouca oposição e revolta entre as pessoas que costumavam se importar tanto com essas questões? 

Tony Judt alerta que nem sempre foi assim, e lembra que em Outubro/1.988 o New York Times publicou um anúncio de página inteira com propaganda do liberalismo onde pensadores liberais atacavam abertamente o presidente Reagan.

Hoje o liberalismo é atacado tanto pelos extremistas da esquerda quanto pelos extremistas da direita. Já vai tarde os tempos dos intelectuais formados pela liberal education do professor Mortimer Adler. 

Citemos alguns exemplos de como as coisas hoje mudam de lado rapidamente, ocasionando o triste fenômeno da pobreza política dos dias atuais: a globalização que já foi a besta-fera da esquerda, hoje é atacada pela plataforma populista de direita do candidato Donald Trump. Ontem Vladimir Putin era um ícone da esquerda pelo simples fato de ser contra os EUA. Hoje ele é elogiado pelos direitistas Trump e Marine Le Pen.

Com tudo isso a matéria " ética na política" passou a conhecer um período de vale tudo, em nome da governabilidade, onde as ilusões perdidas da geração de 1960, foram substituídas pela dedicação integral à acumulação material e de poder a qualquer custo.

A obra " Espiritismo e Política: contribuições para a evolução do ser e da sociedade "  do pensador espírita Aylton Paiva representa segundo ele " mais um esforço para conscientizar o leitor espírita quanto à real oportunidade de influência da Doutrina Espírita sobre a ordem social ". Ele tem razão, pois sob o aspecto filosófico o Espiritismo tem muito a ver com a Política, sendo esta  " a arte de administrar a sociedade de forma justa ".

No Brasil, tivemos agora em Agosto/2016 o impeachment da Sra. Dilma Roussef. O atual presidente Temer inspira pouquíssima confiança para tirar o Brasil do grave atoleiro econômico. Nas últimas semanas foi aberta uma nova frente de investigação policial: os fundos de pensão. De novo milhões de reais desviados, agora desses fundos de pensão  aparelhados pelo governo que caiu. E lá estavam eles, os partidos de sustentação do governo anterior, claramente envolvidos também na maracutaia. Afinal a base de sustentação tem que colaborar.

 Por sua vez em uma das fases da Operação Lava Jato aparece o nome do Sr. Aécio Neves, ex-candidato a Presidente da República, que ontem era  oposição e hoje é situação. Depois essa divulgação passou a ter uma postura bem mais reservada, quietinho  para não despertar maiores suspeitas.

Como membro da sociedade o espírita deve participar ativamente da política, até mesmo de forma partidária, para de alguma forma levar a mensagem poderosa da evolução espiritual, se organizando e trabalhando  com o pensamento alicerçado na verdade, na justiça e no amor ao próximo.  Conheci pessoalmente o senador espírita José de Freitas Nobre, sempre exemplificando na política, a honestidade e retidão de caráter. 

Voltando infelizmente aos tristes fatos da política nacional: calcula-se que o cartel dos trens do Metrô e da CPTM em São Paulo tenham causado milhões de reais de prejuízos aos cofres públicos. Dos R$ 2,5  bilhões  que o BNDES emprestou ao Grupo JBS, este repassou 18,5% da grana em doações partidárias para o governo da época. 
O que não se fez em nome da tal governabilidade; falcatruas sempre tramadas a partir da Casa Civil, a nível federal e estadual . E é com essa mediocridade de políticos  que se pretende fazer a transição até 2018. Oremos!
Como muito bem disse o Teólogo Roberto Miguel, mestre em Ciência da Religião pela PUC, se Jesus resistiu às três tentações, o movimento messiânico do governo anterior e os políticos de todos os matizes sucumbiram a todas elas. Como escreveu sarcasticamente o escritor e humorista Millôr Fernandes " VIVA O BRASIL, ONDE O ANO INTEIRO É PRIMEIRO DE ABRIL "

Nos EUA, a trajetória de Donald Trump nos mostra lá como cá, que ampliou-se a aventura política. Os mágicos de sempre aparecem prometendo soluções fáceis para problemas difíceis. 
Uns à direita falam em construção de muros. Outros à esquerda, fingindo-se agora de vítimas,  prometem a multiplicação dos pães mesmo que se destrua noções elementares da ciência econômica. Até hoje não entendi  porque se escolheu como ministro da economia o neoliberal ( afinal o neo liberalismo era a medusa dos tempos modernos )  Joaquim Levy, se como diziam,  as coisas estavam indo muito bem. Obviamente não estavam. Mentiu-se descaradamente. O Brasil foi enganado por uma falsa renovação ética.  

É claro que sempre existirão os crentes, não sei se ingenuamente ou não,  acreditando na tese de que a ex-presidente Dilma e o atual presidente Temer e seu novo séquito habitam mundos distintos. Não, todos vivem no mesmo mundo da dissimulação, do conluio, dos acordos espúrios. Apequenaram a política. E como dizia um antigo narrador esportivo Fiori Gigliotti quando um time tomava um gol,  " agora não adianta chorar ". Moral é que nem virgindade, perdeu está perdida, diz outra frase espetacular do Millôr.

Espíritas, cidadãos de bem, eu sei que a decepção com a política no Brasil e no mundo é grande, mas é oportuno, neste momento, recordarmos a afirmação de Allan Kardec, item 25, de A Gênese, obra editada em 1.868: " O Espiritismo não cria a renovação social; a maturidade da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer doutrina, a secundar o movimento de regeneração, por isso, é ele contemporâneo desse movimento ". Que texto maravilhoso e útil para o mundo de hoje.

Roberto Rufo. 

NR - Publicado no jornal Abertura outubro 2016