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terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A vida - como ela é bela - por Ricardo Nunes

 A VIDA

Como é bela e misteriosa a vida, caminhos e descaminhos, erros e acertos, encontros e desencontros. Amor, solidão, amizade, angustia, prazer, dor e felicidade, quantos sentimentos, quantas experiências...

Quantos se foram para nunca mais, quantos lábios queridos se calaram no silêncio da morte. Lábios que um dia estiveram presentes e que hoje estão ausentes. Quantos amigos que trilharam conosco a mesma estrada ombro a ombro, vivendo os mesmos ideais e sonhos e que nos deixaram.

Quantos projetos abandonados pelo caminho. Que tremenda luta entre os ideais, o desejo e a realidade!

Porém, a vida continua, e o dia seguinte sempre surgirá. É necessário estarmos prontos para recomeçar, aconteça o que acontecer. Devemos nos levantar e seguir em frente, sempre em frente. É necessário prosseguirmos demonstrando confiança e força interior. Sempre é tempo de sonhar um novo sonho, de viver um novo amor, de realizar um  novo projeto.

Talvez, o que realmente seja importante na vida não é o que alcançamos, mas sim os caminhos que percorremos. Na verdade, é muito melhor chorarmos por nossos fracassos, do que morrermos lentamente de apatia,  sem ousadia, sem força e coragem para viver.

Recordamos que um mestre do passado disse que seu reino não era deste mundo, afinal o que é este mundo, o que é esta vida, o que são os problemas ante o infinito do universo? O que significam os pequenos contratempos cotidianos ante a beleza da lua a clarear com seu brilho e luminosidade o caminho dos homens? O que é esta vida corpórea de um instante ante as múltiplas dimensões extrafísicas do espírito?

  Quando lembramos que este planeta é menos de um grão de areia no universo, não podemos deixar de pensar na pequenez de nossos problemas e angustias. Ficamos a imaginar, em um doce sonho, que para além desta terra devem existir outros mundos, outras galáxias, repletas de vida, inteligência e  amor.


No espiritismo, aprendemos que somos, em essência, imortais e que prosseguimos além da morte. Aprendemos, também, que há um sentido maior para a realidade e que a vida não é uma aventura vã.

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura de Maio de 2016

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Posicionar-se é viver - por Alexandre Cardia Machado e Bruna Régis Machado

Posicionar-se é viver

Estávamos em casa, fazendo uma limpeza de armários e nos deparamos com algumas redações escolares de nossas filhas, Cláudia sempre teve um carinho especial por estas recordações de um tempo onde elas viviam ao nosso redor. A Linha da vida é esta mesmo e os filhos saem para trabalhar.
Voltando às redações, uma nos chamou mais a atenção, talvez pelo momento em que vivemos, foi escrita pela Bruna, nossa filha mais velha em 2005 e tinha o título “Posicionar-se é viver” uma redação de cursinho pre-vestibular, corrigida pela professora, identificada como Lígia.




Transcrevo aqui algumas partes, pois nos permite mergulhar no tempo e na mente adolescente, mas já rica em observações do mundo ao seu redor.

“ O mundo é muito dinâmico. Tantas coisas se passam ao mesmo tempo, de forma tão diferente, e as pessoas são bombardeadas com informações a cada minuto. Dentre os milhares de acontecimentos que se tem conhecimento durante a vida, há sempre aqueles mais marcantes...

Cada pessoa tem um jeito único de encará-la, pois cada uma delas possui um histórico diferente de criação, educação e estrutura moral, e é isso que as torna tão singulares entre si. Embora as características pessoais existentes no homem sejam bastante diversas, existem certas posturas que são muito comuns numa sociedade. Uma delas é a acomodação, acomodação política, afetiva, 
profissional ou de qualquer outro setor que exija a reflexão e consequentemente a emissão de opinião.
Isso ocorre frequentemente pois não se posicionar é muito mais fácil, ser espectador da vida é tão mais simples do que atuar nela, afinal não exige esforço, não é preciso se arriscar, desistir, 
transformar e tentar de novo. É necessário apenas ser indiferente e não se importar com o que acontece ao redor, ignorando qualquer sinal de movimentação interna”.

Sabemos que não são todas as pessoas que se preocupam com o de onde venho? O que sou? Ou para onde vou? Perguntas básicas da filosofia tradicional. Nossa sociedade atual vive entre o imediato e não é comigo. Posicionar-se, requer um abrir-se ao mundo – olhar para frente, analisar, planejar e pela ação tentar mudar a realidade ao nosso redor.

Uma hipótese para a pequena ação política ou social, alguns podem pensar, seria porque as pessoas atualmente parecem não ter religião ou partido político. Mas pesquisando o número de Brasileiros que se auto denominaram ateus ou sem religião, não chegou nem a 2% no Censo de 2010. Portanto esta não é uma das causas. Ligação a partidos políticos, talvez o excesso deles, 36 seja uma das razões que não nos faça adotar um. O alto índice de abstenção nas últimas eleições assim o demonstra.

Mas de 2005 para cá, certamente que o interesse por política aumentou bastante, tomou conta dos noticiários e tivemos diversas manifestações populares, pessoas de todas as idades foram para as ruas, posicionaram-se, algo quem sabe impensável há meros 11 anos atrás, ainda que os manifestantes não tenham demonstrado associação clara e nenhuma organização política, foi muito mais um grito de basta.

Bruna discorre naquilo que entende sejam os componentes da falta de ação e investe na análise do que seria pior em termos de responsabilidades não compartilhada, enquanto seres socias que somos.
“ O acomodado tem uma postura pior do que a do alienado, porque o primeiro tem conhecimento do que se passa, mas se esconde atrás da falta de preocupação, já o segundo não quer saber o que acontece para não se ocupar. Aquele que não se manifesta não o faz não porque não o consegue, e sim porque não o quer, ele não possui ânsia de conhecimento e de discussão, já que se conforma com as coisas do jeito que elas estão. Acredita que não pode fazer nada para modificar a sua, ou a situação de outros, é como se vivesse em uma caixa de vidro, observando a vida correndo a sua volta”.
Ao que tudo indica, os acontecimentos recentes no Brasil, forçaram que até mesmo alienados e acomodados saíssem do armário e expressassem o seu pensamento. Na mais diversas formas de manifestações de pensamento, em todos os tons que vivemos nos dias de hoje, quer fisicamente, quer no mundo virtual da internet e redes sociais.

Bruna meio que detectou o mecanismo de resposta dos mansos, “ Entretanto, o posicionamento conformado é fácil, porém não leva a lugar algum. E, talvez, seja  este o seu objetivo, manter-se estagnado mas, esta realidade é finita. Em algum momento da vida, percebe-se que nada foi construído e que pode ser muito tarde para mudanças, porque, às vezes, quando a mente começa a funcionar, o corpo já não tem mais condições de acompanhá-la. Porém, quando se nota que a vida pode ter um sentido maior, mesmo sem a possiblidade de transformação, a consciência da acomodação é, por si só, uma forma de evolução e progresso humano”.

Este texto em sua ambientação original, não traz uma abordagem espírita. Pois trata-se de um exercíco visando uma redação para vestibular; mas o último mostra uma visão transformadora, que é a mola do Espiritismo, a possibilidade de não ficarmos parados, pois a cada dia que vivemos aprendemos algo que pode ser usado no futuro,  nesta ou em outra vida.

Kardec nos ensina que devemos ser moderados, calmos, agir com sabedoria, mas jamais nos acomodarmos, pois somos seres que transitamos pela Terra e devemos deixar a nossa marca.

NR: Este artigo foi originalmente publicado no Jornal ABERTURA de novembro de 2016

Posteriormente foi publicado em espanhol no jornal Flama Espírita.



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Sobre a Morte e o Morrer - por Alexandre Cardia Machado

Sobre a Morte e o Morrer

Durante muitos anos o ICKS, através de Jaci Régis, promoveu seminários com este tema, sempre muito concorridos. A principal razão disto é que mesmo sendo a morte uma certeza, temos todos medo da mesma.

Como espíritas, não deveríamos temer a morte e filosoficamente não tememos. Mas no dia a dia é que a coisa pega.

Os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde e socorristas são treinados para enfrentar o inevitável, fazem tudo o que é possível para evitar, mas ao mesmo tempo, precisam estar preparados para o pior.

Veja que ao nos referirmos à morte, falamos em pior, certeza, preparação. Como reencarnacionistas, sabemos que a vida física é apenas uma metade de nossa existência, sabemos que sobrevivemos à morte física e seguimos vivendo como espíritos imortais que somos.

Pela intensidade da vida cotidiana, muitas vezes nos esquecemos disto e pensamos igual aos não espíritas. Pode ser que seja pelo instinto, ou por amarmos muito a vida e os que aqui estão conosco, mas deveríamos nos esforçar para viver bem, considerando que a morte sempre é uma possibilidade presente. Valorizar o presente sem descuidar do preparo espiritual, sempre focados no fazer o bem, amar e ajudar nossos filhos e amigos.

Jaci Régis sempre repetia uma frase que incorporou em sua bagagem, durante sua proveitosa vida, “o que se leva desta vida é a vida que a gente leva”. Jaci nos deixou de forma inesperada, sem preparação... tudo em que trabalhava intensamente, de um dia para o outro, ficou órfão. Acredito que Jaci não ficou muito preocupado, pois sempre dizia que enquanto estivesse vivo, faria o máximo esforço para levar suas ideias e projetos em frente.

Todos os projetos seguiram em frente, outros ocuparam o seu lugar. Ninguém é insubstituível, por melhor que sejamos. O que for importante seguirá, se o mestre for bom, os alunos saberão o que fazer.

Jaci, sabemos hoje, está integrado em várias atividades no mundo dos espíritos. Os sucessores aqui estão no ICKS, na Lar Veneranda, já antes de sua desencarnação. O CEAK, onde foi presidente por muitos anos,  seguia seu caminho sem precisar dele.  Me refiro a Jaci por ser um exemplo à todos em nosso grupo livre pensador, de alguma forma ao citá-lo todos nós de certa forma nos sentiremos tocado. Mas muitos outros passaram por aqui e deixaram também as suas marcas. Esta é a lei da vida, é o projeto Divino, através da lei de progresso, da reencarnação e da evolução infinita.
Não precisamos morrer antes do tempo, com excessivos cuidados, não tomando vento, não comendo isto, não bebendo aquilo. Vivamos com equilíbrio encarando sempre novos desafios, esta é a melhor maneira de um dia morrer e reacordar no lado de lá,  percebendo que a encarnação valeu muito e foi gratificante.


Chorar, bem esta é a primeira coisa que fazemos ao reencarnar, nosso primeiro respiro vem acompanhado de choro.  Portanto vamos sim chorar os mortos, mas não vamos morrer antes da hora, pois a vida é infinitamente bela!

NR: Publicado originalmente no jornal ABERTURA em junho de 2016

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Espiritismo em Sociedade - Reinaldo di Lucia

Espiritismo em sociedade

A crise que enfrentamos no Brasil – ética, econômica e política – tem minado a esperança do brasileiro em dias melhores. Ao conversarmos com as pessoas, notamos que, de maneira geral, já não se acredita mais no futuro. A frase “o Brasil não tem mais jeito” é muito comum, e tem sido mais e mais dita por gente de todas as idades e classes sociais.

O efeito mais evidente deste sentimento é a observação de que, a cada dia que passa, temos mais jovens mostrando um grande desejo de deixar o país. Quando perguntados o porquê disso, esse grupo aponta a falta de perspectiva de trabalho, a descrença absoluta na classe política e em sua capacidade (e vontade) de mudar a situação e, principalmente, a certeza de que o brasileiro é assim mesmo e a situação não vai mudar jamais.

Como nós, como povo, deixamos a coisa chegar neste ponto? Há inúmeras explicações históricas que demonstram o impacto que a colonização portuguesa, a cultura autoritária e, mais recentemente, a ditadura militar tiveram para este resultado – todas, a meu ver, absolutamente corretas, mas de pouca ação prática. O problema é que, com a situação posta do jeito que está, o que teremos em breve é um país no qual o aprofundamento das desigualdades sociais tornará o Brasil mais parecido com o Haiti que com a Noruega.

Precisamos pensar em soluções diretas e urgentes. Mas o que vemos, institucionalmente, é uma paralisação global: a classe política não tem interesse em modificar este estado de coisas, a justiça se perde em tecnicalidades, a escola foca o currículo sem se preocupar com sua aplicação e as instituições religiosas, possivelmente as mais conservadoras, prometem, no máximo, a abundância material e a salvação eterna, desde que o fiel seja submisso aos seus desígnios.

E nós, espíritas, o que estamos fazendo? Como doutrina humanista e  livre-pensadora, temos a obrigação de contribuir para que as pessoas tenham mais acesso a discussões que levem a uma ação efetiva na construção de um futuro melhor. Se ficarmos na dependência do poder público, nada acontecerá, ao menos no médio prazo. Penso que é necessário que nossa visão de mundo, profundamente libertadora, seja cada vez mais difundida, porém com um viés prático. Precisamos deixar de lado as discussões inócuas e superficiais, bem como as acusações “alimentares” (coxinhas x mortadelas) e mostrar causas e consequências do que aí existe, debatendo o modelo de sociedade e de país que queremos e como podemos chegar a ele.

Não, não podemos mais esperar que seja feita uma reforma política, uma reforma do ensino ou o que quer que seja. Precisamos agir diretamente, com os recursos – ainda que parcos – que temos. Não faz sentido, numa situação cada vez mais crítica, dissociarmos a teoria espirita da discussão social, prática; especular sobre o mundo dos espíritos e deixar para depois nossa realidade física. É vital travarmos este debate nas casas espíritas, de forma respeitosa quanto às diferenças e tendo em mente que o objetivo é o mesmo: uma sociedade mais igualitária, mais justa e mais nobre.

NR: Originalmente publicado no Jornal Abertura em outubro de 2016

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A Liberdade Sexual da Mulher - por Jaci Régis

A liberdade sexual da mulher

 A oradora explicava o significado da introdução das pílulas anticoncepcionais na vida das mulheres. Segundo ela, graças à pílula, as mulheres casadas puderam limitar o número de filhos e com isso ganhar espaço para a sua realização pessoal.

Aberto o debate, afirmei que o importante era a liberdade sexual da mulher e que a pílula tinha permitido que ela pudesse transar com menor risco de gravidez, isso sem relação direta e necessária com o casamento. Tanto a oradora, quanto a plateia pareceram pouco à vontade.

Todos falaram da necessidade e da liberdade. Sem ela, não se vislumbra a possibilidade de crescimento real do homem, do espírito. Mas, quão difícil é exercer a liberdade! Quase sempre é imediatamente limitada pela responsabilidade que é o elemento qualificador, o que qualifica o sentido real da liberdade.

Sobre a liberdade sexual há terríveis enganos, porque geralmente age-se por comparação, contradição ou transgressão. Há inevitável transição no percurso para a liberdade real. Essa transição poderia ser suavizada se houvesse uma reciclagem maior nas mentes. Trabalha-se com modelos repressores e teme-se que se transforme em libertinagem, de desregramento puro e simples.

Se, genericamente, a questão da liberdade sexual está confusa e difusa, fica muito mais aguda e inconciliável quando se refere, especificamente, à sexualidade da mulher. Esse parece ser o ponto crucial de toda a questão, por1que a tradição moral e moralista pressionou negativamente a mulher, de modo a fazê-la sentir-se envergonhada e pecadora porque tinha desejo e desejava o prazer.

A oradora a que nos referimos, por exemplo, explicitou essa posição preconceituosa de dizer “isso é outra questão. Não estou me referindo à possibilidade de a mulher se relacionar ou transar com qualquer um...”. O que me fez retorquir: “com qualquer um não, com quem quiser ou desejar...”.
Porque a moral estabeleceu que a mulher devesse ter apenas um parceiro sexual, ser “propriedade” daquele que a tomasse como esposa. Nessas condições seria ele, realmente um parceiro ou alguém que fazia sexo com ela, às vezes sem considera-la?

Alguém me alertava que escritores e psicólogos que comandaram campanhas pela libertação sexual, estão agora, preocupados com os rumos dessa abertura, pelo número alarmante de abortos praticados por meninas de 13 a 15 anos, levadas pela ignorância da realidade afetiva e que seriam vítimas dessa pregação pelo prazer.

Esse fato merece reflexão. A primeira é que, as mentes dos adultos estão apenas pseudo abertas. Mães e pais atuais falam de liberdade sexual, mas geralmente continuam presos a medos e limitações e transmitem noções teóricas, sem coragem para examinar suas realidades afetivas. Pode-se dizer que não possuem condições de orientar positivamente os filhos. A maioria guarda a esperança de que suas filhas se casem virgens.

O discurso religioso prossegue ainda hoje sobre a tônica cristã da repressão e negação do prazer, especialmente para mulher. Há desconsideração para a sua qualidade de Espírito, acima das especificações sexuais típicas.

Pede-se sacrifício, renúncia aos sentimentos, mantendo a imagem de serva do lar, dentro de padrões conservadores, seja em nome da felicidade futura ou erros do passado.
Na luta pela conquista da liberdade e participação da mulher, envolvem-se, não apenas ela mesma, como um ser, uma pessoa, mas todo o sistema moral, social, todo o conjunto de fatores que recebem o impacto direto dessas mutações.

Creio que há um excesso de apelo racional aos critérios de justiça e igualdade, que certamente imperarão inevitavelmente, pois o caminho iniciado e já percorrido não terá volta, Mas, será possível proceder a essas mutações fundamentais sem abalos emocionais, sem atingir o afeto?
É fácil condenar racionalmente o tabu da virgindade, apoiar o aborto em nome do direto de usar o próprio corpo, abominar o casamento, e desestruturar a família, baseados em posições psicológicas e socialmente defensáveis.

Todavia, não se pode esquecer o vazio emocional que se segue. E não se veja nessas palavras qualquer apelo à moratória no trajeto da libertação feminina. Mas uma reflexão sobre as condições da realidade pessoal, de4 estruturas mentais, individuais e coletivas, que não podem ser negadas.
O sexo existe e é um sentimento básico, determinante do equilíbrio interno. Reprimi-lo é atirar-se em prisão degeneradora da mente. Consumi-lo à saciedade é cair em abismo de desestruturação da alma.
A transição deve ser considerada. Mas as correntes religiosas, tanto o ativismo feminista, colocam-se em polos opostos, sem encontrar recursos para auxiliar a internalização dessas mudanças. Há toda uma tendência a preservar a sociedade machista, erguida sobre infindáveis equívocos acerca da natureza da estrutura espiritual do ser humano. De outro, uma negação insensata de qualquer espiritualidade, cingindo-se a moral proposta a estreitos limites sensoriais.


Jaci Régis

NR: Artigo publicado no Jornal Abertura da Março 2016.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Amai os vossos inimigos - por Alexandre Cardia Machado

Amai os vossos inimigos:

Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. – Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?”

Esta frase de Jesus é sempre um desafio a todos nós, mas interpretando com Allan Kardec, como buscamos fazer abaixo , nos parece mais fácil de concordar  – “2. “Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam?

– Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? – Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entreajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma.”  - Evangelho Segundo o Espiritismo.

Neste momento em que vivemos é necessário apelar ao bom senso e baixar o nível de ódio, que nos cerca, passamos pelo momento em que uma Presidente da República  está em processo de Impeachment e o Presidente da Câmara dos Deputados está com seu mandato suspenso onde, uma sensação de revanche, toma conta de grande parte da sociedade. Este sentimento de revanche não pode ser, de maneira alguma, o sentimento que nos move, em momento tão grave. Temos que ser motivados pela concordância que o Poder Judiciário defende o direito da cidadania.

O momento é de encontrar meios de união, capaz de permitir que o país volte a crescer, aumentando as oportunidades de trabalho para a população.

As disputas políticas são a normalidade em uma democracia, perder ou ganhar é parte do processo, se respeitarmos a Constituição, toda a disputa política é valida. O que queremos dizer é, não importa o lado que cada um de nós está, em alguns meses haverão novas  eleições e em dois anos e pouco, uma nova eleição para Presidente da República acontecerá. Ou seja é hora de trabalhar para construir uma nova fase positiva que beneficiará a todos os brasileiros.

A sequência do texto do Evangelho leva à considerarmos as reencanrnações, como um instrumento de ajuda no processo de reduzir o ódio, mas não precisamos esperar tanto, temos que com maturidade, enfrentar o que está  muito claro, houve aparelhamento da máquina pública, com o objetivo de financiar um projeto político, feito de forma ilegal, conforme amplamente divulgado pelas Delações Premiadas. Este grave problema foi identificado e está sendo desmantelado, o erro não está nesta ou naquela ideologia, mas sim na prática do ilícito. Ora, passado este momento, as diversas correntes que busquem novas lideranças internas, pois só a pluralidade é que permitirá o progresso reto da nação brasileira.

Há que se continuar investigando em todas as operações da Polícia Federal, pois não há como conviver com a corrupção. Esta maturidade que nosso país começa a atingir, quer no campo do Judiciário, quer no campo da Polícia Federal – à partir de um novo marco obtido pela união da Receita Federal com a Polícia Federal e do episódio do Mensalão, nos faz atingir um potencial investigativo jamais possível. Para encontrar o corrupto, basta seguir as movimentações financeiras, desde que todo o processo esteja revestido de um mandato judicial.

Esta interpretação, sabemos, não é unanime, alguns acham que a justiça está ultrapassando os direitos individuais, não somos tão avançados no conhecimento jurídico, mas a experiência comum é que a jutiça sempre é feita considerando os dois lados o da acusação e da defesa, portanto este é o processo e o contraditório é o normal. Errar, ser punido, aprender com o erro e melhorar, está na basa de nossa Doutrina Espírita, faz parte da sabedoria Divina e portanto é um processo natural. Aqueles que erraram precisam necessariamente mudar seus métodos, rencontrar-se. Ficar com o pensamento fechado em teorias de conspiração em nada ajuda. Há que se olhar para dentro e renovar-se.

Que no próximo número possamos estar escrevendo sobre coisas mais amenas e que diversifiquemos o nosso pensamento, bastante concentrado nestes problemas que expõe  diariamente a fragilidade moral humana.



terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O Preconceito, uma doença da alma por Roberto Rufo

O Preconceito, uma doença da alma.

" Sonho com o dia em que todos levantarão e compreenderão que fomos feitos para vivermos como irmãos " ( Nelson Mandela ).

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha para o Fórum Nacional de Segurança Pública mostrou uma deplorável visão que os  brasileiros têm sobre o estupro. Um percentual de 30% dos entrevistados concordaram com a frase: " A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada ". Este percentual sobe para 41% entre pessoas que só possuem o Ensino Fundamental. Da mesma forma, 37% concordaram que mulheres que se dão ao respeito não são estupradas. Este percentual sobe para 46% entre os que têm 60 anos ou mais.

É lamentável, que após de anos de luta dos movimentos feministas, de campanhas educativas,tantas pessoas ainda invertam a relação de causalidade. As mulheres deveriam ser vistas como vítimas por essa gente, e não como responsáveis por atos de violência sexual contra elas mesmas.

No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos, segundo dados oficiais, totalizando quase 50 mil crimes desse tipo por ano. Onde está o papel da educação? Onde está a reação das autoridades?

Mas eu aposto que se essa pesquisa fosse feita entre nossos parlamentares, os índices não seriam muito diferentes dos apontados pelo Instituto Datafolha . Torna-se urgente romper essa cultura machista e atrasada. Paralelo ao ensinamento dos meninos para que não se tornem adultos estupradores, o rigor da lei tem que se fazer sentir sobre esses selvagens. A dificuldade é que leis mais rigorosas contra esse descalabro, terão que ser votadas por parlamentares em sua maioria machistas.

Mudemos de assunto, para um não menos desagradável, a questão do preconceito racial. Novos casos de negros mortos em abordagens policias nos EUA  incendiaram novamente os ânimos da população negra no estado de Oklahoma. Os números sobre a ação policial confirmam, segundo  relatos da mídia americana, o tratamento desigual e injusto. Em 2016, até o momento 706 cidadãos foram mortos pela polícia americana, sendo 40% brancos e 24% negros. Sucede-se que os brancos são 77% da população e os negros 13 % .  Onde os negros habitam, geralmente bairros muito pobres, são os locais mais visados pela polícia. Pode não ser ódio racial, mas é certamente preconceito.  A questão da inserção dos negros no mundo branco e rico ainda não foi resolvida nos EUA.

Aprecio muito o pensamento do filósofo e sociólogo francês, Raymond Aron, quando afirma que " a sociedade americana não passou pelo equivalente da luta contra o Antigo Regime na Europa e não conta com nenhum partido operário ou socialista, uma vez que os dois partidos tradicionais sufocaram as tentativas de um terceiro partido progressista ou socialista. Os princípios da Constituição americana, continua Aron, e do sistema econômico nunca foram seriamente questionados. As controvérsias políticas nos EUA, finaliza Aron, em geral, se apresentam de forma mais técnica do que ideológica ".  
Bom, e o que o Espiritismo tem a ver com tudo isso? Muita coisa, pois em sua teoria do comportamento, a doutrina espírita aborda com clareza a questão da civilização, e o que caracteriza esse termo. No comentário à pergunta 793 do Livro dos Espíritos, Allan Kardec assinala que " a civilização tem seus graus, como todas as coisas... À medida que a civilização se aperfeiçoa faz cessar alguns dos males que engendrou e esses males desaparecerão com o progresso moral ".

Entre os males citados, sem dúvida está o preconceito criado pelo homem e muitas vezes ao fazê-lo carregava uma Bíblia debaixo do braço. As religiões foram céleres em criar preconceitos, notadamente contra as mulheres,  baseados em interpretações equivocadas dos textos ditos sagrados. Se bem que " textos sagrados " sempre ofereceram um grande perigo para a humanidade. Como dizia uma professora de filosofia, Conceição Gmeiner, a Grécia Antiga teve seu apogeu porque na época não existiam nem teólogos nem livros sagrados. 

E continua Kardec, " a civilização, na verdadeira acepção do termo, será quando as leis não consagrem nenhum privilégio, onde a justiça se exerça com imparcialidade, onde o fraco encontre apoio contra o forte e onde todos os homens e mulheres de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário ". Falta muito. O trabalho de conscientização plena ainda levará muitas gerações para se concretizar.

Até lá os negros e as mulheres  sofrerão bastante.  

Um adendo providencial , neste ano será julgado  no Supremo Tribunal Federal o direito das mulheres fazerem aborto em caso de microcefalia causado pelo virus  Zika. Esperemos que prevaleça o bem senso e esse direito seja dado às mulheres . Mesmo porque nenhum homem tomará conta dessas crianças . Será sempre tarefa das mulheres . Deixem-nas terem o direito de optar .
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 Publicado no Jornal Abertura de outubro de 2016.


                                                                                                          


sábado, 3 de setembro de 2016

MACHISMO e ESPIRITISMO - por Marissol Castello Branco

MACHISMO
Marissol Castello Branco
“Atitude ou comportamento de quem crê que o homem é socialmente superior à mulher” Os machistas mais radicais, definidos no dicionário são aqueles assumidos publicamente que encontramos estampados pelas feministas. Tivemos várias demonstrações francas de machismo em alguns políticos durante depoimentos polêmicos e preconceituosos.

Kardec era machista, mas de uma forma “branda”, apropriando-me de um termo usado por Noam Chomsky, como muitos homens e mulheres o são ainda hoje. Esse comentário de Kardec deixa bem claro a sua visão sobre a mulher:

“... as mulheres têm direitos incontestáveis, a natureza tem os seus que não são os seus. Deixai-as, pois, reconhecer pela experiência sua insuficiência nas coisas às quais a Providência não as chamou” (AK, RE, jun1867, p.169)

Esse foi um comentário relativo a um artigo sobre um manifesto de mulheres norte-americanas que protestavam pela emancipação feminina. Nessa citação Kardec entende que como homens e mulheres possuem gêneros diferentes também diferentes são as suas funções na Sociedade. Ele era um intelectual, filho de um juiz, com educação exemplar e casado com uma mulher “recatada e do lar”. Não teve filhos, portanto, não vivenciou o papel de ser pai, nem pôde observar sua esposa no papel de ser mãe. A única referência que possuía era de seus pais, mesmo assim uma convivência breve, pois logo foi afastado do lar para estudar em um colégio interno. Não conviveu com mulheres que precisaram trabalhar para conseguir seu próprio sustento. As médiuns mulheres com a qual conviveu e foram intermediárias dos espíritos que o auxiliaram na confecção das obras que fundaram o Espiritismo eram jovens e submissas aos seus pais. Apesar de receberem para o exercício (a mediunidade na França era uma profissão) os proventos ficavam com a família, melhor dizendo com o progenitor. (Eugenio Lara, Os Desertores de Kardec)

Foi no século de Kardec com a difusão das idéias de Rousseau é que o perfil de mãe começou a ser construído. O papel de pai chega bem mais tarde no finalzinho do século XX e até hoje vem sendo construído. Kardec não imaginava que seria uma mulher que o ajudaria a difundir o Espiritismo livre pensador na Espanha e América Latina de fala espanhola. Amália Domingo Soler teve uma vida celibatária e dedicada exclusivamente ao Espiritismo a partir dos 37 anos. Isso a deixou aquém das funções intrínsecas relegadas à mulher pela sociedade. Mesmo assim, ela foi cobrada pelo espírito comunicante, Padre Germano, por sua abdicação em casar-se e formar uma família:

Quanto a ti, boêmio envolto em vestes femininas, poeta de outros tempos, cantor aventureiro que fugiu do lar doméstico, alheio aos direitos e deveres dos grandes sacerdotes do progresso – mendiga hoje um olhar carinhoso, olha em torno de si como nascem as gerações, ao passo que você, planta daninha, não pode beijar uma fronte infantil, murmurando: ― Meu filho! Trabalhe, aprofunde-se em sua solidão, busque na contemplação da Natureza o complemento da sua vida miserável, já que não lhe é dado contemplar um ente querido.” (Memórias de Padre Germano, Amalia Domingo Soler, FEB, p.344)

Amália apenas transcrevia o que dizia o médium psicofônico inconsciente, Eudaldo Pagés. Durante a transcrição ela poderia ter suprimido essa parte em referência às suas vidas, mas era muito fiel ao que ouvia e optou por manter o texto.

Voltando ao machismo brando, infelizmente constato a existência de homens e mulheres nesta categoria em pleno século XXI. Numa rede social uma mulher considerou educar os filhos homens para “proteger” as mulheres. Então eu a contestei: “Devemos educá-los para respeitá-las”. A expressão “proteger” sugere a dependência da mulher em relação ao homem e consequente submissão. Homens e mulheres possuem uma diferenciação genética que se reflete em sua maneira de ver o mundo e comportamentos. Esse X a mais que a mulher tem faz dela um ser humano que age e resolve problemas de uma maneira diversa da do homem. Isso não significa estabelecer funções determinadas para cada um dos gêneros.


Marissol Castello Branco, 48 anos, casada, mãe de 2 filhos, arquiteta e professora. Autora de livro publicado pelo CPDoc: Igualdade de direitos e diferença de funções entre o homem e a mulher. 1997
Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

10 ATITUDES PARA DESBANCAR O ÓDIO - por Roberto Rufo

" O mundo está farto de ódio " (Mahatma Gandhi).

" O bem que fazemos é o nosso advogado pela eternidade " (Irmã Veneranda).


 Num artigo que li numa revista feminina, mas que os homens deveriam ler com assiduidade, estavam lá as 10 atitudes para desbancar o ódio. A primeira tinha como tutor o cineasta Fernando Meirelles que nos aponta que devemos perceber que somos idênticos a quem parece ser o nosso oposto. Na evolução do espírito, o controle das paixões pela vontade deve nos levar a evitar os abusos. Da paixão sem limites nasce a intolerância, que é um claro sintoma de desequilíbrio. A atriz Denise Fraga quer que foquemos a nossa atenção no amor e exercitá-lo. Parece um lugar comum mas só se aprende a caridade sendo caridoso, só se aprende a amar praticando atitudes amorosas. A atriz vê na internet uma excelente ferramenta para um saudável fórum de ideias. Fico muito triste quando num debate político como o atual, o que mais interessa a ambas as partes é desqualificar o oponente. Entraram no twiter de uma jornalista sediada nos EUA e a ofenderam com palavras e ameaças. Ela não tem a mesma ideologia que a minha, logo é minha inimiga.

O psicanalista Contardo Calligaris diz que devemos modular o ódio cultivando nossa vida interior. O ódio sempre existiu. Já odiamos muito mais do que nos dias de hoje.



O Espiritismo propicia que criemos uma cultura da solidariedade, pois somos todos espíritos em busca da perfeição. Mas a vida interior é só nossa, decidida pelo nosso livre-arbítrio. Caso contrário, seremos presas fáceis das identidades coletivas.
Entrar na pele do outro é o conselho de Roman Krznaric, filósofo e historiador britânico. 
Como fazer isso? Exercite os sentimentos altruístas. Vejam, que a mudança para uma paz interior, seguida do comportamento de respeito e amor ao próximo requer sempre que façamos o exercício da mudança. Só palavras soltas ao vento não adiantam. No último almoço beneficiente da Comunidade Assistencial Espírita Lar Veneranda, mais uma vez estavam lá aqueles voluntários, septuagenários em sua maioria, com uma presença feminina muito maior. Poucos jovens colaborando. Talvez porque não tenham tempo disponível entre tantos intercâmbios que costumam resultar em nada. 

O estilista Ronaldo Fraga diz para trazemos de volta antigos valores, como a compaixão. Concordo com ele quando fala que há uma banalização da maldade, onde ser bom vem em segundo plano. O Espiritismo define o trabalho como toda ocupação útil. Busquemos utilidade em nossas vidas. Quantos de nós receberíamos com compaixão refugiados de outros países?

A blogueira Jout Jout quer que aprendamos a separar a crítica construtiva da ofensa. Pense antes de postar, no que é acompanhada pela filósofa Márcia Tiburi que nos orienta a praticar o diálogo e tomarmos muita atenção com a linguagem. As palavras maldosas machucam, ofendem o amor próprio das pessoas. Os intolerantes quase sempre têm um pensamento pronto e querem que o mundo se encaixe nele. Esquecem-se como ensina a doutrina espírita que devemos respeitar a desigualdade de aptidões.

A chefe de cozinha Carla Pernambuco diz que devemos cozinhar mais, convidarmos pessoas, pois a comida reúne até os diferentes. Os almoços em famílias são uma ótima oportunidade para debatermos ideias e conhecermos a diferença de conceitos. Nelson Rodrigues dizia que o mundo um dia seria dominado pelos cretinos fundamentais. O antídoto é o choque de posições e a compreensão de cada um. Só os estultos (ignorantes) têm sempre a mesma opinião, geralmente expressas por palavras de ordem e slogans.
O professor de filosofia Renato Janine Ribeiro fala em estimular as crianças a conviver com a diversidade. Concordo com ele, Deus a ninguém fez superior pela cor, raça ou etnia dizem os espíritos. O professor diz que no Brasil temos um apartheid estudantil, o que forma uma visão estereotipada. Segundo ele o branco tem uma imagem preconceituosa do preto; o preto, uma visão preconceituosa do branco.  Ele completa dizendo que junto com as atividades lúdicas deve-se propor o contato com várias culturas. E por último o jornalista e escritor Xico Sá diz que mesmo sem concordar, respeite-se o direito de expressão do outro.

O filósofo Raymond Aron dizia que um intelectual deve possuir duas virtudes, o respeito ao próximo e o respeito aos outros. Caso contrário corremos o risco de achincalharmos uma biografia admirável do Sr. Helio Bicudo (jurista, político e militante dos direitos humanos) chamando-o pejorativamente de "golpista". Pode-se não concordar com a opinião dele,  mas a tentativa de desqualificá-lo é sórdida.


O Espiritismo é toda uma teoria de respeito ao outro, de amor ao próximo, de compreensão das diferenças, sejam elas quais forem. O remédio? A prática do bem. Parece fácil, mas não é. Requer exercício perene. 

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Imagine, apenas imagine por Alexandre Cardia Machado

Imagine , apenas imagine

O jornal Folha de São Paulo, no dia 24 de janeiro publicou em sua capa a foto abaixo, mostrando o espaço em uma avenida, ocupado, por automóveis, ônibus, metro e bicicleta. Isto nos faz pensar se realmente tomamos as decisões corretas.

Não se trata apenas de substituir o carro pela bicicleta, mas sim em planejarmos uma cidade para que todas as opções estejam disponíveis e que todas elas sejam dignas.

Quando jóvens, nossos meios de transporte são a bicicleta e o ônibus, por que paramos de usá-los cotidianamente? Parar apenas por  termos um automóvel?



Cada ato tem a sua consequente reação, quanto mais consumimos combustíveis fósseis, mais aquecemos o planeta e mais mudanças no meio ambiente e no clima acontecem. Precisamos usar todas as alternativas, ir a pé, pegar um ônibus, usar, no caso de Santos, as bicicletas do Itaú, que são de graça. Se nenhuma destas opções puder ser usada, aí sim, usar o automóvel.

Kardec não teve que passar por este dilema, em sua época recém surgiam os primeiros “ vapores”, navios movidos a vapor e as estradas de ferro com suas locomotivas, estas sem dúvidas um grande progresso, pois permitem uma grande quantidade de carga transportada em pouco tempo, ainda que naquela época, já muito poluente.

Do livro Obras Póstumas, buscamos inspiração em Kardec que discorre sobre o egoísmo.
“O egoísmo, por sua vez, se origina do orgulho. A exaltação da personalidade leva o homem a considerar-se acima dos outros. Julgando-se com direitos superiores, melindra-se com o que quer que, a seu ver, constitua ofensa a seus direitos. A importância que, por orgulho, atribuí à sua pessoa, naturalmente o torna egoísta.

O egoísmo e o orgulho nascem de um sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porquanto Deus nada pode ter feito inútil. Ele não criou o mal; o homem é quem o produz, abusando dos dons de Deus, em virtude do seu livre-arbítrio. Contido em justos limites, aquele sentimento é bom em si mesmo. A exageração é o que o torna mau e pernicioso. O mesmo acontece com todas as paixões que o homem  freqüentemente desvia do seu objetivo providencial.

Ele não foi criado egoísta, nem orgulhoso por Deus, que o criou simples e ignorante; o homem é que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe outorgou para sua conservação.”
Associado ao exagero da utilização do automóvel, está a vontade de possuí-lo e de transformá-lo acima do valor de meio de transporte em uma forma de exercer e demonstrar poder, daí a principal razão de seu uso excessivo, como forma de orgulho e egoísmo. Se investimos consumistas no transporte individual, deixamos governos desobrigados de investir e manter bons serviços de transporte público, ou regular serviços privados de boa qualidade.


Não somos contra o automóvel, mais do que nada o utilizamos aqui como um grande exemplo, para que possa ser possível refletir sobre como imaginamos o mundo que queremos viver.