sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Boa Onda - Espiritismo Livre-Pensador - por Alexandre Cardia Machado

Vivemos um ótimo momento no Espiritismo laico e livre pensador brasileiro e internacional. A presidência da CEPA depois de 8 anos retorna ao Brasil, agora sob a égide de Jacira Jacinto da Silva. Já é possível perceber que uma nova equipe de divulgação muito animada começa a por em prática grandes planos de fazer com que as ideias de nosso grupo passem a ser conhecidas pela sociedade. Este grupo se reune desde o Congresso em Rosário, físicamente e virtualmente buscando ferramentas mais modernas de divulgação. Publicaremos os avanços conforme vão se desenvolvendo.



A CEPABrasil e o CPDoc estão divulgando o  lançamento do livro - Perspectivas Contemporâneas da Reencarnação - uma coleção de textos apresentados no XXI Congresso Espírita Pan-Americano de Santos, promovido pela CEPA em 2012, selecionados e coordenados por Ademar Arthur Chioro dos Reis e Ricardo de Morais Nunes e com projeto gráfico de Eugenio Lara. Livro este que fez o seu pré lançamento no XXII Congresso Espírita Pan-Americano de Rosário na Argentina e que agora está sendo lançado em vários eventos no Brasil, o próximo será em Santos, como pode ser visto em detalhes nesta edição do Abertura. Devemos comemorar cada nova iniciativa editorial, pois permite a divulgação e a penetração das raízes espíritas na sociedade.

 Em 2014 tivemos a publicação em espanhol do livro de Jaci Régis - Uma Nova Visão do Homem e do Mundo. Publicado e traduzido em Porto Rico  por José Arroyo, fazendo com que mais ideias brasileiras kardecistas e livre-pensadoras penetrem na América Latina e Espanha.
Neste mês de setembro, estará sendo realizado em Madrid, Espanha o II Congresso Espírita Internacional, organizado pela AIPE – instituição espanhola que está em processo de adesão  à CEPA, estarão participando vários brasileiros e parte da direção da CEPA estará presente. A globalização da CEPA segue a passos largos.  Cabe mensionar o fato de que o XXIII Congresso Espírita-Panamericano deverá ser realizado também na Espanha em 2020.

Ao mesmo tenpo a consistência do grupo de Santos se torna cada vez mais efetiva, nosso grupo já organizou , 14 Simpósios Brasileiros do Pensamento Espírita e  11 Fóruns Espíritas do Livre-Pensar da Baixada Santista. Sendo um núcleo de suporte importante para todo este movimento de expansão de penetração de ideias.

 Ademar Chioro, ex-Ministro da Saúde tem se tornado um importante porta-voz, conseguindo espaços importantes na mídia para a divulgação do Espiritismo. Como, ocorreu, no dia 25 de agosto ao ser entrevistado, pelo surpreendentemente empolgado pelo tema Amaury Jr, na emissora Rede TV.
 A CepaBrasil, além de seu já tradicional blog:  http://cepabrasil.blogspot.com.br/  lançou uma página na internet:  http://www.cepabrasil.org.br/portal/ administrada por  seu Vice Presidente Neventon Vargas com uma gama maior de material disponível, onde destacamos a loja virtual, projeto em desenvolvimento, mas que já conta, neste momento com 24 livros expostos para venda.

Como dizem os nossos “hermanos” – “Una buena onda!” ( Uma boa onda!)

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Revisitando o Caderno Cultural Espírita - Outubro 2002

O PERISPIRITO

UMA ABORDAGEM DO SECULO XX

Reinaldo Di Lucia

                       
                         O propósito deste trabalho é, a partir de um histórico sobre as idéias que levaram ao desenvolvimento do conceito perispírito e da avaliação da evolução do pensamento científico desde  o início do século XX, analisar criticamente os postulados de diversos autores espíritas sobre o tema (encarnados ou desencarnados)e propor um novo modelo teórico, a título de hipótese, para a natureza, formação, propriedades e funções do perispírito.
                         A intenção mais ampla é que uma melhor compreensão sobre este assunto possa clarear alguns outros temas polemicos da doutrina espírita, tais como as emissões energéticas, as curas espirituais e paranormais, as relações entre espíritos encarnados e desencarnados, o problema da obsessão e os diversos generos de comunicações mediúnicas. Propõe-se que inicie-se um debate em todos os setores da comunidadeespírita sobre o tema, visando o fortalecimento dos novos conceitos.
                         O conceito de perispírito foi introduzido por Allan Kardec ao formular a filosofia espírita a partir da observação experimental (fenomenos físicos tais como a materialização) e da afirmação dos espíritos que possuíam um corpo, que lhe permitia identificarem-se como seres individuais que sobreviveram à morte do corpo físico.
                         Essa idéia foi rapidamente assimilada pelos pensadores da época, principalmente por aqueles que assumiram a doutrina espírita, uma vez que respondiam a inúmeras questões que a própria ciência ainda deixava em aberto. Em função disso, muitas funções que deveriam ser atribuídas ao espírito, por serem referentes à inteligencia do ser, o foram ao perispírito.
                         Isto acabou criando um movimento espírita um conjunto de idéias a respeito do tema que, com o avanço do conhecimento científico em campos como os da física, da biologia e da genética, apresentam-se hoje ultrapassados. Ao mesmo tempo, tal conjunto de idéias é usado como suporte para a manutenção de conceitos errôneos sobre as bases filosóficas do espiritismo.

Novos Conceitos da física 

                         É de fundamental importancia que conceitos do campo da física, alguns deles trazidos à luz pela chamada física moderna (desenvolvida após a morte de Kardec) sejam, ainda que superficialmente, compreendidos. Isto porque, de acordo com a teoria que se pretende apresentar neste trabalho, algumas das idéias de Kardec sobre o perispírito podem sofrer sensíveis modificações a partir do desenvolvimento destes conceitos.

                         O primeiro deles é o de energia. No século XX, tornou-se muito difícil prover uma única definição de energia, que seja abrangente e independa do campo de estudo. A definição tradicional, de energia como a capacidade de realizar trabalho, é restrita à parte da física conhecida como Mecânica. Como diz o prof. Alberto Ricardo Präss, "usando apenas a experiência do nosso cotidiano, poderíamos conceituar energia como algo que é capaz de originar mudanças no mundo".

                         Esse conceito é de importância capital para este estudo do perispírito. É importante frisar que, desde que Einstein popularizou a célebre fórmula da inter-relação entre matéria e energia (E = m.c2), o termo energia tornou-se cada vez mais conhecido e empregado, muitas vezes sem a devida atenção à idéia que é expressa por essa palavra.

                         No movimento espírita, o termo energia muitas vezes é empregado para designar uma quantidade qualquer de força que pode, de algum modo, atuar sobre o corpo, o perispírito ou o espírito, para a cura de doenças e outros fenômenos semelhantes.

                         É bastante comum o uso da expressão energias espirituais, que deve ser acompanhado de um grande cuidado: lembrar-se que energia é matéria. Se com essa expressão se quiser denominar um grupo de energias distintas daquelas que são características da matéria mais densa (como, p.ex., o corpo físico), seu uso é possível. Mas, apesar destas energias serem acionadas pela vontade do espírito, que as pode manipular a seu critério, elas não são parte do espírito, não participam de sua essência; enfim, são partes constituintes do princípio material.

                         Para efeito deste trabalho, adotar-se-à a definição descrita acima: energia é alguma coisa capaz de provocar transformações no mundo, seja este o mundo corpóreo ou incorpóreo.

                         Outro conceito físico importante é o de campo. Campo pode ser definido como uma área ao redor do objeto, na qual uma interação eletromagnética ou gravitacional é exercida sobre outros objetos; é o que se poderia chamar de um lugar geométrico. Apesar de o conceito de campo ter sido usado pela primeira vez por Isaac Newton em sua teoria da Gravitação Universal, e já ser empregado por Faraday em meados do século XIX para explicar forças eletromagnéticas, foi com Maxwell, um físico escocês do mesmo século, que o conceito de campo tornou-se fundamental na teoria eletromagnética (com o lançamento do Tratado sobre a eletricidade e o magnetismo, em 1873), tendo sido empregado de modo amplo na física moderna do século XX.

                         A força de um campo, ou seja, a quantidade física medida no espaço ao redor do objeto que lhe dá origem depende fundamentalmente de dois parametros: o valor da quantidade física do objeto e a sua distancia do ponto de medição. No caso de um campo eletromagnético, p.ex., o objeto que origina o campo é uma carga eletromagnética pontual, e a força é tanto maior quanto maior for o valor da carga e tanto menor quanto maior for a distancia dela.



                        Com a comprovação experimental da teoria dos campos, a física percebeu que o termo força, até então usado para definir a ação exercida por um corpo sobre outro era inadequada, uma vez que dá a idéia de um objeto agente (ou seja, aquele que efetivamente exerce a ação, ativo) e um que, inerte, limitar-se-ia a receber esta influencia. O que ocorre na verdade é uma ação recíproca de um corpo sobre o outro. O termo mais empregado hodiernamente é interação, que exprime melhor o conceito físico.

                         Importantes, também, são os conceitos ligados à mecânica ondulatória Um dos modelos pelos quais a energia e a informação são transmitidas de um dado ponto a outro no Universo são as ondas, as quais podem ser representadas no quadro Figura A.


     Figura A


                         O ponto mais alto de uma onda chamada-se crista, e o mais baixo, vale. A distância entre duas cristas consecutivas é chamada de comprimento de onda (Figura 1), e é uma das caracteristicas fundamentais a ondulatória.

                         Juntamente com a frequência, ou seja, o número de cristas por unidade de tempo, e a amplitude, a distância entre uma crista e um vale consecutivos, caracterizam qualquer onda.
                         Matematicamente, a relação entre a frequencia e o comprimento de onda é inversamente proporcional.



                         Os conceitos de frequencia, comprimento de onda e amplitude, aliados aos de energia e campo, serão fundamentais para o entendimento do perispírito em bases científicas atuais.

Histórico de um envoltório da alma

   
                         A crença em uma alma imortal é tão antiga quanto as civilizações humanas. Talvez porque o homem via seus mortos em sonhos, ou porque aparições destes mesmos mortos, mesmo em vigília, acontecessem. O fato é que as idéias absolutamente materialistas da morte como fim de toda a individualidade são bastante recentes, tendo-se firmado apenas na Idade Contemporânea.

                          Este fato é corroborado pelas pesquisas arqueológicas que mostram que, desde o período megalítico (a chamada Idade da Pedra Polida), o homem tinha o costume de sepultar seus mortos com armas e pertences. Posteriormente, as civilizações que deixaram algo escrito confirmam, todas elas, esta conclusão.

                         Tão antiga quanto a crença na alma imortal é a crença na alma imortal é a crença de que esta possui um envoltório, um tipo de "segundo corpo" que, de alguma forma, acompanha-a em sua permanência no além. Em muitas civilizações antigas esta idéia permanece. Entretanto, em algumas delas, este conceito difere frontalmente daquilo que entendemos hoje, por um mero envoltório.

                         Na India, p.ex., o bramanismo fala de um "corpo sutil" chamado suksmasarira. Este corpo, porém, não é um mero envoltório, como se fosse uma "roupa" que seria usada por uma alma. Nesta filosofia, o verdadeiro Eu, que constitui a individualidade, a essência de tudo o que somos ou sabemos, chama-se  atman ou brahma. Este Eu fica envolto pelo corpo sutil (suksmasarira) que é composto pelos elementos pertencentes à esfera mutável da psique,ou seja, os pensamentos, emoções, sentimentos e percepções. Finalmente, há o corpo denso - "nervos e órgãos tangíveis que são os receptáculos e veículos do processo vital manifestado".

                         Como se pode perceber, o conceito de corpo sutil do bramanismo difere essencialmente daquele de perispírito adotado tradicionalmente pela doutrina espírita. Tais conceitos orientais são, via de regra, de muito difícil compreensão pelas mentes ocidentais, razão pela qual, são normalmente deturpados.

                         Também no Egito há registros desse envoltório: O corpo, dizia o egipcio, era habitado por um duplo de nome Ka, e também por uma alma que pousava no corpo como um passarinho na árvore. Todos três - corpo, Ka e alma - sobreviviam à morte, enquanto o cadáver não desaparecesse na dissolução".

                         Segundo Dellane, tais crenças num envoltório da alma permeiam todo o mundo antigo. Na China antiga, Confúcio dizia que "(...) a essência dos Koûci-Chin (espíritos diversos) não pode deixar de manifestar-se sob uma forma qualquer". O Zoroastrismo persa fala dos ferúers que sem serem propriamente um envoltório, posto que possuíam uma certa inteligência independente, estavam, cada um, destinados a um ser humano. A cabala judaica chama de Nephesh o corpo fluídico do princípio pensante. 

                         Na Grécia também disseminava-se a idíea de um envoltório da alma: "O claro gênio dos gregos percebeu a necessidade de um intermediário entre a alma e o corpo. Para explicar a união da alma imaterial com do corpo terrestre, os filósofos da Hélade reconheceram a existencia de uma substância mista, denominada Ochema, que lhe servia de envoltório e que os orácuos denominavam o veículo leve, o corpo luminoso, o carro sutil. Falando daquilo que move a matéria, diz Hipócrates que o movimento é devido a uma força imortal, ignis, a que dá o nome de enormon, ou corpo fluídico".

                         Na mais conhecida Tradição do misticismo que se disseminou no Ocidente, a Teosofia, o homem possui sete corpos: o físico, o astral, o mental, o búdico, o nirvanico, o paranirvânico, e a mahaparanirvânico, cada um com suas atribuições específicas. Alguns ainda descrevem um corpo etérico, que seria o campo vital associado ao corpo físico, e que poderia ser visto pelos clarividentes como uma espécie de aura.
continua.......


                         

sábado, 3 de setembro de 2016

MACHISMO e ESPIRITISMO - por Marissol Castello Branco

MACHISMO
Marissol Castello Branco
“Atitude ou comportamento de quem crê que o homem é socialmente superior à mulher” Os machistas mais radicais, definidos no dicionário são aqueles assumidos publicamente que encontramos estampados pelas feministas. Tivemos várias demonstrações francas de machismo em alguns políticos durante depoimentos polêmicos e preconceituosos.

Kardec era machista, mas de uma forma “branda”, apropriando-me de um termo usado por Noam Chomsky, como muitos homens e mulheres o são ainda hoje. Esse comentário de Kardec deixa bem claro a sua visão sobre a mulher:

“... as mulheres têm direitos incontestáveis, a natureza tem os seus que não são os seus. Deixai-as, pois, reconhecer pela experiência sua insuficiência nas coisas às quais a Providência não as chamou” (AK, RE, jun1867, p.169)

Esse foi um comentário relativo a um artigo sobre um manifesto de mulheres norte-americanas que protestavam pela emancipação feminina. Nessa citação Kardec entende que como homens e mulheres possuem gêneros diferentes também diferentes são as suas funções na Sociedade. Ele era um intelectual, filho de um juiz, com educação exemplar e casado com uma mulher “recatada e do lar”. Não teve filhos, portanto, não vivenciou o papel de ser pai, nem pôde observar sua esposa no papel de ser mãe. A única referência que possuía era de seus pais, mesmo assim uma convivência breve, pois logo foi afastado do lar para estudar em um colégio interno. Não conviveu com mulheres que precisaram trabalhar para conseguir seu próprio sustento. As médiuns mulheres com a qual conviveu e foram intermediárias dos espíritos que o auxiliaram na confecção das obras que fundaram o Espiritismo eram jovens e submissas aos seus pais. Apesar de receberem para o exercício (a mediunidade na França era uma profissão) os proventos ficavam com a família, melhor dizendo com o progenitor. (Eugenio Lara, Os Desertores de Kardec)

Foi no século de Kardec com a difusão das idéias de Rousseau é que o perfil de mãe começou a ser construído. O papel de pai chega bem mais tarde no finalzinho do século XX e até hoje vem sendo construído. Kardec não imaginava que seria uma mulher que o ajudaria a difundir o Espiritismo livre pensador na Espanha e América Latina de fala espanhola. Amália Domingo Soler teve uma vida celibatária e dedicada exclusivamente ao Espiritismo a partir dos 37 anos. Isso a deixou aquém das funções intrínsecas relegadas à mulher pela sociedade. Mesmo assim, ela foi cobrada pelo espírito comunicante, Padre Germano, por sua abdicação em casar-se e formar uma família:

Quanto a ti, boêmio envolto em vestes femininas, poeta de outros tempos, cantor aventureiro que fugiu do lar doméstico, alheio aos direitos e deveres dos grandes sacerdotes do progresso – mendiga hoje um olhar carinhoso, olha em torno de si como nascem as gerações, ao passo que você, planta daninha, não pode beijar uma fronte infantil, murmurando: ― Meu filho! Trabalhe, aprofunde-se em sua solidão, busque na contemplação da Natureza o complemento da sua vida miserável, já que não lhe é dado contemplar um ente querido.” (Memórias de Padre Germano, Amalia Domingo Soler, FEB, p.344)

Amália apenas transcrevia o que dizia o médium psicofônico inconsciente, Eudaldo Pagés. Durante a transcrição ela poderia ter suprimido essa parte em referência às suas vidas, mas era muito fiel ao que ouvia e optou por manter o texto.

Voltando ao machismo brando, infelizmente constato a existência de homens e mulheres nesta categoria em pleno século XXI. Numa rede social uma mulher considerou educar os filhos homens para “proteger” as mulheres. Então eu a contestei: “Devemos educá-los para respeitá-las”. A expressão “proteger” sugere a dependência da mulher em relação ao homem e consequente submissão. Homens e mulheres possuem uma diferenciação genética que se reflete em sua maneira de ver o mundo e comportamentos. Esse X a mais que a mulher tem faz dela um ser humano que age e resolve problemas de uma maneira diversa da do homem. Isso não significa estabelecer funções determinadas para cada um dos gêneros.


Marissol Castello Branco, 48 anos, casada, mãe de 2 filhos, arquiteta e professora. Autora de livro publicado pelo CPDoc: Igualdade de direitos e diferença de funções entre o homem e a mulher. 1997
Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA por Ricardo Nunes


Em plena ditadura militar brasileira Chico Buarque corajosamente cantava: “Amanhã vai ser outro dia. Hoje você é quem manda falou tá falado não tem discussão. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão. Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de “desinventar”. Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada neste meu penar. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria...”

Bela canção que exprimia o estado de espírito daqueles que desejavam um Brasil melhor com democracia, participação popular, voto direto, direitos sociais, soberania, enfim, todo um conjunto de medidas civilizatórias para um país que desejava ser grande e bom para os seus filhos.

No início da década de 80 tivemos a famosa emenda Dante de Oliveira e a inesquecível, para quem acompanhou, campanha pelas diretas já. Enfim, chegamos a festejada “Nova República” que vinha com gosto de esperança em dias melhores para os brasileiros. Finalmente, entrávamos em um regime democrático. Os anos de chumbo passaram, presidentes e governos se sucederam, e hoje, infelizmente, na contramão da história, o Brasil vive uma tremenda crise política, econômica, social e moral.

A crise política se dá porque vivemos em um momento no qual uma presidenta da República legitimamente eleita por 54 milhões de pessoas, pela maioria dos brasileiros, foi afastada do poder, sob argumentos no mínimo questionáveis.

Crise econômica e social que se espalha com o desemprego, com a inflação, insegurança pública, proliferação de favelas e com o desmantelamento de políticas sociais de amparo aos mais fracos da sociedade.

A crise moral, por sua vez, se estende como uma onda de ódio e sectarismo atingindo os brasileiros. Onda de ódio que faz com que uma prestigiada atriz como Letícia Sabatella, seja ofendida em sua dignidade em plena rua por pessoas furiosas, apenas porque manifestou sua posição política. Crise moral que se expressa em um individualismo feroz, no qual se esquece a dimensão comunitária e social do homem.

Esta crise moral se espalha, ainda, como   um câncer em metástase, por grande parte do Estado brasileiro, em suas diversas instâncias de poder, atinge partidos políticos de variada coloração, bem como, nunca esqueçamos, esta crise atinge também importantes empresas privadas brasileiras, as quais, junto com setores do poder público,  possuem  responsabilidade comum nos acontecimentos de corrupção descarada que atualmente vivemos.

A crise atinge, inclusive, alguns importantes veículos de comunicação, os quais tomaram a feição de partidos políticos, ideologicamente tendenciosos, ao invés de cumprirem seu papel de órgãos de imprensa, na busca de um jornalismo correto na divulgação imparcial dos fatos. Nunca ficou tão evidenciado na história do Brasil moderno o quão complexo e quase “metafísico” é o conceito de “liberdade de imprensa” no cotidiano das redações e grandes grupos de comunicação.

Nos encontramos de fato em um momento de falta de esperança, de não acreditarmos mais em um Brasil que possa efetivamente ser um país democrático, soberano, justo socialmente e garantidor das liberdades.

Acabamos de reler “A Gênese” de Allan Kardec. Nesta obra se observa em seu capítulo final, uma ideia de esperança em relação ao futuro da humanidade, levando em conta os momentos de crise: “Sim, decerto, a humanidade se transforma, como já se transformou noutras épocas, e cada transformação se assinala por uma crise que é, para o gênero humano, o que são, para os indivíduos, as crises de crescimento. Aquelas se tornam, muitas vezes, penosas, dolorosas, e arrebatam consigo as gerações e as instituições, mas, são sempre seguidas de uma fase de progresso material e moral”
É certo que o progresso não é fatal. Ele depende da iniciativa humana. E também há sempre a possibilidade de retrocesso. Não devemos cometer o erro de certos pensadores marxistas, por causa da influência hegeliana, que acreditavam que atingiríamos na história humana uma era final e definitiva de progresso e felicidade. Este “paraíso” terreno não existe e as conquistas do homem e da sociedade devem ser permanentemente e cuidadosamente defendidas para não sucumbirem.

Porém, o progresso do homem e da sociedade é possível, diz ainda um trecho da referida obra de Kardec sobre as limitações ao desenvolvimento da humanidade: “o progresso intelectual realizado até o presente, nas mais largas proporções, constitui um grande passo e marca uma primeira fase no avanço geral da humanidade; impotente, porém, ele é para regenerá-la. Enquanto o orgulho e o egoísmo o dominarem, o homem se servirá da sua inteligência e dos seus conhecimentos para satisfazer às suas paixões e aos seus interesses pessoais, razão por que os aplica em aperfeiçoar os meios de prejudicar os seus semelhantes e de os destruir.”

O raciocínio acima exposto é uma verdade cristalina, pois há muita gente inteligente que usa a sua inteligência para o mal, para o egoísmo, para a discriminação do outro, para a opressão, para a exclusão da alteridade, e como diz muito bem o texto, até para “destruir” o semelhante. A condição moral individual influencia poderosamente nas atividades de caráter coletivo, na vida do homem em sociedade, independentemente das diversas tendências partidárias, ideológicas, religiosas etc.

Ante tudo isso pensamos na música de Chico Buarque e em nossa convicção espírita. De fato, devemos acreditar sempre que um mundo melhor ainda está por vir. Que estamos a caminho, apesar de todos os tropeços. Devemos crer com todas as forças de nossa alma que um outro mundo é possível. O espiritismo fala em melhoria da humanidade. É de fato de um otimismo incrível. Se podemos atingir uma humanidade melhor, de certo podemos conquistar um país melhor.

Deste modo convidamos a todos a cantar, neste complicado momento histórico de nosso país, mesmo que em voz baixa em sussurros para si mesmo, como uma prece, a canção do grande Chico Buarque.  Ela vai nos ajudar a lidar com a tristeza e o desencanto de um país que vem patinando há tanto tempo sem encontrar um caminho justo e adequado à felicidade de todos os brasileiros.

Um país que passou por séculos de escravidão, de subordinação a uma potência colonial estrangeira, episódios históricos que marcaram profundamente a cultura, a mentalidade e as condições sócio-econômicas do povo brasileiro. Um país em que ainda se encontra enraizada a discriminação em relação a mulher, ao homossexual, ao negro, ao nordestino, ao pobre. Um país no qual ainda não existe uma democracia plena, incentivadora da participação dos amplos setores da sociedade nas decisões do governo, pois o direito ao voto é apenas o mínimo fundamental que deve ser conquistado, respeitado e defendido em uma democracia.

 Um país que ainda não alcançou nem mesmo as conquistas ideológicas da velha revolução francesa, tamanha a cultura elitista que ainda existe entre nós, que faz com que os cidadãos brasileiros se dividam, na mente de alguns poderosos, entre aquela minoria privilegiada e merecedora de todas as benesses, e aquela grande maioria que deve ser reprimida e excluída dos bens fundamentais da vida. Existe ainda quem pense em nosso país com a mentalidade segregacionista da casa grande e da senzala. Infelizmente, ainda estamos bem distantes do conceito de cidadania tão difundido na revolução da pátria de Kardec. Revolução que pleiteava a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
 Grande Chico Buarque! Que possamos cantar de novo a tua canção para alimentar nossa alma de esperança e fé em dias melhores para os brasileiros.

  Amanhã vai ser outro dia...

P.S.: O clima político no Brasil anda tão ruim que é necessário fazer alguns esclarecimentos. Não sou defensor e nem filiado a partido algum. Sou apenas um cidadão brasileiro, espírita, livre-pensador, que reivindica para si o direito de pensar livremente e expor sua opinião, sempre com respeito a opinião diversa. Por outro lado, acredito que um jornal espírita importante como Abertura não pode e não deve passar ao largo dos problemas políticos e sociais que vivemos em nosso país. A bem da verdade, devemos reconhecer que o Jornal Abertura tem cumprido o seu papel de respeito à pluralidade de opiniões de seus articulistas, mesmo em questões controversas. E também não tem se omitido frente as discussões de caráter político e social. Isto enriquece sobremaneira a imprensa espírita.


Ricardo Nunes – Licenciado em Direito – Reside em Santos -SP

NR:Artigo publicado no jornal Abertura em Agosto de 2016

terça-feira, 23 de agosto de 2016

10 ATITUDES PARA DESBANCAR O ÓDIO - por Roberto Rufo

" O mundo está farto de ódio " (Mahatma Gandhi).

" O bem que fazemos é o nosso advogado pela eternidade " (Irmã Veneranda).


 Num artigo que li numa revista feminina, mas que os homens deveriam ler com assiduidade, estavam lá as 10 atitudes para desbancar o ódio. A primeira tinha como tutor o cineasta Fernando Meirelles que nos aponta que devemos perceber que somos idênticos a quem parece ser o nosso oposto. Na evolução do espírito, o controle das paixões pela vontade deve nos levar a evitar os abusos. Da paixão sem limites nasce a intolerância, que é um claro sintoma de desequilíbrio. A atriz Denise Fraga quer que foquemos a nossa atenção no amor e exercitá-lo. Parece um lugar comum mas só se aprende a caridade sendo caridoso, só se aprende a amar praticando atitudes amorosas. A atriz vê na internet uma excelente ferramenta para um saudável fórum de ideias. Fico muito triste quando num debate político como o atual, o que mais interessa a ambas as partes é desqualificar o oponente. Entraram no twiter de uma jornalista sediada nos EUA e a ofenderam com palavras e ameaças. Ela não tem a mesma ideologia que a minha, logo é minha inimiga.

O psicanalista Contardo Calligaris diz que devemos modular o ódio cultivando nossa vida interior. O ódio sempre existiu. Já odiamos muito mais do que nos dias de hoje.



O Espiritismo propicia que criemos uma cultura da solidariedade, pois somos todos espíritos em busca da perfeição. Mas a vida interior é só nossa, decidida pelo nosso livre-arbítrio. Caso contrário, seremos presas fáceis das identidades coletivas.
Entrar na pele do outro é o conselho de Roman Krznaric, filósofo e historiador britânico. 
Como fazer isso? Exercite os sentimentos altruístas. Vejam, que a mudança para uma paz interior, seguida do comportamento de respeito e amor ao próximo requer sempre que façamos o exercício da mudança. Só palavras soltas ao vento não adiantam. No último almoço beneficiente da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, mais uma vez estavam lá aqueles voluntários, septuagenários em sua maioria, com uma presença feminina muito maior. Poucos jovens colaborando. Talvez porque não tenham tempo disponível entre tantos intercâmbios que costumam resultar em nada. 

O estilista Ronaldo Fraga diz para trazemos de volta antigos valores, como a compaixão. Concordo com ele quando fala que há uma banalização da maldade, onde ser bom vem em segundo plano. O Espiritismo define o trabalho como toda ocupação útil. Busquemos utilidade em nossas vidas. Quantos de nós receberíamos com compaixão refugiados de outros países?

A blogueira Jout Jout quer que aprendamos a separar a crítica construtiva da ofensa. Pense antes de postar, no que é acompanhada pela filósofa Márcia Tiburi que nos orienta a praticar o diálogo e tomarmos muita atenção com a linguagem. As palavras maldosas machucam, ofendem o amor próprio das pessoas. Os intolerantes quase sempre têm um pensamento pronto e querem que o mundo se encaixe nele. Esquecem-se como ensina a doutrina espírita que devemos respeitar a desigualdade de aptidões.

A chefe de cozinha Carla Pernambuco diz que devemos cozinhar mais, convidarmos pessoas, pois a comida reúne até os diferentes. Os almoços em famílias são uma ótima oportunidade para debatermos ideias e conhecermos a diferença de conceitos. Nelson Rodrigues dizia que o mundo um dia seria dominado pelos cretinos fundamentais. O antídoto é o choque de posições e a compreensão de cada um. Só os estultos (ignorantes) têm sempre a mesma opinião, geralmente expressas por palavras de ordem e slogans.
O professor de filosofia Renato Janine Ribeiro fala em estimular as crianças a conviver com a diversidade. Concordo com ele, Deus a ninguém fez superior pela cor, raça ou etnia dizem os espíritos. O professor diz que no Brasil temos um apartheid estudantil, o que forma uma visão estereotipada. Segundo ele o branco tem uma imagem preconceituosa do preto; o preto, uma visão preconceituosa do branco.  Ele completa dizendo que junto com as atividades lúdicas deve-se propor o contato com várias culturas. E por último o jornalista e escritor Xico Sá diz que mesmo sem concordar, respeite-se o direito de expressão do outro.

O filósofo Raymond Aron dizia que um intelectual deve possuir duas virtudes, o respeito ao próximo e o respeito aos outros. Caso contrário corremos o risco de achincalharmos uma biografia admirável do Sr. Helio Bicudo (jurista, político e militante dos direitos humanos) chamando-o pejorativamente de "golpista". Pode-se não concordar com a opinião dele,  mas a tentativa de desqualificá-lo é sórdida.


O Espiritismo é toda uma teoria de respeito ao outro, de amor ao próximo, de compreensão das diferenças, sejam elas quais forem. O remédio? A prática do bem. Parece fácil, mas não é. Requer exercício perene. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Ademar Chioro dará entrevista ao Amaury Júnior

CONVITE

O ex ministro da saúde Arthur Chioro dará importante entrevista na quinta-feira, dia 25.08.2016, a partir da meia noite e meia (madrugada do dia 26), na emissora REDE TV, no programa AMAURY JR. Nesta oportunidade ele falará sobre o recém lançado livro “Perspectivas contemporâneas da reencarnação”, obra que reúne uma coletânea de artigos de pensadores brasileiros, argentinos, venezuelanos e norte-americanos sobre o tema reencarnação. Tais artigos foram apresentados originalmente no congresso da Confederação Espírita Pan-Americana, no ano de 2012, congresso que reuniu espíritas das Américas e da Europa na cidade de Santos, São Paulo, Brasil. Arthur Chioro e Ricardo Nunes são os organizadores da obra.



Não percam esta interessante entrevista, na qual se poderá verificar a importância do referido tema para a reflexão existencial do homem contemporâneo, bem como se poderá conhecer a compreensão dos espíritas laicos e livre pensadores no que diz respeito a uma interpretação dinâmica, evolucionista e libertária do processo reencarnatório, livre das tradicionais concepções de culpa e castigo geralmente associadas a este tema. O livro foi lançado com o apoio da CEPABrasil e do CPDoc, instituições espíritas que têm se notabilizado por sua seriedade e profundidade no trato dos temas filosóficos espíritas.


 Você que possui curiosidade filosófica sobre as questões da vida, da morte e do destino, anote na sua agenda, e não perca esta importante entrevista!

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O ”maravilhoso” mundo dos espíritos - por Jaci Régis

O ”maravilhoso” mundo dos espíritos   - por    Jaci Régis


O capitulo 10 de O livro dos Espíritos, DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS, deve ser estudado com mente aberta.

Basta verificar o que se diz logo de início, conforme abaixo:
558. Os Espíritos fazem outra coisa além de se aperfeiçoar individualmente?
- Eles concorrem para a harmonia do universo ao executar os desígnios de Deus, de quem são os ministros. A vida espírita é uma ocupação continua, mas não é sofrida, como na Terra, porque não há cansaço corporal, nem as angustias da necessidade.

559.Os Espíritos inferiores e imperfeitos também cumprem um papel útil no universo?
-Todos têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não participa na construção de um edifício tanto quanto um arquiteto? (Veja a questão 540).

Lido sem cuidado dá uma falsa ideia do mundo dos espíritos. O texto nos remete a uma ideia irreal do plano extrafísico. Pelo menos é o que mostram as comunicações dos Espíritos.

Lidos, o parágrafo e todo o capitulo, sem uma análise atualizada, parece que o além-túmulo é um lugar disciplinado, contido, dirigido com a mão de ferro.

Talvez o Espírito ou os Espíritos que responderam à questão, tenham exagerado ou quem sabe, refletem o pensamento milenar, desde os tempos bíblicos da atuação direta de Jeová nas coisas da vida.

E também, que o universo se restringe ao nosso planeta.

Na verdade, fornece uma ideia de um lugar perfeitamente organizado, dirigido - quem sabe-  por Deus e reflete ainda o pensamento restrito de que o universo é a Terra.

Desde os tempos bíblicos que os religiosos, incluindo aí Espíritos desencarnados, formataram a ideia do além-túmulo, onde reinava o todo-Poderoso Jeová.

No item acima, vemos uma descrição disciplinada dos Espíritos.

O que respondeu à questão diz que os Espíritos são os ministros de Deus, linguagem, no mínimo, ultrapassada, extremamente ultrapassada.

As comunicações apesar dos esforços de Allan Kardec, em tornar “natural” a comunicação dos Espíritos, por fim os tornam uma espécie de gênios que nos protegem.

É claro que essa visão genérica não desce aos detalhes.

É uma explanação literária.

Outro detalhe dessa atuação dos Espíritos é a existência de anjos da guarda. A tese é cristã e adotada por Kardec.

492. O Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde seu nascimento?

-Desde o nascimento até a morte e, muitas vezes, o segue após a morte na vida espiritual, e mesmo em muitas existências corporais, porque essas existências são não somente fases bem curtas em relação à vida do Espírito.

Essa tutelação do homem encarnado pelos homens desencarnados reflete ainda uma mentalidade pré-espírita. Não se encaixa no processo de amadurecimento do pensamento doutrinário.
Mas serve de base para muitas afirmações levianas, esperanças vãs de socorro espiritual. De, sob certa forma, seremos comandados pelos mortos.

Esse trecho da questão 495 é romântico:

É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos de guarda. Pensar que se tem sempre perto de si seres superiores, sempre prontos para aconselhar, sustentar, ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e devotados que as mais intimas ligações que se possa ter na Terra, não é uma ideia bem consoladora? Esses seres estão ao vosso lado por ordem de Deus, que por amor os colocou perto de vós, cumprindo uma bela, embora difícil missão. Sim, em qualquer lugar onde estiverdes estarão convosco: nas prisões, nos hospitais, nos lugares de devassidão, na solidão, nada vos separa desses amigos que não podeis ver, mas de quem vossa alma sente os mais doces estímulos e ouve os sábios conselhos.

Longe de nós a ideia de tornar a vida mais áspera do que é. Mas também não é bom caminho criar fantasias.

A relação com os Espíritos é real, espontânea precisa ser considerada uma forma natural de participação. Caso contrário haverá subordinação, a proteção como se ao encarnarmos nos tornamos crianças.

O pior é que no cotidiano essa suposta proteção não é sentida. Aliás, não teria sentido que os mais de seis bilhões de habitantes do planeta mobilizassem outros tantos Espíritos de estatura mais elevada “ O Espírito protetor pertencente a uma ordem elevadas” (490), para protege-los, guiá-los. Ser um anjo da guarda.

Sabemos que o mundo dos Espíritos de forma alguma é um lugar ordenado, dirigido por uma entidade central.

Há mais mistérios do que deixam a entrever as comunicações como as acima.

A realidade espiritual das pessoas se mostra aqui, como no além-túmulo, na forma como casa um se coloca diante da vida.

O AUXÍLIO PODE VIR MAS....

Não queremos menosprezar os esforços de Espíritos amigos ou decididamente voltados para o bem, em ajudar as pessoas encarnadas e desencarnadas.

É um corolário natural da evolução.

O que pretendemos é tornar a relação entre os Espíritos encarnados e desencarnados mais racional e real. Em determinadas circunstancias os desencarnados podem ter uma vantagem devido à sua invisibilidade diante de nós.

Pode querer influenciar para um lado qualquer. Mas nossa mente é a guardiã de nosso equilíbrio e harmonia. Temos como rejeitar as más influencias e acatar as boas.

Devemos antes de tudo nos imbuir de nossa condição de Espíritos imortais em transito corporal. Aproveitar as oportunidades da vida corpórea para tentar alcançar objetivos concretos que nos deem base moral, intelectual para superarmos os desafios.

A preocupação com essa suposta atuação dos Espíritos é similar à dos evangélicos atuais, por exemplo, por depositar numa hipotética crença total, fanática e, naturalmente conveniente, em Jesus. Caberia a ele fazer o crente vencer na vida, superar males e ser feliz, sem fazer força.

Isso é contra a natureza.

O que falta em muitos adeptos do Espiritismo e da Doutrina Kardecista é vontade, entusiasmo, superação da preguiça e do comodismo.

Essa posição reflete a verdade: não absorveram a base imortal que o pensamento de Allan Kardec lançou no mundo.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Intolerância ou vandalismo - ataque a Jornal Espírita - por Alexandre Cardia Machado

Recentemente colocamos no muro da sede do ICKS, um dispositivo que permitia a qualquer pessoa que por lá pasasse, retirar um exemplar do Jornal Abertura, de forma gratuita.



Esteve por lá por aproximadamente 40 dias, até que um dia destes alguém, mal intensionado ateou fogo nos jornais, lembrando-nos do que faziam os nazistas no século passado, ou os espanhóis nos famosos auto de fé de Barcelona. Jamais saberemos a motivação, mas de certo é que não desistiremos. Iremos reparar e voltaremos a oferecer nossos jornais, pois acreditamos na humanidade.

A ignorância é a base da intolerância, não conseguir conviver com outras opiniões, outras formas de ver o mundo, principalmente quando estas formas de ver o mundo bucam o amor entre as pessoas e almejam um mundo melhor é algo impensável. Mas sabemos que as pessoas nem sempre param para pensar. Agem por impulso.

Já tivemos vários casos onde nossos jornais não chegavam aos nossos assinantes e o motivo, identificado em muitos dos casos eram os porteiros evangélicos. Motivados sabe lá porque?

Nossos jornais, se enviados como correio normal, não chegam a Jon Aispúrua, na Venezuela, neste caso por razões menos espirituais mas sim por perseguição política. As motivações são muito diversas, mas estamos longe de viver em uma sociedade plural.

Acredito que o atentado que sofreu nosso jornal, seja muito mais um ato isolado de alguma pessoa que resolveu se divertir, depredando, elas o fazem com a coisa pública que  a elas mesmo pertencem, porque não fariam com um bem privado.

Oferecemos nosso jornal pois acreditamos que apresentamos desta forma uma oportunidade de reflexão à sociedade. Jogar fora ou reciclar simplesmente não passa por nossa cabeça, pois sabemos que muitas vezes uma leitura esporádica de um texto espírita, pode abrir uma porta a alguém que está perdido ou buscando uma resposta.

Por que alguém se sentiria ofendido ou atacado por um jornal que professe uma forma diferente de pensar? Se a pessoa não tem interesse naquilo,que siga em frente. Vivemos numa sociedade caótica, se alguém arruma a sua calçada, com cimento fresco, precisa ficar vigiando pois mutios tentarão pisar para deixar a sua marca ou colocar o seu nome?

Há algum tempo passou na televisão uma reportagem, sobre um professor estrangeiro da Unicamp, que reside em Barão Geraldo, Campinas. Ele recebeu de presente da prefeitura uma parada de ônibus em frente à sua casa. Para quem já passou por esta experiência, sabe bem a que me refiro. Pois bem, ele resolveu transformar  o limão em limonada. Instalou um bebedouro, colocou jornais,
disponibilizou bancos e claro passou a “curtir” esta onda positiva. Quem sabe não seja isto que tenhamos que fazer?

Por enquanto estamos na ressaca, de quem viu uma ideia ser destruída, mas iremos repensar e achar uma forma resiliente de seguir oferecendo o que de melhor temos a dar.

Só nos resta mesmo apelar aos poetas, pois  apesar de tudo “Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser bem melhor e será / Mas isso não impede que eu repita / É bonita, é bonita e é bonita... (Gonzaguinha).

Ou então como diria Belchior“ viver é melhor que sonhar” – precisamos superar todos os obstáculos, e ir em frente, pois não tem nada fácil na vida, estamos em eterno conflito, aprendendo com este convívio, buscando ajudar aqui e ali, contribuindo para um mundo melhor, menos repleto de pessoas levadas por maus impulsos. Com mais espaço para o contraditório.

Artigo publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016.

Após o ocorrido, uma pessoa, que costuma levar seus cães ao Veterinário, vizinho ao ICKS - Instituto Cultural Kardecista da Santos, por iniciativa própria reinstalou as cordas que mantém os jornais no lugar. Assim que retomamos a distribuição. agradescemos esta iniciativa. O bem sempre vence!

terça-feira, 26 de julho de 2016

O sorriso de Diegues - por Mauro Spinola

Coluna do CPDoc julho 2016 - Jornal Abertura - Julho 2016

O sorriso de Diegues

Havia pessoas maduras e jovens naquele grupo, todos espíritas e apaixonados pelo espiritismo. Em suas respectivas cidades, cada um militava pelo aprimoramento do movimento espírita. Antigas e novas batalhas os uniam: por menos igrejismo e evangelização, por mais pesquisa e espiritização, por menos sincretismo, por maior abertura de ideias.  Representavam um grupo pequeno, mas muito ativo, espalhado por todo o Estado de São Paulo e por outros pontos do Brasil. Possuíam conexão com espíritas de outras nações, com visões também libertárias, desvinculadas das amarras do religiosismo dominante no Brasil.

Henrique Diegues aos 89 anos na reinauguração da praça Allan Kardec em Santos, 2012 durante o XXII Congresso Espírita Pan-americano.


Realizavam no início de 1986 várias reuniões, todas muito animadas – ora em São Paulo, ora em Santos – para preparação de uma proposta inovadora para a USE (União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo), da qual todos participavam. As ideias borbulhavam. Era sim possível construir um movimento mais dinâmico, calcado no conhecimento e no debate de ideias, alinhado com o desenvolvimento das ciências e da própria sociedade. Foram desenhados projetos arrojados de transformação: congressos com apresentação de pesquisas e livre expressão do pensamento, cursos centrados na obra completa de Allan Kardec (não só em O Evangelho Segundo o Espiritismo), atividades para a infância baseadas na cultura geral e no espiritismo (não limitadas pelo discurso da evangelização infantil), seminários para análise profunda das questões morais e sociais, livres do moralismo vigente. Uma busca essencial: o foco no ser humano, na existência humana, na liberdade de pensamento e ação, na vida intensamente vivida e não na vida após a morte.

Praça Allan Kardec -Em Santos -iniciativa de Henrique Diegues


O grupo decidiu montar a chapa "Unificação, hoje! Para os novos tempos uma nova USE” e concorrer às eleições da USE, que se aproximavam. Haveria, certamente, muitos questionamentos, pois as ideias que ali se discutiam de forma alguma representavam o pensamento hegemônico entre os que dirigiam o movimento espírita no Estado de São Paulo ou do Brasil. Pelo contrário, algumas das antigas batalhas – como a que propunha a substituição da evangelização infantil por atividades educacionais centradas no espiritismo – já haviam causado anteriormente grande tensão. Não havia faltado acusações de que aquelas pessoas eram contra Jesus e Deus, que pretendiam destruir o espiritismo, e assim por diante.

Ciente das dificuldades que enfrentaria, o grupo se deparou com uma questão delicada. Quem seria o candidato a presidente? Poderia ser o jornalista editor do mais autêntico, polêmico e atacado periódico espírita? Seria melhor que assumisse o arquiteto que articulou a chapa em formação? Teria melhor resultado colocar um dos jovens que participavam do grupo ou mesmo um dos experientes e respeitados dirigentes espíritas de São Paulo? Em meio às várias opções aventadas, alguém propôs o nome de Henrique Diegues, o veterano participante daquele grupo e do Centro Espírita Beneficiente Ângelo Prado, de Santos. Os olhos de todos brilharam. Não poderia haver melhor proposta.
Henrique Diegues estava presente, junto com sua amada e amável Nair, em todas as reuniões. Seu sorriso se destacava (e contrastava) nos momentos de maior preocupação. Suas palavras sóbrias davam cor diferenciada às angústias e dúvidas que apareciam naquele ambiente de grande agitação. Ele aceitou de imediato a indicação.

Começou a campanha e nem tudo foi flores. A chapa concorrente, denominada “Tríplice Aspecto”, que se apresentou depois, colocava-se claramente como o antídoto contra a destruição da religião espírita. A chapa “Unificação, hoje!” viajou por todo o Estado, levando a sua proposta. Hospedagem no local nem sempre havia. Muitas foram as vezes que o grupo se apresentou com exíguo espaço de tempo e depois ouviu do dirigente local que ele e toda a cidade apoiavam a outra chapa. Como numa guerra santa, não faltaram ataques e insinuações sobre as intenções e o caráter dos colegas da chapa inovadora. Henrique Diegues deixou claro em entrevista dada ao jornal "Espiritismo e Unificação" que "o nosso propósito é sobretudo servir à Doutrina, como temos feito ao longo de mais de trinta anos". Esclareceu que não havia nenhuma intenção ideológica, pois as diretrizes para a USE eram estabelecidas pelo Conselho Deliberativo Estadual.

Nos momentos de maior cansaço ou indignação, a palavra madura de Diegues constituía a paz que o grupo necessitava. Ela foi essencial para que não faltasse energia até a reta final.
Chegou o dia da Assembleia e os representantes de todo o Estado se reuniram em São Paulo para a grande decisão. Alguns participantes do grupo diziam que havia chance para uma (improvável) surpresa e a chapa poderia ganhar. Henrique Diegues não se aventurou em prognósticos, mas manteve seu sorriso sóbrio. No momento da apresentação da chapa, ele representou o grupo, sintetizando as principais ideias. Mostrou que nenhum perigo havia, que o progresso proposto se construiria com união e integração.

A Assembleia foi tensa. Calúnias e ataques continuaram correndo nas articulações. O representante de uma cidade do oeste do Estado, que havia viajado de ônibus por mais de 500 Km, foi desautorizado por seus pares no momento que se levantou para votar. Com uma nova e surpreendente procuração, um outro representante votou em favor da outra chapa. A derrota, ao final, foi massacrante: 63 votos a 13 para a chapa concorrente.

Ao término do dia, o grupo avaliou que havia dois legados essenciais. O primeiro foi a oportunidade de debater e dialogar: a discussão e a reavaliação de conceitos que a chapa promoveu deixava marcas para todos os debates que viriam pela frente. O segundo e mais delicioso legado foi a lembrança do sorriso sóbrio de Henrique Diegues. A chapa cumpriu o seu papel e ele estava satisfeito. Fomos para casa com esse presente e a certeza de que aquela caminhada estava apenas começando.

No mês de março de 2016 morreu, aos 93 anos, o amigo, militante e dirigente espírita Henrique Diegues. A lembrança e o registro de seu papel no episódio da eleição de 1986 fica como uma singela, porém muito grata e justa homenagem a esse grande espírita.

A seguir publicamos a proposta da Chapa Unificação:








DIFERENÇA ENTRE SOLIDARIEDADE E GENEROSIDADE - por Roberto Rufo

                                                                       


                SOLIDARIEDADE é um ato de bondade com o próximo, um sentimento de união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de um grupo. Literalmente, significa:
  • Cooperação mútua entre duas ou mais pessoas.
  • Interdependencia entre seres e coisas.
  • Identidade de sentimentos, de idéias, de doutrinas(1).


                    Na Sociologia existe o conceito de SOLIDARIEDADE SOCIAL, que subentende a idéia de que os seus praticantes se sintam integrantes de uma mesma comunidade, portanto, sintam-se interdependente.
                    
                    GENEROSIDADE é a virtude que a pessoa tem quando acrescenta algo ao próximo. Generosidade se aplica também quando a pessoa que dá algo a alguém tem o suficiente para dividir ou não. Não se limita apenas em bens materiais. Generosos são tanto as pessoas que se sentem bem em dividir um tesouro com mais pessoas porque isso as fará feliz, tanto quanto aquela pessoa que doará um tempo para outros sem a necessidade de receber algo em troca.
       
                    Segundo René Descartes, em Tratado das paixões e também nos Princípios de Filosofia, a generosidade é apresentada como uma despertadora do real valor do eu e ao mesmo tempo como mediadora para que a vontade se disponha a aceitar o concurso do entendimento, acabando assim, a causa do erro. Nesse caso, passa a ser um conceito de mediação entre a vontade e o entendimento (1).