quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A Revolução do Amor - por Roberto Rufo e Silva

A REVOLUÇÃO DO AMOR. 

“O amor sempre foi para mim o maior dos negócios, ou melhor,o único”. ( Stendhal ) ;

“Doar-se é a atitude-chave para qualquer programa de vida, que pretenda desenvolver os potenciais do Espírito”( Jaci Regis ).


Sob o sugestivo título de “A Revolução do Amor - Por uma espiritualidade laica”, o filósofo Luc Ferry escreveu um livro muito interessante de ser lido e com uma conclusão ou constatação que merece ser analisada. Indo contra a maré pessimista oriunda desde a  segunda metade do século XX, Luc Ferry visualiza o surgimento de uma nova humanidade. Pelo menos no mundo Ocidental. Seria como Jaci Regis escreveu no seu estupendo livro”Comportamento Espírita”um novo personagem em transição.

Partindo da história da evolução da família, com destaque à conquista do casamento por amor, por escolha (algo recente na vida dos casais), Luc Ferry vê desde aí o embrião de uma nova dimensão do humano, o que ele chama de espiritualidade laica. Muito pouca gente hoje, e concordo com ele, quer arriscar a vida para defender um deus, uma pátria ou um ideal revolucionário. Mas vale a pena se arriscar para defender aqueles que amamos ou respeitamos, não importa em que local do planeta. Diz ele então que estamos vivendo a revolução do amor, e essa seria a melhor notícia do novo milênio.

Se não fala em espiritualidade laica, mesmo porque acreditava numa inteligência primeira com um grande projeto consubstanciado na Lei Natural, Jaci Regis em 1981 (há exatos 35 anos) no seu livro citado acima afirma que”considerando que a grande maioria dos Espíritos que vivem no Planeta Terra aqui vêm evolucionando há muito, formando uma humanidade mais ou menos permanente, compreende-se, pela História, que atingimos uma etapa do processo de crescimento individual e coletivo, em que os valores deverão definir-se”.

 Para Luc Ferry esses valores são chegados pois uma nova espiritualidade laica nasce da sacralização do ser humano por meio do amor. É o amor que dá sentido a nossa existência. Luc Ferry aponta que “no passado, princípios bem diferentes ditaram a ética de nossos ancestrais  : o Cosmos dos gregos, o Deus judaico-cristão, a Razão do humanismo moderno e o Ideal Revolucionário”. Ele aponta que ainda bem que os motivos tradicionais do sacrifício coletivo estão sendo literalmente eliminados pela grande destruição dos valores e das autoridades tradicionais que tanto marcou o século XX até Maio de 1968. Realmente, vamos parar para pensar e imaginemos os milhões de seres humanos assassinados em nome de Deus, do nacionalismo fanático e dos ideais revolucionários comunistas/socialistas.

No entanto esse lento, porém invencível processo de secularização dos valores, requer como nos ensina Jaci Regis que “agora,é necessário que o homem assuma sua natureza espiritual e desenvolva, no plano da vida terrena,novas formas de relacionamento e revolucione seu projeto de vida, a partir das premissas espirituais dinâmicas".

Luc Ferry explica que essa nova”espiritualidade laica”, significa uma concepção de filosofia que atribui ao homem uma tarefa essencial de refletir sobre o que seria uma via boa sem passar por um deus  ou pela fé, mas com os meios disponíveis, os de um ser humano que se sabe mortal, entregue a si mesmo e às exigências de sua lucidez. Há de surgir um novo humanismo. O Espiritismo pode ajudar e muito nesse novo humanismo, pois é da natureza da Doutrina Espírita motivar o indivíduo a transformações morais, nas sábias palavras de Jaci Regis.

Roberto Rufo.  

NR: Artigo originalmente publicado no Jornal Abertura de Julho de 2016, seja nosso assinante, valor da assinatura anual R$ 55,00 - mande um email para ickardecista1@terra.com.br e ajude-nos a manter viva a ideia de um Espiritismo Moderno e Livre-pensador.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sobre a Morte e o Morrer - por Alexandre Cardia Machado

Sobre a Morte e o Morrer

Durante muitos anos o ICKS, através de Jaci Régis, promoveu seminários com este tema, sempre muito concorridos. A principal razão disto é que mesmo sendo a morte uma certeza, temos todos medo da mesma.

Como espíritas, não deveríamos temer a morte e filosoficamente não tememos. Mas no dia a dia é que a coisa pega.

Os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e socorristas são treinados para enfrentar o inevitável, fazem tudo o que é possível para evitar, mas ao mesmo tempo, precisam estar preparados para o pior.

Veja que ao nos referirmos à morte, falamos em pior, certeza, preparação. Como reencarnacionistas, sabemos que a vida física é apenas uma metade de nossa existência, sabemos que sobrevivemos à morte física e seguimos vivendo como espíritos imortais que somos.

Pela intensidade da vida cotidiana, muitas vezes nos esquecemos disto e pensamos igual aos não espíritas. Pode ser que seja pelo instinto, ou por amarmos muito a vida e os que aqui estão conosco, mas deveríamos nos esforçar para viver bem, considerando que a morte sempre é uma possibilidade presente. Valorizar o presente sem descuidar do preparo espiritual, sempre focados no fazer o bem, amar e ajudar nossos filhos e amigos.

Jaci Régis sempre repetia uma frase que incorporou em sua bagagem, durante sua proveitosa vida, “o que se leva desta vida é a vida que a gente leva”. Jaci nos deixou de forma inesperada, sem preparação... tudo em que trabalhava intensamente, de um dia para o outro, ficou órfão. Acredito que Jaci não ficou muito preocupado, pois sempre dizia que enquanto estivesse vivo, faria o máximo esforço para levar suas ideias e projetos em frente.

Todos os projetos seguiram em frente, outros ocuparam o seu lugar. Ninguém é insubstituível, por melhor que sejamos. O que for importante seguirá, se o mestre for bom, os alunos saberão o que fazer.

Jaci, sabemos hoje, está integrado em várias atividades no mundo dos espíritos. Os sucessores aqui estão no ICKS, na Lar Veneranda, já antes de sua desencarnação. O CEAK, onde foi presidente por muitos anos,  seguia seu caminho sem precisar dele.  Me refiro a Jaci por ser um exemplo à todos em nosso grupo livre pensador, de alguma forma ao citá-lo todos nós de certa forma nos sentiremos tocado. Mas muitos outros passaram por aqui e deixaram também as suas marcas. Esta é a lei da vida, é o projeto Divino, através da lei de progresso, da reencarnação e da evolução infinita.
Não precisamos morrer antes do tempo, com excessivos cuidados, não tomando vento, não comendo isto, não bebendo aquilo. Vivamos com equilíbrio encarando sempre novos desafios, esta é a melhor maneira de um dia morrer e reacordar no lado de lá,  percebendo que a encarnação valeu muito e foi gratificante.


Chorar, bem esta é a primeira coisa que fazemos ao reencarnar, nosso primeiro respiro vem acompanhado de choro.  Portanto vamos sim chorar os mortos, mas não vamos morrer antes da hora, pois a vida é infinitamente bela!

NR: Publicado originalmente no jornal ABERTURA em junho de 2016

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Imortalidade e Atemporalidade - por Jaci Régis

Imortalidade e atemporalidade – Jaci Régis

Um novo pensar sobre o ser humano, nominado “homem”, o definirá, essencialmente como um ser inteligente - um Espírito -  atemporal, temporariamente ligado a um organismo físico.
Essa atemporalidade sugere que o ser inteligente é permanentemente  atual. Ele não é de ontem, nem de amanhã, é de hoje. A atemporalidade o define como o ser que vive sua atualidade constante.
As experiências vivenciadas podem ser referidas ao passado e as projeções para o futuro. Mas são balisas temporais, necessárias para estabelecer um limite de compreensão do fluxo dinâmico da vida.
Essa condição  explica sua imortalidade.
A  imortalidade sinaliza a natureza espiritual do ser inteligente. Ela o define como um ente que permanece.
Analisando a experiência corpórea do ser inteligente, compreendemos a perfeita  sintonia entre ele e seu corpo, indispensável e necessária para sua atuação  no campo  das relações.
Esse ser atemporal, todavia, não depende de um organismo para ser.
Ele é.
E vive a sua experiência no nível mental, na expectativa de desenvolver potencialidades que lhe são inerentes.
A atemporalidade permite que o ser inteligente transite pelos mecanismos do nascimento e da morte do corpo, pois cada encarnação é sempre a primeira.



A seqüência evolutiva do principio inteligente

A condição de atemporalidade permite que tenhamos uma visão evolutiva do ser espiritual.
Sendo um ser natural, o ser inteligente percorre uma  seqüência progressiva.
A Lei Natural estabelece uma seqüência fundamental para o desenvolvimento dos seres:
sobrevivência, convivência  e produtividade.
O ser inteligente, na sua condição de ente espiritual permanente, possui estrutural e constitucionalmente, um impulso agressivo, graças ao qual consegue evoluir.
Sequencialmente, o impulso agressivo constitucional  transforma-se em:
vontade, que lhe garante a sobrevivência, desejo que permite a convivência e produtividade capaz de propiciar o prazer, em busca da felicidade.

No início ele é um principio

Criado como um ser potencial, incorpóreo, como um conjunto mental aberto, mas vazio. Para se tornar Espírito submete-se ao processo evolutivo.
Inserido no universo material, com ele interage, desenvolvendo um “corpo mental” como apêndice de armazenamento das experiências.
Realiza sua curva evolutiva, invariavelmente vivendo ligado a organismos que, em escala ascendente, lhe permitem o longo aprendizado até alcançar o nível hominal.
Submetido à alternância da vida, morte e renascimento nos organismos a que se liga, o ser inteligente mobiliza sua força intrínseca, a agressividade constitucional, que instintivamente o faz buscar a sobrevivência.
 Esse ligar-se a organismos e deles ser afastado pela morte destes, no decorrer do processo, é o motor básico de sua evolução,  desde as primeiras manifestações como Princípio Inteligente.
Dentro dessa visão, a atmosfera da Terra compreende um espaço  e um hiperespaço,  ambos compostos dos mesmos elementos atômicos, interagindo constante e permanentemente, embora de características diferenciadas. O espaço terráqueo chamaremos de plano físico ou corpóreo. O hiperespaço será chamado de plano extrafisico.
A descoberta do plano extrafísico ampliou o sentido da imortalidade e integrou as dimensões em que se manifesta o ser humano. O túmulo é receptáculo de um organismo que se desgastou. Com isso a imortalidade ganha um novo sentido e um novo horizonte, com a seqüência natural da pessoa, além do fenômeno da morte.
Essa reciclagem estabeleceu a continuidade natural da vida pessoal e coletiva, embora com suas características bastante diferentes e  dá ao ser inteligente um campo existencial praticamente ilimitado, em planos vibracionais ou dimensões energéticas que se interligam e interagem.

A corporeidade no plano extrafísico

No plano extrafísico existe uma corporeidade temporária constituída por um envoltório energético que Allan Kardec chamou de perispírito.
O perispírito  garante uma temporária corporeidade mantendo o ambiente de relação possível entre os Espíritos no plano extrafísico.
O perispírito reproduz a forma do corpo físico, o que permite a identificação no novo estágio vibracional. Ele é um produto do Espírito e se desenvolve em cada encarnação juntamente com o desenvolvimento do organismo físico do qual é uma espécie de clone, com características vibracionais específicas.

Nota da Redação: Ficou interessado, você pode ler tudo no livro NOVO PENSAR SOBRE DEUS, H0MEM E O MUNDO de Jaci Regis, o ICKS ainda possui alguns exemplares, entre em contato pelo email ickardecista1@terra.com.br. Enviado pelo correio, no Brasil sairia por R$ 30,00.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

DA ESPANHA ÀS AMÉRICAS: A TRAJETÓRIA DA TRADIÇÃO ESPÍRITA LIVRE-PENSADORA - por Herivelto Carvalho

DA ESPANHA ÀS AMÉRICAS: A TRAJETÓRIA DA TRADIÇÃO ESPÍRITA LIVRE-PENSADORA
Herivelto Carvalho

Por volta de 1870, Don Justo de Espada, um espanhol oriundo de Málaga, veio tentar a sorte na Argentina, trabalhando em empreendimentos comerciais, na capital Buenos Aires. Trouxe consigo uma carta de recomendação que comprovava sua vasta experiência no ramo, porém, sua maior contribuição ao país que o acolhera, não foi no campo profissional, mas sim no das ideias espiritualistas, pois foi o primeiro divulgador de um movimento que, no dizer de Cosme Mariño, preocupava os intelectuais mais avançados do Velho Mundo: o Espiritismo. Outro espanhol, Angel Aguarod, antigo integrante do Centro Barcelonés de Estudios Psicológicos, se tornou no início do séc. XX, um dos principais divulgadores do Espiritismo na América do Sul. Em Cuba, imigrantes catalães deram início aos primeiros agrupamentos espíritas do país.

Estes exemplos ilustram como a vinda de imigrantes espanhóis foi fundamental para o desenvolvimento do Espiritismo em vários países da América Latina. Além de atuarem como propagandistas da nova doutrina, trouxeram consigo algumas características que eram peculiares do movimento espírita espanhol, dentre elas, uma forte tendência de associação doutrinária com os ideais de livre-pensamento, secularismo e atuação social.

Esse movimento desenvolveu grande unidade e atuação na sociedade espanhola, cuja proposta filosófica se apresentava como a superação das religiões positivas. Esta forma moderna de espiritualismo rechaçava os elementos de dogmatismo existente nas religiões do passado e pretendia desenvolver uma nova espiritualidade racional, capaz de se relacionar com a filosofia e a ciência. Pelas particularidades que o mesmo desenvolveu, formou uma escola de pensamento que tem como atributo principal a interpretação do Espiritismo como um sistema de ideias aberto, progressivo, não-dogmático e relacionado com o livre-pensamento, constituindo, portanto, no sentido filosófico, uma tradição.

Podemos afirmar que o surgimento da tradição espírita livre-pensadora ocorreu, no final do séc. XIX, quando as obras de Allan Kardec se popularizaram na Espanha. Seus expoentes iniciais foram Alverico Perón, Fernandez Colavida, Torres-Solanot e Amália Domingo Soler. Esta tradição adquire características próprias não porque fez um rompimento com o pensamento kardecista, mas sim pelo método de desenvolvimento adotado e pelo modo de atuação no seu contexto social, que se distinguiu do modo como os espíritas franceses praticavam e divulgavam o Espiritismo.

Profundamente organizado e ativo, o movimento espírita espanhol se internacionalizou, influenciando a formação de movimentos espíritas nos países americanos. A Espanha, portanto, se tornou para estes, a principal fornecedora de conteúdo doutrinário, através de periódicos e livros que atravessavam o Atlântico, tornando alguns autores espanhóis muito populares no Novo Mundo. Essa situação fez com que, no final do séc. XIX, a figura da espanhola Amália Domingo Soler se tornasse uma das maiores divulgadoras internacionais do Espiritismo, tendo seus escritos reproduzidos em publicações por toda a América Latina.

Outro exemplo de intercâmbio cultural entre os movimentos espíritas dos dois continentes pode ser notado, durante a realização do Primeiro Congresso Internacional Espírita, em Barcelona, no ano de1888, em que as duas maiores delegações, com exceção da própria Espanha, eram as de Cuba e México, bem como, um dos secretários do evento foi o destacado líder espírita cubano Eulogio Prieto.

Apesar de as ideias de laicidade, livre-pensamento e constante atualização serem praticadas por espíritas latino-americanos e espanhóis, desde as últimas décadas do séc. XIX, com o passar dos anos, no âmbito do movimento espírita pan-americano, o conhecimento acerca desse fato, ficou perdido, a ponto de muitos integrantes desse movimento acreditarem que tais ideais se consolidaram após a fundação da Confederação Espírita Pan-americana em 1946.

Após o resgate e disponibilização virtual de obras clássicas de autores que atuaram como protagonistas no desenvolvimento do Espiritismo pan-americano, realizada com muito zelo pela equipe do projeto PENSE, foi possível uma leitura mais atenta deste material, o que permitiu identificar um grande número de citações e referências a autores espanhóis que se consagraram nas primeiras décadas do movimento espírita daquele país, cujo trabalho apresentava uma ascendência sobre o pensamento dos espíritas latino-americanos. Naum Kreiman, por exemplo, ao falar sobre seu conceito de ciência espírita, cita, diversas vezes, o pensamento de Manuel Sanz Benito, espanhol que, em 1890, publicou importante obra sobre a epistemologia espírita.

Uma análise atenta desse fato confirma que o Espiritismo divulgado e vivido pela CEPA é o desenvolvimento das ideias da tradição espírita livre-pensadora, elaborado durante um intercâmbio cultural, onde o conhecimento espírita produzido nos dois continentes possuía mútua influência. Trata-se de uma escola de pensamento espírita perpetuada e ampliada por pensadores latino-americanos como Mariño, Porteiro, Mariotti, Fernández, Kreiman, Grossvater, Postiglioni, Aizpúrua, dentre outros.

Esse intercâmbio foi crescente e progressivo até os anos 1930, quando a Guerra Civil Espanhola e a perseguição imposta pela ditadura do General Franco destruiu o forte movimento espírita espanhol. A partir desse momento, os espíritas americanos perceberam que estava sob sua responsabilidade, a tarefa de manter vivo o projeto de desenvolvimento do Espiritismo, e que para efetivar esta atividade, seria preciso instituir um movimento integrador para o continente. O resultado dessa percepção culminou com a iniciativa de criação da CEPA.

Os ideais de defesa do caráter progressivo, laico e livre-pensador do Espiritismo bem como o desenvolvimento da Filosofia Espírita e sua atuação em diversos setores da sociedade como a política, a educação, a justiça, etc, tão defendidos na atualidade pelos espíritas cepeanos, podem ser facilmente encontrados na aurora da tradição espírita livre-pensadora.  Em 1890, Sanz Benito, alegava que “nunca o Espiritismo poderá constituir escola, doutrina ou sistema, com afirmações definitivas, pois que sempre deixará amplo campo às investigações e sempre irá ampliando seu curso científico”, dando destaque ao seu caráter progressivo. O próprio Congresso de 1888 se pautou pela manutenção deste mesmo caráter ao buscar efetivar o projeto de Kardec sobre os "congressos orgânicos", que seriam responsáveis pela revisão geral e a adesão de novos princípios. O mesmo evento salientou a característica de laicidade, ao afirmar, no texto de sua declaração final, que era preciso um “esforço constante para difundir o laicismo por todas as esferas da vida”. Alguns anos antes, Colavida, em carta a Albert de Rochas, afirmava essa mesma característica ao declarar que “O espiritismo não é nem cristão, nem muçulmano, nem judeu, etc.”.

Ao longo de sua existência, a tradição espírita livre-pensadora, através das obras de autores clássicos e modernos, contribuiu para o desenvolvimento dos fundamentos e da natureza do Espiritismo. A CEPA ampliou sua participação, nos últimos anos, no Brasil, na Espanha e na França, além de continuar atuante em todo o Continente Americano, e, como uma legítima herdeira dessa tradição, tem a tarefa de manter vivos seus ideais, especialmente, o tão importante caráter progressivo do Espiritismo, considerado por Kardec como a condição essencial para a sua perpetuidade e sobrevivência.

Herivelto Carvalho é servidor público municipal, membro do CPDoc e delegado da CEPA em Ibatiba ES.

Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.www.cpdocespirita.com.br / contato@cdocespirita.com.br

NR: Este artigo foi originalmente publicado no Jornal Abertura de outubro de 2016 - na coluna CPDoc em Foco.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Espiritismo em Sociedade - Reinaldo di Lucia

Espiritismo em sociedade

A crise que enfrentamos no Brasil – ética, econômica e política – tem minado a esperança do brasileiro em dias melhores. Ao conversarmos com as pessoas, notamos que, de maneira geral, já não se acredita mais no futuro. A frase “o Brasil não tem mais jeito” é muito comum, e tem sido mais e mais dita por gente de todas as idades e classes sociais.

O efeito mais evidente deste sentimento é a observação de que, a cada dia que passa, temos mais jovens mostrando um grande desejo de deixar o país. Quando perguntados o porquê disso, esse grupo aponta a falta de perspectiva de trabalho, a descrença absoluta na classe política e em sua capacidade (e vontade) de mudar a situação e, principalmente, a certeza de que o brasileiro é assim mesmo e a situação não vai mudar jamais.

Como nós, como povo, deixamos a coisa chegar neste ponto? Há inúmeras explicações históricas que demonstram o impacto que a colonização portuguesa, a cultura autoritária e, mais recentemente, a ditadura militar tiveram para este resultado – todas, a meu ver, absolutamente corretas, mas de pouca ação prática. O problema é que, com a situação posta do jeito que está, o que teremos em breve é um país no qual o aprofundamento das desigualdades sociais tornará o Brasil mais parecido com o Haiti que com a Noruega.

Precisamos pensar em soluções diretas e urgentes. Mas o que vemos, institucionalmente, é uma paralisação global: a classe política não tem interesse em modificar este estado de coisas, a justiça se perde em tecnicalidades, a escola foca o currículo sem se preocupar com sua aplicação e as instituições religiosas, possivelmente as mais conservadoras, prometem, no máximo, a abundância material e a salvação eterna, desde que o fiel seja submisso aos seus desígnios.

E nós, espíritas, o que estamos fazendo? Como doutrina humanista e  livre-pensadora, temos a obrigação de contribuir para que as pessoas tenham mais acesso a discussões que levem a uma ação efetiva na construção de um futuro melhor. Se ficarmos na dependência do poder público, nada acontecerá, ao menos no médio prazo. Penso que é necessário que nossa visão de mundo, profundamente libertadora, seja cada vez mais difundida, porém com um viés prático. Precisamos deixar de lado as discussões inócuas e superficiais, bem como as acusações “alimentares” (coxinhas x mortadelas) e mostrar causas e consequências do que aí existe, debatendo o modelo de sociedade e de país que queremos e como podemos chegar a ele.

Não, não podemos mais esperar que seja feita uma reforma política, uma reforma do ensino ou o que quer que seja. Precisamos agir diretamente, com os recursos – ainda que parcos – que temos. Não faz sentido, numa situação cada vez mais crítica, dissociarmos a teoria espirita da discussão social, prática; especular sobre o mundo dos espíritos e deixar para depois nossa realidade física. É vital travarmos este debate nas casas espíritas, de forma respeitosa quanto às diferenças e tendo em mente que o objetivo é o mesmo: uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais nobre.

NR: Originalmente publicado no Jornal Abertura em outubro de 2016

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A Liberdade Sexual da Mulher - por Jaci Régis

A liberdade sexual da mulher

 A oradora explicava o significado da introdução das pílulas anticoncepcionais na vida das mulheres. Segundo ela, graças à pílula, as mulheres casadas puderam limitar o número de filhos e com isso ganhar espaço para a sua realização pessoal.

Aberto o debate, afirmei que o importante era a liberdade sexual da mulher e que a pílula tinha permitido que ela pudesse transar com menor risco de gravidez, isso sem relação direta e necessária com o casamento. Tanto a oradora, quanto a plateia pareceram pouco à vontade.

Todos falaram da necessidade e da liberdade. Sem ela, não se vislumbra a possibilidade de crescimento real do homem, do espírito. Mas, quão difícil é exercer a liberdade! Quase sempre é imediatamente limitada pela responsabilidade que é o elemento qualificador, o que qualifica o sentido real da liberdade.

Sobre a liberdade sexual há terríveis enganos, porque geralmente age-se por comparação, contradição ou transgressão. Há inevitável transição no percurso para a liberdade real. Essa transição poderia ser suavizada se houvesse uma reciclagem maior nas mentes. Trabalha-se com modelos repressores e teme-se que se transforme em libertinagem, de desregramento puro e simples.

Se, genericamente, a questão da liberdade sexual está confusa e difusa, fica muito mais aguda e inconciliável quando se refere, especificamente, à sexualidade da mulher. Esse parece ser o ponto crucial de toda a questão, por1que a tradição moral e moralista pressionou negativamente a mulher, de modo a fazê-la sentir-se envergonhada e pecadora porque tinha desejo e desejava o prazer.

A oradora a que nos referimos, por exemplo, explicitou essa posição preconceituosa de dizer “isso é outra questão. Não estou me referindo à possibilidade de a mulher se relacionar ou transar com qualquer um...”. O que me fez retorquir: “com qualquer um não, com quem quiser ou desejar...”.
Porque a moral estabeleceu que a mulher devesse ter apenas um parceiro sexual, ser “propriedade” daquele que a tomasse como esposa. Nessas condições seria ele, realmente um parceiro ou alguém que fazia sexo com ela, às vezes sem considera-la?

Alguém me alertava que escritores e psicólogos que comandaram campanhas pela libertação sexual, estão agora, preocupados com os rumos dessa abertura, pelo número alarmante de abortos praticados por meninas de 13 a 15 anos, levadas pela ignorância da realidade afetiva e que seriam vítimas dessa pregação pelo prazer.

Esse fato merece reflexão. A primeira é que, as mentes dos adultos estão apenas pseudo abertas. Mães e pais atuais falam de liberdade sexual, mas geralmente continuam presos a medos e limitações e transmitem noções teóricas, sem coragem para examinar suas realidades afetivas. Pode-se dizer que não possuem condições de orientar positivamente os filhos. A maioria guarda a esperança de que suas filhas se casem virgens.

O discurso religioso prossegue ainda hoje sobre a tônica cristã da repressão e negação do prazer, especialmente para mulher. Há desconsideração para a sua qualidade de Espírito, acima das especificações sexuais típicas.

Pede-se sacrifício, renúncia aos sentimentos, mantendo a imagem de serva do lar, dentro de padrões conservadores, seja em nome da felicidade futura ou erros do passado.
Na luta pela conquista da liberdade e participação da mulher, envolvem-se, não apenas ela mesma, como um ser, uma pessoa, mas todo o sistema moral, social, todo o conjunto de fatores que recebem o impacto direto dessas mutações.

Creio que há um excesso de apelo racional aos critérios de justiça e igualdade, que certamente imperarão inevitavelmente, pois o caminho iniciado e já percorrido não terá volta, Mas, será possível proceder a essas mutações fundamentais sem abalos emocionais, sem atingir o afeto?
É fácil condenar racionalmente o tabu da virgindade, apoiar o aborto em nome do direto de usar o próprio corpo, abominar o casamento, e desestruturar a família, baseados em posições psicológicas e socialmente defensáveis.

Todavia, não se pode esquecer o vazio emocional que se segue. E não se veja nessas palavras qualquer apelo à moratória no trajeto da libertação feminina. Mas uma reflexão sobre as condições da realidade pessoal, de4 estruturas mentais, individuais e coletivas, que não podem ser negadas.
O sexo existe e é um sentimento básico, determinante do equilíbrio interno. Reprimi-lo é atirar-se em prisão degeneradora da mente. Consumi-lo à saciedade é cair em abismo de desestruturação da alma.
A transição deve ser considerada. Mas as correntes religiosas, tanto o ativismo feminista, colocam-se em polos opostos, sem encontrar recursos para auxiliar a internalização dessas mudanças. Há toda uma tendência a preservar a sociedade machista, erguida sobre infindáveis equívocos acerca da natureza da estrutura espiritual do ser humano. De outro, uma negação insensata de qualquer espiritualidade, cingindo-se a moral proposta a estreitos limites sensoriais.


Jaci Régis

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura da Março 2016.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Amai os vossos inimigos - por Alexandre Cardia Machado

Amai os vossos inimigos:

Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. – Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?”

Esta frase de Jesus é sempre um desafio a todos nós, mas interpretando com Allan Kardec, como buscamos fazer abaixo , nos parece mais fácil de concordar  – “2. “Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam?

– Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? – Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma.”  - Evangelho Segundo o Espiritismo.

Neste momento em que vivemos é necessário apelar ao bom senso e baixar o nível de ódio, que nos cerca, passamos pelo momento em que uma Presidente da República  está em processo de Impeachment e o Presidente da Câmara dos Deputados está com seu mandato suspenso onde, uma sensação de revanche, toma conta de grande parte da sociedade. Este sentimento de revanche não pode ser, de maneira alguma, o sentimento que nos move, em momento tão grave. Temos que ser motivados pela concordância que o Poder Judiciário defende o direito da cidadania.

O momento é de encontrar meios de união, capaz de permitir que o país volte a crescer, aumentando as oportunidades de trabalho para a população.

As disputas políticas são a normalidade em uma democracia, perder ou ganhar é parte do processo, se respeitarmos a Constituição, toda a disputa política é valida. O que queremos dizer é, não importa o lado que cada um de nós está, em alguns meses haverão novas  eleições e em dois anos e pouco, uma nova eleição para Presidente da República acontecerá. Ou seja é hora de trabalhar para construir uma nova fase positiva que beneficiará a todos os brasileiros.

A sequência do texto do Evangelho leva à considerarmos as reencanrnações, como um instrumento de ajuda no processo de reduzir o ódio, mas não precisamos esperar tanto, temos que com maturidade, enfrentar o que está  muito claro, houve aparelhamento da máquina pública, com o objetivo de financiar um projeto político, feito de forma ilegal, conforme amplamente divulgado pelas Delações Premiadas. Este grave problema foi identificado e está sendo desmantelado, o erro não está nesta ou naquela ideologia, mas sim na prática do ilícito. Ora, passado este momento, as diversas correntes que busquem novas lideranças internas, pois só a pluralidade é que permitirá o progresso reto da nação brasileira.

Há que se continuar investigando em todas as operações da Polícia Federal, pois não há como conviver com a corrupção. Esta maturidade que nosso país começa a atingir, quer no campo do Judiciário, quer no campo da Polícia Federal – à partir de um novo marco obtido pela união da Receita Federal com a Polícia Federal e do episódio do Mensalão, nos faz atingir um potencial investigativo jamais possível. Para encontrar o corrupto, basta seguir as movimentações financeiras, desde que todo o processo esteja revestido de um mandato judicial.

Esta interpretação, sabemos, não é unanime, alguns acham que a justiça está ultrapassando os direitos individuais, não somos tão avançados no conhecimento jurídico, mas a experiência comum é que a jutiça sempre é feita considerando os dois lados o da acusação e da defesa, portanto este é o processo e o contraditório é o normal. Errar, ser punido, aprender com o erro e melhorar, está na basa de nossa Doutrina Espírita, faz parte da sabedoria Divina e portanto é um processo natural. Aqueles que erraram precisam necessariamente mudar seus métodos, rencontrar-se. Ficar com o pensamento fechado em teorias de conspiração em nada ajuda. Há que se olhar para dentro e renovar-se.

Que no próximo número possamos estar escrevendo sobre coisas mais amenas e que diversifiquemos o nosso pensamento, bastante concentrado nestes problemas que expõe  diariamente a fragilidade moral humana.



A Doutrina Kardecista - uma reflexão -por Roberto Rufo

DOUTRINA KARDECISTA - Parte I

“Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.” ( Allan Kardec ).


Em Março de 2008, portanto há oito anos, Jaci Regis lançava uma cartilha de nome "Doutrina Kardecista - ( Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita). Passado esse tempo já é possível uma discussão desapaixonada sobre o material e as suas pretensões. Abordarei em vários artigos o conteúdo dessa cartilha e suas consequências. Logo na sua explicação o autor Jaci Regis fala que esse modelo conceitual surgiu a partir de uma análise crítica e da releitura da obra de Allan kardec. Obviamente toda releitura está sujeita a contraposições de quem já está acostumado a afirmar conceitos fincados no subconsciente há muito tempo.

Apesar se sabermos que as ideias básicas continuam válidas, alguns fatores impulsionam a necessidade dessa releitura. São: o aspecto evolutivo do Espiritismo, que permite segundo Jaci a adaptação aos progressos da sociedade em geral e a sua transformação em religião, que fraudaria seus conceitos evolutivos. A meu ver o maior problema seria a diversidade de atuação de cada Casa Espírita, mesmo adesas à CEPA, em se tratando da forma como abordam os conceitos espíritas. 


O principal deles é o papel de Jesus de Nazaré, que via de regra, é visto como o Cristo das igrejas. Não é visto como um homem simplesmente, um espírito com uma evolução muito grande. O Mestre como falava Allan Kardec. 


Criar uma linguagem nas casas espíritas, desvinculada do cristianismo, é o maior desafio dos espíritas livre-pensadores da CEPA. Como fazer isso sem correr o risco de perder adeptos?  Se continuarmos simplesmente a respeitar as características de cada região em busca apenas de alguns pontos comuns não alcançaremos o progresso das ideias.
Nas Diretrizes Estratégicas da CEPA 2016/2020, existe no seu Plano de Trabalho, uma proposta de regionalização muito interessante, onde deve-se incentivar a organização a partir de semelhanças, incentivando encontros que favoreçam essa regionalização. O problema maior está na pouca mão de obra para essa execução, bem como a forma de abordagem para se atingir as mudanças que se pretendam na linguagem e no comportamento.


Por exemplo, quantos estariam dispostos a renunciar na consideração do Espiritismo como a terceira revelação da Lei de Deus? Como a CEPA apresentaria um elenco de ideias desvinculadas do cristianismo? Nos artigos seguintes veremos como Jaci Regis pretende fazer com que as pessoas se abram ao novo, sem no entanto perder as raízes do pensamento  de Allan Kardec. 


Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual




Parte II

“Não afirmo que conspirações nunca acontecem. Ao contrário, elas são  fenômenos sociais comuns. Mas tornam-se importantes, por exemplo, quando pessoas que acreditam em teorias conspiratórias chegam ao poder e se engajam contra inexistentes conspirações. Por que precisam explicar seu fracasso em produzir o prometido paraíso".  ( Karl Popper - A Sociedade Aberta e seus Inimigos).

“Com efeito o Espiritismo estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender” (Allan Kardec).



O pensador espírita Mauro Spínola, em seu excelente artigo’O Sorriso de Diegues’(Abertura de Julho/2016), nos recorda das eleições da USE em 1986 onde um grupo de pessoas vibrantes e sonhando com uma proposta inovadora decidiu montar a chapa Unificação hoje! Para os novos tempos uma nova USE. A chapa concorrente “Tríplice Aspecto” colocava-se claramente como o antídoto contra a destruição da religião espírita. Lembro bem, criou-se uma teoria conspiratória por parte dessa chapa de que a outra na disputa queria tirar Jesus Cristo do Espiritismo. 
Foi o  golpe de misericórdia. Derrota por 63 votos a 13. A religião e Jesus Cristo estavam salvos dos conspiradores.

Em seu trabalho Doutrina Kardecista - Modelo Conceitual - reescrevendo o modelo espírita, Jaci Regis em seu capítulo I - Modelos Conceituais, expõe claramente que o modelo espírita se deturpou e perdeu o eixo de sua originalidade, devido às influências das ideias cristãs. A chapa vencedora fracassou em produzir o prometido paraíso para o Espiritismo, ao se deixar aliciar “pela absorção total do sentido e da linguagem do evangelho cristão” nas palavras de Jaci Regis. Me pergunto se na sua proposta modernizadora, o grupo perdedor das eleições da USE em 1986 já conseguiu, após 30 anos, fazer com que suas casas espíritas adesas à CEPA possuam uma linguagem limpa, não mais viciada em teses como considerar o Espiritismo a terceira revelação da Lei de Deus, dentro da cultura cristã. Que tal um questionário aos dirigentes e frequentadores dessas instituições adesas á CEPA se já abandonaram essa linguagem inadequada. Ou uma lista com terminologias corretas, mais adequadas ao modelo que se quer do Espiritismo exprimindo sua visão de homem e de mundo.

Jaci Regis, com este trabalho, pretendeu a recuperação da identidade da obra de Allan Kardec. Para tanto ele indicou que a revisão da linguagem e a atualização de conceitos é indispensável para essa finalidade.

Caso isso não ocorra, perderemos o lugar na história do pensamento humano em se tratando de espiritualidade para as ciências, que exercem hoje o papel de principal opositora ao modelo cristão. O que não concordamos com as ciências em geral é o seu modelo limitador a uma visão totalmente orgânica.

Jaci Regis não viveu para ver o nascimento do Estado Islâmico, com seu fanatismo muçulmano, mas escreveu que “some-se a isso a abrangência da geopolítica mundial, a influência das religiões orientais e do Islamismo e veremos que todos os modelos religiosos, com suas nuances específicas, são incapazes de dar uma direção, ajudar a criar uma forma de respeito recíproco e da fraternidade básica entre as pessoas”.


                                                                                                                                            Roberto Rufo.

NR: Este artigo foi publicado no Jornal Abertura, nos meses de julho e setembro de 2016.

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO por Roberto Rufo

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO

“E educação e a cultura são mais importantes que a saúde “(Roberto Rufo).

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele “. (Kant).


Para o Espiritismo a educação tem enorme importância para a evolução espiritual desde a mais tenra idade, ou seja, no período em que o espírito encarnado passa pela fase da infância.  Diz a teoria espírita que nesta fase, o espírito encarnando para se aperfeiçoar, é mais acessível, durante esse período às impressões que recebe, para o qual devem contribuir aqueles que estão encarregados de sua educação. Daí a importância da família e dos educadores.

Quando se fala em distribuição de renda no Brasil, o pensamento comum é de que bastam programas de transferência de renda pecuniária. Sem uma edução formal de qualidade a distância injusta entre ricos e pobres só tende a se perpetuar. Vamos a alguns dados da “Pátria Educadora “(os governantes são muito bons em criar nomes bonitos): entre Janeiro/2012 a Outubro de 2015, no governo Dilma Roussef tivemos 06 ministros da educação. Logo se vê que a coisa não é séria. Mas abordemos alguns dados estatísticos para se ter a dimensão do drama que a educação vive no nosso país:
O Plano Nacional da Educação (PNE) foi aprovado em 2014 com 20 metas a serem alcançadas no país até 2024. Passados dois anos constata-se que nenhuma das ações com prazos previstos para 2016 foi cumprida.

No Livro terceiro do Livro dos Espíritos, das Leis Morais, em seu capítulo XII - Perfeição Moral pergunta 914, os espíritos colocam uma importância fundamental na educação no combate ao egoísmo pelo esclarecimento que se adquire sobre as coisas espirituais, onde podem ser incluídas a ética e o respeito ao próximo. Com o deslocamento das classes média alta e rica para o ensino particular, perdeu-se um contato muito importante entre todas as classes, o que ajudaria no combate ao egoísmo. Entristece-me muito  ver dois jovens dançando numa festa de casamento com dinheiro obtido irregularmente através da Lei Rouanet, dinheiro este que teria seu deslocamento previsto para projetos de arte com crianças carentes.

Aqueles jovens egoístas pertencem a uma geração que estudou nos melhores colégios que o dinheiro pode pagar, se educaram nos mais modernos métodos de educação e pedagogia, a dita geração do diálogo, que nunca apanhou dos pais, nunca pegou um ônibus lotado, fez vários intercâmbios no exterior. Aplicação espiritual em cidadania é nota zero no caso dos jovens citados acima.

Ainda segundo o PNE, deveria ter sido alcançada, até 2016 a universalização da educação infantil na pré-escola para crianças entre quatro e cinco anos. Há porém 600 mil crianças nessa idade fora da rede escolar  o que representa 11% do total. Ao se falar então da qualidade final do ensino nas escolas públicas constata-se que é muito ruim, com alunos saindo do ensino fundamental como analfabetos funcionais. Tudo isso resulta numa sociedade muito injusta, onde o fosso de oportunidades que só a educação pode mitigar, aumenta velozmente. E muitas dessas crianças e jovens da classe popular se tornam uma presa fácil ao mundo do crime, onde principalmente os mais jovens “enxergam “uma oportunidade de ascensão social.

O menino de 11 anos que foi assassinado pela PM de São Paulo, estava num carro com dois menores de 13 e 14 anos que havia roubado um carro para “ostentar” nas palavras de um deles. Falta dinheiro? Duvido. A roubalheira colossal que esse país enfrenta passa da casa dos bilhões. Como disse a atriz Fernanda Torres, o Brasil é hoje uma terra arrasada. A classe política, indistintamente, é uma vergonha. 

No entanto vale recordar que segundo os espíritos a desigualdade social não é obra da Inteligência Primeira e sim obra dos homens, cabendo portanto a nós a solução da grande desigualdade brasileira. 
Sem educação de ponta não há saída.

Roberto Rufo

NR: Artigo publicado no Jornal ABERTURA em Agosto de 2016 - quer ser nosso assinante? Entre em contato conosco pelo email: ickardecista1@terra.com.br valor anual R$ 55,00